A Infiltrada 2 - Capítulo 08: Guerra & Paz

O general Cullen estava sentado em uma poltrona de frente a janela, observando com uma mão acariciando o queixo e uma perna cruzada sobre a outra, um bando de crianças, que depois da guerra de neve, haviam se habilitado a construir bonecos do mesmo material.

A sala onde se encontrava sozinho era aconchegante e trazia vários resquícios de passagem infantil, que Edward logo tratou de chutar para fora de seu caminho conforme se dirigia a poltrona onde se sentava como se fosse um rei. O ruído do rádio era minimamente perceptível no ambiente, destruindo quaisquer tentativas do som natalino influenciar seu ânimo.

Há alguns poucos minutos, uma precipitação mais forte de neve havia feito que, momentaneamente, todos tivessem que se recolher dentro do orfanato ou na parte coberta do jardim. Mas durou pouco tempo, e logo todos voltaram, com ainda mais neve para mexer.

Uma mulher vestida de freira estava entre eles, e todo o foco da visão do militar estava nela. E de repente, como que pressentindo que estava sendo observada, a cabeça dela se ergueu e os olhares se encontraram, só para logo ela desviar seus olhos com uma expressão dura no rosto. Como resposta, o generalíssimo rosnou e fechou os olhos por alguns segundos.

“Trouxe algo para você beber, querido.” Mary se aproximou, trazendo consigo uma bandeja com chocolate quente fumegante. Seus olhos se abriram repentinamente, mas ele nem sequer deu-se ao trabalho de mostrar que notara a presença dela ou a ouvira, tamanha era sua compenetração, novamente, na paisagem que a janela mostrava.

A freira suspirou e colocou a bandeja em uma mesinha ali perto, seguindo a linha de visão de quem considerava como filho. Ao notar um monte de crianças brincando mesmo na grande profusão de neve, uma noviça segurando uma garotinha que chorava, e Bella sendo perseguida por garotos que queriam soterrá-la, pôde mais ou menos decifrar o que tanto chamava a atenção do homem.

“Já liberaram a estrada?” Perguntou, subitamente, quase fazendo a freira pular.

“Ainda não. Liguei para o serviço, e eles disseram que vão vir daqui umas duas horas.”

Nem foi preciso ler pensamentos para saber que o general xingava um monte de gente de incompetente.

Mary suspirou. “Você sabe que eu não quero interferir na sua vida, mas... Quando nós estávamos tendo aquela conversa na cozinha... Depois do que você falou e Bella ouviu... Isso fez com que algo acontecesse entre vocês? É por isso que está assim?”

“E desde quando alguma coisa que me acontecesse que envolvesse ela me influenciaria?” Respondeu cortante, não se preocupando com os sentimentos alheios. Os ombros da anciã caíram e ela suspirou, ajustando as pregas da saia de forma triste. Acabou desistindo e virou-se de volta para a cozinha.

O general ouviu os passos se distanciando e concluiu que o melhor que as pessoas faziam era deixá-lo por si só. Aquela idéia ridícula de tentar concebê-lo como o poço de virtude que não era, de tentar fazer com que se envolvesse com as pessoas só faziam as coisas piores.

Tudo parecia bem até pouco tempo. Tinha até que admitir, de forma relutante, que estivesse se divertindo naquele natal. Mas então... Claro, algo teria que acontecer.

Se tinha a porra de alguma certeza naquele momento era que nunca deveria ter ido ao orfanato naquele feriado. Deveria ter feito exatamente igual aos outros anos. Em um bordel. Bebendo. E simplesmente tentando não pensar que dentro de poucos dias mais um ano de sua vida sem sentido começaria, e que por fora teria que demonstrar que tudo estava bem e comandar uma das maiores organizações do país, quando por dentro, um verdadeiro buraco inóspito se formava.

Aquele ano mudara tudo. Sempre tivera a concepção que não deveria se deixar prender pelas pessoas, pois isso só limitava. Mas então olhou para seu novato, e percebeu que com ela estava fazendo justamente o que nunca jurou fazer... Prender-se.

Rosnou novamente e quase foi caçar a pá para limpar a estrada nem que para isso tivesse que ir ao inferno, ignorando o trabalho pesado e a chegada dentro de duas horas do serviço da cidade. Queria mais que tudo sair daquela porra de lugar e deixar o novato ás moscas... Queria simplesmente ser o que sempre fora, e deixar de ser tão... Idiota.

Mas não... Tinha que permanecer ali, pois estava preso naquela porra de lugar. Era ironia do destino? Era ira divina? Era o raio que o partisse? Mas que porra! Poderia até prometer pegar mais leve com os novatos do próximo ano se pudesse ir embora dali.

Quando seu olhar recaiu mais uma vez no motivo da maioria de suas perturbações, ajustou-se melhor na poltrona, arrumando sua postura de forma mais altiva ainda. Ergueu o queixo e tentou se convencer que não estava ligando pra aquela merda... E ficou repetindo e repetindo em sua mente, como um mantra.

Acabou pegando a xícara que Mary deixara e bebericou um pouco da bebida, só para largá-la de lado logo depois e levantar-se em um ímpeto. Cruzou a sala aconchegante, e decidido a não ficar ali que nem um velho inválido, saiu do orfanato e encarou as ruas obstruídas pela neve.

Compenetrado, o general começou a se deslocar pelas ruas vazias ladeadas pelas casas decoradas com enfeites natalinos e mesmo o vento frio não o impediu de lembrar os eventos recentes que desencadearam sua situação atual.

Primeiro, tivera aquela aposta com o novato em que os dois disputavam quem conseguiria dominar mais as crianças. Ele conseguira claro, e depois todos entraram em uma guerra de neve descontrolada, onde levou a Alfa I para trás da árvore e a beijara como nunca antes beijara nenhuma outra mulher.

No jardim do orfanato havia uma região central, onde as crianças brincavam; um caramanchão em uma região mais afastada e uma série de árvores agrupadas bem juntas. Estas davam uma boa proteção de olhares curiosos, e mesmo que um vento frio balançasse as vestes deles – seu sobretudo preto que gritava “produto caro”, e o hábito da criminosa –estavam confortáveis ali.

Confortáveis... Bem, aquela não era lá a palavra que usaria para descrever como se sentia quando estava com o novato. Na verdade, se sentia a porra de um condenado e confuso, mas não vinha ao caso.

Os dois meio que se perdiam quando estavam juntos, e ele se lembrava de Bella ter sussurrado em meio aos beijos que alguém poderia os ver, e como resposta ele somente olhou-a fundo nos olhos e mandou-a calar a boca, com sua própria é claro.

