De Repente... Religiosa - Capítulo 22: De Repente... Quando Se Tem Orgulho A Preservar

PE. Edward

Meus pensamentos estavam muito confusos. Um turbilhão de emoções assuava minha mente, e eu não sabia o que pensar... O que fazer. O que sentir.

De um lado o amor por Bella, de outro as lembranças de Tanya.

Como eu poderia saber lidar com aquilo da melhor maneira?

As lembranças varriam minha mente. Primeiro... As de Tanya, e depois... Os meus momentos felizes com Bella nos últimos seis meses. Nossos problemas, separações, discussões, provações, tudo isso... Para acabar assim?

Uma dor forte alastrava o meu peito e a vontade que eu tinha era de correr atrás dela, e dizer que eu a amava.

Dizer para ela esquecer tudo, largar toda aquela história, e voltarmos do zero.

Ao vê-la sair, foi como se um pedaço de meu coração fosse arrancado, e ao me deitar na cama onde ela estava há alguns minutos, me fez ver a falta e o vazio que ela fazia.

Eu queria gritar, eu queria espernear, mas tudo o que eu conseguia era enfiar a cabeça no travesseiro e chorar.

Eu estava parecendo um bebê, ou a mais imatura das crianças, mas eu não conseguia agir de outro modo. Simplesmente não conseguia.

Por que Bella havia feito aquilo comigo?

Uma semana havia se passado, e eu não saía da casa paroquial. Vários fiéis vieram me procurar, mas eu dava a desculpa de estar doente.

Eu simplesmente não queria sair para o mundo ou ouvir alguém.

Mas durante duas semanas eu realmente ponderei várias coisas.

No banho, na cozinha, na sala, ou mesmo dormindo, o assunto não saía de minha mente.

Até que um dia eu peguei o notebook e fiz uma pesquisa.

Realmente havia várias oportunidades de a camisinha estourar, ou mesmo de acontecerem outras coisas que a fizesse engravidar.

Eu comecei a ver... Que talvez Bella houvesse sido sincera.

As últimas palavras dela pareciam pelo menos.

"Eu não sou Tanya, e eu nunca mentiria para você."

Parecia um bordão que insossamente repetia-se em minha mente. Eu não conseguia afastá-lo.

Depois de alguma hora de reflexão, eu finalmente decidi largar tudo para o alto...

Eu estava sendo UM IDIOTA!

Eu havia dito que Bella estava agindo como Tanya, mas ela não tinha motivos para tal.

Tudo indicava que ela estava sendo sincera, e eu aqui sendo um idiota movido á traumas do passado.

Larguei o notebook de lado e fiz a barba de uma semana rapidamente.

Eu precisava ir atrás de Bella, pedir perdão e dizer que eu acreditava nela, e deixar de ser o padre idiota, bipolar que eu sempre fora.

"Oi... Sabe Jake... Eu estava pensando... Se... A gente poderia conversar..." Falei incerta no telefone na caixa postal. "Desculpe-me... Muito, pelo huh... Problema... Eu posso explicar... É... Essa é a 101ª mensagem que te deixo... E... Tchau..."

Desliguei e bati o celular na minha cara diversas vezes. Eu. Era. Uma. Idiota.

"Entra na minha casa, entra na minha vida..."

"DESLIGA ESSE RÁDIO, INFERNO!" Gritei da minha mesa, assim que ouvi a música se instalar em meus ouvidos.

"Ui, nervosa..." Mas logo desligaram e eu pude respirar em paz novamente.

"Mexe com minha estrutura..."

"ARGH!"

Alguém deu fortes gargalhadas, mas desligaram o rádio definitivamente. Rolei meus olhos e peguei a corrente que estava no meu pescoço e retirei. Encarei a meia cruz que estava ali, que Emmet dera para Edward e eu de Natal, e com um suspiro larguei dentro da gaveta.

"Bella..." Rose acariciou os meus cabelos enquanto se sentava ao meu lado calmamente. "O que houve?"

"Nada." Respondi dando um sorriso amarelo.

Ela arqueou a sobrancelha, incrédula.

"Nada? Bella, eu sou sua melhor amiga, lembra?"

"Eu sei..." Sorri. A época de fungar, soluçar, e chorar a todo instante já havia passado nos três primeiros dias, agora era só a expressão vazia no meu rosto. "Desculpe Rose... É TPM."

"Bella..." Ela reclamou.

"Rose estou bem." Tentei dar um sorriso amarelo. Ela revirou os olhos e desistiu de tentar arrancar alguma coisa de mim.

Batuquei a caneta na mesa e comecei a cantarolar uma música. Quase me chutando, eu percebi que a música que eu cantarolava era 'Como Zaqueu'. Inferno! Para modo de esquecê-la procurei na minha reserva mental alguma coisa que não incluísse a voz de Edward.

Ah claro... "Esse ano quero paz no meu coração... Quem quiser ser meu amigo..."

É. Era melhor ficar sem cantar, cantarolar, ou batucar mesmo.

Havia se passado duas semanas do final de todo uma história turbulenta de seis meses com Edward.

Eu me trancara no quarto na casa dos Cullens e ficara lá até quase esgotar minhas forças, mas eu precisava comer, eu precisava ficar bem pelo... Bebê.

Toda a vez que eu pensava no MEU filho meus olhos marejavam, mas eu precisava me controlar.

Esme e Carlisle queriam saber o que estava acontecendo comigo, mas eu inventava simples desculpas. E também pedia para eles não contaram a ninguém sobre a gravidez, nem mesmo para Edward.

Se ele não acreditava em mim, ele não tinha direito de descobrir que eu falava a verdade pela fala de outros.

Alice sabia que alguma coisa importante estava acontecendo entre seu irmão e eu, mas eu não contava, e parecia que Edward também não.

