Então, lá estava ele. O garoto musculoso, de cheiro embriagante, de pele avermelhada e de olhos tão escuros quanto os dos vampiros sedentos por sangue. Ele me olhava sério, diferente do Jacob da foto. O Jacob da minha foto não ficaria tanto tempo me observando de longe. Ele estaria gargalhando, brincando, me levando para passear à beira do rio. Esse Jacob era diferente. Eu não tinha certeza se ele brilhava de verdade ou se eram os meus olhos que provocavam esse efeito. Eu não tinha certeza se ele era quente demais porque eu também era fria demais. A essa altura, eu não tinha certeza de mais nada.
- Você... me assustou. – minha voz falhou.
- Você quer que eu vá embora? – ele me olhou, um pouco triste. Sua cara parecia com um filhote de urso. Nunca tive tanta vontade de abraçá-lo quanto eu tive nesse momento.
- Não, por favor. Fique. – eu tentei concertar. – Desculpe, Jake. Estou apenas confusa.
- Não precisa se desculpar. – ele pulava a janela e se jogava em minha cama. – Ficou legal o seu quarto desse jeito. Obra da baixinha, não é? – ele perguntou. Ele sempre se referiu à tia Alice como baixinha. Isso me fez ver um pouco do antigo Jacob nele.
- Sim. – eu respirei fundo tentando parecer indiferente ao quarto, mas tudo o que eu consegui foi o meu beicinho de sempre. – Ela também quer dar um baile em minha homenagem.
- Bom, será que serei convidado para essa festa da família Cullen? – ele perguntou, enquanto deu um sorrisinho de canto de boca. – A última vez que apareci em uma festa não fui muito bem-vindo.
- Claro que você viria. – eu me adiantei. – A festa seria minha e eu o convidaria. Seria bem chato sem você aqui.
- Claro, claro. Nós podíamos jogar um pouco de comida no cabelo da loira... Para ela lembrar dos velhos tempos. – ele disse. Então, dessa vez, rimos juntos.
O silêncio pós-sorrisos durou apenas um minuto. Finalmente eu respirei fundo e disse.
- Mamãe me explicou como funciona a impressão. – eu disse.
- Então você entende porque eu tenho esse cuidado exagerado com você?
- Eu entendo muito mais do que isso, agora. Mas, ainda assim, - eu baixei a cabeça para não precisar olhar para ele. – eu tenho medo.
- Medo? – ele perguntou, trazendo sua mão ao meu queixo e fazendo com que eu olhasse em seus olhos negros e expressivos. – Medo de mim?
- Medo de estar longe de você. Medo dessa coisa, disso aqui que estou sentindo, que está abafando a minha respiração toda vez que eu o vejo. Disso que cresce a cada minuto que eu olho pra você e parece que vai corroer meus órgãos. Medo...
- Medo de me amar? – ele de repente falou.
- Jacob, eu o amo. Amo como eu amo meu pai, minha mãe, minha família. Amo pois você é o melhor amigo que alguém jamais poderia ter. Já amava você desde o dia em que você me colocou no colo pela primeira vez e sei que vou amar até meu último sopro de vida.
- Nessie... você é imortal. – Ele não pode esconder a risada e eu também não. Ele soltou meu rosto, levemente. Não precisava mais disso. Eu não sentia mais vergonha em olhá-lo nos olhos.
- O que estou tentando dizer é que... Estou com medo de me apaixonar. Não quero perder a ligação que já temos. Não quero deixar de brincar a seu lado, por mais velha que eu pareça ou seja. Ainda sou a Nessie de sempre.
- E eu o Jacob de sempre. Eu ainda gosto de ir caçar com você, de correr na beira do rio, de fazer a loira ficar louca quando faço piadas com ela. Ainda te contarei histórias e ouvirei as suas, por mais chatas que elas sejam, - ele não gostava dos livros que eu costumava ler para ele. – porque eu sou Jacob Black. Pele, osso, sangue e às vezes, pêlos. Você não precisa tomar decisões, Nessie. Você não precisa se apressar... Eu esperei bastante tempo, e teremos a eternidade para pensar sobre isso. Eu não envelhecerei, e você também não. Eu não morrerei e você também não. Apenas... se acostume com a idéia e me dê uma chance.
E então, ele me abraçou. Nunca senti nada tão aconchegante. Nem os abraços dos meus pais, nem a cama confortável do meu quarto se comparavam ao que sentia na proteção dos braços de Jacob. Eu poderia ficar guardada ali pela eternidade e não acharia ruim. Eu poderia morrer nesse exato momento, pois sabia que já tinha experimentado o que eu mais queria até aquele momento.
