Verde, Vermelho, Dourado - Capítulo 8: Rosto Dourado

Aquele verão foi suficientemente agradável. Carlisle havia adquirido um Pierce Arrow. Eu estava extático, era um carro deslumbrante, polido e amarelo. Ele disse que dirigi-lo ao redor de Ashland não seria beneficial ao nosso disfarce, mas nos permitimos dirigir o carro em outro lugar. Apenas uma coisa me incomodava.

“Como você comprou esse carro, Carlisle?”

Eu não comprei.

Levantei uma sobrancelha. Levou-me menos de um segundo para compreender a verdade. “Você roubou ele?”

Carlisle moveu os ombros. Claro, eu queria proporcionar o melhor à você. Quero que você seja feliz Edward. Ele quase disse ‘filho’ em seus pensamentos, mas parou a si mesmo. Embora ele tenha aceitado que eu pensasse sobre ele como um pai, porque ele era digno de tal respeito, ele não tinha certeza de que eu aceitaria de ser referido como seu filho.

E eu estava feliz, estando com meu pai e sendo seu filho. Embora fosse perturbador aprender o lado mais obscuro de nossa existência. Tínhamos que mentir, trapacear e roubar para podermos nos acomodar no mundo. Contudo, meus sentimentos perturbados diminuíram rapidamente, quando concluí que estes pecados realmente não fariam diferença aos condenados. Indiferentemente, era muito divertido.

Dirigimos até a cidade mais próxima e vasculhamos por lojas de música. Comecei a colecionar tudo que podia colocar minhas mãos em cima. Em uma loja, Carlisle me passou uma pilha de papéis. Olhei para o pacote, eram folhas de música em branco. Achei que você gostaria de começar a escrever sua própria música, ele disse. Eu sorri. Você está contente com essa vida. . . Edward? Eu franzi as sobrancelhas. Seus pensamentos pausaram por um breve segundo, e eu sabia que ele queria me chamar de ‘filho’. Então fiz desse meu objetivo, provar a ele que eu era merecedor de tal título.

Em sumo, um belíssimo verão, envolvendo tempo de qualidade entre pai e filho para os estranhos, e um reforço de camaradagem entre dois vampiros. Então setembro apareceu, e era meu primeiro dia do ensino médio. Bem, tecnicamente não era bem meu primeiro dia, mas, meu primeiro dia como vampiro fingindo ser humano em uma escola cheia de suculentos humanos.

“Estou certo de que você ficará bem, ” Carlisle disse depois de eu me vestir. “Você exibiu grande controle durante nossas viagens à cidade. “

“Parece que sim, ” respondi, pegando minha bolsa de livros.

Boa sorte, Edward, eu ouvi enquanto saía pela porta.

Retornei extamente às 15h50min, cinco minutos após o final das aulas. Corri o caminho todo, ansioso por escapar de todas aquelas mentes juvenis. Encontrei Carlisle em seu escritório, um jornal aberto em frente ao seu rosto. Fiz uma carranca, soltando um sibilo.

“Como foi seu primeiro dia na escola, filho?” Carlisle perguntou por de trás do jornal.

“Foi a experiência mais excruciantemente chata da minha vida. . . Pai, ” respondi secamente.

Carlisle gargalhou. Então, ele cuidadosamente dobrou o jornal e o deitou em sua mesa. Ele estava sorrindo e então ficou sério abruptamente.

“E os humanos? Como foi?” ele perguntou. Movi meus ombros, me jogando em uma cadeira. “Teve qualquer problema em resistir?”

“Bem, não foi tão difícil quanto eu imaginava, ” eu disse. “Estou bem certo de que humanos ficariam tão surpresos quanto eu estava, se a refeição deles começasse a andar de repente. “

Carlisle levantou as sobrancelhas, surpreso. “O que quer dizer?”

“Eu podia ouvir todos os seus pensamentos, cada uma de suas insignificantes, minúsculas mentes. ” Apertei o canal do meu nariz. “Foi exaustivo. Sim, ocasionalmente um humano chegava muito perto, ou havia uma brisa em minha direção. Contudo, apesar da dor em minha garganta e o fresco fluxo de veneno em minha boca, eu certamente não os achava atraentes quando seus pensamentos triviais invadiam minha mente. “

“Interessante, ” respondeu Carlisle, com um sorriso. Estou orgulhoso de você.

“Pelo quê?” questionei.

“Por desenvolver uma conexão com a humanidade tão cedo. É uma proeza incrível. “

Eu sorri, era um elogio maravilhoso. Quase me fez sentir que depois de tudo eu tinha alguma chance de viver às expectativas dele e ganhar meu valor. Naquele ponto, a relação pai/filho era mais uma piada interna do que uma realidade que eu tanto ansiava.

