Nascer do Sol - Capítulo 9: As Duas Alices

Nota da autora: Esse capítulo será narrado pelo próprio vampiro Thomas, visto que Alice não tem condições de falar absolutamente nada por enquanto... rs.

- Eu tentarei. Obrigada. – ela me agradeceu. Foram as últimas palavras que eu ouvi.

Tão parecida... Eu pensei. Aquilo, sem dúvida, seria o maior ato de egoísmo da minha existência. Mas não podia deixar que um de nós a matasse. Precisava salvá-la a qualquer custo. Puxei, então, a sua delicada mão para a minha boca. Olhei para o escuro mais uma vez e ele estava lá. Acenou com a cabeça. Sabia que me auxiliaria se algo desse errado. Então, a mordi. Imediatamente seu sangue começou a escorrer pelo seu pulso. Seu sangue cheirava de forma inacreditável, nunca havia sentido algo tão saboroso. Eu senti que estava matando. Sentia o gosto do meu veneno em seu sangue, mas aquilo pouco importava. Eu queria mais, muito mais. Ela se retorcia em dor... Eu podia ver, ela estava morrendo. Não se tornando uma de nós, mas sim, morrendo. Eu não conseguia me controlar. Queria beber até a última gota. É por isso que havia o chamado para estar comigo. Para me controlar.

- Está bem, está bem meu amigo. Chega. Irá matá-la. – ele disse. – Controle-se Thomas, você não é um assassino. – ele me falava, mas eu não lhe dava ouvidos.

Uma fúria nunca antes vista o tomou. Ele lançou-se contra o meu corpo e o barulho foi intenso. Ele conseguiu com que eu me afastasse dela. A cama onde permanecia o corpo da menina caiu, fazendo com que ela batesse a cabeça fortemente no chão. Lá, ela ainda permaneceu deitada, ofegando e se contorcendo. Em alguns minutos seu coração pararia. Logo ela estaria morrendo para o mundo e seria uma de nós.

- Desculpe por isso, velho amigo. – ele me disse. – Mas se não o fizesse você iria matá-la.

- Estou preocupado, Carlisle. – eu disse, enquanto ele limpava o sangue do chão e das mãos ensangüentadas de Alice. Eu tinha autocontrole, mas ele era estupidamente mais controlado. – Esta pancada na cabeça... Afetará em alguma coisa?

- Não tenho certeza. Eu nunca havia presenciado um caso como este, quero dizer. Ela consentiu que você a transformasse em vampira. Mesmo por uma atitude tão nobre, eu nunca havia presenciado isto. Os meus aqueles que eu criei, não tiveram opções. Até hoje ouço uma jovem reclamando sobre a sua vida. É claro, Rosalie ficou extremamente mais dócil depois que trouxe Emmett e eu o transformei. Mas não sei se esta pancada influenciará em algo. Foi bem forte, pra ser sincero. Em um ser humano teria provocado um traumatismo craniano ou quem sabe uma amnésia.

- Como... Como conseguiu? – eu perguntei, sentindo-me um pouco constrangido por não ter conseguido parar de sugar o sangue da menina. – Digo, você teve anos de prática, é claro. Eu nem tanto... – eu sorri, lembrando-me de que havia mentido para que a garota confiasse em mim. 157 anos que não bebia sangue humano... Tolice... Havia alguns anos que eu deixara esta vida, porém mesmo assim eu não era tão controlado quanto Carlisle. Nem mesmo o rapaz que ele criou, Edward, era tão controlado. Eu admirava e invejava a capacidade do meu amigo. – Você conseguiu criar toda a sua família e também me salvar naquele dia tão horrível, tão escuro...

- Não pense nisso, meu amigo. – ele tentou me acalmar. – Precisamos sair daqui. Vamos até os seus aposentos. Logo os médicos estarão aqui e é melhor que pensem que a garota teve uma convulsão e bateu a cabeça ao cair.

