Coração Inquieto - Capítulo 58

Eu não podia acreditar que minha mãe não havia surtado comigo pelo que havia acontecido entre Jacob e eu. Apesar de ela não ter pego tão leve com Jacob. Jacob mal podia me tocar sem que ela rosnasse de qualquer parte da casa. Por sorte ela estava no escritório do meu avô com Derek. Ele estava se preparando para acordar.

Seth levou Alyssa de volta para Forks para ficar com meu avô Swan e Sue. Meus pais queriam que eu fosse também, mas me recusei. Derek era meu melhor amigo, e agora meu irmão. Ele não iria querer me machucar. Como eu não fui meu pai me fez prometer que eu deixaria que tanto Jacob quanto minha mãe me levassem para fora de casa quando ele acordasse. Isso seria interessante. Eu ficaria entre eles ao invés de eles trabalharem juntos para me proteger.

Meus olhos se arregalaram e eu dei um pulo quando ouvi Derek gritar em agonia. Jacob me puxou para o seu colo, seus braços tremendo enquanto ele encarava o teto. Ele não gostava do fato de que eu estava na mesma casa que um vampiro recém-nascido, mas eu não o via desta forma. Ele era Derek. Eu nunca havia visto um vampiro recém-nascido além da minha mãe, e com ela foi tudo bem. Ela já estava me carregando no primeiro dia após acordar. Se ela era capaz disso então Derek também era. Eu queria provar para todos que eles estavam errados. Eles tinham que estar errados.

“Ele acordou,” sibilou tia Alice. Antes que ela terminasse de falar, tanto ela quanto tia Rosalie estavam na minha frente, agachadas, encarando as escadas. De novo, meus olhos se arregalaram, meu coração pulsando na minha garganta. Jacob me tirou do sofá, minhas costas pressionadas contra a parede com as costas de Jacob pressionadas contra a minha frente. Seu corpo inteiro vibrando por causa dos seus tremores.

“Bella!” Eu ouvi os rosnados ferozes do meu pai quando ele gritou o nome dela. Havia uma luta acontecendo. Eu queria disparar escada acima e ver o que estava acontecendo.

“Tire ela daqui! Ele pode farejar o sangue dela.” A voz do tio Jasper soava com dor. Ele estava sentindo as emoções de Derek.

“Bella, vá!” Meu pai gritou freneticamente. Eu a ouvi descendo as escadas correndo, e então tudo aconteceu tão rápido. Derek era forte demais para os vampiros lá em cima. Ele foi mais rápido do que minha mãe descendo as escadas. Ela girou, agachando-se bem quando ele a empurrou com força. Ela voou de costas, contra a parede, deixando-a em migalhas.

Eu engasguei. Meus tios, Jacob e eu fomos uns centímentros na direção da minha mãe, mas mantendo um olho em Derek. Ela ficou de pé num salto e se posicionou mais uma vez entre Derek e eu. Eu não conseguia tirar meus olhos dele. Seus olhos azuis se foram. No lugar haviam brilhantes olhos vermelhos, encarando-me selvagemente. Sua pele bronzeada era agora pálida, combinando com a da minha família perfeitamente. Ele era lindo, seu cabelo era mais escuro do que antes, e seus músculos eram visíveis em seus braços e peito – ele estava muito maior do que era quando humano. Enquanto eu o estudava, meus tios, avós, e pai estavam com os braços ao redor dele.

“Jasper, acalme-o!” Meu pai implorou frenético. Eu desgrudei meus olhos de Derek e imediatamente vi os olhos negros do meu tio.

“Eu não consigo! Ele está com sede demais.” Ele ofegou entre dentes cerrados.

Jacob e minha mãe não esperaram até que ele pusesse os olhos em mim. Jacob me atirou por cima do seu ombro e minha mãe empurrou Jacob porta afora. Procurei com dificuldade por cima do ombro de Jacob pela tia Alice, que tentava acalmar meu tio para que ele pudesse ajudar Derek.

Derek lutou contra os agarrões da minha família para me seguir. Nossos olhos se encontraram naquele instante. Eu lhe supliquei com os olhos, mas seu rosnado me informou que ele não se importava com quem eu era. Meu melhor amigo-meu irmão queria beber meu sangue. Eu acho que merecia. O sangue de Derek era tão atraente para mim quanto o meu era para ele. Eu não havia salvo meu melhor amigo. Eu o havia perdido. Aquele rapaz ali não era meu Derek. Ele era um monstro. Era eu quem estava errada. Minha família inteira estava certa.

“Parem!” Eu solucei. Jacob e minha mãe apenas me levaram até a metade do caminho até minha casa até que eu não fosse capaz de prosseguir. Eu estava com o estômago embrulhado.

