Ressurreição - Capítulo 01: Perspectivas

[Bella]

Já faziam alguns anos desde que me tornei vampira... Desde quando era humana, ser vampira era tudo o que desejava, para que eu pudesse proteger a mim mesma - e aqueles que eu amava. Mas depois de tanto tempo, 50 anos desde minha transformação, eu já começava a entender o que exatamente significava a escolha pela imortalidade.

Contemplei a lápide à minha frente, onde a frase “Descanse em Paz - Charlie Swan” estava. Eu não havia tido como me despedir, uma vez que como vampira, eu não havia podido me encontrar mais com ele.

Um buraco vazio se abriu no meu peito. Eu queria chorar. Mas as lágrimas não saíam nesse corpo imortal... Pela primeira vez, em quase um século, eu senti raiva de ser imortal...

- Bella... Vamos embora... - sussurrou Edward aos meus ouvidos.

Olhei fundo nos olhos deles... olhos de caramelo, olhos tristes que só uma pessoa imortal poderia entender. Olhos que somente EU podia entender...

- Eu estou bem, Edward... mas é que para tudo o que me preparei, não havia me preparado para ver os que amo morrerem... - disse, baixinho...

- Bella...

Ele me abraçou tão forte, como nunca tinha me abraçado - como nunca precisou me abraçar. Me abraçou como se a morte do meu pai o fizesse se lembrar de que um dia eu também fui mortal. E mais ainda, como se eu ainda pudesse morrer.

Respirei fundo... Eu ainda tinha outros problemas para resolver. Eu tinha me tornado imortal, e juntamente com esse corpo glorioso recebi o poder de prever a extensão de um perigo e congelar as pessoas, deixando-as como estátuas; Eu era poderosa, como nunca havia sido. Eu era linda - como jamais alguém poderia ser. E isso despertou a cobiça em Aro, Marcus e Caius, que desejavam ardentemente que fizéssemos parte da comitiva dele. Eu, Alice e Edward. Com nós três, eles teriam o poder de um deus. Talvez fizessem um inferno na Terra. Ou talvez, simplesmente fôssemos usados para aniquilar, destruir, para matar.

Eu ainda precisava ir a Volterra - pois Aro tinha solicitado que fôssemos, alegando ele, que precisava resolver um assunto urgente com a família Cullen. Como nenhuma decisão fora tomada, Alice não podia ver. E isso me preocupava...

Com toda a coragem do mundo, olhando nos olhos de Edward, eu tremi... tive a sensação de um perigo ao longe...ao fundo.

Lá, no fundo da minha alma, eu já sabia. Edward não estaria comigo em algum momento.

Eu, sozinha, teria que lutar.

Respirei fundo… Apesar de saber que Edward jamais poderia ler meus pensamentos – ele poderia ler minha expressão. Bom… sorte minha que não tinha mais batimentos cardíacos, pois estaria palpitando como as asas de um beija-flor, se é que isso fosse possível.

Continuei a observá-lo. Ele continuava lindo, um anjo lindo, glorioso, como se ofuscasse o sol no seu melhor esplendor. Eu não poderia perdê-lo jamais. Agora que eu tinha a eternidade, eu o tinha para sempre, também. Ele estava usando um terno preto, o que acabava por ressaltar ainda mais a cor pálida de seu rosto. Agora que estávamos sempre juntos, ele raramente deixava de caçar, de modo que seus olhos – seus lindos olhos estavam sempre com aquele caramelo líquido.

- Bella, está chovendo. Tenho certeza que você gostaria de ficar um pouco mais aqui no cemitério, mas veja bem, não se pode lamentar a morte para sempre. Olhe para mim, Bella.

Ele levantou delicadamente o meu rosto, fitando-me intensamente.

Hã? Onde eu estava mesmo? De repente, não enxerguei mais nada. Os lábios dele, agora quentes nos meus, tinham o poder de me desnortear, mesmo se eu não estivesse em meu melhor dia. Essa pare de mim – meu amor por Edward, crescia a cada dia, a cada dia de nosso infinito.

Ele me carregou nos braços, e correu para o carro, como fazia quando eu era mortal…

Quando eu já estava sentada no banco do carona, e Edward ia dirigindo, eu fiquei a observar a chuva que caia, embaçando a janela...

De repente, aquela sensação. Um fogo começou a queimar meus olhos. Fechei-os rapidamente – era assim que eu pressentia o perigo. Primeiro vinha a queimação nos olhos, e de repente, eu via alguma coisa. Nunca era nítido como as visões da Alice. Eu enxergava apenas um objeto, uma peça-chave. Quando enxergava a visão, o perigo já estava perto demais, restando-me os apenas minutos para pensar em agir.

