Solstício - Capítulo 09: Passado, Presente E Futuro

P.D.V de Renesmee.

Quarta-feira, 25/09, 3:25am.

O relógio do painel, ainda protegido por uma película plástica, esfregava na minha cara de estátua grega um atestado de que não andaria mais depressa, mesmo eu sendo tão bem comportada. Estava imóvel a mais de duas horas, com a cabeça e os braços sobre o volante de meia-circunferência {meia lua, como a Aly apelidou}. O cheiro de couro no interior do Porsche agia em mim como um calmante, por mais que meus nervos insistissem em ficar à flor da pele...

Meu cérebro ainda tentava processar cada milissegundo do dia anterior e era frustrante como as lembranças não conseguiam simular nem mesmo 1% dele com realismo! As emoções que minha mente e corpo experimentaram naquelas espetaculares 24 horas já deviam somar mais de 1.000.000, sem dúvida! Quantas horas mais seriam necessárias para que eu finalmente me convencesse de que aquilo tudo não havia sido apenas um sonho mágico, cruelmente interrompido pela realidade que me trouxe de volta, contra a minha vontade?! Difícil estimar...

Em momentos assim, é inevitável vasculhar a memória atrás de uma distração, principalmente se você é uma pessoa incomum. Mas, apesar de alguns ínfimos traumas, eu era uma garota extremamente feliz! A prova disso era que não conseguia imaginar alguém mais privilegiado do que eu na face da terra...

Em suma, minha vida não poderia ser mais perfeita! Eu era jovem {permanentemente}; tinha uma família extraordinária {mesmo sem mencionar algumas particularidades...} que me amava imensurável e incondicionalmente; amigos maravilhosos e muito autênticos; uma casa confortável, diga-se de passagem; e agora um carro próprio que oferecia muita {MUITA} comodidade... Nenhum dos meus dias se passavam da mesma maneira e, mesmo quando eu pensava que já havia visto de tudo, algo novo e maravilhoso acontecia.

Sim, eu tinha a vida que muitas pessoas matariam ou morreriam para ter... e, no nosso caso específico {meu e de minha família}, isso não se limitava a uma reles figura de linguagem! Lamentavelmente, destruir vidas, muitas vezes a própria, para se tornar como um de nós chegava a ser um acontecimento bem constante nesse nosso mundinho cruel. Porém, em raras ocasiões, a sede por desfrutar de uma eternidade de prazeres e luxo não era a real motivação que levava alguém a escolher nosso estilo de vida. O maior exemplo disso eu tinha dentro da minha própria casa: Minha mãe, Isabella Cullen, outrora Isabella Swan.

Enquanto mortal, ela nunca teve tendência a ser uma pessoa macabra, fissurada por sangue ou bizarrices que envolvessem gente morta. Muito pelo contrário... Tais coisas chegavam até a perturbar seu equilíbrio físico e mental! De todas as vezes que ela me contou sobre sua antiga vida, ela sempre se descreveu como sendo muito sem graça... “um desastre ambulante!”, embora meu pai discordasse terminantemente de tudo isso. Ele sempre soube que ela era especial, mesmo antes de se apaixonar por ela. Ela também enxergou algo diferente nele... algo que os levou a se aproximarem um do outro, por mais que as aparências praticamente berrassem para o contrário! Seus corações estavam em atração e, pouco a pouco, lutar contra isso se tornou inútil. Eles se apaixonaram perdida e irremediavelmente, como nos livros antigos de romance, só que muito mais riscos estavam envolvidos em razão dessa união do que bruxas, dragões ou maçãs envenenadas...

Nem um dia sequer de suas vidas foi tranqüilo, depois que resolveram assumir publicamente o amor que sentiam um pelo outro. Muitas cicatrizes e ossos quebrados ainda os separavam da felicidade completa, e minha mãe sabia disso. Mas ela não temia por seu corpo, e sim, por perder o amor de sua vida, morrendo impotente pelas mãos de algum vampiro psicopata, ou em algum acidente inevitável, ou mesmo simplesmente sucumbindo às garras do envelhecimento. Não entendia como alguém como o meu pai conseguia amá-la, nem tão pouco se considerava digna desse amor, mas sabia que o desejava mais do que o ar que respirava e não suportava o fato de ser tão frágil e susceptível às desventuras da vida. Não era a imortalidade que a atraia, nem as habilidades impressionantes. Não, ela só queria estar com ele para sempre. Apenas isso.

Meu pai não a transformou de imediato, por mais que também não conseguisse pensar em outra coisa além de tê-la eternamente. Ele tinha conhecimento dos riscos e, além disso, não seria capaz de destruir o que considerava ser mais valioso na existência dela: sua alma. Lutou contra a própria natureza para preservá-la na forma humana, tendo até que se afastar dela em um dado momento... Mas foi pior! Uma vez ele me disse que a distância diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga as velas, mas atiça as fogueiras. Não tenho dúvidas de que foi assim com eles dois.

Chegaram então a um ponto onde não seria mais possível conciliar as três coisas que mais desejavam, com ela ainda sendo humana: Se amarem, estarem juntos e serem felizes! Ele teve de ceder.

Eles se casaram e quando eu, o fruto do amor entre eles, comecei a tomar forma no frágil ventre de minha mãe, não houve mais saída. Ele a transformou e eles enfim se tornaram iguais, harmônicos, compatíveis! Ele a fez a mulher mais feliz do mundo. O amor prevaleceu.

O amor...