“Então, você vai trabalhar no seu primeiro turno noturno no hospital essa noite, correto?” perguntei, sem querer ser rude. Eu me importava com os interesses dele tanto quanto com os meus próprios. No entanto, eu poderia facilmente ter ficado reclamando de ter que ficar na escola por horas, então eu precisava de uma distração.

“Sim, isso mesmo, ” ele respondeu. “Estou ansioso para continuar meu trabalho. “

E assim foi por meses. Tínhamos nossa rotina. De dia, eu agia como humano, estudante de dezesseis anos, e de noite, enquanto Carlisle trabalhava no hospital, eu continuava com minhas composições musicais. Tínhamos uma imensa quantidade de privacidade, a qual adorava imensamente. Ainda assim, ao mesmo tempo, compartilhávamos nossa privacidade respeitosamente. Eu não aprendi que havia ganhado meu valor até muito depois, pois eu fiquei sem tempo de repente, quando achei que tínhamos todo o tempo do mundo.

Os dois anos que tínhamos. . . se acabaram.

Eu ouvi Carlisle correndo para dentro de casa, seus pensamentos estavam confusos e em um turbilhão. Eu também podia sentir o cheiro, teria sido impossível não notar. Sangue. Sangue humano. Sangue humano fresco. Carlisle, eu pensei, o que você fez?

Edward venha depressa! Preciso de sua ajuda!

Nunca o ouvi soar tão agitado antes, me deixava nervoso. Corri até ele e o encontrei carregando uma mulher humana. Sem palavras, me joguei de costas contra uma parede.

Por favor, ela não tem muito tempo, ele me implorou. Ele estava certo. Eu mal podia ouvir o coração dela, estava tão fraco e desacelerando a uma velocidade assustadora.

“O que você espera que eu faça?” fechei a cara.

Preciso que você me segure. Ela é especial, não sei se posso me conter. . . E eu preciso. . .

Meus olhos se arregalaram, chocado com suas palavras. Mas se era o que ele precisava, então isso era o que eu faria por ele. Acenei em consentimento. O segui até seu escritório. Ele gentilmente deitou a mulher em sua mesa. O que eu vi em seguida fez minha mente nauseada. Ele a estava mordendo. Pescoço, pulsos, tornozelos, peito. Criando feridas da mesma forma que fez comigo.

Edward! Faça-me parar!

Eu o agarrei e puxei nós dois para fora do escritório. Sentamos ali, eu amedrontado e ele respirando pesadamente. Então ele correu para o banheiro e cuspiu sangue na pia. Ele ligou a torneira, enxaguando a boca. Tudo que eu podia fazer era sentar ali e encara-lo. Ele me viu pelo espelho.

“Obrigado, ” ele sussurrou. Movi meus ombros. Eu faria qualquer coisa por ele. “O nome dela é Esme, ” ele começou, “ela tentou suicídio. Ela é especial e eu não podia apenas deixá-la morrer. “

Sua mente abriu e eu vi Carlisle atendendo uma garota de 16 anos. Ele estava cuidando de sua perna quebrada. Sedos cabelos cor-de-caramelo, rosto doce e apaixonado. Era o mesmo rosto da mulher contorcendo-se de agonia no escritório de Carlisle, dez anos antes. Um rosto dourado. Eu soube então, era a companhia que ele precisava. Eu não era suficiente.

Ele justificou suas ações, tirar uma vida humana por amor e companheirismo. Eu tive dificuldades em justificar suas ações com a mesma rapidez que ele o fez. Sim, já estavamos condenados, então mais um ato pecaminoso e criminoso de roubar uma alma humana não importava. Contudo, eu sabia que Carlisle ainda lutava com sua consciência mesmo que suas palavras falavam o contrário. Ele sabia melhor do que não tentar me enganar.

Eu aceitei que essa mulher era o que ele precisava. O que ele queria todo o tempo. Isso não significava que eu tinha que gostar da situação ou dar minha aprovação. Obviamente ele podia fazer o que quisesse, com ou sem minha opinião. Nunca falamos olho no olho sobre o assunto. Ele ainda acreditava firmemente, agora mais que nunca desde que tinha esta mulher, de que haveria um lugar para nós em uma pós-vida. Ele tinha uma visão serena, quando tudo o que eu via era esquecimento. Mas, em que contemplar a pós-vida de um vampiro importava para um imortal? Era uma discussão sem sentido. Nenhum de nós encararia a morte tão cedo, isso se algum dia a encontrarmos.

Então ouvimos um histérico grito de dor vindo do escritório. E então começou. . .

1 comentários:

drika disse...

ameii a Esme apareceu hehe

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