Solstício - Capítulo 18: Esconde Esconde!

Era uma tarde nublada em Forks. Clima típico, ainda mais por ser véspera de inverno. Eu estava sozinho outra vez no meio da floresta, de pé como quem espera por um sinal do destino, ou por uma súbita troca de ares. Como foi que o cenário mudou tão de repente?! Eu não me lembrava de como tinha ido parar ali, nem o que me levou a me deslocar de volta para a mata aberta. Que eu me lembre, eu estava na sala conversando com os Cullen e os garotos que tinham acabado de chegar da...

– Jake?! – a voz inconfundível de Nessie me chamou por trás, ataviada de surpresa e doçura.

Tentei me virar para atender o seu chamado, mas meu corpo não obedeceu ao comando. Foi como se eu estivesse coberto por cimento seco, buscando a mobilidade dos meus membros, mas recebendo aquela resistência firme em troca. No entanto, o toque aveludado da mão de Renesmee caiu leve sobre o alto do meu braço, revelando que aquela barreira que eu sentia estava apenas na minha imaginação.

– Eu esperei tanto até te encontrar... – ela falou, com um tom que eu estranhei, e se colocou na minha frente.

Sua frase não fez o menor sentido pra mim. Não poderia estar se referindo ao meu atraso hoje de tarde... acho que já tinha deixado claro que não houve como chegar antes. Quis perguntar o que significavam aquelas palavras e dessa vez, foi a minha voz que eu não consegui projetar pra fora da boca! Meus lábios permaneceram cerrados, indiferentes à minha vontade de falar. Eu via tudo ao meu redor em primeiro plano, mas era como se o meu verdadeiro “eu” estivesse aprisionado no fundo do consciente, enquanto meu corpo agia por conta própria.

Será que eu estava sob efeito de alguma droga?! Ou pior... Será que meu mais novo arquiinimigo havia me possuído, ou sei lá o quê, pra tomar à força a minha vida e tudo que vinha no pacote?! Ainda assim, o que Nessie havia dito continuava a soar desconexo.

Num acesso de ira sem aviso, meu braço se sacudiu para me livrar do toque dela, que se afastou por reflexo de mim. Seus olhos cederam ao choque por minha atitude tão grosseira e inesperada... o mesmo choque que eu senti diante de mim mesmo! “Meu Deus, o que está acontecendo comigo?!”, minha mente perguntou em um silêncio angustiante.

– Não me toque, aberração! – foram as palavras que inacreditavelmente se lançaram pela minha boca afora, contrariando tudo que eu estava pensando no momento...

Aquilo destruiu o semblante dela por completo. Eu me desesperei vendo seus olhos marejando em conseqüência da minha repreensão e suas mãos pendendo para baixo, inanimadas.

– Por... favor... – ela suplicou, com a voz tão fraca quanto a de alguém que estava sufocando – me dê uma chance, deixa eu te...

– Não se atreva a me pedir nada, seu monstro! Eu não quero ter nada haver com você!!

Nesse ponto, ela começou a prantear diante de mim, que permanecia indiferente ao seu sofrimento em meio àquela atitude tirânica irreconhecível. Enlouquecido com o que via, eu quis rasgar a minha pele de dentro pra fora, pra me libertar daquela prisão mental e física e correr até ela para render todo o carinho e consolo que eu realmente queria lhe dar. Mas minha crueldade não parou por aí... O que quer que estivesse por trás da minha súbita possessão, perecia disposto a despejar sobre Nessie um furor capaz de abatê-la até a morte:

– Você matou a pessoa que eu mais amava nesse mundo... – meu corpo se inclinou agressivo sobre o dela, tentando diminuí-la – Você acabou com a minha felicidade. Bella era a minha melhor amiga, agora nós somos rivais... E tudo por culpa sua!! Tudo por que você tinha que nascer e estragar a minha vida, sua... sua...

– Pare, Jake – ela implorou, caindo de joelho aos meus pés – Por favor, eu não agüento... Eu... eu te amo.

– MAS EU TE ODEIO! – Agarrei-a pelos ombros, implacável, recolocando-a de pé e sacudindo seu corpo frágil – EU TE ODEIO MAIS DO QUE TUDO, RENESMEE!! MAIS DO QUE À DOR DE PERDER BELLA PARA SEMPRE... MAIS DO QUE AQUELES MALDITOS SANGUESSUGAS... VOCÊ ME DÁ NOJO, ESTÁ OUVINDO?! NOJO!!!