Ele nunca poderia imaginar que seriam pegos. Afinal as árvores ficavam na área mais afastada do jardim, e as crianças estavam ocupadas com a guerra que ele iniciara. Para quê eles iriam se embrenhar onde eles estavam?

A grande questão era que estavam lá curtindo tudo, quando de alguma forma, surgida da porra de lugar nenhum, uma voz infantil os surpreendera. E esta voz era de ninguém mais ninguém menos que Tony.

Só de lembrar que aquilo acontecera deixava o humor do general mil vezes pior. Se isso era possível.

“Ohmeudeus!” Bella exclamara com a boca ainda grudada na do general. Soltara-se do homem como se tivesse levado um choque, e com os olhos arregalados e a respiração arfante, olhara por cima do ombro do último e engolira em seco, enxergando o menino que parecia chocado demais com a cena que se desenrolava bem na frente de seus olhos.

“Oh... Meu... Deus...”

“Tony, hey...” Começara a criminosa sentindo a cor sumir de seu rosto. Diabos! Porque nenhum dos dois percebera a aproximação do pivete? O homem que por acaso estava beijando não era a porra de um militar acostumado a diagnosticar barulhos quase inaudíveis?

O general, por sua vez, não estava conseguindo crer que fora pego de surpresa por alguém tão abaixo de sua hierarquia. Murmurou um “porra de crianças”, quando na verdade estava querendo dizer “porra de novato”, afinal, se o menino não tivesse denunciado sua presença, teriam percebido que ele estava ali?

Quão distraído e longe do mundo ficava quando estava com ela?

Com aqueles pensamentos martelando em sua cabeça, rapidamente deu uma olhada ao redor procurando por outros seres menores que um metro e cinqüenta, porque bem sabia que de onde vinha uma peste, vinham outras; e ao não achar ninguém, lançou uma olhada significativa para seu novato que ainda estava toda afogueada pelo beijo recém-trocado entre eles. Ela sustentou seu olhar por cima da cabeça do menino, e não era preciso ser sensível a sentimentos humanos para notar a avalanche de apreensão contida ali.

De modo estranho, era ele quem se sentia mais preocupado pela situação, porque sabia que se estavam ali, para começo de conversa, era por culpa sua. Primeiro por tê-la levado ali, segundo por se perder tanto quando estava com ela.

A estranheza de tudo se dava por estar se importando! Mas que porra!

Por fim, o garotinho piscou os olhos diversas vezes, vendo, se assim, inutilmente, as coisas se dissipassem e tudo não passasse de uma alucinação. Mas nada fora embora. A imagem dos dois adultos ali continuava... E também o que eles estavam fazendo quando chegara.

Sua mente tentava processar tudo aquilo, porque mesmo uma criança de oito anos poderia codificar que o que eles faziam era errado.

“Bella... General... Vocês... Ai meu pai...” Se fosse qualquer outra pessoa tudo bem... Quando ele escutara alguns barulhos estranhos enquanto se escondia atrás das árvores de algumas bolas de neve, achou que encontraria ladrões ou algo engraçado. Mas nada o preparara para ver os dois, que achava que se odiavam se agarrando tão... Ferozmente.

“Hey, querido, não é nada disso que você está pensando.” Bella dissera limpando a boca com as costas da mão. “Eu posso explicar.” Assim que falara aquelas palavras se achara uma idiota. Geralmente não ficaria naquele estado sendo pega no fraga por um pivete dando “uns pega” em um homem gostoso. Afinal, era solteira, livre, desimpedida, e não devia nada a ninguém. Ok... Talvez ao governo de uns cinco países, mas era melhor deixar de lado.

Já até estava vendo toda a cena se desenrolar bem na frente de seus olhos. Tony contaria para todos, e então descobririam que era uma farsa. Na melhor das hipóteses só seria expulsa do orfanato, na pior, iria direto para a solitária da NSA.

“Vocês estavam se beijando.” Dissera, sussurrando, e ambos quase conseguiram ver as engrenagens rodando em seu cérebro. “Vocês estavam...” Olhara para o general. “Estavam...” Olhara para Bella dentro de seu hábito de freira. “SE BEIJANDO!” Gritara, por fim, parecendo em choque.

“Cala a boca, moleque!” O general rosnara indo até ele e cobrindo sua boca com uma mão. O garoto começou a espernear nos braços do homem, querendo se safar. A impressão que dava era que queria correr e contar aos outros, e o coração acelerado de Bella advertia-a que talvez aquele fosse seu fim.

Olhando ao redor e percebendo que o som da voz de Tony não atraíra ninguém, agachou-se ficando na altura do garoto, pegou em suas mãos que estavam mexendo freneticamente, segurando-as, e sussurrara: “Por favor, Tony... Fique quieto.”

Ele negou com a cabeça, ainda querendo se safar, mas o aperto do general era forte. Claramente ele havia somado dois mais dois e percebido o quão errado aquilo era. Não poderia o culpar. Morava em um orfanato de freiras e era ensinado na fé católica, era lógico que sabia que noviças muito menos freiras poderiam se envolver com homens no sentido que eles estavam... Huh... Se envolvendo.

Bella ergueu o olhar para Edward perdida. O que fariam com o garoto? Mas que merda também! Por que ele tinha justo que aparecer ali? Não havia outros lugares melhores para freqüentar, porra?

Por fim, suspirou, sentindo um frio percorrer todo seu corpo. “Nós podemos explicar Tony... Se você prometer ficar quieto, a gente te solta.”

O garoto ainda praguejava nas mãos do belicoso e tentava se soltar, parecendo mais uma verdadeira galinha fugindo do abate, porém, como era de se esperar, nem conseguira fazer cócegas no militar que só mandava em tropas inteiras.

“Você vai ficar quieto?” Bella insistiu. Por fim o garoto desistiu e assentiu com os olhinhos arregalados por cima da mão que tampava sua boca.

Depois de um tempo de hesitação, Bella fez um sinal para que o general o soltasse. Este olhara feio claramente perguntando “quem achava que era para dizer a ele o que fazer?”, mas no final acabara soltando o pequeno infrator, ficando á postos caso tentasse fugir ou gritar ainda mais.

Tony respirou fundo e fez um gesto com a mão, como se pedisse um tempo para respirar. Então, concluíra em tom de acusação de novo, em voz baixa:

“Vocês estavam mesmo se beijando! Eu vi! E isso é errado! Isso é muuuuito errado! É feio! O padre Andrew nos disse...”