O eterno mistério... O enigma sufragado entre os poemas, buscado entre os mortais, protegido pelos deuses... O limite entre a razão e a loucura, paralelo entre a certeza e a insegurança... Sentença e bem-aventurança...

Sim, o amor! Esse amor, tão pintado em quadros e venerado em sonhos... esse sentimento tão sublime, acima da morte e da vida... Essa genuína fórmula da felicidade... agora habitava as recamaras do meu coração. Eu ousei perscrutar seus segredos e ele me invadiu sem reservas... sem pudor...

O meu alvo foi inesperado, mas certeiro: Meu melhor amigo.

Aquele com quem eu jamais havia sonhado me envolver. O cara em quem eu me espelhava, meu companheiro de aventuras, meu irmão mais velho, meu confidente, meu aliado, meu preferido...

... meu Jacob...

Eu devia ter percebido, os sinais eram tão óbvios... Como fui capaz de ignorar o inevitável por tanto tempo?! Como não percebi o que estava diante dos meus próprios olhos?! Como...?! COMO?! Inexplicável! E, no entanto, uma vez que meus horizontes se expandiram para essa nova realidade, meu interior se contraiu, assustado, pasmo, envergonhado... horrorizado com minha ousadia, com meu atrevimento! Eu fui capaz de corrompê-lo em minha mente, invadida por uma malícia estranha e incontrolável. Depois, me convenci de meu delito, quando me dei conta da grandeza de seus sentimentos em relação a mim. Ele sempre me amou, sempre me protegeu, me preferiu... Mas não como mulher. Como amiga apenas... e era assim que deveria ser. Ele era tão correto, tão maduro, tão... superior a mim.

Que engenho bizarro foi aquele que me despertou da minha pureza e me arrastou até aquele abismo de imoralidade?! Não admiti aquilo como amor, no começo. Foi um feitiço, uma trama maldita das minhas emoções, uma possessão, um desejo sem cabimento... todos os piores adjetivos do dicionário!

Eu quis morrer, de tanta vergonha! Desejei fugir pra bem longe e virar apenas uma lembrança singela na vida dos que eu amava, antes que aquele monstro dentro de mim destruísse tudo de bom que eu havia plantado ao longo da minha curta existência. Desde o dia em que aquele pesadelo começou, meu sono ficou alterado. Nem conseguia mais ficar perto do meu pai, a não ser que minha mãe estivesse próxima, com seu escudo protetor que eu lhe pedia sem dar maiores explicações. Mas, ainda assim, eu sabia que ele ouvia meus pensamentos quando eu estava sozinha no meu quarto. Era enlouquecedor!

Foi questão de dias até que eu comecei a me afastar de Jake também, sem aviso. Ele não desconfiou imediatamente, mas eu tinha noção de que o meu comportamento não estava sendo tão sutil... Sua presença me arrepiava de um jeito muito forte pra que eu pudesse me conter com classe o tempo todo, e seu olhar gentil me constrangia. Sua voz me deixava nervosa, e quando ele sorria... Nossa, era o fim! Minha compostura ia pro espaço e eu tinha que sair de perto, senão eu era capaz de avançar nele!

Foi aí que eu resolvi dar um basta naquele descontrole patético e analisar a situação com calma. Se eu estava realmente “apaixonada” por ele, tinha que me recompor e me certificar se que aquilo era simplesmente uma loucura, ou se poderia, no fim, ser uma coisa boa de fato. Se houvessem chances de dar certo, eu iria descobrir.

Decidi que ia agir, ao invés de me esconder. Até onde eu sabia, amar não era nenhum crime. Porém, era preciso ir com calma, senão colocaria tudo a perder com um único movimento impensado. Preservar nossa amizade era prioridade.

Vi que não poderia mais tocar nele por muito tempo, senão ele saberia no que eu havia me transformado... Então passei a me comunicar somente com palavras. Usava a mente com outras pessoas; com ele, jamais!

A aparente confirmação das minhas suspeitas pessimistas veio no dia em que estávamos em meio aos preparativos do meu aniversário.

Me enfiei sozinha na mata e fui atrás dele, depois da discussão tensa que teve com minhas tias na frente de casa. Entre outras coisas, pretendia sondar o terreno, lançar algumas iscas para ver se ele mordia. Que decepção... No momento em que me aproximei, sua nudez foi como um golpe de faca em meu abdômen. Mesmo sem ter sido uma coisa escancarada, foi o suficiente para me provar o quanto minha mente poderia ser vil ao menor estímulo. Eu podia ser “madura” em outras coisas, mas não para amar. Ainda não.

Mas não foi a surpresa de sua intimidade que me feriu mais. Foi o fato de ele nem mesmo se afetar com o meu silêncio. Ele era tão íntegro que não se aproveitou da situação.

Era verdade então: eu era invisível ao seu coração.

Dali em diante, eu fiquei tão fraca que larguei meu corpo à deriva, balançando conforme as circunstâncias. Eu já não conseguia pregar o olho à noite. Virava as madrugadas acordada, absorta em alucinações e doente de ódio de mim mesma.

No entanto, mesmo tendo admitido que ele era melhor que eu, não conseguia não desejar sua presença. Queria ele perto de mim, pra me proteger de minha própria mente. Naquele fim de tarde tenso que havia passado, ele me prometeu que voltaria no dia seguinte. Mas ele não foi me visitar como disse e eu sofri com a quebra da promessa. Sua ausência me perturbou muito mais do que com sua presença!