Mas que se dane ele também! Exclamei, enxugando minhas lágrimas.

Agora eu me esforçava para que todos os meus pensamentos se objetivassem na criança que estava nascendo dentro de mim. Por isso eu queria falar tanto com Jake. Ele supostamente era o pai da criança, e eu precisava convencê-lo á dizer o mesmo. E claro, pedir desculpas por tudo... Ele havia aceitado Edward e eu, mas também tudo tinha limites.

"Bella... Acho melhor você sentar." Lauren apareceu com toda polpa e abanando o rabo na frente de minha mesa. Revirei meus olhos internamente. Atrás dela estava a moça de Chicago.

"Estou sentada." Retruquei.

"Essa é Stephanie."

"Stephanie?" Perguntei incrédula. "Cara, eu vi seu vídeo outro dia na internet."

Ela olhou para os lados totalmente confusa. "Mas é claro... Linda e absoluta. Cara, eu sou sua fã."

Lauren deu uma risadinha sem graça. "Desculpa Stephanie. Ela é meio... Problemática mesmo. O médico disse para não contrariar, você sabe como é."

A mulher me olhava como se eu realmente fosse algo monstruoso e louco, e eu fechei minha cara para ela.

"Ok, Lauren... Posso saber o porquê da visita?"

"Bem..." Ela sorriu superior. "Estou passando aqui sabe... Para te dar o aviso prévio..."

"Aviso prévio?" Perguntei confusa.

"De despedida, idiota." Ela respondeu dando uma risada maléfica no final.

"Oi?" Comecei a batucar em meus ouvidos e pegar o cotonete na gaveta a fim de limpá-los.

"Você ouviu bem, Bella. Você está despedida."

"O QUÊ?" Demorou um longo minuto para eu conseguir digerir toda aquela informação.

Parecia que todos os rostos haviam se voltado para mim. Todos rindo, zombando, criticando, e ficando felizes com minha desgraça.

Eu. Estava. Perdendo. Tudo.

"Pode ir empacotando suas coisas... Estranhas por sinal... Ei, o que é isso, um desfibrilador?"

Eu não podia acreditar. Primeiro minha mãe, depois meu apartamento, Edward e agora... Meu emprego?

Isso era uma piadinha, né?

Cadê as câmeras escondidas?

Lauren me encarava impotente em cima de toda sua pompa, e eu queria feri-la, machucá-la e culpá-la por todos os meus problemas. O sangue começava a ferver em minhas veias, e meus olhos marejaram de ódio.

"SUA VACA!" Eu gritei partindo para cima dela em um salto. Ela gritou e tentou se proteger com as mãos, mas a fúria infundia meus olhos. "Como você... Pode... Fazer... Isso... Comigo?" Eu dava tapas nela, enquanto esta indefesa estava deitada no chão, comigo em cima.

"BELLA!"

"Tirem essa louca de cima de mim!"

"Você não pode fazer isso comigo só porque você não gosta de mim!"

"BRIGA, BRIGA!"

"Eu vou morrer..."

"Chamem a polícia!"

"Chamem a ambulância!"

"Não, chamem o Animal Planet!"

"FIGHT! FIGHT! FIGHT!"

"Sua vaca! Você não pode tirar meu emprego!" Gritei falando em soluços desesperados. "É a única coisa que eu AINDA tenho!"

"Eu posso fazer o que eu quiser..." Ela esperneou. "Quem manda nessa porra aqui sou eu!"

"FAÇA ALGUMA COISA!"

Meus olhos ardiam em fúria e eu estava pronta para dar mais um bom tapa na chefa, quando braços fortes me circundaram e me levantaram dali.

"Ah... Estava tão bom..."

"Já acabou? Alegria de pobre dura pouco..."

"Bella! Você está bem?" Rose perguntou preocupada, vindo em minha direção.

"Bem?" Lauren disparou enxugando o sangue que escorria de seu nariz. "Eu que sou a vítima, e você pergunta se ELA está bem?"

"CALA A BOCA, LAUREN!" Mas não foi Rose que respondeu, mas sim Emmet que me segurava, impedindo que eu voasse para cima dela novamente.

"O quê? E você fica do lado dela?" Ela perguntou assombrada.

"Você não tinha direito de fazer isso com ela. Ela precisa desse emprego, assim como você." Ele retrucou.

"Ela é louca! Eu não aceito LOUCOS no MEU jornal!" Ela gritou.

"Vamos sair daqui..." Rose disse cutucando Emmet, e lançando um olhar de desprezo para Lauren que estava sendo ajudada pela moça de Chicago. "Bella precisa de ar puro."

"Emmet, me solta!" Eu gritei.

"Bella, você está fora de si, mulher."

"Me solta!"

"Promete que vai ficar quietinha?"

"Prometo." Rolei os olhos.

Ele hesitante me soltou, e assim que eu me vi livre corri em direção a Lauren e com o maior olhar de desprezo que eu consegui eu cuspi nela.

"Isso é por tudo o que você já me faz passar, chefa." Olhei-a com desprezo e balancei meus cabelos em uma atitude totalmente paty.

"Peguem essa louca!" Ela gritou, com nojo enxugando o meu cuspe.

"Já chega Bella..." Emmet me pegou de novo e me arrastou dali.

Chegando ao bar que ficava no térreo da redação, e depois de devidamente me acalmarem e me servirem uns copos de água, eu respirei fundo, e encarei meus dois amigos que me olhavam preocupados.

"O que está havendo Bella?" Emmet perguntou.

"Nada." Desviei meu olhar enquanto bebericava mais água.

"Nada? Eu sei que algo aconteceu entre você e Edward, mas nenhum dos dois quer contar."

"Não aconteceu nada." Firmei o olhar dele, querendo parecer dura o bastante.