Dizendo isso, empurrei-a covardemente e ela caiu com tudo sobre o tapete de folhas secas e pequenas rochas, desmaiando após o tombo.

Não teria sido preciso mais do que um simples sopro para levá-la ao chão, mas mesmo assim eu senti toda a força do meu ser sendo aplicada no gesto maligno.

– NÃÃÃÃO!!! – finalmente consegui romper a barreira e gritei, quase estourando meus pulmões...

... No entanto...

... Eu já não estava mais na floresta, e nem tão pouco de pé...

... Estava sentado no sofá da sala, com minhas pernas estiradas sobre ele. Algo me dizia que, antes do berro, eu estava na posição horizontal sobre o assento, insuficiente para comportar todo o meu corpo.

Olhei em volta, então me deparei com as caras espantadas de todos os meus conhecidos, que contemplavam o meu despertar turbulento.

Sim, eu havia sonhado! Ou melhor, tido um pesadelo... Em público, de novo!

– Graças a Deus! – mesmo assim eu respirei aliviado, levando uma mão ao peito para conter os batimentos alucinados do meu coração

– QUE SUSTO, JACOB!! – Alice estreou aquela frase em seu vocabulário – VOCÊ PODERIA, EM CONSIDERAÇÃO A MIM, NÃO REPETIR ISSO?!?! É SÉRIO, DESSA VEZ EU QUASE TIVE UM TRECO!!!!

– O que aconteceu, Jake?! – Quil veio correndo até onde eu estava, me estendendo o braço para me ajudar a levantar. No estado de pânico em que eu me encontrava, realmente precisaria de suporte para fazer o movimento mais simples que fosse...

– Nada – eu me apoiei nele e me coloquei de pé, sem graça – Não foi nada!

– Ah, então é costume seu acordar aos gritos?! – Alice voltou a falar, debochando – Credo, coitada da Nessie!

– Nos últimos tempos, ele tem feito muito isso... – Rachel não ajudou muito

Ele só teve um pesadelo, gente... – Edward finalmente livrou a minha barra – coisas de pai de primeira viagem, não é Jake?!

Eu balancei afirmativamente a cabeça {que por sinal, estava doendo muito} e eles deram de ombros, voltando ao que estavam conversando antes. Eu me deixei conduzir inerte por Quil até a varanda.

– O que está fazendo, Quil?! Por que está me levando pra fora?! – perguntei, zonzo demais para intervir com as pernas

– Precisamos conversar! – ele me disse, a seriedade implícita no seu anuncio.

Fomos juntos até uma das mesas externas, então ele me indicou a cadeira que estava diante de mim quando paramos e eu me sentei nela. Não estava com energia para bater papo... aquele tinha sido um daqueles pesadelos que devoram nosso ânimo por um dia inteiro! Quase igual ao vislumbre que tive quando Nessie me mostrou um sonho dela, no dia em que nos declaramos um para o outro. Só que, nesse, eu não só tinha rejeitado seu amor... tinha rejeitado sua pessoa e natureza por inteiro! Uns pinguinhos fracos de chuva começaram a atingir minha pele.

Não seria melhor conversarmos lá dentro, Quil?! A chuva vai nos atrapalhar, você não acha?!

– Vai ser rapidinho! ele me garantiu, escolhendo a cadeira que estava mais afastada da minha para se sentar. Mas depois, enterrou a cara dentro das mãos, evidenciando um desconforto gigantesco.

– E aí?! Vai ficar caladão?! – dei pressa nele

– Não, espere aí só um pouquinho. Eu estou pensando em como vou te fazer essa pergunta...

Um pingo grosso se espatifou na minha testa e eu me impacientei, minha gratidão por sua ajuda começou a cair no esquecimento. Ele então olhou fundo nos meus olhos e perguntou:

– Renesmee... te odiou muito quando ficou sabendo a verdade?!

Ele tinha razão em se preocupar... aquela era uma pergunta tão delicada que eu nem mesmo tinha uma resposta concreta a respeito. Me limitei ao que eu sabia até o momento:

– Penso que não, Quil. Ela pareceu aceitar numa boa a situação... Ficou mais grata por eu ter me aberto com ela do que por saber da história em si.

Pelo menos, era nisso que eu queria acreditar... Minha insegurança não lhe passou despercebida.

– Mas você não tem certeza disso, ou tem?!

– Cara – eu me estiquei de má vontade na cadeira, tentando fazer com que ele notasse que a chuva já estava engrossando – Você sabe como é complicado ter certeza absoluta sobre o que se passa na cabeça das mulheres... Ainda mais no nosso caso específico!