Liguei pra sua casa e não o encontrei... “Onde ele está?!” “Porque preferiu estar em qualquer outro lugar, é não comigo?!”... Ruminava essas dúvidas cruéis em minha cabeça esgotada. Tive que usar aquele tempo para aclarar os meus caminhos ou eu iria regredir mais ainda. Precisava, de qualquer maneira, merecer sua amizade de novo, já que o seu amor eu não teria. Como minha primeira idéia foi um fracasso total, não me restou outra saída nesse ponto, a não ser esperar.

Esperar que o tempo curasse meu coração daquele delírio... Esperar que ele apagasse da minha memória toda aquela babaquice de paixão... Esperar pra ver no que ia dar. Agüentaria mais algumas noites em claro, na esperança de que, um dia, meu inconsciente se saciasse de me fazer sofrer e me deixasse me paz!

Porém, ainda naquela mesma noite, recebi sua mensagem no celular e aquelas palavras tão sem sentido, mas ao mesmo tempo lindas, deram cabo de vez com o meu juízo:

Nessie,

espero, sinceramente que você me

perdoe por ter faltado com minha promessa!

Meu erro não irá se repetir. Amanhã, sem

falta, estarei aí, contigo, minha pequena!

Bons sonhos!

Jake!”

Como seu eu já não tivesse motivos suficientes para ficar ansiosa e insegura...

Não me escapou alguma coisa estranha em suas palavras, como se sua mensagem estivesse, sei lá... incompleta! Ele não costumava se comunicar comigo daquele jeito, então julguei que fosse essa a razão de eu me sentir insatisfeita. “Concentração, Renesmee! Isso já foi longe demais...” eu me lembro de ter murmurado a mim mesma, enquanto lia e relia o pequeno texto. Depois da primeira hora, já não consegui manter os olhos abertos: dormi profundamente, permitindo involuntariamente que aquelas frases fossem regendo o curso dos meus sonhos.

Um dia depois, ele reapareceu na mansão em seu rabbit vermelho. Eu ainda estava anestesiada pelos assombros da semana e nenhuma das minhas ações era coerente. Fiquei então que nem uma lerda, acenando desorientada quando o vi. Ele me respondeu friamente lá de baixo, mas quando se juntou a nós na sala, sua presença fez minha temperatura aumentar consideravelmente. Fogo no gelo. O choque foi avassalador quando me tocou.

E que toque...

Tão repleto de cuidados... mas, ao mesmo tempo, muito poderoso... instigante...

Me arrepiei por completo, meu corpo se derretendo e minha mente se perdendo em algum lugar bom! Meus pulmões clamaram pelo oxigênio que eu não inspirei, tamanho foi o contentamento por sua proximidade. Suas mãos não eram mais como antes, informais e brincalhonas... Eram de uma ânsia e calor muito intensos! O que significava aquele sorriso terno em seu rosto?! Por que ele de repente estava me olhando daquele jeito, tão provocante?! Que agonia teimosa era essa em meu coração, que me fazia perder até o ar?! Não resisti por muito tempo à vontade de retribuir seu carinho em minha face, mas me afastei quando lembrei que meu toque ainda ofereceria um risco tremendo para mim. Proferi palavras inúteis pra tentar desviar sua atenção da minha pele, lamentei por sua ausência, sorri entre comentários evasivos... Enfim, tentei de tudo, mas ele não se demoveu da idéia de me ter próxima dele. Não fui capaz de interferir no campo magnético que nos atraía. Alguém o fez por mim... A aproximação de meu avô Carlisle foi providencial, me abrindo uma brecha para escapar da tentação. Tentação essa de que ele agora demonstrava partilhar, pelo menos eu pensei...

Incrivelmente, consegui manter as aparências, não deixando transparecer nem por um segundo a tempestade emocional que destruía meu raciocínio e misturava meus sentidos. Sorte minha. Mas meu olhar no dele era algo magistral, tanto que não conseguia o desviar sem empreender um esforço descomunal.

Aquele dia todo transcorreu daquele jeito: eu lutava comigo mesma, tentando controlar a minha ânsia de olhar na direção dele e, quando não conseguia mais evitar, percebia que ele também estava lá, me olhando de volta, misterioso. Aquela atitude deveria, sim, significar alguma coisa... Por acaso ele também estaria interessado em mim?! Minhas preocupações haviam então sido a troco de nada?!

Todas aquelas perguntas ficaram borbulhando em minha cabeça, em outra madrugada em que não fui capaz de dormir... Borbulhas de um amor platônico duvidoso... Sem intervalo, uma atrás da outra, me envolvendo em uma esfera de terror e prazer!

A manhã raiou indiferente ao meu cansaço, trazendo consigo a novidade de um novo ano em minha vida. Uma tremenda festa estava armada e convidados do mundo todo começariam a chegar... Porém, mais importante do que isso, minhas respostas me aguardavam ansiosas do outro lado da campina. Fui correndo atrás delas sem demora.

Meu semblante estava tão destruído pelo desgaste noturno, meus cabelos se assanhavam com o vento que se chocava contra minha corrida alucinada até a mansão... Quando cheguei, devia estar parecendo uma múmia, mas isso não adiou o entusiasmo dos “vivas e parabéns”... Me distrai entre agradecimentos e não percebi que o olhar mais significativo do local me avaliava por inteiro. Quando me dei conta, tudo que fui capaz de fazer foi fugir como uma idiota envergonhada, apelando pela misericórdia de uma tia que não me negaria o socorro que eu necessitava. Precisava estar perfeita, vestida para impressionar... para impressioná-lo...