Abri os olhos, em choque.

Eu havia visto um envelope. Nele estava escrito:

“Aos Amigos: Alice Cullen, Edward e Bella Cullen”.

- Pare o carro, pare! – Gritei, eufórica – Tem alguém na nossa casa, eu tive uma visão. Deixe-me ligar para Alice!

- Calma Bella! O que houve? Explique o que você viu! Quem sabe eu possa ajudar?

- Não dá tempo, Edward! – falei enquanto colocava o celular na discagem rápida - Você sabe que quando eu vejo algo temos apenas alguns minutos para agir!

Triiimmmm... Trrriiiimmmmmmm…

O celular tocou até cair na caixa postal. Olhei desesperada para Edward.

- Eu vi um envelope endereçado a mim, você e Alice, - expliquei – com certeza alguém da comitiva dos Volturi devem ter ido até a nossa casa.

- Hum, então isso significa que no mínimo, estamos com problemas. Mas não acredito que seja algo tão grave assim como você está pensando. Alice teria nos avisado se decidissem algo contra nós, mas como não decidiram nada, isso nos dá tempo para nos preparamos. Se bem que a essa altura, eu queria mesmo era acabar com Aro de uma vez, pois somente dessa forma você estaria livre das garras deles. Pode ter certeza meu amor, que garantirei para que nunca, nunca, cheguem até você.

- Não é isso que me preocupa, Edward! Estou pensando nos outros. Será que até mesmo sendo vampira, serei um imã para problemas? - falei, quase gritando.

Edward rugiu entre os dentes, juntamente com o motor do carro. Enquanto íamos em direção a nossa casa, milhares de pensamentos se passaram na minha mente. Perspectivas. Planos.

Pensei na frágil Alice, sempre com sua alegria radiante, sua doce risada de sinos. Olhei para Edward, imaginando-os ao lado de Aro, com olhos vermelhos, olhos de sangue. Não. Eu não podia deixar que isso virasse uma guerra. Agora eu era forte o suficiente, poderosa o suficiente para matar um vampiro.

Sim, era isso mesmo o que eu faria. Mentiria.

Mas será que eu conseguiria dizer a Edward que não o queria mais? Conseguiria eu, apunhalar o próprio coração, para poder deixá-lo longe das vistas de Aro? Pensando nessa perspectiva, eu finalmente entendi porquê ele tentou me manter longe dele, alegando que não me queria mais, simplesmente …para me proteger.

Tremi com a lembrança da época mais obscura de minha vida.

Edward era como uma jóia para mim. Mas agora eu o via como uma jóia frágil. Ele significava muito mais que o ar, o céu, ou o sol. Ele era exatamente o que eu precisava para viver. Não podia imaginá-lo ao lado de Aro, assassinando inocentes… Mas e se ele escolhesse, por sua própria vontade, trilhar esse caminho? Com certeza eu o seguiria, claro. Embora jamais eu pudesse ser capaz de matar um ser humano para me alimentar.

Eu conhecia Edward muito bem, o suficiente para saber que ele jamais cogitaria essa idéia. Ele iria preferir lutar e morrer a viver o restante de sua existência ao lado dos patronos noturnos das Artes…

“Pesadelo ” – Disse –me ele, certa vez.

E Alice… Alice também. Com sua meiguice, jamais que aceitaria –ou mesmo toleraria – a idéia de colocar seu poder quase onisciente nas mãos de Aro. Alice lutaria, também. Jasper, sem dúvidas, defenderia sua alma gêmea até a morte. Carlisle, Esme, Emmett e Rosalie, os rostos da minha amada família, apareceram na minha mente, em formação para lutar. Sim, eles também – nos defenderiam.

Eu não podia aceitar. Eu os amava demais, para perdê-los dessa maneira. Eu iria aos Volturi. Sozinha. Eu os confrontaria… mas os venceria?

A única coisa que eu não sabia – era se Edward iria aceitar o suposto fim de nosso romance, quando minhas mãos começassem a tremer, e meu rosto ficassem tensos.

Eu sorri por dentro. Sim, daria certo. Eu saberia como fazer.

Eu tinha um plano perfeito.

Comecei a me sentir verdadeiramente poderosa – não frágil – mas como se nada pudesse me deter.

Eu me sentia uma verdadeira Vampira.