“Esqueça o que o padre Andrew falou.” Bella cortou. “Nós não estávamos nos beijando.”

“Claro que estavam. Eu vi!” Como que para enfatizar, ele levou dois dedos em direção aos seus olhos.

“Não é bem assim...”

“Então faziam o quê?” Inquiriu.

“Estávamos... Estávamos...” Sem explicações, olhara novamente para Edward que estava com as mãos cerradas em punhos. Uma veia saltava perigosamente em sua testa e o músculo de seu maxilar saltava, mostrando claramente aquele semblante que poderia muito bem trazer em escarlate “PERIGO. SE AFASTE.”

E agora? O que dizer ao pivete? Tentou falar com ele pelo olhar, avisando que era melhor controlar sua ira, senão tudo piorava. Poderiam enganá-lo, não era? Ele mandava em uma das maiores agências de segurança do mundo... Ela era a Alfa I dos EUA... E ele era um garoto de nove anos!

“Estávamos...”

“Estávamos fazendo algo que sua baixa hierarquia nunca poderá conhecer pivete. Vê se te enxerga, e pára te fazer suposições... Ou se não...”

“Estávamos brigando!” A ex-infiltrada cortara o general que já estava começando a explodir. O último bufara ao ser interrompido e começou a andar impaciente pelo terreno. Odiava aquela situação em que se encontravam... Pois não havia nenhum caminho pelo qual se safar.

A parte do brigando não era realmente uma mentira. Os dois não brigavam sempre? A questão era que naquele momento quem realmente brigava eram as línguas deles... Mas isso não precisava especificar, não é?

“Vocês acham que eu tenho o quê? Dois anos? Eu sei o que vocês estavam fazendo! E devem uma explicação.”

“E desde quando eu tenho que dar a porra de uma explicação a alguém?” O general cuspira, irritado. “Ainda mais a uma criança?”

“Vocês estavam se beijando!”

“Você nem sabe o que é isso, moleque.” O general rosnara. Quais eram as probabilidades de uma criança de oito anos saber sequer como fora feito?

“Sei sim! Eu e Marcie nos beijamos de vez em quando, embora eu não coloque a mão na bunda dela, mas vou testar da próxima vez.”

“Mary sabe disso?” Bella arregalara os olhos.

“E eu e ela nos beijamos, porque nos gostamos. É isso, não é? Vocês se gostam?”

“NÃO!” Os dois berraram ao mesmo tempo e trocaram um rápido olhar pela intensidade da negativa.

“Então por que vocês se beijam?” Tony perguntara no átimo. Controlando a vontade de estrangular o pequeno delinqüente, Bella indagou-se por que crianças tinham a tendência de serem tão curiosas, mesmo? Por que ninguém dava a porra de um livro a elas dizendo por que as pessoas geralmente trocavam salivas?

“Por que...” Começara, mas não conseguira terminar a frase. Diabos! No final quem precisava do maldito livro era ela, pois também não fazia idéia do por que os ósculos do general. Tá certo que já confessara a si mesma que se sentia atraída por ele... Mas e daí? Havia algo a mais, sabia... Só que não conseguia entender o quê. “Por que...” Então olhara para o general e percebera que este estava com uma sobrancelha arqueada, claramente desafiando-a a responder aquela pergunta.

Ela bufou. “Afinal porque você pergunta pra mim? Olha o general ali!”

O homem rosnou, enquanto a olhava. Os dois estavam separados por Tony que à medida que iam falando ia girando a cabeça. E ele lá sabia a porra de resposta? E ele lá sabia se sequer existia uma resposta? Mas se houvesse, não era da boca dele que queria ouvir.

Então, arqueando as sobrancelhas de modo provocador, foi cavalheiro pela primeira vez em toda sua vida, dizendo: “Primeiro as damas.” O que, claro, ganhou um belo revirar de olhos de sua futura mulher, que murchando os ombros, voltara-se para Tony e dissera mais uma vez:

“Olha, nós não estávamos nos beijando.” Tentou fazer uma carinha de cachorro encontrando o general na rua, a fim de convencê-lo, mas pareceu que não dera certo.

“Pelo amor de Deus!” Ele erguera os braços para o ar, em desalento. “Eu já disse que não tenho cinco anos! Vocês estavam se beijando sim, e eu vi com esses olhos que os micróbios irão comer. E isso é errado... Porque você é uma freira. E se vocês não tivessem se beijando, ou fazendo nada errado, porque não me deixam ir embora?”

Aquelas palavras fizeram com que o general caminhasse alguns passos e espiasse o movimento do jardim, vendo se as outras crianças estavam fora de vista. Ao notar que estavam ocupadas correndo uma atrás das outras, concluiu que poderiam se livrar rapidamente do corpo do garoto.

Fora como se a criminosa soubesse da raiz de seus pensamentos, pois o olhara negando com a cabeça. Sibilou que “tomaria conta do assunto”, mesmo que sua paciência já estivesse se esgotando. O homem respondeu com um rolar de olhos.

“Tony...” Começara ela, apertando o maxilar. “Olha aqui...”

“Vocês não vão me enganar.” Ele gritava. “Eu vi, eu sei! Vocês estavam sim! E eu vou contar tudo para Mary, e para todo mundo... Que vocês estavam se beijando, e que vocês não querem me contar o porquê! Porque todo mundo tem um motivo para se beijar, e eu tenho o direito de saber!”

Bella já estava pronta para falar para o general pegar os braços, que ela pegava as pernas, quando este derrubava um galho no chão com intensa raiva e disparava, se dirigindo ao garoto. “Olha aqui, porra, você é surdo, retardado, demente ou o quê? Qual a porra da parte da história que você não entendeu?”

A ex-infiltrada percebera que os lábios do garoto tremeram ligeiramente com a reprimenda do bruto e sentira seu coração amolecer um pouco. Ele recuara da região onde o general estava, e Bella não o culpou. Faria o mesmo nas atuais circunstâncias.

“Ei, não precisamos disso, pessoal.” Tentou acalmar os ânimos. “Tony ouça...” Ajoelhou-se na frente dele e pegou em suas mãos. “É verdade... A gente tava mesmo se beijando, mas olha... Isso foi um erro... Uma coisa de momento entende... Não há motivo algum para você contar pra ninguém...”

“Tá vendo, eu sabia que vocês estavam se beijando!”

“Eu vou bater nesse moleque.” O general rosnara fechando os punhos.

Bella lançara-lhe um olhar chamuscado. Voltara-se então para Tony. Sentia o instinto maternal tomar conta de si e respirava fundo tentando encarnar sua mãe interior.