Ele suspirou. "Será que vou ter que arrancar isso a força?"

"Emmet a deixa." Rose intercedeu. "Se ela não quer contar, não conta."

Lancei um olhar agradecido á ela.

"Olha..." Comecei. "Se eu estou doida, problemática, ou não, o problema é meu. Estou de TPM, isso serve?"

"Não." Responderam em uníssono.

"Ótimo." Revirei meus olhos.

"Bella." Ouvi a voz inconfundível de Jake me chamar. Virei-me com o coração descompassado, e encontrei o meu amigo com o olhar perdido e os cabelos desgrenhados.

"JAKE!" Corri até ele e o abracei com força, sentindo o calor que seu corpo irradiava para o meu.

Ele me abraçou sem força, e nos separamos lentamente. Procurei observar seus olhos, mas não encontrei nada ali.

"Oi Emmet, Oi Rose." Ele cumprimentou calmamente. Eles responderam em uníssono.

"Gente... Vocês se importam se eu conversar com Jake um pouquinho?" Perguntei hesitante.

Eles assentiram e eu saí com Jake, andando do lado de fora do prédio.

Andamos em silêncio por um longo tempo, até eu começar.

"Jake... Desculpa-me..."

"Não... Desculpe-me... Eu fui um idiota em não responder suas ligações antes." Ele sorriu fracamente. "Você não tem que me explicar nada, Bella."

"É claro que tenho." Defendi. Ele parou e nos encaramos frente á frente. Ele acariciou minha bochecha e sorriu.

"Eu já sabia que algo assim poderia acontecer... Vocês estavam juntos afinal... Eu entendo..."

"Mas, eu não queria que você descobrisse daquele jeito..."

"Está tudo bem." Ele sorriu, mas não chegou aos olhos. "Bella, agora só estou preocupada com você."

"Não se preocupe." Tentei sorrir de volta.

"Mas é claro que me preocupo. Agora você e ele têm que..."

"Não."

"O quê?"

"Não tem 'eu e ele'..."

"Isso quer dizer..."

"Sim." Assenti, abaixando os olhos. "Não tem mais 'nós'."

"Mas como?"

"Longa história, Jake. Qualquer dia eu te conto." Sorri.

"Bella..." Ele suspirou. Olhou para longe, depois seu olhar recaiu sobre mim de novo. "Qualquer coisa conte comigo. Eu vou estar sempre com você."

"Eu sei Jake. Eu sei..."

Quando voltamos para o bar, encontramos Emmet e Rose se desentupindo em um beijo fervoroso. Revirei meus olhos e limpei a garganta.

Eles se separaram super sem graça.

"É... Huh, eu e Rose estávamos conversando..."

"Aham... Sim, conversando..." Retruquei, zombando.

"É... Sabe..." Rose limpou a boca rapidamente. "Chegamos a uma conclusão. E tenho certeza que Jacob vai concordar com a gente."

"Deus me livre ouvir alguma coisa que Emmet e Rose, juntos, planejaram..."

"Vejo que ficou mais animadinha hein Bella..." Rose estreitou os olhos. Encolhi os ombros.

"O que vocês planejaram?" Jake perguntou se se sentando à mesa, e olhando-os interessado.

"Bem..." Emmet juntou as mãos indicando o seu plano diabólico. "Já que Bella está nesse chove não molha... E com a franja cobrindo os olhos, nós vamos fazer algo para animá-la!"

"Uma lipoaspiração?" Perguntei irônica.

"Não, idiota." Rose disse. "Vai ter uma festa muito boa na sexta na boate do centro... Nós podemos ir até lá."

"Boate?" Perguntei incrédula.

"Sim, bebida... Mulheres... Diversão... Dança..." Emmet começou a enumerar nos dedos.

"Mulheres, Emmet?" Rose deu um tapa em seu ombro que estalou até em mim.

"Ok... você precisa limpar os ouvidos hein Rose? Eu disse... Bebida, você, diversão..."

Ela revirou os olhos.

"Gente... Acho que não é uma boa idéia para Bella..." Jake começou me olhando incerto.

"Não..." Comecei. "Acho até que vai ser interessante." Sorri.

"Mas Bella..." Ele intercedeu, olhando significativamente para minha barriga. Com os olhos disse que não havia problema algum.

"Eu aceito." Sorri, e depois encolhi os ombros. "Estou precisando aumentar minha auto-estima de qualquer modo mesmo."

Na sexta Alice e Rose investiram em mim como se eu fosse a nova supermodelo ultra revolucionária do mundo fashion.

Ok, eu exagerei... Mas depois de passar a tarde inteira – a segunda de desemprego- com elas, simplesmente dando uma de manequim, me fez ver que Alice e Rose juntas não davam certo.

Eu tentei ao máximo canalizar minha tristeza para um canto mínimo em meu ser, e me deixar curtir minha própria vida, com diversão, e claro, solteira.

Apesar de todas as preocupações e da mágoa profunda que eu ainda sentia eu precisava me distrair, fazer qualquer coisa, aliás, não é sempre que temos vinte e dois anos.

Se Edward não acreditava em mim, se Edward não era homem o suficiente para enxergar a verdade, e se ele preferia ser bipolar á ser meu namorado e pai do meu filho, que se dane!

Eu não dependia de homem algum, e nem muito menos ficaria anos chorando, ficando velha e gorda, por causa dele, vendo os anos passaram e os pés de galinha acentuar ao redor dos meus olhos.

Passei a mão despreocupadamente pela minha barriga, sentindo o MEU filho que crescia ali.

Apesar de ele ser ainda uma sementinha, eu já o amava.

Eu amava incondicionalmente alguém que eu nunca conhecera. É essa é uma das belezas da vida. E eu tinha que aproveitar.

