As Quatro Estações - Capítulo 16: Lutando

Renesmee POV

Como assim, estava na hora? O ar me faltou assim que o pânico tomou seu lugar.

- Mãe... pai... – murmurei. Eu não queria perdê-los outra vez. Mais uma vez. Minha mãe correu para mim em um piscar de olhos, acompanhada de meu pai. Eles me ladearam e senti lágrimas correndo pelos meus olhos. Eu sabia que não poderia acompanhá-los daquele jeito, com uma barriga gigantesca e pesada.

- Não irá te acontecer nada, meu anjo – murmurou meu pai, dando um beijo na minha testa. – Eu lhe prometo. Jacob ficará aqui com você e...

- Como é? – interrompeu Jacob. – Vou ficar?

- Vai – a voz da minha mãe era feroz. – E não se atreva a discordar. – Subitamente, ela sorriu e se aproximou dele. – Cuide dela – sussurrou. – E não deixe que nada aconteça.

Eu me sentia no meio de uma despedida. Talvez fosse mesmo uma despedida... onde eu teria que deixar meus pais e abrigar meu bebê. E minha mãe estava certa; se tinha mesmo que ser assim, eu não conseguiria suportar sozinha. Jacob teria que estar comigo. Para sempre.

Senti um rio de lágrimas se formar em meus olhos. Meu pai pegou meu rosto delicadamente entre as mãos.

- Eu te amo, filha – sussurrou ele. – Não importa onde eu esteja, ou o que aconteça.

Eu arregalei os olhos e as lágrimas caíram involuntariamente.

- Você vai voltar, não é, pai?

- Vou fazer o possível e o impossível para isso – disse ele -, mas às vezes nem o impossível pode mudar o destino. Só me prometa que vai ser feliz, caso eu não volte.

Já inundada pelas lágrimas, assenti com firmeza.

- Eu te amo, pai – murmurei, enquanto ele beijava minha testa com delicadeza. Ele se afastou, com uma expressão de dor dilacerando seu rosto, para que minha mãe pudesse vir até mim. Eu e minha mãe tínhamos uma relação singular. Como se fôssemos ligadas uma a outra por um fio de aço, impossível de ser cortado. Ela não disse nada; tampouco eu. Simplesmente me puxou para um abraço forte e totalmente reconfortante. Ali meus medos se dissiparam, nos braços da minha mãe. No amor incondicional e protetor dela.

Meus tios, tias e avós vieram me abraçar também. Mas eu queria poupar a despedida; acho que doeria menos.

E logo eles correram estrada afora, seguindo as visões da tia Alice, que lhes diria para onde ir. Era doloroso saber que eu não podia ajudar, e eu sabia que era assim para Jacob também. Ele manteria contato com os outros lobos, para saber de novidades. Mas não agora... era cedo demais.

Jacob POV

Logo que eles saíram, eu me sentei ao lado de Nessie no sofá e aninhei-a nos braços. Ela já não conseguia mais levantar ou sair do sofá, pois a barriga estava grande demais.

- Jake – chamou ela de repente, em uma voz cautelosa. Acariciei de leve seus cabelos cor de bronze.

- Hm?

- Se eu... se o pior acontecer, no parto... você não vai abandonar nosso bebê como o pai de Kathryn fez com ela, não é?

Uma dor excruciante me atingiu. O pior não podia acontecer. Simplesmente não. Era inadmissível! Perder Nessie... não. Eu não conseguia nem pensar nisso. Eu não conseguiria viver sem ela, a razão completa e total da minha existência.

- Não, é claro que não! – prometi, beijando seus lábios de leve. – Eu nunca faria algo desse tipo, Nessie!

Ela relaxou em meus braços.

- Obrigada – sussurrou.

- Você não vai morrer – respondi, querendo mais afirmar a mim mesmo do que a ela. – Vai ficar viva, de qualquer forma. Mas eu não deixarei você morrer.

- Eu confio em você, Jake.

Ela deu um sorriso maravilhoso e eu beijei seus cabelos acobreados. Ela soltou um bocejo involuntário; a gravidez só lhe deixava com mais sono do que ela já tinha antigamente.

- Durma, minha Nessie. Tudo vai acabar bem.

Ela respirou fundo e logo suas feições perfeitas de alabastro se acalmaram. Seus olhos se fecharam e seu semblante era tranqüilo, enquanto ela dormia em meus braços. Fiquei satisfeito comigo mesmo, por poder mantê-la longe de toda aquela tensão – mesmo que fosse em seu sono profundo e imperturbável.