Ele baixou a cabeça de novo, desanimado com a minha falta de profundidade. Comecei a perceber quais eram as suas intenções.

– Você está querendo contar à Clairezinha também, não é?!

– Estou... Quer dizer, estava! Mas agora, sei lá... Talvez seja melhor eu esperar até que ela cresça mais, não sei...

Enxerguei ali uma oportunidade única para bancar o conselheiro espiritual e não desperdicei:

Quil, quanto mais tempo a gente leva para resolver uma pendência, mais complicada ela fica. Não deixe chegar a um ponto onde haverão seqüelas...

Ele me olhou torto.

– Que foi que te deu pra falar assim, de repente?! O mosquito da sabedoria te mordeu por acaso?! – disse, fazendo graça de mim

– Nada! – me defendi... uma frase do meu pai nunca sairia com naturalidade da minha boca – Não posso te dar um conselho de amigo?!

– Claro que pode, mas... – ele revirou os olhos, depois continuou – Olha, quer saber?! Apesar de ter sido estranho, você está com a razão mesmo. Tempo às vezes não é remédio, é veneno! Vou pedir uns conselhos ao Sam sobre como trazer o assunto à Claire, assim que essa questão do intruso se resolver.

Sua frase me lembrou da situação inacabada que eu ainda tinha a minha frente. Me ergui da cadeira de supetão e contornei a mesa, puxando-o pelo braço:

– Vamos entrar, seu tonto, está chovendo! Eu te prometo que até vou com você, conversar com a Claire... Renesmee também!

– Ah, Jake – os olhos dele brilharam de contentamento – Vocês fariam isso por mim?!

– Claro, criatura... agora sai logo dessa cadeira, eu já estou todo ensopado!

Voltamos para o interior da casa, respingando as gotas de chuva no piso. Esme nos fez um sinal espalhafatoso para ficarmos imóveis.

– Eu vou buscar duas toalhas, fiquem onde estão! – ela disse, antes de sair como um vulto para sei lá onde

– Vocês Quileutes são engraçados... – Edward disse – No exterior, se mostram durões e inabaláveis. Mas por dentro, são as emoções que tomam conta. O resultado é essa falta de atitude cômica...

Nenhum dos não-Quileutes presentes conteve o riso.

– Rá rá, você é uma gracinha Edward, sabia disso?! – eu fiz pouco caso – Melhor assim, do que ter o gênio frio e calculista dos vampiros! Eu aposto que vocês brincam de roleta-russa quando não têm nada útil pra matar o tédio...

Foi a vez do meu pessoal se acabar na risada! A matriarca dos Cullen retornou com as toalhas e começou a nos enxugar como se fossemos dois bebês. Eu e Quil ficamos desconcertados demais para interrompê-la, e os dois grupos dessa vez se juntaram em um só coral de gargalhadas.

Rosalie apareceu na sala em meio centésimo de segundo e cruzou os braços na cintura:

– Vocês querem parar de fazer tanto barulho?! Os bebês estão tentando dormir lá em cima!

Todos se contiveram e a garota agradeceu sarcasticamente.

– Bella, será que dava pra você vir comigo?! Você é a avó, pelo amor de Deus...

– Ah, claro Rosie! – ela se ergueu imediatamente.

Eu, já enxuto o suficiente, me livrei dos esfregões maternais de Esme e fui até Bella, exigindo sua atenção pelo braço:

– Bells, dá uma checada nela por mim... Veja se está tudo bem. Você me faz esse favor?!

Ela sorriu com aquela meiguice natural em seus modos.

– É claro que faço, Jake. Fique tranqüilo!

– Carlisle, você também! Estamos com uma situaçãozinha lá em cima, seria bom você dar uma olhada – a loira acrescentou, despertando a curiosidade geral

– QUE “SITUAÇÃOZINHA”? – eu fui o primeiro a perguntar, obviamente... Ela se virou para mim, com aquela cara metida a besta de sempre:

– Não é nada de grave, não precisa começar a fazer escândalo! Edward, contextualize-os, por favor! Nessie está sozinha com os bebês, eu fiquei de não demorar...

Ele concordou, então os três saíram voando para o segundo andar, me deixando a ver navios. Todos nos viramos para a figura de Edward encostada na parede de vidro. Pelo menos eu carregava sempre aquela certeza comigo, de que ele não estaria com uma cara tão despreocupada se estivesse acontecendo algo sério ao redor dele.