Pela primeira vez mamãe bateu na porta do meu quarto. – Posso entrar?
- Sabe, mãe. Acho que vale a pena manter Jacob em meu quarto se isso for fazê-la bater na porta antes de entrar.
- É... acho que sou mais parecida com Renée do que esperava. – mamãe deu uma risada de leve. Está tudo bem?
- Sim Bells, está. – Jacob se adiantou. – Vou esperar lá fora enquanto Nessie toma um banho. Você também podia tomar um, quem sabe esse seu cheiro...
- Jacob, não comece. – mamãe resmungou, mas riu logo em seguida. Jacob me soltou, deu um beijo em minha testa e saiu. – Bem, hora do banho, mocinha. – Ela falou, me encaminhando para o meu banheiro, ao lado do closet aberto.
- Han... ela sempre exagera com tudo? – mamãe sabia do que estava falando.
- Sim, e se quiser vê-la feliz, vista um vestido de seda que eu tenho certeza que devem existir uns cinqüenta.
Então escolhi um vestido azul-bebê de seda com pequenos detalhes em branco. Me olhei no espelho e por um minuto eu realmente quis parecer bonita. Quando sai do quarto, Jacob estava sentado na minha cadeira preferida. Mal cabia nela, mas eu sabia que havia se sentado ali pois era a minha cadeira. Ele levantou quando eu cheguei à sala.
- Uau. – ele disse e sorriu. Não pude deixar de sorrir também. Senti minhas bochechas queimarem. – Você está... está...
- Obrigada. – eu antecipei a resposta. Não queria ouvir um elogio, não sei se minhas bochechas agüentariam tanta pressão sanguínea.
Nunca tinha visto seu sorriso tão aberto e tão lindo. Parecia que havia ganhado um presente de Natal. Saímos da cabana em direção à casa dos meus avós. Caminhando lado-a-lado. Evitei várias vezes, por impulso, pegar em sua mão. Senti que ele deve ter feito o mesmo. Mamãe tinha ido na frente, antes de nós. Ela não consegue ficar tanto tempo longe do papai.
Quando chegamos lá, pudemos ouvir o final da discussão. Aparentemente, tia Rose estava nervosa e papai se exaltava com ela.
- Rosalie, você está sendo absurda. – ele gritou. – Ela não tem culpa de nada.
- Eu não estou dizendo que ela tem culpa, estou? – ela falou.
- É tudo questão de vaidade. Não é Rose? – tia Alice disse. – Uma menina metade humana tão linda quanto uma vampira. Não me admira esse seu comportamento. Mas, por Deus, é Nessie. Você a esperou como se fosse sua própria filha. Será que não dá para deixar a futilidade de lado só dessa vez?
Então, eles pararam de falar. Acho que estavam tão exaltados com a conversa que não perceberam minha presença. Resolvi que era hora de enfrentar a tia Rose. Entrei em casa e todos me olharam. Pude ver pelo canto do olho o sorriso de tia Alice. Ela estava feliz em me ver com o vestido. Por um instante, encarei tia Rose e ela baixou o olhar.
- Eu quero que você olhe para mim. – eu disse. Minha voz saiu como um desafio. Não havia necessidade de ser boazinha. Ela estava sendo... boba.
- Nessie, eu.. – ela começou a dizer, e então dei um passo a frente. Colocando as mãos em seu rosto, procurei na memória todos os momentos em que estive com ela. Todos desde meu nascimento. Ela me alimentando, me dando banho, me penteando, me ensinando a andar, colhendo flores comigo, indo caçar em um raro momento que Jacob não pôde ir. Ao terminar todos esses pensamentos, eu disse em pensamento, na segurança de que quase ninguém poderia ouvir nossa conversa.
- Eu não poderia ser mais grata a você do que já sou. – eu pensei. – Graças a você, estou aqui. Eu a amo como se você também fizesse parte de mim. Eu ainda sou a mesma Nessie de sempre. Você ainda é uma das criaturas mais belas desse mundo e mesmo que não fosse pra mim vai ser. Será que nós não podemos deixar isso de lado?
Ela olhou em meus olhos. Seus olhos dourado-escuros me fitaram confusa. Seu queixo tremeu um pouco e ela sorriu, sem graça.
- Por favor, tia Rose.
- Nessie... – ela disse e então me abraçou. – Ah, Nessie, me perdoe. Como pude ser tão egoísta com você... Logo com você. Não, você está certa. Não há razão para isso. Você é a minha pequena Nessie. Nunca mais vou deixar isso acontecer. Prometo.
