Coração Inquieto - Capítulo 77

“Oi, garota da caneta.” Fui recebida na porta pelo mesmo cara que estava dando em cima de mim no primeiro dia de aula.

Fiquei de braços dados com Alyssa e sorri ligeiramente para ele. “Oi”.

“Eu nunca te devolvi sua caneta no outro dia.”

“Tudo bem, eu tenho mais.” Eu lhe informei enquanto ele nos acompanhava até nossos assentos.

“Você tem certeza? Eu não sou ladrão.” Ele sorriu, mostrando-me todos os seus dentes. Este pobre rapaz estava realmente interessado em mim. Seus olhos azuis eram os mais bonitos que eu já tinha visto. Adorava o azul nos olhos de Derek quando ele era humano, mas esse cara tinha olhos que correspondiam ao oceano.

“Olá?” Ele acenou com a mão na frente do meu rosto e eu pisquei, sacudindo a cabeça.

“Oh, desculpe … você tem olhos muito bonitos.” Eu sorri, um pouco envergonhada por dizer.

“Bonitos?” Ele repetiu com uma gargalhada. Ele estava claramente contente que eu lhe dei um elogio.

“Eles são… bacanas.”

“Bem, obrigado… Eu acho que nem sequer sei seu nome.”

“Renesmee, ou Nessie”. Eu sorri e Alyssa pigarreou. Eu ignorei ela.

“Renesmee, uau, isso enche a boca.”

“Culpa da minha mãe.”

Ele riu de mim e nós nos sentamos. “Você vai me dizer seu nome?”

“Luke”. Ele se inclinou em minha direção.

Engoli em seco e me mexi em minha cadeira, colocando a mesa entre nós. Meu corpo tremia enquanto o rosto de vampiro de Luke enchia meus pensamentos. Suas mãos raivosas deixando marcas que eu escondi da minha família.

“Ei, você está bem?” Luke perguntou, inclinando-se sobre a minha cadeira para olhar para mim. Eu não percebi que estava agora no chão. “Eu disse algo errado?” Ele estendeu a mão para mim e me encolhi para longe dele.

“Eu tenho que ir.” Eu chiei e desajeitadamente me coloquei em pé.

“Onde você vai?” Alyssa chamou atrás de mim.

“Para casa, eu não me sinto bem.” Eu disse e saí correndo da sala. Deixei tudo que eu tinha sobre a mesa, mas eu sabia que Alyssa iria cuidar disso.

Meu coração estava batendo na minha garganta enquanto eu corria direto para as portas do edifício que me libertariam. Eu sabia que esse Luke e meu… vampiro Luke eram duas pessoas diferentes, mas o nome mandou uma onda de terror através de meu corpo que eu não podia ignorar. Eu não conseguia fazer meu corpo parar de tremer, mas eu poderia segurar as lágrimas em meus olhos até que eu estivesse do lado de fora.

Atirei-me para a frente, correndo mais rápido do que um ser humano normal. Eu precisava sair do edifício. As paredes pareciam estar se aproximando de mim. A voz do Luke vampiro encheu minha cabeça. Sua voz doce e bondosa voz quando eu o conheci se transformando em um monstro selvagem que ele virou no final. Eu não poderia apagar as memórias de minha cabeça. Atravessei as portas e tropecei em direção à parede para me apoiar. Como eu prometi a mim mesma, eu segurei as lágrimas até que chegasse lá fora.

“Maldição, Nessie.” Gritei e me voltei na direção da voz ofegante. “Você é rápida.” Ele olhou para mim, ofegante, com olhos preocupados.

“Pare de me seguir!” Eu gritei.

“Você está com medo. Por quê?” Ele deu um passo em minha direção novamente, estendendo uma mão para me ajudar.

“Por favor”. Eu sussurrei, apertando minhas costas contra a parede de tijolos. Eu senti que ela arranhou minha pele através da minha camisa.

“Me deixe em paz.” Eu implorei, me virando e correndo.

Não olhei para trás, corri para casa. Havia apenas uma pessoa que poderia me fazer sentir melhor. Uma pessoa que podia parar as visões terríveis se repetindo na minha cabeça. Eu sabia que isso iria machucá-lo tanto quanto me machucava, mas eu precisava de Jacob. Eu precisava da proteção de seus braços.

Eu podia ver minha casa enquanto me apressava pela minha rua. O carro da minha mãe estava na garagem. Eu tinha esquecido que ela não foi trabalhar hoje. Ambos já devem ser capazes de me ouvir agora.

Eu adentrei pela porta da frente, ofegante de tanto correr e chorar. “Jacob!” Chamei, minha voz se quebrando em um soluço.

Jacob subiu as escadas voando, vindo do porão onde estava meus videogames. Minha mãe seguindo seus calcanhares.

“O que aconteceu?” Ele engasgou, puxando-me em seus braços. “Ness, você está tremendo.”

