Eu encarei as paredes do quarto, Edward, como sempre estava ao meu lado, apenas esperando que eu acordasse. Eu sorri, um sorriso fraco. Eu não conseguia mentir para ele, principalmente nesses últimos dias que aconteceram tantas coisas. Ele me sorriu de volta.
- Você está se sentindo melhor? – ele perguntou, um tanto alarmado e preocupado.
- Eu estou ótima. – eu menti, enxugando pela milésima vez as lágrimas secas que ficaram em meu rosto, que tanto me incomodavam. Eu torci os lábios, então Edward tocou meu rosto, com as pontas dos seus dedos, seus olhos ainda preocupados. – Eu juro que estou bem, Edward... Não se preocupe.
Eu havia estragado a sua camisa nas últimas horas, mas eu sabia que ele não se queixaria. Edward era tão prestativo que fazia com que eu me sentisse cada vez pior por ter deixado-o naquela situação.
- Bella... Você tem certeza? Você fez a escolha certa? Eu nunca vi você sofrendo tanto. – A voz dele se partiu na última palavra.
Eu pude sentir pela milésima vez a lágrima cair. Eu a enxuguei, antes que caísse por inteiro. Eu sabia que eu podia me arrepender, mas sim, eu havia feito a escolha certa. Pelo menos, era o que eu acreditava que fosse a escolha certa. Eu balancei a cabeça, afirmativamente.
- Tudo vai ficar bem. – eu prometi, principalmente, para mim mesma.
- Você pode se arrepender... – ele disse, a sua voz tão baixa que era quase inaudível.
- Eu não vou. – assegurei, enxugando, mais uma vez, outra lágrima que caia.
Meus olhos vagaram pelo quarto, encontrando a mesinha de cabeceira, onde eu havia deixado a pulseira que Jacob havia me dado há um tempo atrás. E então, a massa voltou aos meus olhos. Eu pude sentir Edward se desarmar, e me abraçar apertadamente, mantendo-me aninhada em seus braços. No fundo, eu sabia que não podia ter ido tão longe com Jacob, mas eu sabia que eu jamais conseguiria viver a minha vida daquela forma. O que fazia doer ainda mais.
- Bella... – a voz de Edward se quebrou. – Eu não quero te pressionar, mas eu sempre estarei te esperando. Não importa quanto tempo passe. Eu sempre te amarei. Independente de qualquer coisa. Independente, da sua decisão.
Eu sabia que aquilo era verdade. Eu sequei a massa nos meus olhos com as pontas dos dedos e me ousei a por os pés no chão. Edward continuava sem entender direito. Eu sorri debilmente. Eu sabia que eu podia me arrepender depois, mas uma parte de mim, gritava pelo certo. Gritava pelo o que, antes, eu considerava certo. As coisas seriam mais fáceis assim, seriam mais fáceis se eu escolhesse a vida. Ser humana, ter filhos, poder passar o natal com a minha família, sem que eu quisesse matá-los. Eu sabia que não se tratava apenas da beleza de ser uma vampira. E eu havia demorado tempo demais para perceber isso. Eu tinha – eu queria – ser humana. Aproveitar tudo e mais um pouco. Poder fazer a escolha certa pelo menos, uma vez na vida.
Eu senti as mãos de Edward segurarem levemente a minha cintura, então, eu virei meu rosto para encará-lo. Ele sorria tristemente. Uma pontada de dor e culpa me abateu.
- Eu sei. – ele sussurrou pesadoramente. – Apenas quero que saiba que... Eu te amo mais do que a mim, Bella. Mais do que qualquer coisa que possa existir. E eu quero a sua felicidade. Acima de tudo, a sua felicidade.
Eu, como antes, não consegui segurar as lágrimas desobedientes e odiosas dos meus olhos, elas caíram. Aquilo era uma despedida. Depois de tudo que Edward e eu vivemos, eu sabia que nós dois sempre estaríamos lutando pelo certo. Que Edward sempre estaria lutando pela minha alma, para mantê-la a salvo. Assim, como a mim. Eu deixei as lágrimas caírem. Eu sempre saberia o que seria certo. E a guerra pela minha alma era algo que eu não podia lidar. Eu sempre estaria condenada a amar Edward, mas, também, sempre estaria condenada a amar o meu melhor amigo. Por que ele, assim como ele disse, era a minha alma gêmea, no mundo em que não havia vampiros e lobisomens e qualquer outra coisa. No mundo real.