“Tony olha... Se você contar alguma coisa, eles vão me expulsar daqui.” Sabia que Mary não era um problema, afinal a anciã sabia que não era freira e que supostamente tinha algo com o generalíssimo. Mas se a história chegasse ao ouvido de outras pessoas, nem Mary poderia fazer alguma coisa para reverter à situação.

“Expulsar?” Os olhos do garoto estreitaram em dúvida.

Bella assentira e suspirara. “Sim. Eu sou...” Engoliu em seco. “Uma freira e não deveria estar beijando nenhum homem. Mas hoje foi só...” Suspirou. “Um erro, e não acho que você queira-me ver expulsa daqui, não é? Afinal, isso não vai voltar a acontecer. Todo mundo comete erros na vida, não é?”

O garoto pensou um pouco, claramente medindo toda a situação. Aquilo era muito estranho para ele, mas ele gostava de Bella, e não queria ela longe dali. Por fim, decidiu deixar sua “moral” de lado e aceitar. Mas sua mente infantil ainda buscava por motivos, e sabia que as pessoas não beijavam sem propósito.

Por fim, levantou os olhos e sussurrou. “Tudo bem... Eu não conto para ninguém...”

Bella soltou o ar que só percebera naquele momento que estava soltando, em alívio. Então tudo se resolveria então. Não tinham mais com o que se preocupar.

Então o menino disparou: “Mas só se vocês confessarem que se gostam!”

Aquilo fora o máximo que o generalíssimo poderia agüentar. Antes mesmo que Bella pudesse ter uma reação, o general já se aproximara e latia contra o menino: “Olha aqui, seu moleque. Não vou aturar porra nenhuma de quem ainda nem saiu das fraldas. O negócio é o seguinte, se você contar alguma coisa, você vai sofrer a porra das conseqüências!”

“General!” Bella tentara impedi-lo de continuar, vendo que o garoto se encolhera em medo, mas ele não se interrompera.

“Se por acaso contar alguma coisa, pode ter certeza de que eu falo com Mary e você vai ser expulso do orfanato e mandado de volta para o lugar de onde veio!”

“Você não pode fazer isso.” Ele dissera, mas o tom de dúvida estava implícito em sua voz.

“Posso sim, e como! Você quer realmente apostar comigo, seu subalterno?”

Os olhos de Tony umedeceram e Bella logo se apressara: “Hey, Tony... Isso não é verdade...” Mas o garoto não parecia ouvir. Ele assentira, e antes que qualquer pessoa pudesse fazer alguma coisa, ele girara nos calcanhares e saíra correndo dali.

Com o coração na mão, a criminosa observara-o partir. Estava um pouco surpresa... Ok que de cada cem pessoas, noventa e nove tinham medo do general. E Tony era uma criança. Mas ele parecia tão forte...

“Pronto. Caso resolvido.” O general comentara de forma impessoal.

“Não acredito que você fez isso!” Bella disparara, virando-se para o homem. “Ele já ia concordar em não falar nada.”

“Ele não ia.” O homem retrucara, parecendo impaciente.

“Ele é só uma criança, pelo amor de Deus! Ele não tem culpa que você me agarrou atrás da árvore e ele viu!”

“Você queria o quê? Que ele espalhasse para todos que a freira estava beijando por aí? Você seria a principal prejudicada aqui, caso você não se lembre.”

“Eu sei. Mas não precisava mordê-lo daquele jeito também.”

“Está me chamando de cachorro?”

Bella rolara os olhos. “Agora ele deve estar chorando em algum lugar por sua causa!”

“E eu estou realmente preocupado com isso, por que...?”

“Era só a gente ter falado o que ele queria e pronto! Ele teria ido embora!”

“E desde quando eu faço o que a porra do que um moleque manda?”

Bella suspirara, pesadamente. Não acreditava que aquilo estivesse acontecendo. Parecera tão bom o dia até aquele momento. Passara a manhã brincando com as crianças, vendo os presentes, e até mesmo o general fizera parte e contribuíra para a felicidade do dia. Então Tony os pegara no fraga e o general era um cavalo com o pobre garoto.

“O modo de tratar as pessoas não se resume apenas apelando para a violência e ameaças! Ser gentil e educado de vez em quando ajuda.”

“Ah claro, foi desse modo que você conseguiu fugir da NSA, não?” Cutucou.

Bella engoliu em seco e desviou o olhar. “E outra...” O generalíssimo se aproximara lentamente dela. “Deixa eu te contar um segredo, novato...” Ele levantou uma mão até seu queixo, arqueando uma sobrancelha e falando zombeteiramente. “Gentis e educados não crescem na vida.”

Tentara ignorar que ainda se lembrava perfeitamente do beijo de minutos antes. De como se sentira perfeitamente quente ao lado dele... Completa. Plena. E feliz.

Engolira em seco e desviara o olhar. Não adiantava brigar com ele. O que estava feito, estava feito. Sabia que o general havia feito aquilo para protegê-la, do jeito dele é claro. Agora tudo o que restava era de uma maneira para contornar toda a situação. Já estava aprendendo a conviver com o jeito dele, e não adiantava chorar sobre as informações vazadas.

Com um suspiro voltou o véu para a cabeça, e ajustou suas vestes. “Eu vou dar um jeito de acalmá-lo, antes que ele conte alguma coisa.”

“Ele não vai contar.”

Bella sabia que ele não iria, e era justamente por esse motivo que estava indo atrás dele. Virou-se sobre o ombro e olhou fundo nos olhos daquele que a deixava totalmente sem rumo. “O mundo realmente não precisa de outra criança perturbada, general.”

Ele não dissera nada enquanto a viu se afastar.

O general, no tempo presente, soltou um som irônico ao ser recordar daquela cena. Ele a protegia, e ela ainda ficava brava com ele e jogava coisas na sua cara? Não importavam os métodos pelos quais tinha chegado ao seu objetivo, o importante era que chegara. Nada poderia tirar aquele pensamento que o treinamento militar tinha tão duramente colocado nele.

Andando pelas ruas vazias, com as mãos nos bolsos, o general parecia um rei desfilando em seu reino, embora nenhum súdito estivesse presente. Um rei nunca perdia a majestade, não era o que o ditado dizia? Mas aquela visão do homem andando confiante, com sua postura extremamente reta e o queixo altivo contrastava muito com seu interior deturpado.

Parecia ridículo que alguém tão solitário – tanto mental quanto fisicamente – se desse ao trabalho de querer mostrar domínio quando não tinha ninguém ao redor para se convencer... Mas a verdade era que a máscara estava tão fortemente imprensada naquele homem, que era difícil – se não impossível – retirá-la.