– E então?! – Meu pai perguntou, aproximando a cadeira de rodas

– Gente, os bebês estão crescendo... Só isso!! – ele disse deliberadamente, como quem anuncia algo sem a menor relevância. Eu arregalei meus olhos:

– Ora, mas se isso é verdade, então eu preciso ir ver! – disse, já me dirigindo até lá

– Não se canse a toa... Elas vão descer daqui a cinco minutos com os gêmeos! – Alice me avisou, com um sorriso presunçoso na cara

– Você consegue ter visões relacionadas aos bebês, meu amor?! – Jasper perguntou

– Infelizmente, não... – ela se lamentou – mas, baseado na decisão de algum deles, eu tive a visão de Rosalie e Bella vindo de volta pra cá, com dois borrõezinhos no colo que só podem ser Lilly e Jared, como vocês já sabem. É certo... daqui a cinco minutos, Jake!

– Ô, meu chapa... – Jared se levantou do chão onde estava sentado e veio na minha direção, de braços abertos Eu quase ia me esquecendo de te agradecer pela linda homenagem!! Não precisava... Fiquei emocionado!

– Pode ir parando aí! – adverti, antes que ele viesse com aquela melosidade dispensável pra cima de mim – Quem escolheu o nome foi Renesmee, e não foi em homenagem a você que ela fez isso!

– Não?! – ele fez beicinho, interrompendo o abraço no ar

– Não, gênio! Ela fez uma junção do meu nome com o de Edward. Jacob + Edward = Jared, percebeu?! – eu não acreditei que até eu já estava exemplificando daquele jeito...

– A-há!! – Rachel exclamou, arteira – Bem feito, Jared!!

– A gente já tinha dito isso a ele, Jacob – Emmett falou – Mas ele bateu pé firme, dizendo que tinha sido em honra dele... Bom, pode nos pagar, Jared! Dez pra cada um.

Credo, Emmett estava começando a soar como um de nós. Era engraçado, é verdade, mas esquisito também...

– Rá, como se dez paus fizessem alguma diferença pra você, Cullen – Jared resmungou, indo se sentar de volta no chão com os demais garotos da reserva – Você tem grana pra cobrir um zilhão de apostas iguais a essa!

– Não venha com desculpas esfarrapadas, só pra não pagar o que deve... Você apostou porque quis, deixe que das dez pilas cuido eu!

Eu desisti da minha intenção de ir ver o que estava acontecendo no andar de cima e me sentei na mesa onde Jasper, Alice e Emmett estavam. Eles taparam os narizes, me abusando pelo fato de eu ainda estar úmido. Fiz careta pra eles e a picuinha descontraída virou o assunto, até que os cinco minutos pontuais se passaram e a chegada dos bebês sobressaltou a todos.

Em menos de 24 horas, eles sofreram um estirão tão intenso a ponto de deixá-los semelhantes a bebês com, pelo menos, 2 meses de idade. Um rubor intenso já nutria suas bochechinhas angelicais, e as mãozinhas deles estavam bem gordinhas, apertando com uma firmeza impressionante os braços de Bella e Rosalie, enquanto se aproximavam de onde estávamos. Os cabelinhos também haviam crescido bastante, cobrindo parcialmente suas testas miúdas, apesar de que em Jared, a direção predominante dos fios era pra cima! Lilly, por sua vez, começava a ganhar cachinhos! Cachinhos cor de carmin...

O que mais chamava a atenção, contudo, eram seus olhares atentos a tudo. Não, mais do que isso... a tonalidade púrpura da íris dos seus olhos era impossível de se ignorar, dificultando o desviar de nossas vistas a outras direções! Eu não me lembro de nunca ter visto olhos com aquela cor... eram tão bonitos que chegavam a causar arrepios!

– Olha só quem resolveu crescer de repente?! – Bella fez voz de criança, anunciando a chegada deles – Viemos fazer uma visitinha, já que a gente não quer nem saber de dormir e nossa mamãe precisa de repouso.

Ao perceberem nossas presenças na sala, os dois magicamente sorriram ao mesmo tempo. Não tinham dentes como pensei {graças à Deus...iria ser estranho}, mas o simples gesto por si só já era fantástico! O que será que se passava em suas cabecinhas recém nascidas a ponto de os fazer manifestar aquela alegria tão única e espetacular?! Somente Edward tinha o privilégio de conhecer a resposta...

– É um show mesmo – ele falou, em resposta aos meus pensamentos – Eles demonstram ter uma extraordinária noção da atmosfera ao redor. Sei lá... Parece que isso os ajuda até a nos reconhecer! Sério, eu posso jurar que escutei o Jared pensar “papai” ao olhar pra você agora mesmo, Jake!