Ali, frágil e tranquila em meus braços, Nessie era como o bebê de alguns anos atrás. Para mim, nada mudara. Ela era linda, perfeita, inteligente, encantadora como sempre. E o centro da minha existência.

Olhei-a novamente e sorri, admirado.

Jacob.

Me sobressaltei ao ouvir a voz de Sam em minha cabeça. Foquei-me nisto; hora das novidades.

Estou ouvindo, Sam. O que está acontecendo por aí?

Acho que é melhor que veja por si mesmo...

E então Sam me deu uma visão panorâmica de uma clareira – muitíssimo conhecida – onde a luta estava acontecendo.

Eu podia ver todos os Cullen já lutando, lado a lado com nossa matilha. Uma fileira de sete vampiros incrivelmente belos estavam contra eles. Com muito espanto, olhei para o homem de meia-idade no meio, que ria, cético, de tudo aquilo.

Ok. Eu estava olhando para Conde Drácula, e não estava achando graça nenhuma. Suas feições eram intimidadoras, assustadoras. Até mesmo para mim.

- Vocês acham mesmo que poderão impedir isto? – disse ele, dirigindo-se aos Cullen e lobos. Ele riu. – Minha doce Kathryn, nos encontramos novamente... e você acredita mesmo que vai escapar desta vez?

Consegui ver Kathryn rosnar e avançar.

- Eu não tenho medo de você – disse ela rispidamente -, muito menos da sua guarda estúpida.

- Você não a levará – disse Carlisle em um tom calmo, mas firme. – E não levará o filho de Renesmee Cullen e Jacob Black. Nós não iremos permitir isto.

Drácula rosnou, e os seus guardas riram, avançando um pouco para os Cullen.

- Então receio que não poderemos ir embora na paz – disse Drácula, com uma cordialidade irônica. – E vocês vão morrer, todos vocês. Não são páreos para nossas forças.

Pierre rosnou.

- É o que veremos.

O que seguiu-se após esse desafio foi uma das batalhas mais bem-equilibradas que eu já vira na vida. Quando lutamos contra os recém-criados, há alguns anos atrás, estava claro que venceríamos. E contra os Volturi também, já que tínhamos Bella com seu escudo e a incrível força de todos nós. Mas agora... eu estava ansioso, e tinha minhas dúvidas. Os guardas eram estranhamente fortes e ágeis, apesar de não terem nenhum poder especial. Talvez aquilo se devesse ao próprio sangue de Drácula, que agora lutava com Edward e Bella. Tremi ao ver, na mente de Sam, Alice lutando com um vampiro alto, de meia-idade e olhar maléfico (N/A: Stanislav). Ela era tão frágil! Era difícil vê-la lutando. Mas a luta estava equilibrada, ou até melhor para Alice do que para ele.

Emmett e Rosalie estavam lutando com duas mulheres que pareciam incrivelmente perigosas (N/A: Demetria e Katrina). Jasper e Carlisle estavam dando conta de dois ao mesmo tempo (N/A: Anya e Jafar), enquanto Esme tentava se livrar de um vampiro ruivo (N/A: Viktor) e a matilha avançava em todos ao mesmo tempo, tentando distraí-los. Com um pouco de análise, pude ver que estávamos em uma pequena vantagem – mesmo que pequena, ainda era vantagem.

Concentrei-me em assistir a luta de Edward e Bella contra Drácula – Sam estava rodeando-o, portanto foi mais fácil de assistir. Ou melhor, mentira. Foi a pior coisa do mundo ver Bella lutando contra um vampiro lendário, forte, sádico e extremamente perigoso. E o pior é que os dois pareciam estar vencendo; Bella tinha a vantagem de seu escudo e Edward estava conseguindo ler a mente de Drácula.

Ou pelo menos era isso que eu pensava. Ao ouvir minha dedução, Sam fez um comentário em sua mente.

Drácula bloqueia a mente, pensou ele. Ele não tem talento especial nenhum. Mas a sua experiência no mundo dos vampiros lhe deu muitas... habilidades.

Ok. Então não estava tão fácil assim.

Eu podia ver que Edward estava fazendo de tudo para que Bella não se machucasse, mas ela, aparentemente, não estava precisando disso. Sem medo nenhum, ela avançava impetuosamente para Drácula, que parecia impressionado com a força dela.

Desviei os olhos dessa luta a tempo de ver Emmett e Rosalie decapitarem a vampira com a qual estavam ocupados. Drácula guinchou, furioso, e se distraiu, por um longo momento que Edward e Bella aproveitaram para ganhar mais vantagem.

Sorri comigo mesmo. Um a menos... não pude deixar de respirar aliviado.

