A Patricinha de Forks - Capítulo 01: Eu Tenho Medo Da Minha Mãe

“O quê mais precisa saber, senhorita...” – uma senhora com cara de muito má me encarou...

“Stanley!” – minha adorada mãe respondeu por mim... Às vezes, ela fazia as coisas certas... E eu a amava por isso!

“Bem, senhorita Stanley, o negócio é o seguinte minha querida: o primeiro ano tem as aulas clássicas de exatas, humanas e biológicas... Tem algo fora disso que gostaria de fazer?”

“Alguma coisa fora? Tipo, ir ao cabeleireiro e fazer compras?”

Pela cara dela... Não, acho que não...

“O que seria esse “algo fora”, por favor?” minha mãe questionou a mulher com cara de sapo.

“Bem, seria teatro, música, sala de leitura, artes plásticas, pinturas...”

Hmmm... Acho que eu me daria bem em teatro, mas... Não, pensando bem, não...

“Não, obrigada!”

“Nada filha? Nadinha?” minha mãe se assustou.

“Por enquanto não, mãe...”

“Tem certeza?”

“Sim, tenho!”

“Ah, ok então... São só as básicas mesmo...” – a mulher com cara de batata atrás do balcão começou a copiar alguns dados meus e de minha mãe em uma folha da escola. – “Se minha filha quiser começar depois alguma coisa, ela terá algum problema?”

A mulher ficou me analisando...

“Bem, se a cabecinha dela permitir, não tem problema algum...” – não gostei do que essa sonsa disse...

“Heeeyy!!!”

“Hey o quê, menina?”

“Olha aqui...”

“Jéssica, chega filha! Olha barraco, por favor, né...”

“Aff...” – esse é um dos momentos em que minha mãe agia errado...

A mulher simplesmente continuou a escrever sem nos dar bola... Ok, pode fazer o que quiser para nos ignorar... Eu sei ignorar melhor!!!

Ela terminou de escrever e entregou a folha para minha mãe assinar.

“As aulas começam dia 2 de agosto. O horário de entrada é às 7:30, e não será aceita a entrada de atrasados. Que isso fique bem claro!” – ela falava como se eu me atrasasse muito, né... Aff... – “O horário da saída é às 14:30, mas vocês tem alguns minutos para um lanche entre algumas aulas, e lógico que vocês também tem almoço... Mais algumas coisa?”

“Err... Alguma coisa filhinha?”

“Não.”

“Então está tudo certo... Nenhuma dúvida!”

“Ok, então, até mais ver...” – a “coisa” só não chutou a nossa bunda com aquele pézão, provavelmente, fedido e encardido porque o bendito balcão nos separava. Se ele não estivesse lá, eu jurava pela minha bolsa Prada que ela teria nos chutado para fora...

Literalmente, ela teria chutado...

Minha mãe é lenta, eu acho... Ela nem percebeu isso... Ou percebeu e preferiu fazer de conta de que não percebeu... Ou os dois... Ou, nenhum dos dois... Ou... Sei lá...

Enfim, voltamos para o carro. Minha mãe estava tão animada pela volta às aulas, e eu... Aff... Eu só pensava em passear e fazer compras em Port Angeles...

Eu não acredito que aqueles dias maravilhosos de compras se foram... E o pior de tudo: eles se foram para que as aulas pudessem entrar no lugar...

Isso é o “Ó” do borogodó...

Enfim, em todo caso mesmo, o jeito é se conformar em passear apenas aos finais de semana... Eu sei que agora no ensino médio as coisas se complicarão, e que receberei muitos trabalhos a mais do que eu já recebia nos anos anteriores...

E isso era o fim para mim...

Era o fim dos meus dias felizes, pelo menos...

* * *

Pi, pi, pi, piii... Pi, pi, pi, piii...

Que inferno... Eu odeio despertadores, ainda mais quando... quando... Ah, meu Deus!!!

Já são 7:00 e estou aqui ainda na cama? Como isso pode acontecer? Como???

Me levantei correndo e fui direto para o banheiro. Deus, Deus, Deus... Como isso pode acontecer comigo? Como?

O mundo me odeia... Definitivamente...

Ok, chega de reclamações... Agora eu teria de concentrar toda a minha atenção em meu cabelo e na maquiagem... E eu teria de fazer bem rápido...

Peguei o mousse para fios rebeldes e peguei um pouquinho da meleca deixando-a na palma de minha mão. Fechei a tampa do pote com a mãe limpa, e então comecei a esfregar mão-com-mão.