Demoramos horas e horas escolhendo o que eu iria usar, qual o penteado que mais combinaria comigo e com a roupa, que estilo de maquiagem Aly faria em mim, para que eu não parece outra coisa senão uma princesa saída de um conto de fadas infantil... Todas essas coisas eu deixei aos seus cuidados, enquanto roia as unhas, mergulhada em conjecturas e estratégias sobre como eu deveria agir... O que eu iria fazer para me certificar de que minha nova desconfiança sobre seu interesse tinha fundamento...

Ouvia ruídos animados no andar de baixo. Vozes que fizeram parte do meu passado, se misturando aos poucos com as vozes que faziam parte do meu presente. Elas se multiplicavam... e meu coração multiplicava seu compasso em reação a elas!

Quando chegou o momento de me juntar a todos na celebração, meus dedos grudaram no corrimão e, enquanto eu era anunciada, minha mente não pronunciava outra coisa a não ser Jake, Jake, Jake... Tudum-tudum-tudum... tududum-tududum-tududum... O galope de um cavalo selvagem seria menos fugaz do que as batidas dentro do meu peito!

Fui recebida por uma ovação espetacular. Era, sem dúvida, maravilhoso ver tantos rostos amigos sorrindo para mim, contentes em me ver tão bem e crescida. Meu teatro estava sendo perfeito... Por fora, eu encenava uma verdadeira dama, bem educada e cordial... mas por dentro, eu era uma fera bestial ardendo em ânsia e incertezas... minha atenção perdida em uma busca desesperada por um único par de olhos castanhos... Flashes de máquinas fotográficas davam curtos-circuitos nos meus olhos afoitos. Cumprimentei cada convidado em minha frente e não encontrei o meu alvo antes de percorrer todo o perímetro da sala.

Mas ao fim, lá estava ele, entre seus amigos lobos. O alfa do meu coração... e o ômega da minha razão! Eu o via pelo canto dos olhos, enquanto recebia os cumprimentos calorosos dos queridos Quileutes, sem coragem de encará-lo logo. Prendi o fôlego quando já poucos segundos nos separavam.

Nos olhamos. Ele se aproximou, tão seguro...

Em contra partida, eu me segurei para não desmaiar, de tanta euforia interior!

Sua voz doce me felicitou e o fogo consumiu minha face automaticamente. Era tão embaraçoso estar ali diante dele, como eu queria, e mesmo assim não conseguir agir como deveria para solucionar aquele caso de uma vez... Eu era mesmo uma inútil, sorrindo e me limitando a responder seu cumprimento gentil. Eu queria gritar! Dizer a ele o que sentia, antes que eu explodisse! Mas tudo que fiz foi me encolher entre seus braços quando os ofereceu pra mim. Seu cheiro era tão... maravilhoso! Seu corpo robusto era muito grande e eu não conseguia juntar as duas mãos ao seu redor. Mas eu não poderia deixá-lo ir... não agora que o tinha tão quentinho ao meu redor. Ele teria de ser meu por mais alguns minutos, senão eu sofreria um choque de temperatura terrível e cairia dura no chão.

Um minuto... talvez dois...

Alguém chamou meu nome. “Não, por favor! Eu não quero sair daqui...” minha mente implorou, mas meu corpo se viu obrigado a atender ao chamado e eu me afastei relutante. Vovó Esme queria saber se eu já estava com fome... Como eu poderia pensar em comida, ou em qualquer outra coisa, estando tão perto de entrar em combustão?! Senti uma ânsia de choro com a interrupção desnecessária, mas me contive. Não era capaz de me irar contra ela, principalmente por que apenas estava sendo “minha avó”... Era tão doce, não poderia culpá-la... Não tinha como ninguém saber o que estava se passando dentro de mim. Nem lembro que resposta dei pra ela...

Precisei de algum tempo para achar meu rumo na festa outra vez. Corri para a varanda, atirando o corpo sobre o parapeito de aço gelado, minha respiração saindo entre um ranger doentio em minha garganta. Quanto ódio por minha insegurança eu ainda seria capaz de conter?! Estava a ponto de me desfazer em lágrimas, quando percebi a aproximação de alguém. Zafrina, minha amiga querida de tantas correspondências e memórias, notou que algo me perturbava e veio me oferecer ajuda. Eu me lembrei de seu maravilhoso dom e não contei conversa. Implorei que ela me lançasse em alguma realidade reconfortante o mais depressa que pudesse. Ela me acolheu em seus braços gigantes e eu fui parar em um jardim mágico, coberto por flores de todas as espécies registradas na natureza. Era imenso, se estendendo muito além do horizonte. Eu encontrei paz nos poucos minutos em que estive imersa nas ilusões...

Aly solicitava novamente a atenção de todos. Sôfrega, eu fui lançada de volta à realidade, já caminhando abraçada com Zafrina em direção à sala outra vez. “Eu não vou te deixar, não se preocupe!” ela me disse, mas pouco depois eu estava de novo sozinha, diante da expectativa de todos com alguma coisa que surgiria em seguida. Aparentemente, Jake havia me preparado uma surpresa, juntamente com meus familiares. Lá estava ele de novo do meu lado, fazendo meu coração se sobressaltar violentamente. Vozes e mais vozes... suspense... e...