Nessie se mexeu no meu colo; eu havia até me esquecido de quanto tempo ficara sintonizado na mente de Sam. Ela abriu seus lindos olhos cor de chocolate e sorriu para mim, meio preocupada.

- Q-quanto tempo eu dormi? – ela reprimiu vários bocejos. Eu sorri, afagando seus cabelos de leve.

- Não sei – admiti. – Estou aqui há um bom tempo, na mente de Sam. Volte a dormir, meu amor.

- Não – Nessie insistiu, teimosa como sempre. Eu ri. – Quero saber o que está acontecendo também, Jake. Me conte.

Suspirei, com uma risada, antes de começar a narrativa – ainda acompanhando as lutas aleatórias na clareira.

Renesmee POV

Agora eu ficara assustada. Alguém morrera? Jacob estava tentando me tranquilizar? Enterrei meu rosto em seu peito, sentindo a calma me invadir. Só ele conseguia me acalmar daquela maneira, e então pude me concentrar no que ele iria contar.

- A luta está equilibrada – disse ele -, e um dos vampiros deles morreram. Emmett e Rosalie a decapitaram.

Ergui uma sobrancelha.

- É sério?

- Aham. – Ele beijou meus lábios com a leveza e delicadeza que eu tanto amava. – Estamos em uma boa vantagem.

- Mas isso não é motivo pra ficar tão feliz – observei. – Nossa família, minha família, sua família. Estão todos lá. Lutando. Correndo o risco de morrer.

Ele assentiu.

- Você tem razão.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, um aninhado ao outro, saboreando o silêncio que compensava todas as palavras que poderiam ser ditas.

- Continue escutando Sam – pedi, de repente.

Ele assentiu e fechou os olhos, concentrado.

- Acho que eu não devia dizer isso a você, meu amor, mas... – ele fez uma pequena pausa. – Seus pais estão encarregados de lutar com Drácula. Ainda estão na vantagem. Sua tia Alice está a ponto de matar o vampiro que está com ela... e agora Emmett e Rosalie estão ajudando Esme.

- E os outros? – sussurrei, abalada pelo choque de saber que meus pais eram os que corriam mais perigo ali. – Tio Jasper, Carlisle, os lobos...?

- Também estão lutando. Hmm, bom movimento, Jasper. – Ergui uma sobrancelha, interrogativamente, e Jake sorriu. – Ele acabou de desviar num movimento incrível e... wow.

Eu quiquei com dificuldade no sofá, por causa da minha enorme barriga.

- Que foi? – perguntei, ansiosa. – O que aconteceu, Jake?

- Alice mostrou, mais uma vez, que sabe lutar. E muito bem. Acabou de decapitar o vampiro adversário.

Eu respirei aliviada.

- Dois a menos! Nós vamos vencer esta guerra, eu sei que vamos!

- Quem está feliz agora? – ele provocou, com uma risada. Mas eu estava realmente aliviada de saber que tínhamos sim chances de vencer. E não eram pequenas.

Ele continuou narrando por um tempo interminável os detalhes das lutas – a pedido meu. Jasper também matou seu oponente, e se encarregou de ajudar meus pais com Drácula. Os lobos estavam fazendo um trabalho árduo, distraindo os quatro vampiros restantes. Um longo tempo depois, Esme, Emmett e Rosalie também decapitaram mais um. Só restavam três, então. E, pelas descrições que Jake me passara, provavelmente eram Jafar e Demetria. E Drácula, claro.

E, após um tempo...

- Eles estão indo embora. Os três. – Ele sorriu. – Drácula, aparentemente, está se rendendo. Viu que sofreu um grande desfalque na sua guarda invencível, até então.

Eu sorri e respirei muito fundo, o alívio me inundando mais uma vez. Acabara.

Mas eu lembro exatamente que minha respiração ansiosa parou, no momento em que Jake ofegou e proferiu as palavras que mais me doeram em minha vida inteira.

- Não!

- O que foi... o que foi, Jake?

- Bella!

Arregalei os olhos.

- O que aconteceu com a minha mãe, Jake? Me diz!

- Ela... Drácula realmente irritou-se com ela... Bella precipitou-se, avançou para ele quando eles estavam indo embora... e ele lançou um golpe extremamente mortal. Ela está no chão, Nessie... não parece morta... mas está no chão.

As lágrimas vieram com toda a força. Jake me abraçou e tentou me consolar.

- Está tudo bem, meu anjo. Está tudo bem. Ela vai ficar bem.

- Jake... minha m-mãe... ela não pode morrer...

- Shh. Ela não vai morrer, meu amor. Confie em mim.

E, ainda chorando, enterrei meu rosto no peito de Jake, enquanto esperávamos minha família voltar.