“Ness, querida…” Jacob me colocou no chão e eu virei me curvando sobre a lata de lixo de alguém, vomitando dentro dela. As mãos frias da minha mãe posicionaram-se abertas na minha testa e na minha nuca enquanto Jacob segurava meu cabelo com uma mão e esfregava minhas costas com a outra. Jacob tirou sua camisa quando eu terminei e a entregou para mim para que eu pudesse limpar minha boca. Eu o fiz e a entreguei de volta para ele. Ele fez uma careta, atirando-a na lata de lixo.

Eu dei um passo e caí de joelhos, e tanto os braços de Jacob quanto da minha mãe estavam ao meu redor.

“Querida, o que foi?” Minha mãe perguntou.

“Eu o perdi. Ele se foi. Meu Derek nunca mais vai voltar. Eu devia ter simplesmente seguido o que você disse. Eu devia tê-lo deixado morrer. Ele não pode encontrar seus pais agora! Ele iria matá-los!” Curvei meus ombros e solucei. “O que eu fiz?” Sussurrei dentre o meu choro.

“Ele vai voltar a ser Derek, mas sua sede é tudo em que ele está pensando neste momento. Nós te dissemos que isso iria acontecer.” A voz da minha mãe estava reconfortante, mas não o suficiente para fazer com que eu parasse de chorar.

“Nós temos que continuar indo. Eles vão querer levá-lo para caçar.” Jacob passou o braço ao redor da minha mãe. Eu a ouvi rosnar alto, mas ele ignorou, tomando-me nos braços. Eu me encolhi no calor do seu peito e me perdi nas minhas lágrimas.

Nós caminhamos para dentro da minha casa e minha mãe imediatamente correu escada acima. Ela estava de volta em menos de cinco minutos com três malas e uma camiseta para Jacob. Ela estava equilibrando o celular no ombro enquanto falava nele rapidamente. Ela estava fazendo preparativos de viagem. Nós iríamos para Forks.

Ela desligou o telefone, e então o abriu novamente para ligar para meu pai e informá-lo dos planos de viagem. Quando ela terminou ela levantou os olhos para Jacob.

“Você vai levá-la para Charlie e Sue. Mantenha-a ali até que eu te diga para trazê-la para casa. Eu vou falar com a escola amanhã e lhes dizer que houve uma morte na família e fazer com que eles permitam dias livres tanto para Alyssa quanto Nessie. Jasper estava com Derek sob controle, então eles vão levá-lo para caçar e amanhã nós veremos se ele está sob controle o suficiente para dizer adeus para os seus pais. Esme ligou para eles fingindo ser a diretora da escola e disse que Derek estava numa viagem especial com sua turma, para que eles não se perguntassem onde ele tem estado.” Minha mãe falou rapidamente.

“Espere, você não virá?” Jacob estendeu um pouco as mãos para ela, como se fosse pegá-la e sair correndo.

“Não, eu preciso ficar com Derek.”

“Edward…” Ele começou, mas ela terminou sua frase.

“Não faz ideia. Apenas pegue ela e vá.”

Novas lágrimas encheram os meus olhos e olhei para a minha mãe. Eu vi o quão facilmente Derek a havia atirado contra a parede. Ele podia machucá-la. Ela deve ter lido o pânico nos meus olhos porque ela me esmagou contra si mesma.

“Eu estou bem. Apenas não posso deixá-lo quando sou eu a responsável por tê-lo criado,” Ela beijou o topo da minha cabeça e então me afastou com as mãos. “Vou levá-los ao aeroporto. Não tentem nada. Vocês vão partir.” Ela estreitou os olhos para mim.

“Ok,” eu funguei.

Eu não disse outra palavra. Jacob entrou no banco de trás comigo, abraçando-me ao seu lado com força. Minha mãe o fuzilou com o olhar pelo retrovisor, mas não disse nada. Ela estacionou no aeroporto e passou minhas malas para Jacob. Ela me abraçou com força.

“Eu te amo,” ela sussurrou, beijando minha testa.

“Também te amo, mamãe.”

Ela se virou para olhar para Jacob. “Mantenha minha garota em segurança.” Ela enfatizou a palavra minha um pouco mais do que o necessário.

Ele ignorou sua atitude e a abraçou. “Você sabe que eu odeio te deixar frente ao perigo. Isto vai contra as minhas regras.”

“Bem, eu sei como cuidar de mim mesma. Além disso, não estou sozinha,” ela sorriu e seus braços se levantaram lentamente para abraçá-lo de volta. “Eu vou ligar assim que puder.” Ela prometeu e tocou minha bochecha antes de voltar apressada para dentro do carro.