"Pronto, Bella!" Alice disse sorrindo e colocando um espelho bem em minha frente. Estiquei os cantos da minha boca para o reflexo – no que era para ser um sorriso- e fiquei contente com o resultado.

"Ótimo." Disse. "Vocês fizeram um ótimo trabalho meninas!" Abracei as duas e logo fomos apressadas pela campainha na casa dos Cullens.

Descemos a escada rapidamente esperando encontrar Jacob e Tanya que iriam com a gente.

"Você está linda, Bella." Esme elogiou vendo meu vestido decotado com moderação e no meio das coxas. "Mas tem certeza que..." Ela começou.

"Eu vou tomar cuidado." Sorri, e dei um beijo em sua bochecha rapidamente.

"Bella," Carlisle apareceu por trás dela. "Caso sinta algum mal estar, tome esse analgésico. Vai ajudar." Ele me ofereceu uma pastilha que eu logo coloquei na minha bolsinha.

Sorri agradecida pela preocupação dos dois, e corri até a porta para atendê-la.

Assim que eu abri, eu logo desejei não ter feito isso.

Fechei a porta novamente, tentando controlar eu mesma, e as possíveis lágrimas que poderiam vir.

Depois de alguns segundos, ouvi batidas na porta.

"Não vai abrir, querida?" Esme perguntou preocupada.

Respirei fundo e calmamente abri a porta de novo, encarando um homem alto, com os cabelos cor de bronzes bagunçados, os olhos verdes vivos e irradiantes, as linhas duras de seu maxilar, o pomo de adão saltado, e a meia cruz no pescoço.

"Olá, padre." Cumprimentei com desprezo.

Logo Rosalie e Alice me cercaram e cumprimentaram Edward.

Ele acenou para as duas, mas seus olhos não desviavam dos meus.

"Vão sair...?" Perguntou incerto. Sua voz estava rouca, e as orelhas em baixo de seus olhos indicavam que ele estava um bom tempo sem dormir. Que morresse também, infeliz!

"Vamos." Rose respondeu pegando um lado do meu braço, enquanto Alice pegava o outro. "A uma boate! Quer ir?"

Antes que ele sequer abrisse a boca eu respondi:

"Acho que o padre Edward não vai querer se misturar com as pessoas que freqüentam as boates... Você sabe como é né..."

Rose me encarou confusa, e Alice incerta.

Ouvi vozes distintas, e logo Jake e Tanya chegaram, e se aproximavam da porta. Tanya assim que viu quem estava ali, parou com a boca aberta e vi o rosto de Edward se tornar mais rígido ainda ao ver as duas pessoas que estavam ali.

"Jake!" Sorri e corri em sua direção dando um forte abraço, logo depois cumprimentei uma Tanya gélida em seu lugar. "Fica calma..." Sussurrei.

"Olá Edward." Jacob cumprimentou com a expressão dura. Jake sabia que não estávamos juntos e poderia ter uma noção do por que, embora eu nada houvesse falado.

Edward assentiu com a cabeça e logo seu olhar se voltou para mim. Desviei rapidamente, sentindo meus joelhos fraquejarem com seu olhar perpétuo e inebriado.

"Acho que já está na nossa hora." Gesticulei para Alice e Rose, e elas prontamente passaram por Edward e saíram da casa.

Já estava me virando para ir embora, quando ouço a voz dele me chamar.

"Bella?"

Fechei os olhos tentando controlar minha voz e minha respiração, e me virei lentamente para ele.

"Sim?"

Ele pareceu hesitar por um longo momento, depois olhar incerto para Jake e Tanya ao meu lado.

"Posso conversar com você um minuto?"

O meu corpo já estava quase se impulsionando para frente, e minha boca chegara a se abrir para exclamar um grande e sonoro "sim", porém antes que eu pudesse praticar tamanha idiotice, eu controlei a mim mesma, e encarando fundo em seus olhos, respondi:

"Estou ocupada, padre. Outra hora."

Virei-me e entrei no conversível de Rose. Rose, Alice, Jake e Tanya ficaram incertas do lado de fora, mas logo entraram no carro também.

Nem sequer uma vez olhei para trás, a fim de ver Edward observando o carro, rapidamente partir.

Na boate o 'puts, puts' ardia em meus ouvidos.

"Ual, isso aqui tá Mara!" Emmet fez a dançinha do caldeirão no meio das pessoas.

"Emmet!" Rose bateu nele.

"Eles são sempre assim?" Tanya perguntou os observando.

"Pior." Revirei meus olhos. Ela riu, mas depois me olhou preocupada.

"Bella, o que houve entre você e Edward?"

Eu olhei dentro de seus olhos azuis, e notei com frieza que ela nem havia perguntado 'aconteceu alguma coisa...?', mas sim 'o que houve?'. Tava tão na cara assim? É... Não precisa responder.

Como que eu diria para Tanya que a causa para eu não estar com ele, era ela?

Indiretamente, mas sim.

Eu sabia que eu deveria estar pelo menos ressentida com a pobre mulher, mas eu gostava de Tanya e sabia no mais profundo ser, que ela não tinha nada a ver com aquilo, embora tivesse.

Ah, você entendeu!

"Nada que devemos nos preocupar esta noite." Sorri em resposta e logo depois não se falou mais no assunto. Lá dentro, o lugar estava super lotado e abafado, mas por fim, Emmet deu a bendita notícia que tínhamos área VIP.

Lá estava lotado também, mas não tanto que me impedisse de respirar, logo entrei no embalo da música, e me deixei levar pelas batidas e pelo sentimento.

Quem precisava de homem?

Eu que não!

Quem precisava de beijos, carícias, e um tanquinho para lavar roupa?

Eu que não!

Quem precisava de olhos verdes te olhando sedutoramente e uma boca dando o melhor sorriso torto do mundo?