Saímos rapidamente do quarto da garota e fomos ao meu. Demorados alguns minutos, ouvi passos no corredor. Os enfermeiros chegaram ao quarto dela. Podia ouvir os gritos de dor, mas eles não eram audíveis aos ouvidos humanos. Eram mais como grunhidos de dor para os ouvidos dos outros. Então, os barulhos cessaram. Seu coração ainda batia, mas só era audível para os vampiros. Para os humanos, os batimentos haviam cessado.

- Está escutando algo? – um dos enfermeiros perguntou, enquanto o outro tentava ouvir sua respiração.

- Receio que não. – o outro disse. – Esta aqui já passou para o lado de lá.

- Tão nova. Que Deus guarde a sua alma. Pobre família Brandon. Conheço seu pai, um homem muito respeitável. Não estava em casa quando os outros foram buscá-la...

- E o que faremos?

- Vamos contatar o Dr. Muller. – ele disse.

Então, o médico foi chamado. Examinou a garota e então constatou o óbito.

- Crreio que não há nada a serr feito, ja? Chamem a família da garrota.

Estava quase amanhecendo quando a senhora Brandon e sua nora, Adélia chegaram. Mantive a discrição e não sai do meu quarto. Não quis que Madeleine Brandon visse o assassino de sua neta. Podiam-se ouvir os gritos de tristeza da viúva, soluçando e, aparentemente, abraçada ao corpo frio de sua neta. Os lamentos da mãe por tê-la mandado para o asilo e de como conseguiria conviver com isso.

- Eu encontrei isto embaixo dela ontem à noite. – disse um dos enfermeiros. – Deve ter caído quando ela teve a convulsão e caiu.

O que ela havia escondido de mim?

- Uma carta? – soluçou a avó.

Será que ela me delatava?

Querida Família,

Sinto não poder ter tido tempo o suficiente para me despedir de vocês. Mas não se preocupem comigo. Estou bem. Eu previ isso no caminho do asilo, quer acreditem ou não. Esta é apenas uma maneira de dizer o quanto os amo e dizer que tudo isso estava predestinado, ninguém teve culpa. Vovó, sei que deve estar magoada com mamãe, mas a perdoe. E por favor, não deixe que Cynthia cresça amargurada. Diga a ela que a sua irmã foi em paz. Deixem que ela seja o que quiser e se case com quem quiser. Diga ao papai que não se abata e que continue sua vida e o mesmo desejo à senhora e à mamãe. Mande lembranças aos Franklin e diga a Taylor que ele é um ótimo rapaz, mas nossos destinos não se cruzavam. Ele merece ser muito feliz. A todos: Mamãe, papai, Cynthia, vovó, Naná e Eliza, meus votos de carinho. Aqui eu me despeço e imploro, não fiquem tristes pela perda. Eu ficarei bem.

Mary Alice Brandon.

Ela não me delatou... Eu pensei e sorri.

- O que vai fazer agora? – Carlisle perguntou.

- Vou ficar ao lado dela, como prometi. – eu respondi.

- Sabe que não poderá interferir no destino dela... – ele me disse.

- Sim, eu sei. – eu parei, pensativo. – Acha... Acha que Esme poderia aguardar mais dois dias de sua ausência?

- Tenho certeza que sim. – ele sorriu. – Mas vou avisá-la de certa forma. Vou telefonar avisando. É bom sempre lembrá-la de que deve controlar Emmett. Ele é meio teimoso quando quer e pode acabar atravessando o território Quileute. Acabamos de nos instalar na Península Olympic. Não queremos ter que ir embora agora, principalmente Rosalie. Ela prioriza muito a estabilidade. – ele sorriu. Ele parecia um pai amoroso quando falava da família que criou. Sabia que o primeiro de todos, com exceção de Esme, era seu favorito. Edward. Lembro-me dele, estive com eles, certa vez.. – Volto um pouco mais tarde.

- Carlisle. – eu disse, antes que ele saísse. - Por favor, não revele a eles que está comigo. Ou o que eu fiz... Sinto-me tão egoísta.