- Acho que eu tenho que ir. – Edward murmurou. Ele se levantou humanamente. O meu inconsciente, agarrou-lhe o braço. Ele me olhou, seus olhos dourados, vagos e cheios de adeus.
- Eu te amo, Edward. – murmurei. Levantando-me e me colocando na ponta dos pés para beijá-lo. Eu segurei seu rosto, enquanto eu sentia que eu me aprofundava cada vez mais nos seus lábios de mármore. E Edward me correspondeu, urgente, cheio de paixão. Algo que me fez vacilar e o meu coração perdeu uma batida. Mas, dessa vez, ele não me soltou. Ele permaneceu repousando seus lábios lá. Por um momento, enquanto eu recobrava o fôlego. Eu sorri para o vazio. Eu nunca quis tanto duas pessoas ao mesmo tempo, em que eu queria Edward e Jacob. Como nunca, eu quis que a Bella dos dois permanecesse viva dentro de mim, permanecesse ali. Cheia de amor para os dois. Mas era injusto e sujo demais, até mesmo, para mim. Eu senti Edward se afastar de mim. Seus olhos cheios de, que eu considerei que fosse, amor. Imaginei que os meus não tivessem tão diferentes assim.
- Eu te amo. – ele disse, relutante.
- Eu também te amo, Edward. – eu disse, lutando contra a vontade que eu sentia de abraçá-lo e pedir que ficasse. Fechei meus olhos, enquanto sentia seus lábios frios sobre a minha testa pela última vez. Então, senti o vento soprar pelo quarto. Ele havia ido embora. – Eu te amo, Edward Cullen. – eu murmurei para mim mesma. Enquanto voltava para pegar uma toalha e andar até ao banheiro. Tomar um banho.
A chave da minha caminhonete estava sobre a mesa, onde o velho e triste computador estava. Eu a peguei e corri para a minha caminhonete. Charlie estava na cozinha, não disse nada. Mas não havia o que ser dito. Apenas um “bom dia”, já que ele não lidava bem com essas coisas. Desde quando Edward havia me abandonado pela primeira vez. O pensamento em abandono, fez aquela massa doer um tanto mais.
Eu tentei evitá-la, sacudindo a cabeça, para que os pensamentos se fossem. Não se tratava apenas de uma paixonite, era algo ainda mais doloroso. Era como uma corrida. Uma corrida direta para o lado esmagador do meu peito.
Eu estacionei em frente à casa dos Black. Mas Billy já estava na porta, olhando para mim. Eu sorri amarelamente, enquanto corria até o quarto de Jake. Os gemidos baixos dele eram audíveis e torturantes. Eu entrei no quarto, no final do corredor. Ele me encarou e pela primeira vez, aquela vontade estúpida e esmagadora de beijá-lo me esmagou. Eu corri até ele e me deitei ao seu lado na cama. Coloquei a minha cabeça em seu braço, enquanto eu sentia a sua mão acariciar o topo da minha cabeça. Uma sensação de alívio e conforto se abateu sobre mim. Eu me agarrei aquilo, como se fosse água no deserto. Jake beijou o topo da minha cabeça, carinhosamente.
- Por que voltou? – ele sussurrou, sua voz quase inaudível.
- Não seria correto eu abandonar tudo, apenas para morrer. – eu murmurei contra seu peito nu, enquanto inalava o seu cheiro.
- Eu te amo. – ele disse, sua voz mal saiu. E aquilo, por mais triste que pudesse ser, era exatamente o que eu precisava. Eram aqueles braços que eu precisava. Era aquela alma que eu precisava. Jacob e eu éramos espíritos gêmeos. Ele se apoiou sobre seus cotovelos, para olhar em meus olhos. Eu sorri levemente, contente. – Você me ouviu, Isabella Swan? Eu te amo.
Não consegui evitar o sorriso, enquanto eu sentia sua respiração mais e mais próxima de mim, tocando meu rosto, logo, meus lábios. Eu consegui encontrar seus lábios, enquanto ele movimentava-os suavemente, mas ao mesmo tempo, urgentes e cheios de paixão, assim como eu havia previsto. Assim como eu tinha certeza que eu o correspondia da mesma forma. Urgente, cheia de paixão. Enquanto deixava a sua língua ter passagem para a minha boca, enquanto, mais e mais, eu me entregava aquilo, que era desconhecido, mas ao mesmo tempo, novo e tão conhecido.
