Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. ― Eu contava enquanto fazia meus passos de balé na sala revestida de espelhos da mansão Cullen. Passava a maior parte do meu tempo nesse lugar; dançando e rodopiando.
Geralmente Jake me assistia e aplaudia, mas hoje ele estava com a matilha. Era chato sem ele. Eu tentava não pensar nisso, fazendo passos sistematizados e simétricos.
Um, dois, três, quatro. Um, dois, três... ― minha contagem foi interrompida quando a porta da sala foi aberta.
Esperançosamente esperei que fosse Jacob. O meu Jake. Dei um largo sorriso só de pensar em sua pele morena, seus olhos profundos e seu sorriso desmedido. Porém dei um pesado suspiro frustrado ao constatar que não era ele e sim meu pai, então votei a dançar e contar.
Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro.
― Ele já vem, Renesmee. ― meu pai tentou me tranquilizar.
Mas dizendo isso, só me fez pensar mais nele e no fato de ele não estar ali ao meu lado, aquecendo meu coração a cada sorriso, zombando da minha obsessão pelo balé e me fazendo rir quando ele tentava imitar meus passos erroneamente.
― Não está ajudando. ― adverti. Mas ele já sabia disso.
― Desculpe.
Um, dois, três, quatro.
― Sua mãe pediu que eu viesse aqui para dizer que o café está na mesa.
Um, dois, três...
― São duas da tarde, pai. ― lembrei-o dando alguns pliês.
― Mas você ainda não tomou café e nem almoçou. E não vamos esquecer que você acordou uma hora da tarde hoje. Tecnicamente vai ser o seu café da manhã.
Um, dois...
― Eu estava a fim de caçar hoje. ― declarei distraidamente, já esperando a recusa.
― Você já caçou ontem, querida.
― E? ― eu desafiei enquanto rodopiava.
― Não vai hoje. ― concluiu.
― Por quê? ― choraminguei, rodando em torno dele.
Ele riu.
― Teimosa. Vai comer. Sua mãe me mata se eu te deixar ir caçar novamente. ― ele disse.
― Edward Cullen, você é o homem da família, imponha respeito. ― brinquei. Mas eu sabia que meu pai fazia tudo que minha mãe queria.
― Comer, mocinha. ― ele mandou.
Suspirei profundamente outra vez e desci das pontas dos meus pés.
― Tudo bem, tudo bem. ― me rendi revirando meus olhos para ele e saindo do estúdio particular que vovó Esme fez para mim.
Desci as escadas saltitando e dando bom dia aos meus familiares. Senti o inconfundível cheiro de ovos e bacon. Jake amava ovos e bacon. Chegando à cozinha minha mãe tinha feito uma pratada deles.
― Sabe quem iria gostar disso? ― perguntei triste para minha mãe enquanto sentava-me à mesa.
― Deixa-me adivinhar. ― ela fez cara de pensadora. ― Um cara, que pode virar um lobo, com o nome que começa com “Jay” e termina com “cob”?
― Esse mesmo. ― suspirei. ― Já faz três horas que ele saiu, eu nem tava acordada. ― choraminguei.
― Calma, filha, ele já vem. ― minha mãe riu.
― Calma nada, vou atrás dele. ― disse levantando. ― Já está demorando demais.
― Não, não. ― ela negou. ― Primeiro você vai comer.
Relutantemente finquei o garfo em um ovo e enfiei na boca antes de sair correndo para fora de casa sem querer ouvir os protestos de minha querida mãe.
É claro que se ela resolvesse ir atrás de mim ela já teria me alcançado, mas por sorte não o fez.
A toda a velocidade eu fui encurtando a distancia entre eu e meu recente namorado Jacob Black. Entrei na fronteira Quileute e driblei as árvores, indo em direção a casa de Emily Uley.
Encontrei a casa pitoresca e entrei sem bater, como eu faço na maioria das vezes. Encontrei o meu Jake sentado na mesa, emburrado. Porém quando me viu abriu meu sorriso predileto.
― Eu falei que ela vinha antes das três horas! ― disse Embry ao Paul. ― Passa a grana. Vinte dólares.
― Droga! Eu tava na esperança de o Edward segurar ela mais um pouco lá na mansão. ― praguejou Paul.
Embry ria abertamente.
― Tem algo que queira me contar Jacob Black? ― eu disse severa.
― Tem. ― ele disse vindo para o meu lado me abraçar. ― Eu fui feito de refém aqui. Paul e Sam apostaram a hora que você iria vir me buscar. Não consegui sair, Nessie. Perdoa-me? ― ele fez a carinha de cachorrinho que caiu da mudança que me faz derreter.
― Tudo bem. ― me rendi. ― Mas vocês dois vão ter o troco. ― eu disse olhando os apostadores risonhos.
― Eu disse que era contra. ― Emily disse. ― Só pra constar.