...Um lindo quadro apareceu diante de mim, a única coisa que consegui focalizar no momento em que os burburinhos se intensificaram! Continha fotos minhas e de todas as pessoas que conviviam comigo, além de algumas frases que meus familiares escreveram em minha homenagem. Era absolutamente perfeito!

-Click-

Outro flash me despertou bruscamente e todos, de repente, riram. Eu ignorei e cheguei mais perto para examinar melhor aquela linda surpresa. Vi uma frase junto a uma fotografia minha com Jake:

Para a garota mais especial do universo, cujo sorriso me cativou desde o princípio, e que jamais deixará de ser a melhor amiga que alguém poderia pedir aos céus. Parabéns, Nessie! Com amor, Jake!

Ai estava a resposta que eu busquei, resumida em suas gentis palavras: Eu jamais deixaria de ser “sua melhor amiga”. Uma pontada muito forte atingiu meu coração e precisamente nessa hora meus olhos se inundaram com o anuncio da minha derrota. Me virei para encará-lo, sem saber exatamente o que dizer – se é que dizer alguma coisa fazia parte das minhas atuais capacidades... Ele me observava com um ar de comoção, então percebi que minha atitude não foi pra eles nada mais do que a expressão de puro contentamento e emoção com o presente. Cedi a essa farsa. Minha voz falha pronunciou as palavras de gratidão que enterneceram a todos os olhares presentes, e eu me lancei de volta naqueles braços que eu tanto ansiava, dessa vez para me esconder do mundo. Estava morta de vergonha outra vez. Eu havia alienado tudo, deturpado e redeturpado os sentimentos do meu amigo. Do meu melhor e mais dedicado amigo...

Não pude me delongar muito no abraço. Me afastei para encarar os demais, fingindo estar bem. Mas não estava. Estava destruída.

A sessão de surpresas teve continuidade e seguimos todos para fora. Minhas pernas se moviam involuntariamente, pois no momento eu não era nem mesmo capaz de coordenar meus lábios a se fecharem enquanto sucumbia à depressão novamente. Perdida em minha cabeça vazia, eu escutava vagamente alguns elogios a meu respeito {a voz era a de Aly, como antes} e senti o rubor no meu rosto ao ver tantas qualidades louváveis sendo atribuídas a mim, a pessoa mais repugnante daquele lugar. Os gritos dos garotos Quileutes me tiraram de dentro de mim mesma e eu dei pela presença de um veículo glamoroso se exibindo diante dos meus olhos. Inacreditável. Eu me tornava a pessoa mais culpável do universo e, ainda assim, recebia um prêmio daqueles... Pousei os olhos em cada um dos meus familiares.

Papai... por favor não me repudie! Não suporto a dor de te desapontar...

Mamãe... Se você soubesse o que eu fiz... será que me perdoaria?!

Minhas tias e tios queridos... tão iludidos a meu respeito... enxergavam um anjo, ao invés de um monstro...

Vovô e vovó... quanto embaraço eles sentiram se soubessem dos meus pensamentos sórdidos...

Cada um deles agora me observava com ares de orgulho e profunda admiração. Que horror, eu era tão patética!!!

Mamãe havia colocado seu escudo sobre mim mais uma vez. Pedi que por enquanto ela fizesse isso todas as vezes que eu estivesse muito próxima a meu pai. Por isso ele agora era um dos que estavam radiantes de contentamento em meio aquele circo grotesco... Era melhor assim... um sofrimento de cada vez... se fosse tudo ao mesmo tempo, eu desabaria mesmo!

Ele veio me entregar a chave do carro. Eu forcei os agradecimentos a todos eles... Então subitamente, dezenas de garotos me rodearam, fanfarreando sobre o meu presente. Eu não estava com energia o suficiente para aquilo, então passados os minutos iniciais, eu fui me jogar na relva, junto a Zafrina. “Me salve” eu implorei, tocando seu rosto. Fechei meus olhos, reagindo a seu impulso.

Flores... rosas... violetas... jasmins... tulipas... petúnias... margaridas... girassóis...

Sombra sob uma árvore... eu deitada sobre uma grama verdinha, o perfume da natureza invadindo minhas narinas... o vento suave acariciando meu rosto. Meus olhos fixos nas nuvens multiformes no céu...

Mais tarde, uma música romântica começou a tocar ao fundo. As borboletas sobrevoaram o alto da minha testa... levantei a cabeça para o campo florido e vi corpos dourados flutuando em uma dança tranqüila... Eram tão lindos... tão perfeitos...

A realidade começou a se misturar de volta com a fantasia, e os seres dourados se revelaram como as figuras de meus convidados se movendo em um círculo de dança improvisado. Já estava um pouco mais calma, graças à ajuda sensível e desinteressada de Zafrina. Ela então cochichou no meu ouvido que Jacob estava me encarando já fazia um tempão e que, talvez, ele estivesse interessado em me convidar para dançar.

Gelei. Corei. Travei!!

Dançar com ele naquele momento seria uma experiência ao mesmo tempo maravilhosa e apavorante! Meu corpo tremeu quando olhei em sua direção e vi que ele se aproximava realmente de onde nós estávamos, com um olhar decidido.

Ele parou diante de mim e estendeu sua mão enorme e macia... um convite que eu não tive desculpas para recusar. De fato, o que eu poderia dizer para me esquivar de sua atenção?! Nada... ele ainda era o meu melhor amigo!

“Posso dançar com a aniversariante?!” ele pediu tão delicadamente... Tudo que fiz foi estender a minha mão até a dele, que então me conduziu, cavalheiro, até o centro do “baile”.