Até o incidente com Tony, tudo estava até relativamente bem. Ele entrara no orfanato e da janela ficara observando as cenas que se desenrolavam. A criminosa havia levado Tony para um canto e começara a conversar com ele, e o belicoso podia perceber as características corporais de quando ela tentava convencer alguém de algo.

Estava lá perdido em pensamentos ainda observando os dois conversando, quando ouvira o barulho no assoalho e virara-se para encontrar um par de olhos azuis vívidos e sorridentes. “Aí está você.”

Ele voltara seu olhar para a janela, não evitando ficar tensionado com a presença de Mary ao seu lado. Aquela mulher fora o mais próxima de mãe que jamais tivera, mas mesmo assim foram longos anos aparecendo quase nunca, tratando como se não fosse importante para ele. Mas era. A única que verdadeiramente acreditava que ele fosse algo que na verdade não era. Não duvidava de que para ela ainda era um garoto perdido, mesmo que de garoto não tivesse definitivamente nada.

Uma mão subira em seu ombro, apertando em sinal de conforto e presença. Ele respirara fundo e relaxara depois de algum tempo.

“Foi muito legal o que você fez por eles.” Ela comentara. “Meio violento... E alguns se machucaram...”

“Ninguém morreu.”

Ela dera um sorrisinho de lado. “É, ainda estão vivos.” Ficara com o olhar perdido por um tempo, até dar de ombros. “Às vezes me pergunto como alguns deles ainda estão aqui, sabe? Quando lá fora alguns deles sofriam riscos de morte todos os dias. São pequenos sobreviventes, isso sim.”

Ela seguira a linha de visão do militar e sorriu. “Um exemplo por instância é Tony. Ele tem nove anos... É meio sapeca e é meio que líder infantil por aqui, mas é um desses bons exemplos. Ele viu muita coisa.”

O general sabia muito bem sobre o psicológico de crianças que nasciam em orfanatos, mesmo nos mais acolhedores e saudáveis. A maioria era órfã ou abandonada... E sinceramente, ele não sabia qual era o pior. Saber que tudo o que realmente importava nunca mais ia voltar, ou saber que esse tudo existe, mas não te quer?

“O pai era bêbado e a mãe drogada, ela fazia-o se vestir de criança de rua para pedir esmola. Quando ele não trazia, ele apanhava do pai e a mãe o deixava dormir no quintal com os cachorros como punição. No frio, na chuva. Eles não se importavam. Ele chegou a se envolver com algumas más influências, também. A situação durou por um bom tempo, até que um vizinho denunciou á polícia que havia um menino gemendo no quintal. Estava frio, e levaram ele com pneumonia e algumas costelas quebradas para o hospital. Ele tem cicatrizes até hoje.”

O general franzira o cenho enquanto observava o menino que criava um sorriso vacilante no rosto, ainda conversando com a criminosa. Poderia apostar que para animá-lo, ela estava falando mal dele e ironizando-o, como fazia também em sua cara. Pensando bem, talvez aquilo fosse o que mais o irritasse, e também o que mais admirasse. A capacidade de não ter medo, e fazer as mesmas coisas tanto por trás quanto na frente.

Seu novato não tinha o pensamento de só de “falar na cara”, também acreditava que sem poder falar sob as costas não tinha graça, e por isso praticava os dois.

“O caso foi para a justiça, e ele veio para cá. Mas temos sempre que tomar cuidado com a mãe, que de vez em quando aparece querendo o filho. Diz que sente saudades, mas os círculos embaixo dos olhos e os machucados no braço falam mais do que palavras.”

“O orfanato é uma reunião de degenerados.” Por fim comentara com ironia, se referindo a si mesmo.

Mary abanara a cabeça com tristeza e então olhara o homem que era cerca de uma cabeça e meio mais alto.

“Ele sabe quem você é.”

Ele se mostrara imperturbável.

“Eu contei a eles.”

“Não é a isso a que me refiro...” Continuara. “Ele sabe que você já esteve uma vez aqui. Nesses mesmos muros. Nessa mesma situação.”

O general colocara as mãos atrás das costas, inconscientemente em uma posição militar.

“Ele quer ser que nem você.”

“O quê?” Toda a atenção exterior que Edward ainda possuía se extinguira, enquanto olhava para a freira ao seu lado. Suas sobrancelhas quase se uniram em seu rosto, e toda sua face demonstrara uma expressão confusa.

A freira dera de ombros. “Ele um dia quer ser um militar, formado... Bem sucedido. Que comande tropas, que tenha todos obedecendo a suas ordens.” Suspirou. “Sabe, um menino da escola disse á ele que não seria ninguém na vida por viver aqui.”

“E o que ele disse?” Realmente aquelas crianças provocadoras nunca mudavam. Em sua época, comentários daquele tipo eram freqüentes.

“Ele replicou dizendo que você viveu no mesmo orfanato que ele e hoje é um dos melhores homens dos EUA.”

O general ficara desconfortável por um bom tempo. Um nó se formara em sua garganta e ele lentamente virara-se de volta para a janela.

Mary passou a ponta dos dedos no parapeito desta última, afastando um pouco da neve que já começava a derreter naquela região. Deixou alguns minutos de brecha para o homem digerir todas aquelas informações, até comentar:

“Ela é uma boa garota, sabe?”

“Quem?” Ele perguntara depois de um tempo, sabendo exatamente a quem se referia.

“Bella.” Sorrira. “Ela é bem peculiar. Onde você achou uma garota assim?”

“No lixo.” Ele resmungara lutando com um sorriso. A freira arregalara os olhos, mas Edward não estava a fim de explicar a piadinha interna sobre o assunto.

Parecia que a conversa entre Bella e Tony tinha sido bem sucedida. Edward percebera isso só por como os ombros e os braços dela estavam posicionados, em uma posição mais relaxada do que a anterior.

Com um suspiro irritado se perguntou por que mesmo sabia ler até as expressões corporais daquela infeliz?

Pensamentos de sair pela porta do orfanato e nunca mais voltar percorriam com freqüência sua cabeça nos últimos dias. Para fugir de tudo aquilo. Mas por que então não conseguia, porra?

Esfregou a mão nos cabelos, de forma irritada. Estava virando a porra de algum bichinha, e se fosse homem o suficiente já teria chutado o novato e mandado o mundo ir se ferrar. Mas pelo andar da carruagem, talvez tivesse que começar a freqüentar boates gays.

Mary chamou-o para tomar uma xícara de alguma coisa bem quente, já que estava congelando, e ele, querendo fugir um pouco de sua situação, acabara aceitando.