Eu que não!

Quem precisava de Edward?

Eu que não!

Quem precisava de problemas na vida?

Eu que não!

Quem precisava de padre?

Eu que não!

Agora na minha vida eu já tinha tomado a bendita decisão. Edward agora só na extrema unção!

Ual! Rimou! "Já tomei a bendita decisão. Edward agora só na Extrema Unção!"

Bem... Poderia ter no matrimônio, mas quem disse que eu ia casar?

Eu que não iria casar para ser dona de casa, ficar com a barriga encostada no fogão, e um homem barrigudo e folgado assistindo Fórmula um na poltrona da casa.

Agora só se eu estivesse com o pé na cova que eu veria outro padre em minha frente novamente.

Quem falou de 'De repente religiosa' aqui?

Há! Não existe mais!

Apesar da gravidez eu me permiti tomar alguns goles de cerveja enquanto me embromava no ritmo da música.

De repente Rose soltou um grito agudíssimo, e me puxou para o meio da pista de dança.

"Bella, sua nova música!"

Single Ladies (Put A Ring On It) – Beyoncé.

"Mulheres solteiras!" perguntei incrédula.

"Bella, eu sempre quis dançar essa música! Olha somos três! Alice vem cá."

"Rose, não me obrigue a..." Ela começou hesitante.

"Alice, você só vai voltar ao convento daqui alguns dias, então, portanto você PODE fazer o que quiser..."

Se alguém ali não tinha vocação para ser freira, era Alice, mas ela simplesmente tinha essa idéia na cabeça e ninguém a fazia mudar.

Acabou que Rose nos alinhou, e eu linda, absoluta e grávida, fiquei no meio.

A música começou novamente, e lá estava nós dançando como no vídeo.

Ok... Não tão igual ao vídeo, mas pelo menos... Algo parecido.

Pelo menos a mãozinha eu acertava. Ah qual é, eu não sou uma dançarina.

No final, morrendo de rir pelo mico do ano, e super cansada pelo esforço eu desabei em um sofá que tinha no canto.

Pelo canto do olho observei Alice discutindo com alguém, porém eu não conseguia ver quem era, até que um homem alto veio em minha direção.

"Olá." Oh... Ele era gatinho.

"Está sozinha?"

Arqueei uma sobrancelha. Já não gostei...

"Só se algum espectro que está ao meu lado, porque do contrário, estou sozinha." Revirei meus olhos.

Ele riu e sentou ao meu lado. Logo seu forte perfume instalou em minhas narinas, irritando o meu nariz.

"Vi você e suas amigas dançando..."

"É. Acho que todo mundo viu."

Ele riu.

"Você é sempre assim?"

"Assim como?"

"Teimosa..."

"É..." Abri a boca para responder, mas meu nariz se irritou. Fiz um sinal para ele esperar, e virando a cabeça para o lado espirrei. "Pronto. Desculpe." Sorri amarelo.

"Então... Qual é o seu nome?"

"B-Be..."

"Como?"

Fiz sinal de espera de novo, e virei à cabeça para espirrar.

"Pastilha para tosse?" Ele ofereceu.

"Eu estou tossindo por acaso?" Perguntei cortante.

"Credo... Você é muito mal humorada... Deus me livre..." E se levantou me deixando com um enorme ponto de interrogação na cara. Ei, o que eu havia feito?

"Bella!" Rose gritou se aproximando de mim tomando a décima quinta e vai lá se saber mais doses de vodca. "Ele era SUPEEEEEEEEER... GATINHO..."

"Não tinha olhos verdes..." Logo tapei minha boca com as duas mãos. O que eu havia dito?

Rose riu histérica.

"Você quer o quê, outro padre por aí? Minha filha... Ic... Lá no Brasil, tem um... Que é cantor também... Menina abana!"

"Rose, você está bêbada!"

"Ei, eu sei, não precisa me dizer!"

Revirei meus olhos e tomei a decisão. Eu tinha dispensado o homem lindo por causa de Edward? HÁ!

Era agora que eu iria atrás dele mesmo!

Procurei-o por entre as pessoas, mas não o via em lugar algum. Até que pela enorme janela de vidro que dava para a boate inteira encontrei seus cabelos loiros faiscando.

Foi um relampejo brevíssimo, mas foi o suficiente.

Desci as escadas da área VIP correndo e entrei no meio do povão.

As pessoas dançavam extasiadas, e eu pedia por passagem, eu queria ir até ele e dizer que eu daria uma chance, ou seja lá o que o protocolo dizia em uma hora dessas.

Minha busca se tornou infundada, e eu já estava cansada e totalmente dolorida da minha procura por ele.

Inferno! Eu teria que arranjar outro então!

De repente... Algo me fez gelar o coração...

Era uma coisa extremamente bizarra.

Nos holofotes da boate saía nada mais nada menos do que a música "Faz um milagre em mim" remixada.

As pessoas gritaram e começaram a dançar umas com as outras, com certeza levando para o duplo sentido as palavras da música.

Era perseguição? Só podia! Jesus!

"Mas que inferno!" Gritei no meio da multidão.

"Entra na minha casa, puts, puts... Oh yeah... Come on, come on."

No palco onde havia as pessoas que animavam a boate, tinha um rapper cobrindo a boca com uma das mãos e balançando a mão naquele jeito meio 'ei, eu tenho braço'.

Eu merecia senhor?

Eu continuava perdida no meio de todo mundo, até que braços fortes me circundaram e começaram a me balançar no ritmo da música.

Eu estava procurando por homem mesmo, então logo me deixei levar, afinal, os braços eram calorosos, convidativos, e exalavam um perfume que realmente não irritava o meu nariz.

No ritmo da música os braços foram me guiando, e meu corpo se grudou ao da pessoa.

