E Se Jasper Salvasse Rosalie... - Capítulo 01: Nem Tudo É O Que Parece Ser

Rosalie

Eu estava feliz com os últimos acontecimentos. Eu seria uma King, seria importante. Teria uma grande casa, com lindos móveis e objetos magníficos e brilhantes, super valiosos. Além disso, teria um grande closet, cheio de peças únicas e sapatos que dariam inveja até à mais pura mulher. E minhas joias seriam as de cores mais bonitas, clássicas e cobiçadas.

Eu teria um patrimônio imenso, uma família da alta sociedade. Eu não poderia querer menos, ou melhor, aprendi desde cedo que não merecia menos que isso.

Eu poderia ver como o destino não era perfeito para todas as belas moças. Como, nem sempre, a beleza fosse a chave do sucesso.

Eu tinha uma amiga, o nome dela era Vera. Ela era linda. Arrisco dizer que era tão linda quanto eu.

Mas era incontestável. O destino sorriu para mim e não fez o mesmo por ela. Na verdade, era confortável para mim pensar assim.

Embora Vera tivesse um filho lindo, seu consorte era pobre, um azar! Muito azar, aliás, afinal, Vera era tão linda quanto os anjos pintados nas catedrais. Tão boa, prendada e elegante.

Ela havia se casado há um ano e, embora vivesse em pobreza, possuía um lindo bebê, de cabelinhos tão macios e escuros, com covinhas encantadoras. Era como se o destino tivesse tido pena dela e decidisse recompensá-la de alguma forma.

Mas, volto a dizer, o destino não fora tão bondoso com minha querida amiga. Mesmo assim, não era por isso que eu deveria deixar minha amizade se abalar. Vera era a minha melhor amiga, aquela pessoa que todos a querem por perto, simples, carinhosa, sincera e simpática. Meio que a contra gosto, Vera era a pessoa que eu gostaria de ser. Pelo menos, ter a sua alma.

Eu cheguei em sua simples casa. Bem, era simples se comparada com a minha. Mas eu não ligava, ela era bem limpa, tinha uma porta trabalhada na entrada, a maçaneta estava enferrujada, mas eu não ligava. Ela não deixava a casa mais feia.

Havia flores na jardineira logo abaixo das janelas frontais, elas eram lindas, algumas roxas enquanto outras eram rosas. Algumas saíram erradas, tinham cores salmão. Próximo a porta, e abaixo as jardineiras, havia a jarra de leite. Todas as manhãs, ela saía e comprava leite do fazendeiro que passava com sua carroça estrondosa na rua. Sabe, eu não achava muito higiênico, mas o leite era muito bom.

E Vera, ainda por cima, esquentava bem o leite e o servia com torradas e geleia de blueberry. Hmm... Golpe baixo contra mim. Uma delícia!!!

Mas o melhor de tudo não era comer na casa de Vera, e sim pelo simples fato de estar com ela. Vera era a minha melhor amiga, e eu podia lhe confiar todos os meus segredos, todos os meus sentimentos. Ela ainda me dava conselhos, conselhos certos.

Vera era a minha “pessoa”. Era quase que a minha alma gêmea só que em sexo feminino. Tudo o que eu não podia contar com minha mãe ou minha família, o que já era uma quantia significante grande, eu contava com Vera.

- E então Rose, o que Royce disse para você hoje à tarde?

- Ai, Vera, ele é um homem maravilhoso! Sabe, eu acho que meus pais fizeram bem em me arranjar Royce como marido. Ele é tão carinhoso...

- Hmm... Só?! E todos os outros adjetivos que você costuma falar tanto? Onde foram parar?

- Ai Vera, por favor, heim?! É lógico que os elogios estão aqui, prontinho para serem falados, mas é que ele é tão fofo, e o resto meio que se resume a isso. Ele é um homem maravilhoso.

- Hmm... Ok, o que ele lhe fez de tão bom essa tarde que você está vendo anjos?

- Ah, a gente tinha combinado de que ele iria passar lá em casa depois do almoço.

- E ele foi pontualmente?

- Sim, como sempre. Até parece que tem descendência inglesa!

- Hmm... Um lorde?! – Vera brincou.

- Imagina, não, óbvio, mas ele passou no horário. Aí foi aquela melação de sempre, né?! Meu pai o elogiando até ficar descaradamente, minha mãe quase estendendo um tapete vermelho por onde ele passava. Ai, do jeito que eles agem, nem parecem que somos uma família de classe média para alta!

- Eles só estão orgulhosos de você, Rose. Estão animados. Querem agradar os dois!

- Claro que não. Se for assim, minha mãe deveria ficar comigo, conversar, sei lá, fazer mais coisas de mãe e filha. Mas ela faz algo por mim? Não, só as empregadas. Graças ao bom Pai, temos a Ruby em casa.