Lá dentro na cozinha, sentara-se na familiar mesa com vários lugares enquanto encarava com ar pensativo a xícara de chá em sua frente. Bebericara um pouco e fizera uma careta repulsiva, afastando o vidro de perto.

“O que colocou aqui dentro? Feno?”

“Tome e não reclame!” Mary resmungara em falso tom de irritação. Sentara-se e tomara seu próprio chá, percebendo que realmente não estava nos melhores sabores.

O general estreitara os olhos para o líquido como que o desafiando a ser amargo em sua boca novamente, quando dera de ombros e continuara a beber, ignorando os protestos do próprio corpo. Não era preciso nem traduzir os pensamentos machistas que percorriam sua mente.

Depois de perguntar trivialidades sobre a NSA, seus colegas de trabalho e toda uma formalidade – recebendo respostas monossílabas, se recebia-, ela encostara-se de melhor forma na cadeira, cruzara as mãos sobre a mesa e olhara-o atenta.

“E então...?”

O general erguera os olhos e arqueara uma sobrancelha.

“E então o quê?”

“Quais são suas intenções com ela?”

Ele quase engasgara com o chá. “Que po... O quê?”

A freira continuara encarando-o com intensidade, enquanto enumerava os tópicos nos dedos. “Você a traz aqui no orfanato. Pede-me para mentir por você até mesmo a Andrew, a coloca sobre um véu mesmo não sendo freira o que é considerado pecado. Dentre outras coisas a mais. Acho que tenho direito de saber quais são suas intenções com ela.”

“Mas que...” Começara, mas foi interrompido.

“Sabe, ela não é uma das garotas que você cai matando, Edward. Não vou permitir que você a magoe, seja quais forem suas intenções. Vê se não estraga tudo!”

“De que inferno você está falando, Mary? Eu não tenho porra nenhuma de intenção!” Nem percebera que falara palavrão na frente da freira, mas esta não se importara.

“Não? E o que ela é para você?”

“Nada! Ninguém!” Ele protestara. Aquele bombardeamento de perguntas deixava-o até meio tonto, e somando com toda a situação recente, respondera da forma mais grosseira e fria o possível: “Se ela é alguma coisa para mim, é um problema. Um problema que eu tenho que resolver. Só isso.”

Fora quando ouvira um pigarro ali perto. Virara a cabeça e encontrara Bella parada na porta com os braços cruzados de encontro ao peito e o rosto fechado. Mas que porra, foi tudo o que ele pensara enquanto se perguntava o que estava acontecendo com a audição dele aquele dia.

Foi como se um vento extremamente gelado tivesse entrado pelas janelas e portas, e a temperatura tivesse caído uns dez graus de uma vez. A tensão era quase tocável no ar, até Bella, com a voz seca, se dirigir á Mary:

“Desculpe atrapalhar a conversa, Mary. Eu só vim dar um recado.”

“Ah, querida. Acabei de fazer um chá. Venha tomar com a gente.” A preocupação estava evidente na voz da irmã, já que sabia que a garota havia ouvido as palavras ásperas do general dirigidas á ela.

“Eu tomo depois.” Respondera de forma seca. “Eu tenho algumas obrigações para fazer ainda.”

“Deixe de bobagem-”

“Eu tenho que voltar e ver Tony, também.” Acrescentara.

“Ele se machucou? Aconteceu alguma coisa?”

“Não, só... Uma briguinha de nada.”

“Não...” Ela se mostrou toda preocupada. “Eu vou checar. Aproveito e coloco um pouco de rédeas neles.” A freira levantara a saia e saíra correndo da cozinha, deixando Bella e o general sozinhos.

A Alfa I, sem mais poder ignorá-lo, olhara friamente para o homem. “Acho que não é mais de seu interesse, mas Tony está bem. E não falará nada. Então não precisa se preocupar.” Acrescentara logo em seguida. “Com mais nada.” Virara-se para ir embora, mas o general a interrompera.

“Que porra você quer dizer com isso?” Inquirira.

Ela respirara fundo e abanara a cabeça, com desdém. “Sabe, você é tão... Hipócrita.”

“Do que você me chamou?” Ele rugira se levantando em um ímpeto e pegando-a pelo braço, com força. Bella desvencilhara-se com um safanão, e encarara-o com ressentimento.

“É hipócrita! Você é hipócrita, general. Você age como se eu tivesse de algum modo te forçado a essa situação, quando na verdade as escolhas de tudo foram feitas por você!” Ela levara as mãos ao ar em frustração. “Você poderia muito bem ter me prendido na NSA, poderia ter me deixado na sarjeta, ou o raio que o parta. Mas você me trouxe para esse orfanato... E agora você tem a coragem de dizer que eu sou um problema, que você tem que resolver?” Cuspira irritada. “Sabe, esse problema aqui pode muito bem ser evitado, se você quiser. Então já que não está satisfeito com essa situação, dê um fora. Eu posso continuar muito bem sozinha sem você.”

“Você só fala merda...”

“Eu estou pouco me fudendo para o que você pensa ou não... Por que você simplesmente não vai embora?” E dizendo essas palavras, virara-lhe as costas e saiu.

O general ficara parado ali na cozinha, sem reação, absorvendo as palavras do novato, o que o confundiram e depois o irritaram muito. O que ele não soubera, era que a infiltrada fora para seu quarto e ficara encarando o fogo, não conseguindo tirar da cabeça a imagem de um homem de olhos verdes tratando-a como se fosse nada, ninguém. Ela não estava só irritada com o general, também estava magoada.

A razão era desconhecida por ela, mas sabia muito bem que ser tratada como um zero a esquerda, um problema... Um estorvo aborreceram-na muito. Quem poderia entender?

No tempo presente, o general reviveu todas aquelas cenas como se houvessem acontecido há anos. A criminosa não queria mais olhar na sua cara... E assim que percebera como estava a situação, a raiva e o orgulho o impeliram a ir embora imediatamente dali, tentando simplesmente ignorar aquilo tudo.

Mas o carro nunca que conseguiria se mover naquele montante de neve que se acumulara na sua pequena estadia, e a única alternativa que restara fora entrar e esperar. O que ele simplesmente odiava.

Mas se perguntava... Mesmo se pudesse, ele realmente iria embora?

Só aqueles fatores eram para deixá-lo muito puto e estavam o deixando mesmo, mas por se importar com eles. No que faria diferença em sua vida um novato a menos, uma criança chateada a mais, uma merda de vida mais merda ainda?

