As Quatro Estações - Capítulo 06: Em Alerta

Podia ter sido só um pesadelo.

Mas eu olhava para o chão, e o corpo da minha pequena e linda irmã Alice ainda estava imóvel e inconsciente.

Jasper murmurava coisas ininteligíveis, torturado, soluçando, a cabeça loura ainda despejada próxima a cabeça dela.

Eu soluçava mais alto – junto com Edward. Esme rezava, enquanto Carlisle continuava tentando reanimar Alice.

Ela dissera algo sobre os Volturi estarem voltando – seguido de algo terrível e torturante. O que seria?

Carlisle, com muito cuidado, carregou o corpo dela até a sala e o colocou no sofá. Jasper estava sentado ao seu lado, segurando sua mão fria, imóvel e sem vida.

Não sei dizer quanto tempo ficamos ali – todos soluçando, desconsolados, desesperados, esperando alguma reação de Alice. Poderiam ter sido horas, dias, meses. E ninguém teria percebido.

Passado um longo tempo, Alice gemeu e abriu os olhos lentamente. Jasper suspirou de alívio e todos nós nos aproximamos, ansiosos. Alice fechara os olhos novamente, mas tinha uma careta de dor estampada em seu rosto fantástico.

- Alice? – chamou Esme. – Pode me ouvir?

Alice gemeu de novo e fez uma careta ainda mais intensa, enquanto balançava a cabeça para responder. Sua voz estava fraca e abalada. Eu assustei; nunca vira um vampiro nesse estado antes.

- Posso – murmurou ela. – O que aconteceu? Estou com dor de cabeça. Muita.

- Você teve uma visão sobre os Volturi – disse Jasper docemente.

- Ela deve ter sido forte, e por isso lhe causa a dor – refletiu Carlisle.

Alice corria os olhos por todos nós, tentando buscar alguma informação que lhe fizesse sentido.

- Você começou a se retorcer, pedindo para morrer... O que você viu, Alice? – perguntei.

Ela me olhou, confusa.

- Não me lembro disso. Me lembro de ter visto os Volturi vindo... e só. Nem sei por que estou aqui – ela acrescentou. – Carlisle, isso é possível? Esquecer visões?

Ele parou, pensativo.

- Acredito que sim – disse ele. – Se a visão for muito... forte, ela pode te provocar reações como as suas: dor e esquecimento, eu creio.

Ficamos alguns instantes parados, pensando, tentando encaixar informações. Renesmee ainda estava aninhada a Jacob, assustada. Rosalie estava pasma, de cabeça baixa, com Emmett enlaçando-a pela cintura. Alice tentou se levantar, mas Jasper não permitiu. Carlisle começou a anotar informações em uma folha. Eu e Edward ficamos abraçados, pensando e Esme postou-se ao lado de Alice, ajoelhada, querendo certificar-se de que ela estava bem.

- Edward – chamou Alice. – Você viu na minha mente alguma coisa...?

Ele sacudiu a cabeça.

- Vi os Volturi chegando... mas o resto... Foi difícil ler sua mente, Alice. Você estava agonizando, tentando espantar a visão, então não consegui ver. Tente ser menos agitada da próxima vez – acrescentou, sorrindo.

Ela bufou.

- Eu realmente espero que não haja uma próxima vez, Edward.

Todos nós ficamos em silêncio. Era essencial saber o que Alice vira.

- Os Volturi estão mesmo vindo? – perguntou Renesmee, assustada.

- Sim – murmurou Alice. – Disso eu me lembro muito bem.

E então ela fechou os olhos, forçando, concentrando. Mas após alguns instantes, abriu os olhos novamente, irritada.

- Não consigo ver nada!

- Calma, Alice – disse Carlisle. – Sua mente já viu coisas demais hoje. Você está cansada e esgotada. Relaxe e não a force.

Alice assentiu e se aninhou nos braços de Jasper.

Com o passar do dia, Alice foi ficando melhor e, antes da noite cair, já estava perfeitamente bem.

Mas o aviso de sua visão ainda pairava sobre nós.

Os dias se passavam, e as visões de Alice começavam a ser mais freqüentes – mas nunca a visão torturante que ela tivera na garagem.

- Mas quem são essas duas? – perguntou Alice confusa, após mais uma visão.

Eu, Jacob, Renesmee e Edward, que estávamos junto dela, olhamos para ela, alertas.

- Alice? O que significa essas duas? – perguntou Edward, que acabara de ver a visão na mente da irmã.

- Tem duas vampiras novas na tropa dos Volturi. Não consigo descobrir o nome delas, mas alguma coisa me diz que eu já vi a vampira da direita em algum lugar... – ela disse, pensativa.

Eu troquei um olhar rápido com Edward. Faria parte da sua visão torturante a vampira da direita? Ele parecia concordar comigo.

Discretamente, Renesmee tocou minha mão, e eu vi o que estava em sua cabeça – uma campina familiar, e uma vampira alta com os olhos vermelhos, envolta por uma névoa fina. A visão mudou para Alice se retorcendo no chão.

- Sim, Renesmee – murmurei baixinho. – Acho que ela faz parte da visão de Alice.

Renesmee assentiu.

Alice fechou os olhos, concentrando, buscando respostas. Isso já era um ato comum. Abriu os olhos e, embora estivessem vagos, a expressão era assustada.

- Nessie – murmurou.

Eu ofeguei. Nessie também estaria em sua visão?

- Alice – pedi, ansiosa. – Me diga o que você viu, por favor.

Edward estava rígido ao meu lado.