Talvez fosse uma loucura eu estar dançando com alguém totalmente desconhecido no meio de uma boate, mas eu me sentia segura e estranhamente confortável ali.

Fechei meus olhos e inclinei minha cabeça para trás, até que um hálito quente se encostou aos meus ouvidos me fazendo estremecer.

"Perdoa-me..." Ouvi a voz sussurrar. Mas era uma voz... Conhecida... Conhecida... De mais até... Mas claro, deveria ser só mais uma alucinação.

"" Entra na minha casa, puts, puts... Oh yeah... Come on, come on."

Eu senti uma pequena pontada na barriga, e pensei que fosse algo com o bebê, mas logo tudo se voltou ao normal, e com minhas mãos segurei os braços que me circundavam.

O calor que irradiava deles eram acolhedor, e eu queria ver o rosto dessa pessoa, talvez da pessoa que pudesse me fazer finalmente esquecer certo padre idiota e bipolar.

Minhas mãos foram subindo por seus cotovelos, braços, seu pescoço e sua face. Os músculos da face eram duros e rígidos, e um músculo saltava no maxilar. Minhas mãos voaram para seus cabelos, e vi como eles eram macios e convidativos.

Isso me lembrava tanto Edward... Não, Bella! Não! Pára de pensar nele! Simplesmente pare!

No final da música, abri meus olhos e calmamente girei em seus braços para ficar de frente ao novo homem de minha vida.

Talvez o homem que me fizesse esquecer Edward e seguir minha vida de uma maneira normal. Sem 'de repente religiosa', sem 'de repente desempregada' ou 'de repente sem teto'... Inferno! Eu queria simplesmente... Ser normal.

Mas ao fazer isso, meu coração deu enormes cambalhotas, minha respiração falhou, perdi o chão, e meus olhos se arregalaram.

Por que ali na minha frente, estava justamente o homem que eu queria mais que tudo esquecer.

Minha boca se abriu e se fechou várias vezes, as minhas cordas vocais não me respondiam. Até que depois de puxar o ar várias vezes para dentro dos meus pulmões, eu consegui gritar:

"O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI, EDWARD?"

Quais eram as possibilidades de eu estar tendo uma alucinação?

É... É... É...

Nenhuma. Não com várias pessoas em volta, não no meio de uma boate, não segundos antes de sentir o calor de seu corpo.

Inferno!

"Bella..." Ele murmurou se aproximando de mim em um passo e me puxando para um forte abraço. Meus braços ficaram inertes ao lado do meu corpo, e meus olhos arregalados de encontro ao ombro dele.

Parecia que todo o som ao meu redor, se tornara uma vaga música de fundo. E as pessoas, dançavam, gesticulavam em câmera lenta, e em um plano diferente do nosso.

Eu ainda estava boba com os acontecimentos. Afinal, eu não estava indo atrás do cara loirinho?

E que diabos um padre estava fazendo no meio de uma boate?

Tinha coisa mais sem sentido do que isso?

"Me perdoa... Me perdoa..." Ele murmurava repetidamente no meu ouvido, fazendo meus pêlinhos eriçarem com seu hálito em contato com meu ouvido e todo o seu corpo abraçado no meu.

Perdoar do que mesmo?

Ah... Verdade. Com um enorme choque de consciência eu tomei noção de tudo o que estava acontecendo ao meu redor, e afastei Edward com um empurrão.

Ele não estava pronto para isso, portanto ele recuou vários passos, esbarrando em algumas pessoas totalmente alheias no caminho.

Vire-me rapidamente e queria sair o mais rápido dali, porém sua mão segurou meu cotovelo, me forçando a me voltar para ele.

"Por favor..." Eu quase não ouvi sua voz, devido o som ao nosso redor, mas lendo seus lábios eu consegui distinguir as palavras.

Os seus olhos verdes brilhavam com um algo totalmente diferente do que eu já havia visto, e sua boca se retorcia em uma espécie de beicinho involuntário. Edward estava mais lindo do que nunca, e a vontade que eu tinha de correr para seus braços e simplesmente deixar rolar, era imensa...

Porém eu tinha um orgulho a preservar.

E claro, eu nunca poderia deixar de lado todas as coisas que ele havia dito para mim há duas semanas.

De repente, puxei todo o ar que eu conseguia, e gritei um grande e sonoro:

"NÃO!"

Sua expressão caiu e seu aperto no meu apreso afrouxou, mas quando tentei me livrar, eu não consegui e ele voltou a firmá-lo.

"Bella... Me ouça..." Ele pediu suplicante.

"Eu já te ouvi demais!" Gritei pela música pedindo com os olhos para que ele me soltasse, porém ele aparentava ignorar.

"Não, você..."

"JÁ CHEGA EDWARD!" Berrei de volta, mas como tudo o que é de má sorte, é realmente de má sorte. Justo na hora em que eu gritei, houve uma pausa na música e pareceu que todo o mundo ouvira o que eu falara e se virara para nossa direção.

Quis me esconder atrás do cabelo, mas acho que não deu muito certo. Mas graças á um bom Deus, cada um estava envolto mais em seu próprio mundo do que em uma mulher descabelada gritando com um padre dentro de uma boate.

"E agora uma canção para os apaixonados..." Um cara que estava quase caindo e rolando com o microfone nas mãos, enquanto tentava equilibrar o copo de vodca, falou do palco: "Você, Ic... Que tá vendo aquela gatinha ali no bar, ou dançando Single Ladies... É sua chance... Vamos lá, sedução! Vamos colocar um tango gostoso, embora você não saiba dançar infeliz, é uma dança de pegada... Então, manda bala! É para vocês. Solta ae Judeilson! Vamo cair pra dentro!"