– Ah, tá bom Edward... – duvidei dele – Me engana que eu gosto!

– Eu não estou brincando! E tem mais: eles dois, sem sombra de dúvidas, se utilizam de algum meio privado de comunicação entre eles. É algo tão específico que nem eu consigo compreender... só sei que existe!

Oh meu Deus, ele estava mesmo falando sério!! Meu filho, em seu primeiro dia de vida, já podia me reconhecer... E mais: Me chamava de papai em seus pensamentos.

Dos braços de Rosalie, ele ergueu vagamente uma das mãos na minha direção, dando a entender que queria o meu colo.

– Não fique aí com essa cara de besta, pensando se é isso mesmo que ele quer ou não... – Edward me advertiu – carregue o seu filho, Jacob!

– Tá! – eu respondi num estopim, me colocando ao alcance de recebê-lo.

A loira me entregou o bebê com cuidado, verificando se as minhas mãos estavam na posição certa para segurá-lo, depois se afastou. Eu sentia que todos estavam rindo do meu jeito desengonçado... Um flash quase cegou as minhas vistas, enquanto eu tentava ajeitar a cabecinha de Jared no meu ombro.

– Que amor! – Alice paparicou a imagem em sua câmera, depois a estendeu para nós – quem vê assim, até pensa que Jacob tem alguma experiência...

– Que história é essa?! Eu sou um pai inato, nasci para iss... – comecei a me gabar, mas um movimento do bebê tentando se virar pra mim quase me fez desequilibrá-lo. Rosalie correu para me acudir.

– Ah é né, Jake?! O que você ía dizer mesmo?! – Bella não perdeu a piada, arrastando o restante do pessoal com ela na onda de gozação!

Carlisle veio em seguida e nos anunciou que Nessie tinha conseguido dormir. Ele mencionou algo sobre o processo de regeneração da parede uterina e abdominal consumir muita energia, e que talvez ela levasse três dias inteiros para acordar. Eu me preocupei, claro, com o fato de os bebês precisarem se alimentar nesse período.

– Isso não vai ser problema, eles poderão mamar tranquilamente, mesmo ela estando adormecida – ele me informou

– E a dieta deles, meu amor?! – Esme perguntou

– Bem, essa informação eu ainda não tenho... O que você acha, Edward?! – ele se dirigiu ao filho

– Eu desconfio que sejam bebedores de sangue sim, graças ao “gene vampiro” que corre nas veias de Nessie e, por conseqüência, nas deles. Mas estive observando suas reações físicas e mentais e tenho razões para crer que eles não preferirão sangue à comida regular... Não parecem se afetar com o cheiro humano de Jacob, ou dos demais...

– O que é certo é que eles não possuem veneno! – Carlisle afirmou

– Nenhum dos dois?! – Emmett perguntou por garantia, se adiantando na minha frente dessa vez

– Nenhum dos dois!

– Isso eu li em sua mente Carlisle, assim que chegamos da patrulha hoje de tarde... Por isso, fiz tanta questão agora de que você o carregasse, Jake! Sabia que não correria riscos, mesmo que ele te mordesse, o que não foi o caso...

– Nossa, obrigado pela consideração amigo! – eu brinquei, pelo fator “mordida”, e ele sorriu de volta

– Você descobriu o porquê daquele cheiro insuportável no sangue que Renesmee vomitava, Carlisle?! – Bella relembrou o fato

– É mesmo... – Rosalie disse – Isso não faz nenhum sentido, já que os bebês têm um cheirinho tão agradável! Até o Jasper consegue ficar perto deles tranquilamente.

– Não queridas, ainda está nos meus planos desvendar esse mistério! – ele demonstrou entusiasmo... estava usando meus filhos como escola – Sinto que pode ter ligação com a perda da capacidade hemato-olfativa de Nessie!

– Hema... o quê?! – Embry fez cara de confusão e Carlisle se virou para ele com boa vontade

– Hemato-olfativa... Quer dizer, capacidade de sentir o cheiro do sangue! Durante a gravidez toda, ela perdeu essa capacidade. Por esse e outros motivos, tivemos que caçar para ela.

– Ahhh – ele demonstrou compreender.

Lilly repetiu o mesmo gesto do irmão, só que dessa vez para Seth, que a estava observando fascinado desde que as garotas os trouxeram para baixo. Bella convidou-o a se aproximar e ele nem contou conversa, tamanha a empolgação pela oportunidade de ter sua protegida nos braços. Ao trocar de colo, minha pequena nos surpreendeu a todos, explodindo em uma gargalhadinha espontânea e contagiante. Me arrepiei outra vez! Que coisinha mais linda era aquele sorrisinho banguelo em seu rostinho rosado!