Por que estava lá parado no meio da rua coberta por neve pensando naquilo? Por que sim, ele era a porra de um dos homens mais importantes dos EUA, não precisava que ninguém gostasse dele, não precisava ter nenhum pensamento sobre ninguém...

E foi com aqueles pensamentos na cabeça que teve a primeira visão da casa.

Não fazia muito tempo desde a última vez que ali visitara, mas a sensação era sempre a mesma. Dor, frustração, raiva... Ódio.Não admitia para ninguém, talvez nem sequer a si mesmo, que sempre quando sua concepção de vingança se encontrava abalada, ele dirigia até ali e ficava olhando os escombros – agora cobertos de neve – da casa onde um dia fora feliz.

Saíra do orfanato aparentemente sem rumo, mas seu subconsciente talvez o tivesse levado até ali. Como se estivesse no modo automático... Como se aquele lugar o atraísse.

As lembranças de sua infância antes dos cinco anos não era muito exata, mas ele sabia que havia sido boa. Quando forçava sua mente a lembrar, a imagem que prevalecia era do dia fatídico da morte de seus pais, quando voltava da escola com um desenho da família embaixo do braço, só para encontrar seus pais reduzidos a corpos carbonizados.

Olhando os destroços, era como se tivesse cinco anos novamente. Era como se novamente fosse aquela criança que chegara ao orfanato sem rumo, sem futuro, com um baú italiano na bagagem...

Era como ver a vida inteira passando pelos seus olhos... Enquanto estava ali, parado, com as vestes voando com o vento e flocos de neve enfeitando suas roupas e seus cabelos.

Aproximou-se mais da casa e pegou um pedaço de madeira. Limpou-a da neve e ficou a contemplando se perguntando se objetos poderiam carregar memórias... Ou respostas.

Ele não gostava da sensação de quando estava ali, mas mesmo assim ele ia. Ali, era o lugar onde ele estava vulnerável, aberto, quase como uma criança novamente. Não havia títulos, nem estrelas... Era só ele... E seu interior.

Pensou em todas as coisas que estava fazendo nos últimos anos. De quando entrara no exército, com o coração batendo forte no peito assinalando o começo de uma grande missão. Da subida de cargo... De quando recebera a terceira estrela e o respeito, temor e submissão que ganhara de todos ao seu redor.

“Você está orgulhoso de mim, pai?” Se viu sussurrando para o vento. “Você está?”

Ali perto, um barulho fez com que o general saísse de seus devaneios e erguesse a cabeça, encontrando Bella a não muitos metros dali, com as mãos no bolso do casaco.

Ela engoliu em seco e se sentiu extremamente desconfortável por sua situação... Havia visto o general saindo do orfanato e sabia para onde ele iria. Mas nada a preparara para a cena desoladora que encontrava ali.

Queria mais que tudo correr até aquele homem e fazer algo que o confortasse, mas ainda se lembrava perfeitamente das palavras dele “um problema. Nada mais.”

Ficaram se encarando por algum tempo, naquela conexão estranha que eles tinham, agora manchada pelos acontecimentos recentes. Até que ela limpou a garganta e disse, secamente: “Mary mandou chamá-lo. Os limpadores de estrada já estão chegando.”

O general nada respondera... Na verdade ele só estava lá olhando para ela fixamente. Sentindo-se desconfortável e um tanto vulnerável, quebrou o contato com certa hesitação e começou a virar-se para ir embora, com o vento balançando suas vestes revelando parte da pele de sua panturrilha.

O general estava tão fora de rumo que nem se perturbara tanto com o fato da procurada estar em campo aberto, sem quase nenhuma proteção. Tudo o que podia ver no momento era seu novato com as costas viradas para ele, caminhando na direção oposta a ele.

Para a direção oposta da dele.

Então, naquele momento, o generalíssimo Cullen percebera porque não iria embora mesmo se pudesse. Percebera porque estava se remoendo com assuntos profanos que nunca imaginou se importar.

Porque aquela mulher arrogante e mandona, que não tinha medo de nada, estava fazendo com que ele ficasse preso. Como uma cobra que vai cercando sua vítima de mansinho e apertando, até que chega a um ponto em que não dá mais para voltar. Ele não queria chegar nesse ponto, mas também não conseguia evitar, pois se conseguisse já teria o feito há muito tempo. Diabos! Ele odiava tanto aquela porra! Mais tanto!

Ainda mais por finalmente entender que a direção que desejava que ela estivesse sempre caminhando, fosse a sua.

Então, repentinamente, saiu da inércia que se encontrava, deixando o pedaço de madeira no chão em um baque e correu atrás dela. A criminosa só percebeu toda a movimentação, quando sentiu as mãos dele agarrando-lhe o braço e a puxando para si.

Soltou uma exclamação surpresa quando se viu encarando o homem com os cabelos cor de bronze balançando ao vento, os olhos verdes impenetráveis, e uma expressão totalmente diferente de todas que ela já havia visto nele.

“Pára com isso.” Ele pediu. O som de sua voz irritada se dispersando com o vento. Não queria mais seu novato o ignorando, o deixando de lado como estava fazendo. Seu ser latejava dentro dele pedindo para ele ir embora e fingir que nada estava acontecendo, mas ele não poderia ir. Não mais.

Bella tentou afastar o braço, enquanto sibilava, entre dentes. “Me solta...” Seus olhos não encontravam os dele, talvez porque somente a idéia de encará-lo tão de perto e poder ver novamente o olhar frio não a agradasse nem um pouco.

“Pára com isso, novato.” Ele repetiu, com mais ferocidade na voz.

Bella tentou se livrar, mas ele a impedia. “Me solta...” Murmurou de novo, com raiva.

“Não vou.” Disse, calmamente.

“O que você quer?” Ela exclamou, por fim erguendo o olhar. “Por acaso quer passar um último tempo com seu problema?”

Ele estreitou os olhos. “Eu quero que você pare de agir como a porra de uma criança emburrada. Não vejo motivos para todo esse drama que você vem criando...”

“O quê?” Ela disparou, parecendo incrédula. “Não vê motivos?”

A expressão em seu rosto mostrou que ele realmente não via nada. Bella soltou um som irônico e soltou-se do aperto dele. “Sinceramente...” Disse, por fim. “Sempre soube que homens eram lerdos e insensíveis, mas você é o cúmulo, general.”

O general apertou o maxilar, controlando a vontade de tacar o novato na neve e mostrar quem era insensível. Mas de forma estranha não fez nada disso.