E eu podia sentir a ausência de Edward, dos Cullen, mas com o tempo, eu aprenderia a lidar com isso. Eu quase consegui uma vez, mas dessa vez, eu conseguiria. Eu me prometi.
Naquele mesmo dia, eu voltara para casa, que estava silenciosa. Eu subi até meu quarto. A lembrança de Edward ali, sentado sobre a colcha roxa e antiga sempre estaria presente na minha memória, enquanto eu vivesse. Eu tirei as minhas botas, jogando-as no canto, junto a umas sandálias que eu nem mesmo usava. Deitei-me na cama, sentindo a onda de cansaço e sono me pegar, o que aconteceu rápido. Um vento frio abriu a janela. Instantaneamente, me virei, esperando que Edward aparecesse, mas era apenas o ar. Eu soltei um longo suspiro, enquanto voltava a dar as costas à janela, fechando os olhos e me rendendo ao sono.
- Eu vim me despedir. – A sua voz soou. Tão perfeita, nítida, assim como eu me lembrava. Assim como eu tinha certeza de que eu jamais me esqueceria. Sua voz, cheia de dor. Aquilo me esmagou por dentro, ao mesmo tempo, em que o susto.
Eu me virei na cama, e inconseqüentemente, o abracei, entrelaçando meus braços em seu pescoço. Enquanto ele abraçava a minha cintura.
- Bella. – a sua voz soou em meu ouvido, apenas um sussurro. Eu me permiti olhar em seus olhos dourados, quem sabe, pela ultima vez. – Nós vamos embora. Eu apenas vim me despedir de você...
- Oh, Edward! – solucei, ele enxugou a lágrima que caiu.
- Bella, meu amor. Não chore. – ele disse, abraçando-me novamente. – Eu quero o seu bem... Shhh! Não chore.
E alguns minutos se passaram, enquanto eu deixava a dor e as lágrimas serem derramadas, estragando a sua camisa, novamente. Mas, mais uma vez, Edward não reclamou, pelo contrario, apenas apertava-me mais e mais contra seu peito, enquanto eu a manchava ainda mais.
- Eu te amo. – consegui sussurrar entre soluços.
- Eu também te amo, Bella. Mais do que a mim mesmo. – ele sussurrou de volta. E eu sabia, em meu inconsciente, que eu jamais esqueceria aquele momento, por mais que eu tentasse. Eu senti a onda de dor fluindo, doía, mas eu sabia que, se aquilo que eu estava fazendo fosse certo, passaria. Por pior que fosse. – Eu vou sempre esperar por você, Bella. E quando, se um dia, você se arrepender da sua escolha, eu sempre estarei à espreita, esperando você. Que seus planos mudem novamente. Eu sempre vou amar você.
- Eu também. Eu sempre te amarei, Edward. – eu murmurei, dessa vez, os soluços haviam amenizado.
- Ótimo. – ele sussurrou, um sorriso brincando em seus lábios. – Acho que isso é um adeus.
- É... – eu murmurei sonolenta, ainda incerta. – Acho que é...
Edward beijou o topo da minha cabeça e se levantou, cruzou o caminho, até a janela, mas antes de passar por ela, ele virou-se.
- Bella? – ele chamou, fiz um som do fundo da minha garganta, ainda sonolenta demais. – Cuide do meu coração. Por que ele é seu...
Foi tudo o que eu consegui ouvir, antes de voltar ao sono. Eu poderia jurar que aquilo havia sido um sonho. Um doce sonho. Enquanto eu transitava entre os dois mundos; o mundo real e o mundo dos sonhos, assim como antes. Eu te amo, Edward Cullen!, me permiti pensar, enquanto voltava a dormir.
Eu havia feito Alice me prometer que jamais deixaria de vir me ver, assim como Edward, que me prometera que jamais desistiria de mim. Que apenas iria me esperar. E se, um dia, eu o quisesse, ele viria me buscar. Estaria apenas esperando que eu mudasse meus planos mais uma vez. A mudança um dia, talvez, viria.