Eu não conseguia falar, meu corpo estava histérico. Cada parte dele pulsava onde uma vez estavam os hematomas causados pelas mãos de Luke.

“Renesmee, alguém que te machucou?” Minha mãe foi atrás de mim, levantando minha camisa. “De onde veio isso?”

“O que?” Jacob sibilou, correndo seus dedos ao longo de minhas costas nuas, sentindo os arranhões.

“Da parede de tijolos.” Eu disse através de soluços, a voz abafada pela camisa de Jacob.

“Por quê?” Tanto a minha mãe quanto Jacob perguntaram, ao mesmo tempo.

“Eu estou chamando Edward.” Minha mãe disse e minha camisa voltou ao lugar.

“Não, não é nada. Eu estou bem.”

“Não, você não está!” Os braços de Jacob se apertaram em torno de mim e comecei a chorar novamente. “Por favor, me diga o que está errado.”

“L-Luke.” Dizendo o seu nome me levou a um novo nível de histeria.

Eu senti Jacob ficar tenso, seus braços se apertaram até que fosse difícil para eu para respirar. Eu não me importei, queria que ele me abraçasse apertado. Eu estava segura aqui.

“Ele está…” Jacob parou de falar, controlando a raiva em sua voz. “Nós cuidamos dele. Ele se foi. Foi o seu criador? Ele está aqui?”

“Não”, murmurei, balançando minha cabeça. “Eu estive conversando com um cara na sala de aula. Ele me disse seu nome. É Luke. Estou exagerando, me desculpe.”

“Você está conversando com um cara na aula?” Jacob tentou empurrar-me para trás para que ele pudesse olhar para meu rosto, mas eu estava agarrada à ele. Ele não podia me mover.

“Querida, não é o mesmo garoto.” Minha mãe me disse, esfregando minhas costas.

“Sei que não é, mas ouvir o nome… E ele é tão doce. Eu não sei. Me desculpe, eu só…” minha voz sumiu enquanto eu controlava meu choro.

“É compreensível, mas é apenas o nome. Ele não é o mesmo cara. Ele não vai se transformar no mesmo cara. Ele é apenas um humano, Nessie.” Ouvi a voz suave da minha mãe e logo os tremores pararam.

“Ela está bem.” Jacob suspirou, soltando seu abraço de mim. “Você pode me falar sobre o seu novo amigo?”

Pela primeira vez eu olhei nos olhos dele e tive que sorrir. “Ele perdeu sua caneta, eu lhe dei uma das minhas. Nós conversamos. Isso é tudo. Ele tem mais de 21 anos de qualquer forma…” Eu parei de falar enquanto pensava sobre isso. “Ou talvez ele tenha 21. Eu não sei.”

“De qualquer forma? O que é que isso quer dizer?”

“Pare de ser ciumento. Ele é apenas um cara na minha classe. Eu provavelmente o assustei o suficiente para ele nunca mais falar comigo de novo.” Olhei em seus olhos. Eu não o tinha convencido. Eu suspirei.

“Acho que você poderia chamá-lo de minha Emma”. Eu ri.

Jacob revirou os olhos e beijou minha testa. Eu me senti horrível por reagir da maneira que agi. Ele entenderia, se eu pudesse me controlar para explicar para ele.

“Bella? Renesmee? Meu pai disse alto enquanto corria para a sala. Eu não ouvi a minha mãe ligar para ele.

“Ela está bem”. Minha mãe o informou. “Ela descobriu que seu novo amigo na sala de aula se chama Luke.”

O corpo do meu pai reagiu da mesma forma que o de Jacob.

“Por que eu sinto cheiro de…” Ele parou de falar enquanto Jacob chegava atrás de mim e puxava a parte de trás da minha camisa.

“Como isso aconteceu?”

“Eu, exagerando.” Murmurei. “Fiquei com medo quando ele me disse seu nome, saí correndo da sala e ele me alcançou na saída do prédio. Apoiei-me contra a parede de tijolos. Isso é tudo.”

“Mas você está bem, certo?” Ele perguntou, puxando-me dos braços de Jacob e envolvendo os seus em minha volta. Outra onda de sentimento de segurança passou através de mim.

“Sim, pai, eestou bem.”

Levei uma hora para convencer meu pai a voltar ao trabalho. Em seguida, levou outra meia hora para convencer minha mãe que eu não queria voltar para terminar as minhas aulas. Eu não poderia enfrentá-lo ainda. Eu precisava descobrir como iria me explicar. Felizmente, minha mãe concordou em me deixar ficar em casa o resto do dia.

Jacob puxou-me para o sofá e me colocou em seu colo. Eu me enrolei lá, aproveitando seus braços em volta de mim.

“Isso realmente te assustou, não é?” Ele disse suavemente.

“Sim”, sussurrei, virando meu rosto em seu pescoço.