– Sabe o que eu desconfio, Seth?! – Edward perguntou ao garoto, que precisou de muito esforço para desviar sua atenção de Lilly para ele

– O quê?!

– Que Lilly também teve “imprinting” com você!

Esse Edward realmente tinha o dom de nos pegar desprevenidos... Ele continuou, diante de nossas caras de espanto:

– É verdade. Você se lembra daquele episódio com Nessie, você e Quil aqui na sala, algumas semanas atrás, em que ela passou aquele aperto?! Então, algum tempo depois, ela começou a perceber umas particularidades nesse comportamento dos bebês... Daí, por eliminação, eu cheguei à conclusão de que você era o único que esteve presente em todas as vezes que ela teve a sensação. Não entendia o motivo, mas agora... está bem óbvio: Lilly e você tiveram imprinting mútuo! Pelo menos, é o que está parecendo...

Seth exultou de alegria com aquilo e eu senti que era o único ali que não estava entendo nada do que eles estavam falando... Quando foi que Nessie passou mal, e por que eu não fiquei sabendo?! Edward olhou de soslaio pra mim e não pareceu muito disposto a me esclarecer dessa vez:

– Não foi nada de mais, não quisemos te preocupar! – ele se limitou a dizer

Não gostei de ser excluído, não gostei mesmo... Mas tive que me contentar. Não seria a ele que eu pediria para me contar tudo, numa outra hora...

Aquela história de “imprinting mútuo” me fez pensar em Leah e Zach, aqueles dois ingratos que nem se deram ao trabalho de dar as caras nos últimos dias... Embry me comentou que era bem capaz deles dois terem fugido juntos, já que nem notícia eles deram quando deixaram de participar das patrulhas! “Espero que eles estejam muito felizes juntos!” me lembro de ter comentado secamente a ele, na ocasião.

Edward me pediu para segurar Jared um pouco. Lhe entreguei seu netinho nos braços, depois fui ter com Bella. Puxei-a discretamente para o hall, afim de termos mais privacidade. Eu nem precisei abrir minha boca, ela já sabia as respostas que eu procurava...

Ela me disse que Nessie estava tranqüila, que não parecia de modo nenhum chateada, ou receosa, ou com intenção de pedir um tempo do casamento, na pior das hipóteses! Não negou, no entanto, que ela aparentava estar em meio a um certo grau de conflito. Mas isso já era de se esperar... eu não era tão ingênuo a ponto de achar que ela iria receber a notícia com fogos de artifício!

– O que você teme que aconteça, Jake?! – Bella me perguntou sinceramente

– O pior Bella... que nesse caso seria ela se ver em um beco sem saída, apaixonada por um zumbi! Alguém que não a ama de verdade, entende?! Agora a pouco eu tive um sonho tão... – engoli em seco – Eu não sei, foi como se eu visse como a minha realidade teria sido, sem o imprinting... e eu te confesso, foi tenebroso, mas eu senti que foi real. Talvez eu, de fato, não a ame como ela merece...

– Pare com isso agora mesmo, Jacob! – ela me deu um tapa no ombro – Eu te proíbo de dar pra trás, está me ouvindo?! Se você começar a acreditar nessa besteira, como você espera que ela não faça o mesmo?!

– Eu não estou dando pra trás – me alarmei com sua conclusão precipitada – Nunca vou fazer isso, Bella! Mas você não viu o que eu vi no meu pesadelo: Um lado meu livre do imprinting, que odiava Renesmee mais do que a tudo! O Jacob Black de antes de ela nascer, disposto a qualquer coisa pra te salvar da morte. Tenho medo de ainda ter esse Jacob, o que rejeitaria a sua filha, preso em algum lugar dentro de mim... lutando pra se libertar e terminar o que começou, antes de vê-la pela primeira vez e passar a enxergar a vida com outros olhos...

– Você tem razão, eu não estava no seu sonho... – ela cortou os meus devaneios – Mas eu estou aqui agora, e o que eu vejo diante de mim é o suficiente para me dizer o contrário: que você ama a minha filha de verdade! E se, por um acaso, o seu velho Jacob estiver aí, aprisionado dentro de você, tenho certeza de que nesses sete anos que se passaram, ele aprendeu a amá-la também!