Revirei meus olhos e puxei Jake para fora. Assim que ficamos a sós ele me encheu de beijos.
― Senti sua falta. ― ele disse.
― Eu senti mais. ― fiz beicinho e depois sorri no meio de um beijo repentino.
Jake me soltou e depois sorriu.
― Sabe que dia é hoje? ― ele parecia nostálgico! Como uma criança embaixo de uma arvore de natal. Estava tão feliz que eu podia jurar que estava a ponto de sair saltitando.
― Não, que dia é? ― perguntei confusa, e extremamente curiosa.
Não me lembrava de nenhuma data em especial.
― Dia 30 de novembro. ― ele abriu um grande sorriso reluzente, eufórico.
― E...? ― pedi confusa.
― Como assim ‘e...’? ― ele disse parecendo muito chateado, como se tivesse levado um tapa na cara.
― Desculpe amor, não consigo pensar
― Esquece. ― ele abaixou a cabeça e começou a andar, me deixando lá, parada e confusa.
Não sabia o que fazer, estava ficando desesperada. Olhar nos olhos escuros de Jacob e encontrar tanta tristeza não era comum. Por que hoje era um dia importante para ele?
― Por favor, Jake, me conta. ― eu implorei projetando o meu lábio inferior para baixo, tirando todas as suas defesas. Era assim que eu conseguia que ele fizesse tudo por mim.
― Sabe, isso é um golpe muito baixo. ― ele franziu o cenho e mordeu seu lábio inferior tentando se segurar. ― Não vou dizer. ― ele falou, fechando os olhos para que não visse meu rosto pidão.
Ceguei bem perto dele e soprei em seu ouvido, o fazendo estremecer. Adorava isso. Envolvi meus braços em sua cintura e comecei a beijar seu pescoço e ele gemeu, bem como eu previa.
― Nessie... Não faz isso... Você sabe que isso... Não se faz! ― Ele tentava dizer entre engasgos, mas não tentou me afastar. Eu sabia como o deixar louco.
― Vai me contar? ― sussurrei em seu ouvido o sentindo estremecer novamente.
O abracei e comecei a traçar sua coluna com meus dedos delicados, ocasionalmente usando minhas unhas também. Nossa! Como eu o estava deixando louco.
Jake cerrou os punhos tentando pateticamente controlar seus sentimentos fluidos.
― N... Nessie. ― gaguejou.
― Não vai falar? ― provoquei.
― Com uma condição. ― ele falou com a voz estremecida.
― Condição? Que condição? ― indaguei enquanto me afastava para olhar em seus olhos.
― Vai fazer tudo que eu mandar você fazer hoje. ― ele sorriu maroto.
― Ah! Já sei que dia é hoje. ― falei repentinamente sorrindo.
Jacob me olhou confuso e desconfiado.
― Sabe?
― Sim, hoje é o dia do ‘primeiro de abril fora de época’! ― eu ri de minha piada sem graça. ― Só pode pra você fazer uma condição dessas.
Ele riu.
― Não. ― ele sorriu torto.
― Seu aniversário? ― perguntei.
― Não. ― ele riu e depois de um tempinho franziu o cenho. ― Espera aí, não sabe o dia do meu aniversário?
― Pff! ― bufei tentando disfarçar ― É claro que eu sei! ― desviei meu olhar para o topo das arvores.
― Parece que não sabe. ― ele riu.
― Sei sim! ― eu disse em um tom de falsa ofensa.
― Ah, é? Então responde: Qual o dia do meu aniversário? ― ele levantou uma de suas sobrancelhas sedutoramente.
― Hm... ― hesitei. ― é... dia... Ah, eu não preciso te provar nada. ― murmurei em tom ofendido.
― Sabia que você mente MUITO mal, parece até que puxou sua mãe. ― ele gargalhou.
De repente acendeu uma luz na minha cabeça:
― Seu aniversário é dia 24 de Janeiro. ― falei levemente me lembrando.
― Não, é dia 14 de Janeiro. ― ele sorriu torto.
― Cheguei perto. ― eu sorri inocente.
― Teve sorte. ― ele acusou. ― Mas ainda não sabe que dia é hoje.
Bufei frustrada.
― Está certo, eu aceito sua condição. ― cruzei meus braços, irritada.
― Já disse que você fica linda bravinha? ― ele riu e deu um beijo na minha bochecha me puxando em direção a mansão.
O dia foi longo. Eu tive que fazer lanchinhos para o Jacob, levar refrigerante para o Jacob, massagear as costas de Jacob, paparicar o Jacob e idolatrar o Jacob. Minha família também estava se divertindo vendo meu sofrimento, meu pai principalmente ― leitor de mentes traidor.
― Eu ouvi isso, Nessie. ― advertiu meu pai do outro lado da sala de televisão.