- Não se preocupe, velho amigo... – ele me disse, sorrindo amigavelmente. – Eu nunca direi o que sei. Nem pensarei a respeito. – ele disse e eu estava certo de que se referia ao talento particular de seu “primogênito”.

Duas horas após Carlisle ter saído, encontrava-me a sombra da velha árvore no jardim do asilo. Estava deitado quando aquela figura de cabelos grisalhos veio até mim. Conhecia aqueles olhos azuis. Eles já sorriram muito para mim, há muito tempo atrás.

Ela não disse nada. Apenas sentou-se, com dificuldade, ao meu lado. Imaginei se ela tinha noção do que estava fazendo. Ficamos alguns minutos assim. O que eu poderia perguntar a ela?

- Sabe, Thomas, sua honestidade sempre foi muitíssimo admirável. E sua desatenção também. Foi por causa delas que eu o descobri aqui.

- Como assim? – eu perguntei, curiosamente.

- Você se identificou como Thomas Preston, o vampiro, quando fez seu registro. – ela tentou sorrir, mas não conseguiu. – Outros teriam inventado um nome. Continua o mesmo desatento.

- Que bom que não se esqueceu de mim. – eu sorri, timidamente. A figura de Madeleine sempre me foi muito querida, mas mesmo assim me intimidava.

- Quero saber o que aconteceu com Alice. – ela disse, sento extremamente direta.

- Com qual das duas? – eu perguntei.

- Bom, já que tocou no assunto, me agradaria saber o que aconteceu com a minha filha. Mas primeiro, conte-me o que fez com a minha neta.

Eu respirei fundo, um velho hábito humano que eu não tinha conseguido deixar de lado. Teria que dizer a verdade. Jamais mentiria para Madeleine.

- Eu tive que transformá-la. Não aceitaria que outra pessoa morresse nas mãos ou por causa de um vampiro. Ele a mataria, eu pude ver. Ele iria atrás da outra, da pequena. Talvez de ti, de Adélia, talvez, mas não importa. Nenhum vampiro incomodará os Brandon outra vez. Antony e o seu marido já foi mais que o suficiente. Agora Mary Alice é uma de nós. Ficará bem, sei que cuidarão bem dela.

- E o que aconteceu a Alice? A minha filha, Alice.

Respirei mais fundo. Este era um assunto que me incomodava demasiadamente. Sentia uma dor dentro do peito que era o mais próximo da dor humana que eu, como vampiro, havia experimentado. A dor da perda.

- Quando... Quando ela previu que eu morreria em campo de batalha, ela correu e pediu a Carlisle Cullen que me ajudasse. Ela tinha visto numa visão que ele e sua família bebiam sangue de animais. Ela já havia lido sobre costumes vampíricos e sabia o que era e como se tornar um. Pelo menos ela supôs.

- Então, Dr. Cullen também é um vampiro. – ela afirmou.

- Sim... O melhor que já conheci. Ele foi até mim no campo de batalha. O médico do alojamento tinha feito de tudo, mas a bala estava alojada em meu estômago. Houve hemorragia e eu estava cada vez mais fraco. Carlisle pediu para ficar a sós comigo. “Sinto muito” ele me disse. “Alice pediu que eu fizesse isso.” Ele falou. Depois me mordeu. Foi a segunda pior dor de toda a minha vida.

- Imagino qual tenha sido a pior. – ela falou.

- Passados três dias, eu já era um vampiro. Acordei e estava na casa de Carlisle. Esme, sua esposa e Edward, seu “filho” mais velho me explicaram o que agora eu era. Eu não queria entender. A princípio, tudo parecia muito irreal. Queria ver Alice, queria vê-la, queria que soubesse que estava vivo. Fui até sua casa cinco dias depois na companhia de Carlisle. Ele tentou me explicar que seria impossível eu abraçá-la ou ter contato físico com ela. Eu estava nutrido de sangue animal, mas a tentação seria grande para um recém nascido como eu era. Ele e Edward ficariam de vigilância. Ele havia dito a ela que eu iria aquela noite. Ela estava me esperando.