Aquela meleca branca foi para o meu cabelo... Espalhei bem e depois puxei o secador e a escova. Liguei e comecei a manusear a escova freneticamente. As ondas em meu cabelo começaram a se formar aos poucos...

Ele estava ficando lindo... Como sempre...

Peguei outro creminho e passei para que os fiozinhos não ficassem arrepiados. Peguei outro para as pontas do cabelo...

Pronto! O cabelo estava per-fei-to!!! Agora só faltava lavar o rosto e prepara-lo para o longo dia...

Lavei-o com meu sabonete líquido de ervas e depois o sequei delicadamente com algumas batidinhas... Peguei a base e espalhei rapidamente com uma esponjinha. Acertei com um pó seguido de blush rosado.

Para os olhos... Hmmm... Só rímel basta!

Para os lábios... Gloss, claro!

Voltei correndo para meu quarto e peguei a roupa que eu já tinha separado ontem pela noite, antes de dormir... Vesti a meia calça escura, a sainha jeans de barra desfiada – isso está super na moda –, uma blusinha branca com detalhes em flores e o meu casaco.

Ok, está faltando algo! Ah sim, claro... O cachecol... E o sapato... Diabos, como eu poderia me esquecer de algo tão importante?

Vesti a minha bota de couro, peguei o monte de materiais e desci correndo as escadas.

“Mas onde é que você pensa que vai, Jéssica? Ainda mais numa hora dessas!!!”

“Onde eu penso que vou, mãe?? Fala sério, vou pra escola, é óbvio!!!”

“Ah, meu Deus! A escola! É claro! A escola!” – eu adorava ver minha mãe se desesperar... Ela ficava tão estabanada...

Sim, e por causa disso lá ia uma linda tigela de vidro azul com detalhes de rosas pelos lados em direção ao chão... Era uma vez uma tigela...

“Mãe!”

“Sim!” ela parou abruptamente.

“Pode me dar uma carona? Entro às 7:30 e já é 7:20!”

“Ah, sim, claro!”

Ela correu pegar as chaves na sala enquanto eu fui saindo tranquilamente... Eu adorava ver minha mãe assim tão estabanada...

Entrei no carro e ela entrou em seguida.

“Mãe.”

“Sim” – ela deu partida no carro, engatou a marcha ré e quase atropelou os cachorros do vizinho que estavam dando uma voltinha matutina...

“A porta da frente de nossa casa está aberta.”

“E...”

“A nossa casa pode ser invadida e roubada.”

“E...” – ela já estava dirigindo quase à cem quilômetros por hora...

“Isso não seria um motivo para voltar e fechar a porta?”

“Nãaao... Se alguém roubar nossa casa, saberemos quem foi...”

“Saberemos?” – minha mãe andou instalando câmeras de vigilância e não me contou?

“Sim.”

“E como saberemos? Posso saber, só por... curiosidade?”

“Jéssica, meu docinho, moramos em Forks, lembra?” – sim, me lembro muito bem de que moramos aqui em Forks, e não em Port Angeles... Obrigada por me lembrar, mãe... – “Aqui qualquer um conhece o outro, e todos os nossos vizinhos estão em casa nesse momento... Se a casa for mesmo assaltada, eles irão ouvir... Isso, lógico, se eles não virem algo também, né...”

“Ok... Se você diz...”

“Sim, eu digo, sim... Aliás, já sabe com quem vai estudar?”

“Não, porque depende das aulas, né mãe... Às vezes, uma aula eu tenho junto com tantas pessoas, e em outras tenho com tantas outras pessoas...”

“Isso é bom...”

“Posso saber o por quê?”

“Bem, porque aí você conhecerá mais pessoas...”

“Ah... Sei... Ta... Até parece que tem tantas pessoas que fazem colegial aqui em Forks... Falando do jeito que você disse, até parece que Forks é uma cidadona...”

“Não seja dramática, Jess querida... Fiquei sabendo que a Ângela vai estudar lá também...”

“É, disso eu já sabia...”

“Bonito, heim...”

“O quê?” – dirigir fazia mal à minha mãe.

“Sabia e não me disse?” – ok, definitivamente, dirigir fazia mal à minha mãe...

“Sim, eu sabia e já tinha dito isso pra você!”

“Ah... Desculpe, filha, mas... Sabe como é, né, às vezes o trabalho me cansa um pouco...” – sim, te cansa antes mesmo de começar... “Mas, você conhece mais alguém?”

“Só de vista alguns por aí... Como eu mesma disse, Forks não é tão grande assim...” – se eu tropeçar na entrada de Forks, eu caio na saída... Odeio cidades assim, mas... Fazer o quê?!

“Ok, ok, sem drama filha...”