Soltei um último olhar para Edward e tentei fugir dele em seu momento de distração. Ok. Me corrijo. No que PENSEI que fosse seu momento de descontração! Ele não tirava os olhos de mim, e eu ainda continuava presa pelos seus braços.

"Me solta... Acabou entre a gente." Murmurei, mas sabia que ele havia entendido.

"Não acabou." Ele falou resoluto me puxando para seus braços. E rapidamente e quase abruptamente, um braço seu circundava minha cintura, e outro segurava minha mão. Sua face estava a centímetros da minha, e nossas respirações se misturavam em uma lufada de ar.

O maldito tango começou e os casais rindo, cambaleando começaram a dançar, enquanto eu fuzilava Edward com os olhos.

O que ele queria agora também? Uma humilhação em rede 'boatal'? Inferno! Eu nem sabia dançar tango!

E que tipo de boate coloca tango na discografia?

Eu vou processar essa boate e...

Edward me puxou mais para ele ainda, e nossos corpos se esmagaram, minha boca se abriu em um "O", e o ar faltou em meus pulmões, enquanto Edward com um sorriso torto meio presunçoso começava a me guiar de um lado para o outro.

"Eu. Vou. Te. Matar." Murmurei entre dentes enquanto ele enroscava seu pé no meu, e me fazia cair para trás.

Quando voltei à posição normal, com o cabelo esvoaçando atrás de mim, sua boca estava no meu pescoço e subiu lentamente, fazendo com que nossos olhos logo se encontrassem.

"Eu não vou fazer você largar de mim."

Eu fiquei em choque.

"Eu largar de você?" Ele me rodopiou. "Você ficou maluco além de bipolar?"

Ele estreitou os olhos e me puxou de volta, dando algumas voltas.

Mas que maldita idéia da boate de colocar tango naquele espaço ínfimo!

Eu já disse que iria processá-la? E que ela nunca mais contaria com minha ilustríssima presença?

"Eu sou apenas humano, Bella."

"Eu sou humana também!" Retruquei. Suas mãos se firmaram mais ainda em minha cintura, pressionando-a com força.

"Eu me arrependo..." Ele disse me encarando firmemente nos olhos.

O torpor que me invadiu era intenso, afinal, eu AMAVA aquele homem.

A vontade de puxar aquela boca linda e sedutora para meus lábios, de abraçá-lo e dizer "Hey, tá tudo bem", era imensa, mas as lembranças vinham e iam a minha mente e eu simplesmente não conseguia afastá-las.

Eu tinha que me controlar. Algo que se chamava 'amor próprio' gritava dentro de mim.

"O seu arrependimento não me interessa!" Gritei de volta. Ele me encarou com um misto de fúria e frustração, e eu gritei assim que senti o ar se perder ao meu redor.

Eu caí para trás, mas antes que eu pudesse chegar ao chão, Edward me segurara com as mãos fortes, e subira lentamente novamente, enquanto eu tentava simplesmente manter o coração no limite abaixo dos 200 batimentos por minuto, e a respiração pelo menos regular.

De repente o rosto de Edward se enterrara na região dos meus cabelos e sua boca explorava a região da minha nuca. Senti seu hálito em minha orelha, e me fazendo estremecer dos pés á cabeça, como se estivesse tomando sol no Alaska, ele sussurrou:

"Mas você me ama."

Eu neguei veemente tentando manter algum pensamento concreto em minha humilde mente. Fechei meus olhos me deixando levar pelo odor da loção pós barba que irradiava da pele dele, que me fazia ver estrelas e desejá-lo.

"Sim... Você sabe..." Ele continuou e mordeu o lóbulo da minha orelha.

Edward então endireitou a postura e voltamos a nos encarar nos olhos, lançando uma batalha mortal apenas pelo olhar.

Eu queria entender aquela sua mente bipolar, problemática e sacerdotal, mas realmente o cara lá de cima não me dera o dom da inteligência.

Por que ele estava fazendo aquilo comigo, depois de tudo o que ele havia me falado?

"E que diferença isso faz, se você não ama na mesma intensidade?" Retruquei com desprezo. "Afinal, quem fala o que você falou quem acusa o que você acusou, não ama realmente..."

Seus olhos de repente se tornaram quase pretos, e sua boca se tornou uma linha dura. Edward parara seu movimento, e ao nosso redor as pessoas continuavam se movimentando, porém eu e ele simplesmente nos encarávamos.

"Você me magoou de demais..." Sussurrei.

"Como você pode dizer que eu não te amo?" Ele disse quase cuspindo as palavras. O tango acabara, e logo outro 'puts, puts' voltara em ação, mas continuávamos ali no meio.

"Você diz, mas não demonstra!" Gritei.

"Não demonstro?" Ele me olhou incrédulo. "Bella, eu estava pronto para largar uma vida de oito anos por você... Uma vocação por você... Fiéis que acreditavam em mim, pessoas que ouviam minhas músicas e seguiam minhas palavras... Eu estava pronta para deixar tudo POR você... E você me diz que eu não te amo?"

Eu engoli em seco.

"Do que adianta tudo isso, para estragar tudo com vinte minutos de palavras acusadoras?"

Ele me encarou longamente e de repente me deu um forte abraço, quase arrancando o ar em meus pulmões.

"Me perdoa..."

"Para você me magoar de novo?" Ele se afastou e eu procurei em seus olhos alguma coisa. Somente encontrei... Tristeza. Aquilo me mordeu o coração.

"Me dá mais uma chance."

Eu pensei... Eu juro que pensei, porém... A decisão já estava tomada, e eu não podia voltar atrás.

"Não..."

"Bella." Ele me abraçou forte de novo como que não querendo que eu escapasse dali. Eu não retribuí seu abraço, nem tentei impedi-lo. Só fiquei ali, parada, estática, feito uma pedra, fechando os olhos e tentando controlar as lágrimas.