Eu abaixei a cabeça, tentando fazer com que suas palavras penetrassem meu coração e surtissem o efeito desejado. Ela encostou sua testa na minha e me segurou pela nuca, como se tentasse transferir as idéias de uma cabeça para a outra, por osmose.

– Tenha mais fé em quem você é agora, poxa! Não caia numa armadilha que você mesmo fez...

Segurei seus braços com firmeza e olhei de volta para ela:

– Você está certa. Chega de segredos, chega de dúvidas também, não é?!

Ela sorriu e largou a minha nuca, satisfeita com a missão cumprida.

– Por falar em dúvidas – mudei de assunto – quero saber o que aconteceu com Nessie enquanto eu estava fora, que ninguém me contou?!

Sua cabeça pendeu para o lado, frustrada, mas foi como eu previ. Ela não me negou a verdade.

Fiquei sabendo então que minha Nessie passou um bom período da gravidez sentindo cócegas {?} na barriga, provenientes da aproximação de Seth {agora se sabia disso...}, e que num determinado dia havia sofrido um acesso fulminante de risos que quase a matou sufocada!

Que horror, tanta coisa estranha acontecendo com a minha esposa, e eu longe, correndo desenfreado atrás de um parasita que não aparecia...

Voltamos para junto dos demais, agora entretidos em uma roda em volta de Edward, Seth e os bebês. A cada segundo, eles nos presenteavam com alguma novidade maravilhosa, causando impacto em nossos conceitos pré-estabelecidos. Num dado momento, Edward revelou que Nessie havia se decidido por batizá-los Lillian Sarah Black, estendendo a homenagem à minha falecida mãe, e Jared Ephraim Black, em honra do meu antepassado mais ilustre! A novidade acalentou meu coração, saudoso por ter a minha Nessie em meus braços outra vez, só pra dizer o quanto ela era perfeita!

A primeira noite dos meus filhos se estendeu até o limite máximo, quando eles enfim adormeceram – Lilly nos braços de Seth e Jared nos de Rosalie. Eu admito que estava até começando a simpatizar um pouco com a loira psicótica... Ela tinha no rosto a expressão de alguém que estava no paraíso, e seu olhar para os gêmeos era de causar admiração e até... ternura.

Os dois “padrinhos” subiram para colocá-los no berço, que eles dividiriam até que o segundo chegasse de Paris {típico de Alice}!!

De manhã, despertei com a cantar do galo. Os garotos da reserva já haviam acordado e saído para a patrulha {é, eles agora passavam mais tempo na mansão do que em suas próprias casas...}, junto com Emmett e Jasper. Eu tinha pegado no sono de novo no sofá, por isso acordei com a cara toda amassada.

Nessie, como Carlisle havia dito, permanecia dormindo profundamente no quarto. Os gêmeos já haviam despertado e estavam sendo mimados pelas mulheres da família na varanda.

Aproveitei para ir até o segundo andar, dar uma olhadinha na minha princesa. Precisava ver o seu rosto tranqüilo mesmo que por um breve momento, antes de sair para me juntar aos lobos... Aquilo seria o meu combustível para enfrentar mais um dia incerto. Edward e Carlisle, seus fieis escudeiros {pra não dizer enfermeiros} já estavam lá, de prontidão. Eles me concederam alguns instantes de privacidade.

Ela estava deitada de lado, os cachos grossos caiam pelo pescoço, emoldurando seu rosto de candura. O peito ressonava baixinho, protegido por uma das mãos. Era uma aventura deliciosa tentar desvendar quais eram os seus sonhos, que volta e meia faziam suas feições se contraírem em um sorriso discreto...

Fui enfim ao encontro da minha tarefa na floresta, junto aos meus companheiros. Varri o perímetro que competia a mim umas quatro ou cindo vezes. Nem sinal do demônio Gabriel Drachen, como sempre! Até quando continuaríamos perseguindo um fantasma?! A angústia aos poucos minava a minha esperança, mas eu procurava me motivar antes que ela fosse consumida por inteiro. Com o tempo, ele cairia na nossa rede. Se é que estava mesmo perto da península...

Quando escureceu, voltamos para a mansão para o primeiro intervalo da patrulha. A madrugada nos aguardava e eu precisava aquecer os ânimos antes do segundo round. Esme nos preparou um assado de bovino simplesmente de outro mundo, que desapareceu em questão de minutos da grande mesa da copa.