“Thomas? Thomas, é você?”

“Sim, meu amor. Sou eu.”

Ela parou, admirando-me. Carlisle disse que eu agora aparentava mais ser mais atraente aos olhos humanos.

“Estou mais atraente pra você, agora?” eu quis saber.

“O que interessa é quem você é. Esta roupagem nova, este novo ser que você é não me interessa em nada. É você quem eu amo, é com você que eu vou me casar. Por favor, abrace-me.”

Ignorei os conselhos de Carlisle. Fui abraçá-la. Seu cheiro era tão... Convidativo. Era extremamente doce e quente. Estava tão concentrado em mordê-la que esqueci quem era ela. Com um movimento, o garoto Edward me puxou a seu encontro. Carlisle se colocou entre nós.

“Thomas... o que houve? Você ia me morder?”

“Alice, eu... eu sinto muito” eu disse envergonhado. Meu Deus. Eu ia matar a pessoa que eu mais amava no mundo. Aquele não era eu. Eu não poderia deixar esse monstro perto dela.

“Transforme-me em um de vocês, meu amor, eu quero estar contigo a vida inteira.” Ela pediu.

Uma de nós? Era isso o que ela queria ser? Uma assassina? Não, eu não podia fazer isso.

“Não posso fazer isso, Alice. Não quero que sejas um monstro como eu.” Eu dizia, olhando para ela. Meu olhar era de fúria, ainda. Se eles não estivessem usando toda a força, eu certamente havia me jogado em cima dela.

“Thomas... não... por favor, eu imploro, eu...” ela dizia entre lágrimas.

“Não quero que se torne uma assassina. Sua mãe já perdeu dois de sua família por causa da nossa espécie. Não quero que ela sofra.”

“E nós?” ela dizia, em lágrimas.

“Nós não podemos coexistir. Eu não posso viver na angústia de querer matá-la. Eu não posso conviver com isso. Você merece ser feliz. Você vai ser feliz”.

“Thomas, eu...”

“Adeus, Alice.” Eu disse, fechando os olhos e deixando que meus amigos me levassem com eles.

- Um mês depois eu recebi a notícia de que ela tinha morrido. Eu ainda não tinha controle do meu talento, se não teria visto. Foi a pior dor que senti em minha vida. Passei um ano vagando, matando vítimas inocentes até que voltei para Carlisle e decidi que seria igual a ele. Não beberia mais sangue humano.

- Talento? – Madeleine perguntou

- Sim... Talento. Veja, o garoto Cullen pode ouvir o pensamento dos outros. Carlisle tem um autocontrole imenso, mas acho que isso pode ser adquirido com o tempo. Eu posso ver como as pessoas morrerão.

- Então viu como minha neta morreria, não é?

- Sim... O vampiro que matou as outras moças a mataria. E não podia permitir. Estava em dívida com sua família. Alice, ela... Morreu por minha causa, por desgosto, por não ser uma de nós. Seria muito pior perder de forma tão bruta.

- Você tem razão. – ela baixou a cabeça. – E o que pretende fazer agora?

- Preciso de sua ajuda. Em dois dias o processo estará completo. Preciso que o enterro seja o mais rápido possível. Assim que terminar eu irei até a sepultura e tirarei a menina de lá.

- Peter já está chegando à cidade. Faremos o enterro amanhã pela manhã, depois que velarmos o corpo dela.

- Amanhã pela manhã, após que vocês saírem, estarei lá. – eu prometi.

Ela concordou com a cabeça. Tentou se levantar, mas sem minha ajuda seria algo difícil. Olhou-me nos olhos. Aqueles olhos azuis, iguais aos da minha Alice e tão iguais a pequena garota que agora seria uma de nós, sorriram para mim.

- Obrigada. – ela disse e saiu.

1 comentários:

Izinhabr disse...

Olá. Sua fic tava muito boa até chegar nessa parte. Como assim Alice foi transformada depois de Rose, Em, e Esme.
Seu desvio com relação a história foi proposital ou puro acidente de percurso?

Att

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