- Monstrinha, você conseguiu derreter o coração de sua tia. – tio Emmett nos pegou no colo, as duas ao mesmo tempo. – Pensei que eu fosse o único a conseguir essa façanha.
- Bom, isso se a loira realmente tivesse um coração... – Jacob disse.
- Jacob, não comece. – Todos os Cullen falaram ao mesmo tempo, inclusive eu. Nós rimos todos ao mesmo tempo e tio Emmett nos colocou no chão.
- Então, tia Alice. Gostou do meu vestido? – eu rodopiei como ela faria, mas não tão graciosa. Acho que o lado humano da minha mãe exercia uma força nisso.
- Muito! Você está fabulosa. – ela deu gritinhos de alegria. – Por sinal, acredito que não sou a única a pensar assim. – ela sorriu, enquanto olhava para Jake. Ele também sorriu.
- Em todo caso, - vovê se levantou do sofá. – Eu acho que Nessie deveria comer alguma coisa.
- De novo? – eu perguntei. – Eu comi ontem.
- Sim, mas veja bem, seu organismo passou por uma mutação rápida. Você precisa de proteínas e outras substâncias. Seria interessante você caçar também o mais breve possível.
- Ótimo! – eu disse. A idéia de caçar me animava um pouco.
- Mas antes, você vai comer. – papai sorriu, indo em direção à cozinha.
- Não tenho vontade de comer. – eu resmunguei. De repente, senti vontade de comer alguma coisa. Pela primeira vez, tive vontade de comer alguma coisa. Rapidamente, olhei para o canto da sala. Tio Jasper me olhou, ergueu as sobrancelhas e sorriu.
- Sinto muito, Nessie. – ele se desculpou.
- Não, você não sente. – eu disse, resmungando.
- Não, realmente não sinto. – e sorriu novamente. Ele era o mais sério dos meus tios, mas mamãe me disse que depois da minha chegada, ele havia se tornado um ser mais aberto. Brincalhão, às vezes. – Venha, vamos fazer companhia enquanto você come.
- Bem, vou indo ao hospital. – vovô se adiantou. – Preciso ver o sangue de Renesmee e Jacob, compará-los o mais rápido possível. – ele falou, enquanto dava um beijinho em vovó Esme e saia.
Papai já estava fazendo alguma coisa no forno enquanto mamãe colocava a mesa. Dois pratos estavam sobre a mesa: o meu e o de Jacob, a única pessoa que comia comigo. Os outros estavam ali para se certificar que eu comeria. De um lado da mesa, minhas tias faziam planos para o baile de debutantes. Do outro, meus tios comentavam sobre o jogo de baseball que iria começar em algumas horas. Vovó Esme estava conversando com a mamãe sobre vovó Renée ter ligado mais uma vez, achando impossível que Dartmouth ao havia liberado para as férias de verão. Enquanto ouvia a conversa, papai servia uma porção de rosbife com batatas para Jacob e eu.
- Tentei deixar mal passado, - ele me disse. – Sua mãe me fez um desafio certa vez e eu sei o quanto a comida humana é desagradável.
- Obrigada, pai. – eu tentei ser sincera. O líquido vermelho brotando da carne era mais apetitoso do que o prato em si.
Então, comi. Tinha um gosto terrível. Mas, se eu não comesse, sete vampiros e um lobo me amarrariam e me fariam comer a força. E força é algo que todos eles tinham.
- Charlie está chegando. Posso sentir o cheiro dele chegando na beira da estrada. – mamãe disse. – Não precisa esconder-se, Renesmee, eu já liguei pra ele. Charlie já sabe que você chegou ao limite.
- Charlie está chegando. Melhor que ele pense que todos nós estávamos jantando. – vovó Esme pegou os pratos, sujando-os com o molho de rosbife e cortando algumas batatas, enquanto colocava em alguns pratos sobre a mesa. Vovô Charlie sabia que éramos diferentes, mas acho que nossa dieta o assustaria um pouco.
Ele bateu na porta e papai foi recepcioná-lo.
- Edward. – ele estendeu a mão. Ele o tratava com formalidade. Acho que ele o culpava por mamãe estar longe dele.
- Bom tê-lo aqui, Charlie. – papai disse e o guiou até a cozinha.
Seus olhos castanho-chocolate caíram sobre mim. Eu vi que, a princípio, ele se assustou. Tive que forçar um sorriso para que ele pudesse relaxar.
- Oi vovô. – eu levantei da mesa.
- Oi... Nessie... – ele me olhou. Sua voz falhava. Era nítido o nervosismo. Uma onda de calma nos atingiu e eu sabia que tio Jasper estava ajudando nisso.