― Desculpe, pai. ― bufei.
― Boa garota. ― ele falou como se parabenizando os feitos de um cão; riu de sua piadinha, assim como toda a família, incluindo Jacob que estava sentado do meu lado com um sorrisinho relaxado no rosto e só dizendo:
― Troca, troca, troca... ― enquanto eu tinha que mudar de canal para ele, porque ele estava com preguiça de apertar os botões do controle remoto.
― Dia da árvore? ― tentei novamente descobrir que dia era.
― Não. ― Falhando tristemente.
O dia inteiro eu tinha jogado minhas suposições, mas não era nenhuma delas! Isso me frustrava! Que dia era afinal?
Meu pai gargalhou alto enquanto passava por mim indo para a cozinha.
“depois não gosta que eu o chame de leitor de mentes traidor.” ― bufei mentalmente, mas ele não respondeu.
― Dia de St. Patrick? ― tentei.
― Também não. ― ele sorriu bobo ― Troca.
Suspirei profundamente mudando de canal pela centésima vez.
― Natal?
Jake franziu o cenho e me olhou como quem diz: “O quê? Claro que não!”
― O que foi? ― dei de ombros, tentando me defender. ― Acabaram as alternativas coerentes.
Ele riu e pegou minha mão.
― Bem, como você não sabe mesmo que dia é hoje, eu vou te contar.
― Te mataria se não me contasse. ― ameacei.
Ele riu e me puxou para fora da casa.
― Vamos a um lugar mais privado.
― Ela vai arrancar sua cabeça, Jacob, é melhor falarem em um lugar que haja testemunhas. ― riu Alice.
Jacob pensou um pouco e declarou:
― Acho que posso lidar com isso. Além do mais, você não pode ver o meu futuro e o da Nessie. ― ele a lembrou.
― Você quem sabe. ― tia Alice deu de ombros. ― Apenas conheço bem as mulheres.
Aquilo estava me deixando curiosa. Que maldito dia era, afinal?
Jake me pegou em seus braços e correu para uma clareira na floresta. Então me colocou de pé no chão e sentou. Eu o imitei, com uma sobrancelha levantada de dúvida.
― Então, quer mesmo saber que dia é hoje? ― ele riu.
― Óbvio. ― bufei.
― Promete não se zangar? ― ele pediu, a cabeça meio de lado, como um cachorrinho pidão.
― Diga de uma vez! ― mandei.
― Você não prometeu. ― bufou.
― Okay, okay. Eu prometo.
Ele suspirou e finalmente revelou.
― Hoje é o dia: Vingando-se de Renesmee. ― ele sorriu maroto.
― O que? ― pedi, não devia ter ouvido direito.
― Vingando-se de Renesmee. ― repetiu.
― Hoje mais cedo, com Paul e Embry, foi parte de seu plano?
― Talvez.
― Tia Alice tinha razão ― falei calma e mortal, o sangue juntando em meu rosto com a irritação. ―, vou arrancar sua cabeça.
― Calma aí, amor. ― ele levantou as mãos se defendendo. ― Não antes de eu explicar.
― Tem cinco minutos. Nada mais. ― ameacei.
― Certo. Hm... Digamos que toda vez eu acabo fazendo tudo que você quer: é só você me olhar com aquela carinha e eu desmorono. Então decidi que hoje você iria pagar por ser tão adorável. ― ele deu um sorriso enorme.
― Ainda tem quatro minutos e meio. ― falei, mortal.
― Oh! Certo, ainda não te convenci. Então eu vou te dizer outra verdade. Hoje não é só o dia de me vingar de você, mas é também o dia em que eu olhei nos seus olhos e me encantei pela milionésima vez essa semana.
Continuei encarando ele, com a expressão intacta.
―Você prometeu não se zangar. ― lembrou-me ele.
Ainda fiquei encarando.
― Já disse que eu te amo? ― ele tentou.
Revirei meus olhos e não aguentei: tive que deixar escapar um sorrisinho em meus lábios.
― Cachorro mau. ― brinquei.
Ele abriu um sorriso ainda maior que o de antes, não me dando outra alternativa a não ser sorrir com ele. Ele me deu um beijo repentino, de tirar o fôlego.
― Você ainda me paga. ― falei no meio do beijo.
― Quero ver você tentar. ― ameaçou sedutoramente.
― Me aguarde. ― sorri.
― Eu já disse que tenho medo de você? ― Jake me olhou nos olhos com a inocência de um cão.
― Ainda bem que você é sensato. ― eu ri e o puxei para outro beijo, já planejando como eu me vingaria de sua vingança. ― Estou pensando em passear com você amanhã. ― disse pensadoramente.
― Que ótimo, aonde vamos?
― Não sei ainda, mas eu vou precisar ir a um pet shop comprar uma coleira extragrande. ― sorri maliciosa.