O dialogo que se seguiu durante a dança foi turbulento. Mil reações tomaram conta do meu corpo enquanto ele me imprensava contra a parede com perguntas sobre a minha mudança de atitude com ele. Eu já não suportava mais aquilo. Foi-se a última gota da minha razão!

Arrastei-o pelo braço até um local reservado. Abri o jogo com ele, as palavras saindo aos montes pela minha boca, distorcidas, causando nele confusão. Depois, só o que me lembro é de tê-lo beijado com toda a força da minha paixão descomedida...

...mas ele me evitou! Não correspondeu ao meu beijo... me afastou com seus braços fortes! “Ele não te ama, sua tonta! Aceite isso!”. Essa mensagem em meus pensamentos foi a guilhotina se precipitando em meu pescoço. Em resumo, disse “Adeus Jacob! Você é bom demais pra mim...”, então saí correndo de sua presença em direção à floresta escura. Eu soube que não poderia vê-lo nunca mais a partir dali!!

Corri, corri, corri...

Parei antes de chegar ao chalé, banhada em lágrimas salgadas e abundantes. Mamãe me encontrou algum tempo depois, pranteando e me desfazendo embaixo de um tronco imenso de uma sequóia milenar. Contei-lhe os fatos resumidamente e ela me confortou em seus braços. Precisei de uma hora inteira pra me recompor. Meus ânimos estavam sem vida, mas eu precisava voltar para junto dos meus queridos antes que suspeitassem de meu drama e convergissem sobre mim, com interrogações inconvenientes...

No retorno, me foi então oferecido pelos Denali um convite mais do que bem vindo naquelas circunstancias: duas semanas no Alaska! O conceito, em si, já era animador... Não hesitei em aceitar e partimos naquela mesma noite. Foi como uma porta se abrindo para a minha fuga! Duas semanas teriam que bastar pra eu me recuperar... e para ele esquecer daquele incidente terrível.

Na viagem, eu me concentrei em reavivar a velha Renesmee que eu havia sido por toda a minha vida. Sentia saudade da minha segurança, do meu espírito destemido e aventureiro... da minha inocência... Precisava encontrar o caminho de volta até ela. Precisa ser digna outra vez. Em alguns dias, eu retornaria para Forks e não poderia estar do mesmo jeito que saí. Tinha que rasgar aquela página da minha história... relembrar que Jacob Black era indispensável na minha vida, mas apenas como o bom amigo de todas as horas. Ele nunca seria meu, como eu ousei imaginar. Tinha que enxergá-lo novamente como o rapaz maravilhoso que era... Ele merecia isso de mim... Mesmo que eu fingisse no princípio, teria que agir normalmente ao seu redor. O tempo curaria tudo!

Bem que eu tentei...

Cumprido o prazo, retornamos para casa e eu não tive mais tempo para ensaios: Ele já estava lá me esperando! E bastante ansioso, eu pude notar... Eu não queria de jeito nenhum que ele se sentisse na obrigação de me corresponder. Isso para mim seria muito pior do que uma rejeição. Mas ele estava tenso, desconfortável, agitado... Mesmo assim, me obriguei a agir com indiferença. Desatei a falar sobre todos os assuntos possíveis no universo, porque não queria dar oportunidade para que ele tocasse naquele assunto e arruinasse com o meu disfarce, que já estava ruim o suficiente.

No entanto, minha ruína veio de uma fonte inesperada: Meu próprio pai, ao contar aquela história chocante de quando eu ainda não existia e o... meu Jacob... estava perdidamente apaixonado por minha mãe! Que ferida enorme se abriu em meu peito quando me contou do beijo entre eles, e sobre como “quando Jacob Black se determinava a algo, não poupava esforços para conseguir o que queria!”. Foi uma alfinetada sutil, mas eu não resisti. Jake não foi assim comigo, e a dor de sua rejeição voltou com força total.

Fugi dali outra vez, naufragando num oceano profundo de infelicidade... Eu já estava desgastada com todas aquelas reviravoltas emocionais. Não sabia mais no que pensar, no que acreditar. Dessa vez, não parei até chegar ao interior da sala fria do chalé. Estava enregelada. Coloquei meu pijama mais agasalhado, acendi trêmula a lareira e me atirei no carpete. Uma noite de angustia me esperava, eu cri... Só não pensei que receberia, ainda naquela mesma noite, aquela visita dele. Uma visita que mudaria para sempre todos os meus conceitos...

Sua aproximação foi cautelosa. Ele parecia calcular as palavras, enquanto eu reagia em oposição a sua proximidade. Estava com medo de ser desmascarada, não estava pronta ainda para me retratar apropriadamente pelo que havia feito, mas... ele então começou com as desculpas. Confundiu meus sentidos, driblou minha resistência, me tomou em seus braços e me disse, enquanto eu devaneava: “Eu te amo”.

Senti como se mil quilos tivessem sido retirados das minhas costas e minha alma flutuou. Ele me conquistou por inteira: corpo, mente e espírito! Eu me renovei em seus braços como uma flor que havia sido despedaçada, mas cujas pétalas renasceram. Ele ainda esperava por minha resposta e eu me apressei em dá-la. O jorro de imagens que eu lancei até sua mente foi a junção de todos os segundos mais importantes da minha vida, extravasados de uma só vez pela emoção. Compensei o tempo em que não lhe mostrei meus sentimentos em um único minuto, depois verbalizei mentalmente o mais importante deles: “Eu também te amo”!