Depois do que pareceu uma eternidade, seus braços se afrouxaram e ele procurou entender minha expressão.

As lágrimas que poderiam cair agora, não caíram, porque eu já tinha as eliminado durante as intermináveis primeiras noites depois do 'grand finale'.

"Por favor..." Ele pediu novamente formando o pequeno beicinho que me dava vontade de apertar. Eu fechei os olhos e respirei fundo.

"Deus sabe quantas vezes eu já sofri por você, Edward." Foi tudo o que eu respondi, antes de me virar e abrir espaço entre a multidão. Mas não cheguei a dar dois passos, quando ouvi sua voz alta e estridente.

"EU ACREDITO QUE VOCÊ ESTEJA ESPERANDO UM FILHO MEU, BELLA."

Eu parei no meu lugar, minhas mãos se fechando em punhos contra meu corpo, e me virei lentamente para olhá-lo.

"O quê?" Perguntei em um sussurro. Ele tentou se aproximar, mas uma barreira de pessoas nos impedia.

"EU ACREDITO!" Li as palavras em sua boca. Ele tentou abrir caminho entre as pessoas, mas não conseguira, enquanto isso eu procurava em minha mente alguma coisa útil para fazer ou para falar.

De repente senti braços em meu ombro, e depois de me recuperar do susto momentâneo, vi Jake me olhando preocupado.

"Está bem?" Assenti notando pela primeira vez que eu estava suando.

"Bella..." Edward tentou me chamar, e eu tentei chegar até ele em uma atitude frustrada, eu queria perguntar 'o que isso vai mudar as coisas afinal? Você não acreditou em mim!', mas a barreira humana havia aumentado furiosamente e eu só conseguia distinguir seus cabelos dourados na multidão.

Um lado de meu ser queria ir até ele e dizer que eu dava seu perdão e que ficaríamos felizes juntos, mas outro achava que não era melhor coisa a se fazer.

"Mas olha só minha gente... Acabamos de saber que uma presença ilustre está aqui hoje..."

"EDWARD!" Tentei gritar, mas já nem o via mais.

"É o padre Edward!"

Logo houve vários assovios, e aplausos. Edward como padre jovem era muito bem recebido, mas também não TANTO assim que as pessoas parassem de dançar por sua causa.

Alguém o empurrou para o palco e eu o encarei longamente. Seu olhar procurava alguém no meio da multidão, e de repente recaiu sobre uma mulher e um homem parados no meio de pessoas dançando e se misturando.

Seus olhos me encararam suplicantes e sua boca murmurou um "Bella..."

Senti a mão de Jake no meu ombro, e dei um meio sorriso para ele, enquanto enxugava meus olhos com a manga da camisa.

"Você está bem?" Ele perguntou de novo.

"Estou." Fiquei de costas para o palco e pisquei várias vezes a fim de controlar as possíveis lágrimas. Eu não deixaria Jake me ver chorando por Edward. Não deixaria. "Vamos embora...?"

"Tem certeza?"

Assenti, ele suspirou, e colocando seu casaco em volta dos meus ombros, me guiou rumo á saída.

Eu lancei uma última olhada para o palco onde o locutor bêbado pedia para Edward dançar um funk, e encontrei seu olhar nos seguindo.

Fechei os olhos e os abri novamente, e me virei.

Sorri para Jake e continuei andando a passos firmes.

Eu tinha plena consciência que aquela era a segunda vez que eu virava as costas para Edward.

Mil pensamentos vinham em minha mente e a única coisa que eu queria consolidar era a parte de ir para o ponto mais alto do Rockfeller Center e me jogar de lá.

Por que... Vou te contar vida mais complicada do que a minha realmente não tinha.

Não era a toa que eu tinha uma Lei com meu nome, também não era a toa que eu fazia até parte dos Azarados Anônimos Celestial, nem a toa que eu era sem teto, morava em casa de favor dos psedos-ex-sogros, era uma desemprega, uma mal amada, e daqui a pouco até a Sky roubariam de mim.

"Ei, Bella... Não esquenta não... Isso faz mal para o bebê." Jake se deu a apresentar ao meu lado. Ele dirigia silenciosamente e eu não gostava daquilo. Ficar só com os pensamentos problemáticos na cabeça não era algo bom. Eu precisava me distrair.

"Está tudo bem... Eu sinto que o bebê puxou a mãe. É forte."

"Tenho certeza que sim..." Ele disse mordendo os lábios.

"Aconteceu alguma coisa Jake?"

"Não, nada." Ele desconversou.

Como ainda estava cedo, nós fomos até uma pequena lanchonete para comermos qualquer coisa de super engordativa que tinha lá.

Jake conseguiu a façanha de me fazer rir, embora mais de desgraça do que qualquer outra coisa.

A noite se passou voando, e eu tentava ao máximo tirar Edward de minha cabeça, e seu olhar e sua voz pedindo perdão, mais uma chance e dizendo que acreditava que eu estava esperando um filho.

Logo estávamos no carro novamente e na frente da casa dos Cullens, Jake se virou e me encarou lentamente, observando calmamente minha expressão.

"Bella, essa não foi nem a maneira que eu planejei, nem o modo como eu queria fazer... Mas eu sinto que é necessário..." Ele mordeu os lábios.

"O que foi?" Analisei sua expressão compenetrada. Um vinco divertido se formava no meio de sua testa, e eu logo tratei de tirá-lo.

"É... Bem... É..."

"Desembucha homem." Apressei. Afinal, eu precisava ir ao banheiro!

Ele respirou fundo várias vezes, se endireitou no banco inúmeras vezes, até que finalmente seus olhos encontraram os meus novamente, e ele falou tudo de uma vez:

"Bella, você quer CASAR COMIGO?"