Como Eu Me Tornei... - Capítulo 04: Julgamento

A porta abriu para revelar um alto e musculoso homem, quase tão largo quanto a própria porta. Ele tinha oleoso cabelo preto que estava amarrado por um pedaço de uma fita emaranhada na altura de sua nuca. Seus olhos eram de uma cor cinza como lã e sua pela era de um branco sujo, como se ele não tivesse se lavado por meses. Ele se arrastou pela nossa cela como se não estivesse acostumado a andar. Em sua mãe direita ele carregava um chicote, não diferente do que o comerciante de escravos tinha carregado por todos aqueles anos atrás. Ele examinou o cômodo com grande repugnância antes de olhar diretamente para Alec e eu.

Ele emitiu um baixo barulho de rosnado desde a base de sua gargante e cuspiu;

“Vocês vem comigo” ele tinha um acento estrangeiro, francês talvez.

Nós ficamos lá parados, congelados pelo choque. Sua voz ecoou pelas paredes de pedra soando sinitra. Quando nós não nos movemos ele se arrastou até nós, nos agarrando, um em cada grande mão suja, e nos arrastou até a saída.

Ele cheirava horrivelmente, e as unhas em cada dedo parecido com uma salsicha estavam incrustadas com sujeira. Ele meio que nos carregou e meio que nos puxou para fora da porta, e descendo por um grande número de frios degraus de pedra. Seu aperto estava me sufocando, fazendo mais e mais difícil para respirar. Eu comecei a enforcar e buscar ar, e invés de afrouxar seu aperto, ele apertou ainda mais.

Fomos carregados corredores após corredores até eu achar que não podíamos ir mais longe. Repentinamente nós estávamos em área aberta, o sol quente batendo em meus pobres olhos e corpo, e então o sol se foi, e estávamos de novo dentro de paredes. O grande homem nos jogou no chão de outra cela onde imediatamente fomos algemados e empurrados para um canto.

Eu me deitei no chão arfando e lacrimejando. Minhas costas, braços, pernas e garganta doíam comos os infernos, e se passaram muitos minutos antes de eu ter força o suficiente para me levantar e sentar.

Examinei o pequeno cômodo, e para minha surpresa vi duas ou três outras pessoas sentadas em silêncio num canto também observando. Mas com uma diferença. Eles estavam me observando.

Todos nos sentamos lá em silêncio, Alec agarrando minha mão, e eu o meu pingente.

O cômodo era parecido com o que nós estávamos antes, embora era mais limpo e com um banco em um dos cantos. Eu olhei para meus companheiros de ocupação. Todos eles pareciam deformados e magros com olhos fundos. Tinha uma senhorita de cerca de 25 anos, e dois homens, um deles sendo muito, muito velho.

Eu não sei por quanto tempo ficamos lá sentados, mas um por um as outras pessoas foram escoltadas para fora do cômodo pelos guardas. Eles não voltaram.

Então era nossa vez. Foi o mesmo guarda estrangeiro que nos levou lá, que nos acompanhou para nossa próxima parada. Seu volume enorme nos levou por corredores que já havíamos passado e por tanto cantos e tantas passagens que eu perdi conta. Então finalmente chegamos em um grande par de portas de madeira. Fomos empurradas por elas para dentro de uma sala enorme.

Uma sala de julgamento. .

Eu realmente não lembro de nada daquela hora. Passou em um transe, como se eu estivesse olhando nas memórias de outras pessoas. Eu fiquei lá olhando para o juiz falando quando devia. E então acabou. A corte havia decidido. Nós fomos levados, mais uma vez, nosso destino agora decidido.

Mas não haviam mais lágrimas para eu chorar.

Fomos levados novamente a nossa cela originai. Eu mal percebi o quão rude o guarda bruto me segurou. Tudo estava borrado. Nada mais fazia nenhum sentido.

Eu vagamente senti Alec perto de mim. Mesmo através de minha visão distorcida pelas lágrimas eu podia ver que ele estava em um estado similar ao meu. Logo três ou mais guardas vieram por nós, seus corpos musculosos nos protegendo de qualquer tentativa de fuga. Mesmo que eu quisesse eu não tinha a fé para tentar escapar.

Eles nos levaram para uma quadra movimentada, o mercado. As pessoas estavam gritando e vaiando. Eu acho que eles poderiam tmbém ter estado atirando coisas em nós, mas eu não reparei ou importei. Fomos levados para um poste de madeira com fardos de madeira ao redor. Nos mandaram escalar no meio dele e ficar contra o poste, em todos os lados. Nós fizemos isso, e eu lembro de pensar e rezar para Deus, como eu tinha feito a menos de vinte e quatro horas atrás pedindo que minha morte fosse rápida. Eu senti meus pulsos e tornozelos serem amarrados para os de Alec atrás de mim e mais alguns fardos de madeira serem jogados na pilha que já era grande. Então um padre leu um curto sermão em como ele esperava que Deus nos perdoasse por nossos pecados.

“JANE!”

O grito histérico foi audível até mesmo pela multidão tumultuada. Meus olhos abriram rapidamente, olhando pela primeira vez para a cena em minha frente. Uma garota alta com longos cabelos escuros estava tentando nos alcançar. Empurrando seu caminho pela severa aglomeração.

“JANE” ela gritou de novo “ALEC!!!”

Era Anna.

Seu lindo rosto estava distorcido com raiva, dor e tristeza. Ela tinha círculos profundos por baixo de seus olhos abatidos, como se ela não tivesse sido capaz de dormir por semanas, e sua pele estava em uma cor pálida não saudável. Ela estava chorando com toda a sua força, seus braços procurando por mim, por nós.

Então eles acenderam o fogo, eu ouvi o som antes que a dor viesse. O grito histérico e cheio de remorso de Anna se destacou pela agora silenciosa platéia. Senti minhas roupas começarem a pegar fogo, gavinhas de fumaça e chamas subindo por minhas pernas. A sensação era horrendal. Como se eu tivesse sido mandada diretamente pelos portões do inferno. Eu não gritei. Qual seria o uso?

Eu tentei desligar tudo. A multidão assustadora, o choro de Ana, a dor, minhas memórias de minha curta vida. . Tudo. Fechei a minha boca com força, dando boas vindas a morte e a liberação da insuportável dor.

1 comentários:

A SAGA CREPÚSCULO disse...

nossa que horror

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