Meus gêmeos, outra vez, esticaram valiosos centímetros no decorrer do dia... Já pareciam ter entre 3 e 4 meses, os cabelos avançavam ainda mais sobre as testas e iniciavam a descida até as nucas. Seus olhinhos, para nosso espanto {mais uma vez}, assumiram uma nova tonalidade: verde oliva! Carlisle sustentou mais ainda a teoria de que as alterações se deviam ao humor, informando que durante aquele mesmo dia já os tinha visto em tons de azul acinzentado na hora da troca de fraudas e caramelo quando Alice inventou de dar uma bananinha machucada pra eles. Era difícil dizer qual detalhe em seu crescimento impressionava mais...

Poucos instantes antes de sairmos, o telefone tocou. Como eu era a pessoa mais próxima ao aparelho na hora, tirei o fone do gancho para atender.

Uma voz grave como trovão me recepcionou do outro lado da linha:

Jacob “Black”... – a pronuncia do meu sobrenome foi forçada – Até que enfim tenho a oportunidade de lhe falar. É pena eu ter adiado tanto esse momento...

Meus músculos se enrijeceram como rocha e, mesmo tendo quase certeza sobre quem era o dono daquele sotaque britânico, formulei a pergunta:

– Quem está falando?!

Os presentes perceberam a tensão em meu olhar e se aproximaram.

Como “quem”?! Você mesmo acabou de jurar a si mesmo ter quase certeza de quem eu sou... Porque não arrisca um palpite?

“Como ele fez isso?!” – apenas pensei, alarmado.

Ler seus pensamentos?! Ora, isso agora é coisa boba para mim... – ele deu um risinho maléfico e eu tremi

– O que está acontecendo, Jacob?! Quem é?! – Bella perguntou, mas Edward fez sinal para que ela ficasse em silêncio imediatamente, depois se aproxegou para ler meus pensamentos em busca de respostas...

Parece que eu estou interrompendo uma festinha... ou será uma reunião de família, antes da patrulha costumeira?!

Maldito! Ele tinha uma arma poderosa a seu favor e a estava usando para zombar dos nossos esforços...

Oh, não me entenda mal – ele cortou minha mente – eu estou achando os seus esforços muito interessantes! Chegam a ser bonitinhos, sabia?!

– Diga logo o que você quer, seu cretino!

Você sabe o que eu quero... – o tom dele ficou severo de repente, mas ele tratou logo de maquiá-lo com aquela compostura irritante, depois continuou – Aquilo que me pertence por direito!

O único direito que você tem é o de que eu te parta todo em pedaços, seu...”

Olhe que, assim, você está me dando idéias... Vamos mudar para um assunto mais interessante, o real motivo da minha ligação: O quanto você conhece de Portland, Jacob?!

Âhn?!”

Ouça, quero que você vá até o centro de Portland amanhã, o mais cedo possível. Venha de carro, sobre as suas quatro patas, pegue um avião... O que você preferir! Quero me encontrar com você!

“Rá! O que te faz pensar que eu iria tão longe atrás de você, seu covarde...”

Esse blefe não funciona comigo, acho que já demonstrei conhecer os seus planos de me encontrar tão bem quanto você próprio... Continuando, vá para a Pioneer Courthouse Square, no centro da cidade. Há uma nova estação de metrô sendo construída, a poucos metros da praça principal. Ignore os avisos de obras e desça as escadarias até chegar às plataformas. Uma vez lá, você encontrará o restante do caminho até mim, eu garanto. Venha sozinho... Eu saberei se você me desobedecer!

Eu não tenho razão para fazer isso... Não, eu não vou!” Decidi mentalmente.

Ele suspirou, com um desanimo cínico:

Poxa vida, eu não queria estragar a surpresa, mas... Estou vendo que você precisa de um estímulo melhor!

Ao dizer isso, a ligação ficou muda... Após dez segundos, veio a surpresa de uma voz conhecida e em desespero:

Jake! É você?! Por favor, tira a gente daqui, eu não aquento mai-...

...

...

...

A ligação foi cortada.

Edward olhou pra mim em choque.

Eu derrubei o telefone no chão e fechei os olhos, aterrorizado.

“Leah...

...Zach”

4 comentários:

Dani disse...

nossa to simpismente a-man-do essa fic! confeço no começo não estava gostando muito, mas agora esta muito melhor. Parabéns!

Fabi Almeida disse...

essa fic ta mto perfeita amei de verdade.a autora está de parabéns!
mas, afinal o que esse tal de gabriel von drachen quer?to mto curiosa!

Barbara disse...

que horrivel o que aconteceu... eu não acredito...to ate agora chocada...O_O

Barbara disse...

AAAAHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!...
'O_O'

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