“Então quanto você quer apostar que seu pai vai surtar quando ela aparecer para ajudar?”

Eu ri, seguindo Jacob até a bilheteria. “Nós vamos ouvi-lo de lá de cima.”

Jacob riu enquanto entregava para a mulher nossos documentos e minhas malas.

Nós nos acomodamos nos assentos de primeira classe confortavelmente, e eu me recostei contra Jacob.

Quando o avião aterrissou nós saímos e eu vi meu avô parado com Seth, Leah e Quil. Eu devia saber que Jacob teria uma reação exagerada.Derek não estava nem um pouco perto de mim, então por que o reforço?

“Ei, criança!” Meu avô me tomou nos braços.

“Oi, vô.” Eu suspirei. “Oh, se alegre, querida. Nós vamos nos divertir.”

Eu gemi. A definição dele de diversão era me levar para pescar. Eu preferiria muito mais caçar com as mãos, mas com isso eu só conseguia que ele e os outros pescadores ao redor me olhassem estranho. Era chato tentar pegá-os com uma vara e um anzol.

“Mal posso esperar.” Eu respirei profundamente e deixei o ar sair devagar.

“Seu braço… o que aconteceu?” Ele baixou os olhos para a minha mão na tala.

“Minha mãe não te contou?” Eu perguntei, a surpresa ressoando na minha voz.

Meu avô me parou, colocando as mãos sobre os meus ombros, e se inclinando para olhar dentro dos meus olhos. “Não, ela não contou.” Ele pronunciou cada palavra lentamente. Ops, eu havia acabado de colocá-la em encrenca.

Eu mordi meu lábio inferior. Será que ela estava escondendo isso dele? Ou estaria ela tão envolvida com Derek, e depois comigo e Jacob, que ela havia esquecido? Tinha que ser isso.

“Bem, eu meio que me envolvi num acidente.” Eu decidi simplesmente lhe contar. Eu não conseguiria sair do aeroporto até que contasse. Ele era teimoso demais para deixar para lá.

“Um acidente, que tipo de acidente?” Seus olhos castanhos estavam arregalados enquanto ele procurava dentro dos meus.

“Acidente de carro.” eu murmurei.

“Eu sabia! Eu falei para o seu pai não te dar aquele carro rápido estúpido! Você é jovem demais para ficar pilotando por aí-”

“Não, não, vovô, eu não estava dirigindo. Derek estava.” Eu sussurrei. As lágrimas queimaram meus olhos.

“Derek, Derek estava dirigindo o seu carro?”

Eu concordei com a cabeça.

“Ele está bem?”

Eu balancei a cabeça. “Nós fomos levados para o hospital de ambulância. Mamãe e papai estavam lá. O papai trabalhou em mim enquanto a mamãe tratou de Derek. Eu estava bem, um pouco ferida, algumas costelas quebradas e um pulso fraturado, mas Derek não estava indo muito bem,” eu me inclinei para mais perto para que pudesse sussurrar em seu ouvido.

“Implorei para que ela lhe desse uma chance. Eu não podia deixá-lo morrer.”

“O quê?” Meu avô exclamou, inclinando-se pra longe de mim.

“Ela o mordeu?” Ele sibilou.

Eu concordei com a cabeça, as lágrimas correndo pelas minhas bochechas. “É por isso que Alyssa e eu estamos aqui. Ele está enlouquecido. Não quer nada além de sangue. Vovô, eu implorei que minha mãe transformasse meu melhor amigo num monstro!” Senti a mim mesma ficando histérica e caí em seus braços.

Minha mãe sempre mencionou o fato de como ele nunca havia sido do tipo que demonstrava emoções ou algo do tipo, mas comigo ele sempre havia me confortado quando eu precisei. Se minha mãe, pai ou Jacob não pudessem fazer eu me sentir melhor, meu avô era a pessoa a quem eu recorria. Seu cheiro era quente e relaxante.

“Eu vou ter que falar com ela mais tarde, mas você está aqui agora, sã e salva. Claire também está feliz que você esteja aqui.” Eu sorri com isso. Eu não falava com ela há algum tempo. Eu não havia falado nem com Alyssa desde o acidente. A tia Rosalie a havia mantido longe da casa dos meus avós, com Derek sentindo tanta dor.

Jacob passou o braço pela minha cintura enquanto caminhávamos em direção ao carro. Leah, Seth, e Quil correram para dentro da floresta para patrulhar.

Tentei pressionar Jacob a ir com eles, mas ele se recusava a sair do meu lado. Eu não podia reclamar sobre isso, eu precisava dele. Eu me sentia melhor quando ele estava perto de mim. Apenas o pensamento de ele sair do meu lado neste momento despedaçava meu coração.