- Eles estão vindo para cá por causa de Nessie... e Jacob.

Todos nós ofegamos. Seu olhar desligou-se novamente e ela congelou, aterrorizada.

- Preciso chamar Jasper... Bella, vá procurar Rose e Em, e Nessie, vá procurar Esme e Carlisle.

Edward partiu comigo. Rosalie e Emmett estavam conversando, sentados no gramado.

- Rose, Em – chamou Edward. – Sala, agora. Urgente.

Os dois levantaram-se e correram conosco para a sala. Todos já estavam lá quando chegamos, Jacob envolvendo Renesmee com os braços, protetoramente. Alguns, curiosos, outros, assustados.

- Eles estão chegando – murmurou Alice por fim.

- Quando? – perguntou Esme, o rosto em forma de coração com as feições preocupadas.

- Digamos que temos algumas horas – murmurou ela.

Renesmee caiu no choro, e eu não acreditava no que estava ouvindo. Algumas horas? Como?

- Mas, Alice, como você não viu isso antes? – perguntou Rosalie.

Ela sacudiu a cabeça.

- Eles viriam daqui a um mês, mas... acabaram de mudar de ideia. Estão vindo. Todos. Inclusive as esposas, novamente.

- Por quê? – perguntou Esme.

- Eles acham – disse Edward -, que o relacionamento de Nessie e Jacob é a coisa mais repulsiva que eles já viram.

Nós caímos num silêncio profundo e cheio de terror. Era difícil não ver o destino mudar - ainda mais com alguém o vendo. E era impressionante a rapidez que o pânico esmagou a felicidade. E estávamos em alerta novamente, como acontecia sempre.

Uma triste comparação me veio a cabeça – éramos como as quatro estações, mudando de uma coisa para outra completamente diferente. O medo substituiu rapidamente a alegria, e até quando seria assim? Teria um fim?

- Vamos – rosnou Emmett. – Vamos acabar logo com isso.

Seguimos, então, para a tão conhecida campina, esperar a família de vampiros italianos chegar até nós. A campina não me trazia boas lembranças – humanas e imortais. O gramado crescia desordenadamente, e o vento bagunçou meus cabelos. O medo fez meu coração bater mais rápido – ou melhor, me deu a sensação de que estava batendo mais rápido.

A surpresa nos inundou; a matilha já estava lá quando chegamos.

- Não podíamos perder essa – disse Seth, o único na forma de humano. – Vocês fazem parte da nossa família agora, e precisamos lutar por nossa família. Será assim sempre.

Eu não consegui reprimir um sorriso; ajuda era uma coisa indispensável.

Jacob – que até o momento ainda estava em sua forma humana, transformou-se e juntou-se ao grupo. Antes da transformação, Renesmee beijou-o com intensidade e paixão – como uma despedida. Sua expressão amedrontada tornou-se decidida e cheia de coragem. Eu sabia que ela iria lutar – já tinha idade suficiente para isto, e aquilo me doía. Ia contra meus princípios deixar Renesmee lutar. Ela parecia tão indefesa.

- Preparem-se – alertou Alice. – Temos pouco tempo.

Senti Renesmee estremecer ao meu lado. Edward me abraçou pela cintura e me beijou feroz e intensamente. Dèja vu? Eu sentia como se já tivesse vivenciado aquele medo e clima de despedida.

- Alice... – chamou Esme. – Você não consegue ver quem vencerá...?

Alice sacudiu a cabeça.

- Não consigo, Esme – disse ela. – Acho que tanto eles como nós tem chance de vencer. Não teremos tempo de explicar, eles não ouvirão.

Eu tremi por entre os braços de Edward. Encostei a cabeça em seu ombro e deixei o medo fluir. Aos poucos, fui me sentindo mais calma. Edward era minha calma – minha razão, minha alegria, minha vida.

- Quanto tempo, agora, Alice? – perguntou Edward, ansioso. Ele assentiu à sua resposta muda, mas ela falou em voz alta para todos ouvirem.

- Aproximadamente quatro minutos – disse ela, a voz carregada de tensão. Jasper a abraçava, como Edward e eu, e logo percebi que Carlisle e Esme, Rose e Emmett também estavam.

Renesmee sentou-se no chão e abraçou os joelhos. Eu estendi o braço para abraçá-la também, mas Jacob voltou à forma humana e chegou primeiro. Ele sentou-se no chão e segurou-a como um bebê. Ela escondeu o rosto em seu peito.

- Não esconda seu rosto – pediu Jacob, tomando o rosto dela nas mãos e beijando-a delicadamente. Eu já não sentia a necessidade de desviar o olhar. O olhar de Jacob era de dor, ao ver o medo e a coragem duelarem no olhar de Renesmee. Ele a abraçou ternamente, e ali ficaram.

- Não tenha medo – Edward pediu a mim. – Nada vai acontecer a você.

- E a você? – perguntei. – Se você morrer, eu vou junto. Nem que eu tiver de me matar.

Ele me beijou com intensidade, me prendendo entre seus braços com ainda mais força.

Eu queria ficar ali, entre os braços de Edward, para sempre, nos últimos minutos de segurança. Eu o abracei com mais força, enquanto nossos quatro minutos se esgotavam.

Foi então que Alice prendeu a respiração, e consegui enxergar vários pontos pretos ao longe. Vindo em nossa direção, até se tornarem nítidos, até eu conseguir enxergar pessoas em trajes negros. Vindo em nossa direção, até eu poder enxergar cada um dos rostos belos e perigosos dos Volturi.