“Você sabe que eu nunca deixaria ninguém colocar as mãos em você.”

“Eu sei, mas tenho as lembranças.”

Jacob respirou desigual e o soltou o ar lentamente. “De todo o bando de vampiros em nossa volta, como os que podem mexer com coisas da cabeça, você acharia que teríamos um que pudesse apagar mentes por aqui.”

Eu ri de Jacob e ele relaxou seus ombros. “Aí está o som que eu queria ouvir.”

Você está sentindo o meu dom? Perguntei-lhe em silêncio.

Ele sorriu e balançou a cabeça. “Eu amo ouvir a sua voz dentro da minha cabeça.”

Me desculpe por trazer tudo isso de volta hoje. Eu precisava voltar para casa para você. Eu não queria te trazer minhas lembranças também.

Os braços de Jacob me seguraram contra ele e ele me beijou. “Qualquer coisa que você sinta, eu sinto também. Eu quero que você me diga quando você está assustada, ou quando está magoada.”

Eu assenti. “Eu direi.”

“Não posso protegê-la a menos que você me diga do que eu preciso protegê-la.” Eu podia ouvir a tensão em sua voz. Sabia que ele estava falando sobre o passado.

Ele nunca vai perdoar a si mesmo por Luke ter me machucado. Eu gostaria que ele não se culpasse. Isso é principalmente minha culpa. Como ele disse, ele não pode me proteger se eu não lhe dizer do que eu preciso proteção. Eu aprendi minha lição.

“Eu vou”. Eu repeti.

“Oi, tia Bella.” Alyssa disse quando ela entrou na casa com meus livros e bolsa.

“Ei, querida.” Minha mãe desviou os olhos de seu livro e sorriu para ela.

Eu estava encolhida ao lado de Jacob enquanto assistíamos TV. Alyssa me olhou desconfiada e eu suspirei, sentando-me.

“Eu estou bem. Desculpe.” Murmurei, alcançando a minha bolsa. “Obrigada.”

“Eu copiei as tarefas para você também. Há um bilhete do… Luke… em sua mochila. Sinto muito. Eu disse para ele o que aconteceu com…” Alyssa sentou no sofá, tomando minha mão na dela. Eu dei um aperto ligeiro, deixando ela saber que eu estava bem.

“Ele escreveu um bilhete para ela?” Jacob se inclinou para olhar de mim para Alyssa.

“Ele se sentiu muito mal.” Ela encolheu os ombros.

“Eu me sinto como uma total idiota.” Murmurei.

“Você não é.” Minha mãe murmurou, seu nariz de volta em seu livro.

“Ele não pensa assim também.” Alyssa me assegurou. “Ele se sente horrível. Eu disse para ele que não é como se ele soubesse que o nome dele era igual ao do outro. Ele espera que você esteja na aula amanhã.”

“Eu estarei”. Concordei, virando a folha de papel dobrada em meus dedos. Por alguma razão eu queria ler a nota sozinha. “Com licença”. Eu disse e me levantei, caminhando até o banheiro.

Eu desdobrei o bilhete e sentei em cima da pia para ler.

Querida Nessie,

Como faço para sequer começar a pedir desculpas por algo assim? Acho que não é minha culpa… eu não sabia. Eu te garanto que nunca perdi minha paciência com uma mulher antes, e não vou começar com você. Você é linda demais para sequer pensar em alguém te ferindo. Se fôssemos amigos quando tudo aconteceu, eu seria o primeiro a dar à ele um gosto de seu próprio remédio. Eu gostaria de ser seu amigo, mas vou entender se for difícil. Espero que eu não me pareça com ele. Podemos até pensar em um apelido para você me chamar, se você quiser. Parece que você é boa com isso de apelido. Não sei como você tirou Nessie de… bem, o seu nome. Não quero nem tentar soletrá-lo. Você tem que me mostrar um dia. Estou aqui para conversar se você quiser. Eu sei que isso foi há muito tempo, mas obviamente você não conseguiu superar completamente.. Pode confiar em mim. Nem todos os Lukes do mundo são monstros perigosos. Alguns são realmente bacanas. Como eu.

Luke (o bom garoto)

Tive que sorrir para a sua despedida. Eu poderia dizer que ele era um bom rapaz.

“Ness?” Jacob bateu na porta do banheiro. Enfiei a nota em meu bolso e corri para fora.

“Eu estou bem.” Sorri, ficando na ponta dos pés para beijá-lo. “Te amo.”

“Te amo.” Ele repetiu e me olhou caminhando de volta para a sala de estar.

Irei falar com ele amanhã. Eu disse de forma privada para Alyssa.

Ela assentiu com a cabeça uma vez e se levantou. “Bem, eu tenho que ir para casa. Papai fica nervoso quando eu não vou imediatamente.”

“Fale ao tio Emmett que eu disse oi.”

“Falarei sim.”