O que recebi depois foi de um calor e intensidade impressionantes.

Seus lábios comprimiram os meus com desespero e eu tive a ilusão de estar no paraíso, ou sonhando. A força do desejo sendo saciada por completo foi como uma tempestade embaixo da pele. Todas as células do meu corpo reagindo ao seu toque, os batimentos do meu coração se fundindo aos dele. Puramente magia... Não poderíamos mais separar nossos corpos. Eles estavam ligados pelos laços do amor que declaramos um ao outro.

Amor... Todos os meus temores se esvaíram num piscar de olhos. Que estranha e maravilhosa era aquela sensação de alívio. Que perfeito era o seu cheiro, seu sorriso, sua pele na minha.

Na mesma noite ele me fez uma proposta radical: “Vamos nos casar?!” Ele perguntou, do nada. Eu senti o choque de suas palavras, sem realmente compreendê-las no início, e tive uma pane...

Casar?!?! Tão cedo?! Que idéia... Nós mal havíamos nos decidido sobre o que sentíamos um pelo outro... Eu não sabia a primeira coisa sobre casamento, nem sequer entendia seu o sentido, principalmente em se tratando de gente como nós. Meu coração não conhecia ainda nem 1% do amor e já de cara me entregaria a um compromisso tão... importante... especial... eterno... seguro...

Foi aí que, de repente, eu compreendi todo o mistério: Ele me oferecia o voto máximo dos corações apaixonados. As características do casamento se encaixavam perfeitamente com o que sentíamos e, no nosso caso específico, esperar não era algo necessário. A eternidade era nossa! Ele queria me dar a prova viva de seu eterno compromisso para comigo. Que lindo, ele era tão sensível, tão terno... Aceitei sem ressalvas. Eu queria o mesmo que ele. Até me empolguei, sugerindo uma fuga... mas ele, mais uma vez, me mostrou o porque de eu admirá-lo tanto. Não permitiria que nada fosse menos do que perfeito. Ponto.

Nada poderia estar melhor em minha vida e nem mais uma sombra de temor nublava meus sentimentos. Tinha o amor de um homem de incontáveis qualidades, inicialmente meu mais próximo e melhor amigo, mas que por uma providência divina passou a ser a razão da minha existência!

É, eu devo dizer que me separar dele foi doloroso naquela noite que neste momento ia ficando para trás...

Quarta-feira, 25/09, 5:57am. Mais uma noite em claro na minha história, agora cheia de novos sentidos!

Liguei o rádio. Uma voz masculina anunciava a primeira música do dia. Não prestei atenção no título...

Ela começou com um staccato agudo de piano... “Pouco promissor!” murmurei. Depois, um instrumento meio havaiano e melancólico o acompanhou. “Hum, interessante...” Em seguida, o violão em compasso ternário veio se juntar à melodia, primeiro com uma variação de dó, depois fá, sol... “se agora for um dó de novo, eu não sei não...” Pensei comigo, mas um fá menor, seguido de um mi menor me surpreendeu. “Lindo!”

Recostei no banco macio e coloquei as mãos sobre o peito coberto pelo poncho de crochê lilás... Fechei meus olhos e me rendi à voz rouca que interpretava a canção. A melodia me trouxe a falta de Jake... de seu toque... de sua voz... seu cheiro... seu beijo...

BAM-BAM

Levei o maior susto! Aly bateu no vidro e sua expressão era de incredulidade. Ela parecia muito agitada, então abaixei o som, depois abri a porta do carro.

– Você quer me “MATAR” de susto, Renesmee?!

Me chamar de “Renesmee” em geral significava que estava zangada! Eu não respondi, confusa, e ela prosseguiu:

– Tem idéia da preocupação que nos deu, quando fomos até o seu quarto e não te encontramos na cama?!

Ah tá, era isso...

– Me perdoe, tia Aly... Eu não fiz de propósito. Mas é que estava sem sono, então vim até o carro!

Ela suspirou, um tanto contrariada, depois relaxou e sorriu, segurando a porta do veículo.

– Está bem, eu te perdôo... mas que isso não se repita, ouviu bem?! Você não faz parte lista de pessoas que eu consigo monitorar, apesar de ser uma das mais importantes!

Com um meneio de cabeça, eu consenti, sorrindo pra ela. Era tão engraçado quando ela ficava impotente diante de alguma coisa... Não suportava ser pega de surpresa! Eu estava exausta e não esbocei nenhuma intenção de me levantar de onde estava. Ela então se agachou, ficando no mesmo nível que o meu.

– O que você tem, meu amor?! – perguntou, pousando uma mão de leve em minha perna – Está chateada?!

Chateada?! Eu estava era eufórica demais para conseguir dormir, e as olheiras já enfeitavam o contorno dos meus olhos.

– Ao contrário – fiz o máximo esforço para não parecer animada demais. Não estragaria a surpresa... – estou até bem contente! Eu só estava com muita coisa na cabeça... Mas já está tudo bem!

Ela achou graça e acariciou meu rosto com uma expressão compadecida.

– Meu bebê... sempre tentando fazer 70 anos caberem em 7...

– É bem por aí! – eu concordei e ela se levantou de supetão

– Venha – me estendeu a mão – deixe de preguiça, você tem a vida inteira pra dormir! Tem alguém querendo te ver.

Tududududududududududududududududduudduudududmmmmm....