- É mesmo, a Ruby é tão boazinha, não?!

- É, bem, você sabe... Ela entrou faz pouco tempo em casa, mas às vezes sinto que ela é uma das poucas que me entende.

- Nossa, sabe o que sua mãe me falou outro dia? Que ela foi abandonada pela família dela. A mãe entrou em trabalho de parto, deu à luz a menina e depois a entregou no internato das freiras. É verdade?

- É, bem... Mais ou menos. Minha mãe dramatizou um pouco a cena toda, você bem sabe como minha mãe é...

- Aham... Mas não fale assim não, porque você também ama um drama!

- Ai Vera, você quer saber mesmo da Ruby ou não?

- Está bem, conta! – ela disse animada, jogando o pano de pia no outro lado da mesa. Em seguida, ela se sentou de frente para mim.

- Então, ela nasceu, a mãe ficou com ela por dois meses, e quando ela não tinha mais leite para amamentar, ela ficou desesperada. E, por acaso, ela passava na frente de um convento de freiras, aí entrou. As freiras deram apoio à mãe e a bebezinha que ainda não tinha nome. Aí a mãe gostou dos afazeres das freiras e tentou se tornar uma também, mas parece que teve problemas. Depois ela simplesmente saiu de lá, fugiu deixando a menina para trás. Nisso, a Ruby já tinha nome, ganhou das freiras por conta de que seus lábios eram bem vermelhos, como rubis. E então a menina ficou com as freiras.

- Ai que dó...

- Sim...

- Ela te contou tudo?

- Sim, às vezes nós ficamos conversando por horas quando ela não tem muito a fazer.

- Que dó. Imagina só uma mãe abandonando um filho.

- É, eu acho horrível. Não sei se eu seria capaz de cometer tal crueldade. Imagina só, um bebezinho abandonado no mundo, sem mãe nem ninguém da família para ajudar.

- E o pai?

- Ela não sabe onde está, mas ela ouviu uma conversa certa vez de que o pai era alguém rico na cidade, e que a mãe dela era uma cortesã, por isso engravidou. Ela nunca viu a face do pai, nem imagina qual seja o nome dele.

- Ai, meu Deus... Por isso ela teve problemas em se tornar freira.

- Sem dúvida!

- Mas, aaaaaai Rose... – ela disse toda melosa... Parecia uma criança fazendo marra antes de pedir algo para sua mãe.

- Que foi?! – perguntei assustada...

- Você não vai me contar o que houve entre você e o Royce hoje de tarde? Você gosta de ser malvada comigo, não?!

- Ah, claro que lhe conto, amiga!

- É que você sai por aí, eu não posso sair muito por conta do meu bebezinho, se eu sair, ele vai ficar sozinho. E eu quero ficar sabendo das coisas também. Não quero voltar para o mundo social sem saber das novidades!

- Eu te entendo amiga... Bom, vamos começar falando do Royce. Ele foi em casa, me levou flores e então fomos para a praça... – E assim a conversa fluiu...

Contei tudo o que Vera queria saber. Contei do passeio de mãos dadas. Contei de como ele conversava comigo como se eu fosse a única pessoa na praça, era como se ninguém mais importasse. Contei que ele me comprou doces na tenda do Seu Johnny. Contei do poema que ele leu para mim, arrancou meus suspiros e de mais um monte de mulheres invejosas e ciumentas que estavam passando por perto.

Também contei o beijinho no canto dos meus lábios. Ela quase enfartou, lógico, assim como eu na hora. “Um acidente, desculpe-me”, ele disse de forma envergonhada, mas ainda assim demonstrando que era mesmo o que ele queria.

Eu queria gritar, “não se desculpe”, mas eu não podia. Aí eu é que seria taxada de sem vergonha. Aí não dá, ainda mais eu, com família conhecida pela cidade toda. O povo, que adora falar mal, iriam falar mil e uma coisas de mim. Quem sabe, poderia até arruinar meu casamento!

Enfim, demorei horas conversando com Vera. Até que percebi que já era tarde. O pêndulo do relógio da sala badalava nove horas.

- Nossa, mas já? Verinha, preciso ir, querida.

- Nossa, está tarde mesmo, amiga. Bem, ok. Quer que eu acorde o Peter para te acompanhar até sua casa? Afinal, está muito tarde já!

- Não, não precisa, amiga. Está tudo bem, não é a primeira vez que eu saio tarde de sua casa mesmo!

- Rose, eu vou chamar ele...

- Não, não chama, não precisa. Está tudo bem, eu já vou indo.

- Ok, mas tome cuidado.

- Claro lindinha!