Então, andei e fiquei em pé, cara a cara com o meu avô humano.
- Você... tão parecida... Bella... – ele não conseguia formular frases concretas. – Mas... como?
- Também não sabemos, pai. – mamãe se aproximou. – Carlisle acabou de sair. Foi ao hospital analisar o sangue de Nessie.
Vovô ainda estava com a boca aberta, me olhando. Não esperava que ele me abraçasse, como os demais fizeram. Então, eu o abracei. Senti seus braços me envolverem num abraço fraco. Depois, ele me apertou contra seu corpo e então, reconheci o abraço do meu avô. Me afastei um pouco e pude vir o sorriso brotando sob seu bigode castanho.
- Mas, como ela é tão parecida com você? Bella, não entendo. – ele pareceu confuso.
- Charlie, você vai ter que confiar em nós, mais uma vez. – vovó Esme disse, com calma.
- Confiar? – vovô parecia zangado, mas pela influência do talento do meu tio, não houve alteração em seu tom de voz. – Minha filha some depois da lua de mel e vocês dizem que ela está doente. Depois a fisionomia dela muda inteiramente, Jacob pode se transformar em lobo, Edward herda uma criança que se parece com Bella quando pequena e que cresce um ano a cada mês e vocês. Agora ela parece ter mais de quinze e é a cara da minha filha. Me dêem um bom motivo para confiar em vocês...
- É para a sua segurança, Charlie. – Edward disse.
- Minha segurança? Por Deus, eu sou chefe da polícia local, Edward. Eu promovo a segurança dos cidadãos de Forks.
- Charlie, - Jacob se levantou da cadeira. – veja bem. O que eles estão tentando lhe dizer é que eles são diferentes e que você não poderia saber disso pois tem gente iguais a eles que poderiam machucá-lo, ou as pessoas que você ama. É isso que você quer?
- Eu quero saber a verdade. Eu quero saber por que esta criança é tão parecida com a minha filha.
- Porque ela é minha filha. – mamãe disse. Todos a olharam.
O que havia sido escondido por tanto tempo foi descoberto. Vovô estava tão chocado quanto o resto da famíalia. – Pai... Renesmee saiu daqui. – apontando para a sua barriga. – Na lua-de-mel eu engravidei de Edward e Renesmee cresceu na mesma proporção quando estava na minha barriga quando cresceu fora dela.
- Mas por que você... não me disse nada?
- Você acreditaria em uma barriga de nove meses em algumas semanas? Em todo caso, estou dessa forma porque Edward me salvou. Se ele não tivesse feito o que fez, me feito assim, eu estaria morta.
- Morta... – ele sussurrou. Acredito que a imagem da minha mãe morta passou pela cabeça do meu avô. Claro que mamãe não estava exatamente viva, todos nós sabíamos. Mas a concepção de vovô sobre a morte era diferente.
- Graças a Edward, estou bem, pai. Graças a Edward, pudemos ter Renesmee. Sua neta, de verdade. Não adotada, não herdada, mas um fruto do amor.
Vovô parecia confuso. Sentou-se na cadeira mais próxima. Estava tentando colocar as idéias em ordem. Uns cinco minutos se passaram, mas ninguém se moveu. Ninguém fez menção de falar nada. Todos nós estávamos esperando uma resposta.
Finalmente, ele abriu a boca e disse.
- Bem... Não é tão difícil de acreditar. Afinal de contas, o filho do meu melhor amigo pode se transformar em lobo na minha frente. – ele sorriu de leve. – Venha Nessie, deixa seu velho avô dar mais um abraço.
Ele havia me aceitado. Mamãe sorriu e o abraçou também. Ficamos os três, abraçados.
- Minha netinha... – ele disse e uma lágrima molhou a minha testa. Não que ele me tratasse de forma diferente, mas acho que saber que era meu avô biológico o fez ainda mais emocionado em ter uma neta.
Então, o clima foi quebrado. Tio Jasper se adiantou e o ouvimos dizer a tia Alice:
- Alice? Alice, o que você está vendo?
- Bella. – ela se dirigiu à minha mãe. – Temos problemas. Renée está vindo.
5 comentários:
amando cada vez mais essa fic
renée vai ver bella ??
oq vai acontece ?
AI MEU DEUS!!!! ESSA FIC E TIPO SUPER PERFEITA!!!
Oh my God!! Renee está vindo!! Ownn...Charlie reagiu bem!!Foofofs d+!! Amei essa fic!
Uhu!
Amando demais, demais,demais !!
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