– Minha nossa! Isso é o seu coração, Nessie?!

– É... – sussurrei, segurando o pescoço. O ordinário foi na goela quando ela mencionou aquilo! Eu sabia muito bem quem era esse “alguém” que estava a minha espera... O disparo do meu coração quase me traiu. Respirei fundo... – Vamos logo, então!

Desliguei o som afoita e acionei a trava. Depois ela me arrastou pra fora da garagem, até a frente da casa. Eu busquei impaciente a presença que tanto me afetava...

Lá estava ele... Sentado nos primeiros degraus da escada, com seus dentes perfeitos alinhados em um sorriso arrasador.

Minhas bochechas começaram a esquentar e senti um formigamento nos lábios. Projetei então um sorriso em resposta. Ele se colocou de pé.

– Olha só o que eu encontrei, encolhida dentro do carro novo dela!! – Aly disse, com sua vozinha de fada

Terminamos o percurso até onde ele estava, minhas mãos suando de ansiedade. Ele fez menção de me cumprimentar, mas antes que abrisse a boca, Rosie colocou a cabeça pra fora da janela, seguida por vovó Esme.

– Graças a Deus!! – Rosie segurou o peito, parecendo mesmo tentar acalmar o coração que já não batia há muito tempo... – Que idéia foi essa de sumir durante a noite, mocinha?!

Jake me observou corar e pareceu contente. Tive que me esforçar bastante para não babar também...

– Me desculpe, tia Rosie! – gritei sem jeito pra ela

– Ela está cheia de dedos hoje, Rosalie... Nem adianta se zangar! – Aly me fitou maliciosa enquanto advertia a irmã.

Nessa hora, papai e mamãe surgiam por entre as árvores. Vieram se juntar a nós, curiosos com o que se passava. Ela me deu um beijo na testa e ele me fez cosquinhas na cintura, depois perguntou à irmã, palhaço, enquanto lançava o olhar na direção de Jake:

– O que nossa garotinha andou aprontando enquanto estávamos longe?!

Encolhi os ombros automaticamente. Até parece que ele já não sabia...

– Ah – Aly fez pressão ao falar – vamos lá pra dentro que eu vou contar a vocês o caldo que essa espertinha nos deu nessa madrugada.

Meus tios apareceram da janela, querendo ver o que era aquele burburinho todo. Acenaram para nós, depois voltaram pra dentro. Meus pais e Aly avançaram para a escada. Eu fui em seguida e Jake veio atrás de mim. Os três na minha frente já tagarelavam animados enquanto subíamos. Eles entraram, mas quando foi a minha vez de passar pela porta, senti uma mão me puxando de volta. Eu girei cambaleante e fui direto ao encontro do abraço de Jake. Nossos lábios então se encaixaram perfeitamente.

Que maneira maravilhosa de se começar um dia!

Fiquei tesa pelo choque, mas ele se encarregou de me reter, colocando a mão em minha nuca. Cada vez que ele fazia isso, os pelos do meu corpo se eriçavam todos . Consegui erguer meus braços, apertados entre nós dois, então enlacei-os em seu pescoço. Horas e horas poderiam se passar sem que nos déssemos conta. Me sentia completa quando ficávamos assim, tão próximos...

Após 3 longos minutos, nossos lábios se separaram e eu imaginei ele abrindo de novo aquele sorriso encantador. Ainda de olhos fechados, o escutei dizer com sua voz aveludada:

– Eu te amo, minha Nessie!

Meus joelhos falharam. Ele me sustentou espantado, depois riu. Eu coloquei três dedos em sua têmpora.

“Eu também te amo! Até mais do que ontem...”

– Igualmente! – ele respondeu ao meu estímulo. Depois seu nariz roçou em meu pescoço suavemente e eu pude sentir o cheiro doce de seus cabelos, enquanto eles pinicavam de leve minha bochecha.

– Está preparada para compartilhar essa novidade com o restante?! – seu bafo quente de canela em minha pele me fez estremecer.

Gemi. Pra ser sincera, eu não estava muito corajosa em relação a lhes contar a novidade. Nosso noivado causaria um alvoroço tremendo naquele imenso cômodo... Me limitei a responder com uma pergunta:

– Você está seguro do que quer?! – busquei seus olhos enquanto falava.

Eles corresponderam a minha busca, alarmados, e os braços dele folgaram um pouco ao meu redor.

– 100 por cento seguro! Você não está?!

Sorri. Ele ficava tão fofo quando estava nervoso...!!

– Eu estou 200 por cento segura! – disse, fazendo charminho.

Ele riu e relaxou. Depois me soltou por completo e me estendeu a mão.

– Então vamos lá contar pra eles!

Respirei fundo e mordi os lábios, meu olhar se alternando entre a mão e o rosto dele. Sua atitude decidida fez a coragem retomar seu posto em mim. Segurei sua mão firmemente.

– Vamos!

Ele subiu o degrau que faltava e nós dois atravessamos a entrada, indo juntos de encontro aos demais.

4 comentários:

Barbara disse...

adorei esse capitulo !!!

Flávia Araújo disse...

Amei !
Esta autora tem mesmo jeito para a coisa de escrever , Parabéns ela merece todos os elogios que se possa imaginar !

Georgina Armstrong disse...

ameeeeiiii!!!
lindo demais esse capitulo!!!!
<3

Kety cullen disse...

Amei_amei_amei!

Postar um comentário

blog comments powered by Disqus
Blog Design by AeroAngel e Alice Volturi