Nos despedimos e eu então saí de sua casa. Percorri algumas ruas, poucas, duas ou três, atravessei uma praça e então ouvi alguns arruaceiros. Mas que diabos de barulho! Isso não são horas de ficar bagunçando por aí.

De qualquer forma, abaixei a cabeça. Eu não iria me intrometer em negócios que não sou chamada. Mas então eu ouvi uma voz conhecida, uma voz que normalmente seria aveludada e carinhosa. A diferença desta vez era que ela estava rapidamente rouca e mole. Olhei à procura e vi quem eu menos esperava.

- Royce? O que está fazendo aqui?!

Ele estava segunda uma garrafa com uma bebida dentro. Ele não estava sozinho, alguns homens estavam junto dele.

- Rose, Rosinha... Vem cá, linda!

Fui lá, mas não para corroborar com seu planinho de bebedeira, mas sim para tirá-lo de lá. Mas quando cheguei perto, ele me puxou pelo braço. Ele segurou forte, pude sentir a minha carne sendo esmagada contra sua mão firme e músculos fortes.

- Royce, me solta.

- Olhem só pessoal a minha namorada. Ela é linda não é?!

Todos os homens concordaram com algumas palavras baixas, outros com gemidos. Ai, que ridículo isso! Parei de me debater e olhei bem em seus olhos, mas não consegui por mais do que três segundos, o cheiro de álcool estava forte demais. Olhei para os lados, vi os homens. Todos seguravam alguma garrafa, algumas mais cheias do que as outras, apesar de que todos estavam da mesma forma, moles. Estavam embriagados.

- Royce, vamos embora!

- Eu vou me casar com você, Rose. Mas, não sei do que você é capaz. E, sabe, eu queria experimentar, até porque depois eu não tenho como devolver mesmo...

- O que isso quer dizer?

- Vem cá, boneca!

Ele jogou a garrafa no chão e me segurou bruscamente. Me deu um abraço, mas de abraço mesmo não tinha nada. Ele estava passando a mão em meu corpo, e junto a isso, me segurava firmemente contra seu corpo. Eu podia sentir uma certa protuberância, mas preferi manter-me inocente. Não pensei em nada além de me soltar, me chacoalhar a fim de que ele perdesse o controle sobre mim. O que aconteceu. Porém, ele não estava sozinho.

Dois deles foram me segurar. Um segurou meus braços, os dois, de forma brusca, estava me machucando. Enquanto isso, Royce se aproveitava de minhas pernas, rasgava a minha meia fina. O outro, se aproveitava do meu corpo inerte, pegou um canivete e começou a cortar meu lindo vestido.

- Royce, por favor, pare. Faça eles pararem!

Ele não dava atenção para o que eu falava, para os meus pedidos, minhas súplicas. O outro homem simplesmente rasgava meu vestido sem dó ou piedade, não dava a mínima para o que eu falasse.

Acabei ficando semi nua. Eu estava vestida apenas pela minha blusa e saia de baixo, mas nem isso o nojento poupou. Cortou as peças em um só golpe, depois pegou os pedaços e terminou de rasgar, era como se aos poucos ele sentisse mais prazer.

- Por favor, parem! Parem! – comecei a gritar em desespero. Como é que eu me livraria deles?

Não era possível, eu não conseguia, eles eram fortes demais para mim. Eu era fraca demais. Continuei me debatendo, tanto que consegui livrar uma mão, peguei o canivete e comecei a golpear quem quer que estivesse à minha volta, inclusive Royce. Mas eu estava sem visão, estava arriscando às cegas. Foi então que escutei um “ai”, eu havia acertado alguém. Senti um leve cheiro de sangue, mas não pude prestar atenção, pois minha lingerie, as únicas peças que me mantinham coberta, estavam sendo rasgadas. Fiquei nua, sem nada. Senti que minhas vergonhas estavam expostas, minha virtude já não era a mesma que deveria ser. Se eu ainda me casasse, não seria a mesma coisa. E se tudo continuasse assim, tenho medo de como irá terminar.

Fui jogada contra a parede, bati fortemente contra os tijolos rígidos, caí no chão meio inconsciente. Eu estava zonza, abaixei a cabeça para me recompor e tentar fugir antes que Royce e os homens viessem para cima de mim novamente. Senti perto de minha mão um pedaço de tijolo, agarrei-o firmemente, pronta para atacar quem se aproximasse.

Mas então não houve nada. Não ouvi nada. Olhei para cima e eles estavam parados, estáticos, era como se vissem o chefe da delegacia bem à sua frente. Olhei na direção em que eles estavam olhando, havia um homem. Pele clara, rosto moldado por Deus, cabelo loiro escuro para um castanho claro meio bagunçado, um ar de rebelde, roupa rapidamente suja e um sapato bem texano, eu diria...
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