Mesmo que Bella não visse mais a expressão fria nos orbes do belicoso, ela não estava ainda confiante naquela situação. Ficara chateada sim com o general... Poderia aturar muita coisa dele, mas aquelas suas últimas palavras não.

“Então me explique.” O general pediu, por fim, sentindo algo como um soco no estômago infligi-lo. Bella olhou-o incrédula, não realmente acreditando que aquelas palavras saíssem da boca dele.

Quando por fim o choque passou, ela respirou fundo e começou: “Será que você não percebe?” Cuspiu. “A partir do momento em que eu confiei em você naquela sala de controle marítimo na NSA, você é a porra da única coisa que me resta. Meus pais morreram, aqueles com quem eu vivia me traíram... Eu não tenho amigos... Eu não tenho nada...” Suspirou. “A não ser você.”

Ela passou uma mão estressada pelo rosto, até continuar: “Eu realmente não desejaria nem pro meu pior inimigo essa situação, mas cá estou eu, e tenho que me contentar porque é o máximo que eu consigo.” O general percebeu o leve sotaque italiano na fala da criminosa, o que acontecia sempre quando estava nervosa. “Então eu vou naquela porra de cozinha, e ouço você falando que eu sou um problema, um nada... Um zero... Um lixo... Um objeto... Ou o raio que o parta!” Levou as mãos para o ar em frustração. “Sabe, eu posso não ter a melhor ficha do mundo, mas eu ainda tenho sentimentos!”

“Novato...” Ele começou, mas foi interrompido.

“O que você como homem mente limitada não percebe, é que mesmo eu te odiando, você é a única referência que eu tenho! E não se ache sobre isso, senão eu nunca mais em toda minha vida olho na sua cara!”

“Eu realmente ficaria feliz com isso.” O general estava comprimindo um sorriso, e Bella percebeu. Com um bufo de raiva, cerrou um punho e deu um soco no ombro do general. Ele se defendeu, e a criminosa não conseguiu mais atacá-lo.

“Argh! Eu te odeio!” Ela rosnou.

“Calminha, meu problema.” Ele provocou e Bela rugiu, tentando mais uma vez acertá-lo. “Quando eu disse que você era meu problema eu estava falando a mais pura verdade.”

Ela quis se distanciar, mas ele cercou-a com uma mão na cintura, e puxou-a de encontro a si. Então, com a boca roçando o canto de seu olho, sussurrou: “Mas por mais que seja... Eu não quero achar a porra da solução tão cedo.”

A criminosa tentou ignorar o calafrio que se instalou em seu corpo. Tentou ignorar as batidas mais fortes em seu coração. Tentou ignorar toda aquela avalanche de coisas estranhas que aconteceram dentro dela.

Quis se livrar do aperto do homem, mas agora da forma como uma namorada “foge” do namorado. Daquele jeito “estou fazendo charminho, vem me pegar.”

Comprimiu o sorriso que sua boca tentava formar, e ouviu o som rouco da risada do general em sua nuca, que a fez se arrepiar mais ainda. Ele deu uma fungada e Bella tentou controlar uma risada.

“Você é um idiota.” Sussurrara.

“E você é meu novato.” Ele respondera, simplesmente. Como se aquilo definisse tudo.

E definia.

*

Mais no fim daquela noite de natal, quando o general estava se preparando para ir embora vestindo o grande sobretudo que gritava “só militares de alto escalão possuem”, viu pelo canto do olho a figura de um menino que parecia absorvido na imagem do fogo crepitando na lareira.

Olhou ao redor e percebendo que não havia ninguém, se aproximou do garoto até parar em certo ponto, alto, imponente, com as pernas espaçadas e um intenso desconforto.

Quando o garoto não pareceu percebê-lo ali, e ele por vários minutos não soube o que falar, finalmente pigarreou e acrescentou, logo depois:

“Olhar o fogo não dá futuro.”

O garoto pulou de susto e virou-se com uma expressão que se transformou primeiro em temor, depois em mágoa, depois em um desafio mudo. O belicoso até admirou o último sentimento do garoto, e então, querendo acabar logo com aquela porra, disse:

“E nem mesmo ser militar. É...” Ele rolou os olhos. “Uma porra.”

O canto superior do lábio do garoto pareceu tremelear um pouco com o comentário. O general queria ir embora logo e começou a se dirigir para fora da sala, quando se voltou e olhou para Tony.

“Tentar alcançar o que outros alcançaram é coisa de gente fraca. Então, honre a porra da fralda que você usa, pivete, e vá lá fora ser melhor do que muitos que existem por aí.”

Então se virou e começou a se dirigir em direção a porta do orfanato onde se encontrava Mary com um sorriso pesaroso no rosto. Aquele fora a forma do general pedir desculpas ao garoto, do jeito dele é claro. E também a forma de dizer que não era exemplo para ninguém, e que sua vida, suas conquistas, não desejava a ninguém.

Despediu-se de Mary e por cima do ombro encontrou Bella encostada no batente da porta, olhando-o. Um sorrisinho estava formado em sua boca, e o general sabia que ela tinha ouvido a “conversa” com o garoto. Então, ele simplesmente revirou os olhos e logo depois se virava para sair pela noite fria.

*

O sol desbotava lentamente no horizonte, enquanto Bella espiava pela janela as nuances de um novo pôr de Sol. Emitiu um suspiro e começou a se lembrar de alguns ensinamentos de Sócrates. O filosófico grego tinha uma filosofia conhecida como maiêutica, que dizia que a verdade e o real estavam dentro de nós. Através de perguntas que levavam a pessoa a pensar, essa verdade surgiria, como se a pessoa desse a luz. Ok... Talvez não fosse EXATAMENTE daquele jeito a teoria, mas era um começo.

E foi com esses pensamentos filosóficos que sentiu algo esquentando sua mão, e mais e mais... E mais.

“Porra!” Berrou, sem se conter. Sua mão acabara se encostando à panela super quente que estava mexendo e agora doía. Olhou ao redor preocupadamente enquanto entufava a mão em um guardanapo. Não poderia se esquecer que AINDA estava em um orfanato residido e governado por freiras, e aquele tipo de palavreado não deveria ser utilizado muito por ali.

Por fim, aquele pano não estava fazendo nada de útil, e com um suspiro enfiou a mão na água corrente da torneira e suspirou de alívio. Então cheirou algo estranho e só depois de vários segundos percebeu que provinha da panela que mexia.

“Merda.” Teve a consciência de murmurar mais baixo dessa vez, enquanto com a outra mão – não acidentada – tentava desligar o fogo. Antes demorara muito tempo para descobrir como mexer nos botões industriais do fogão, mas conseguira a vitória e ficara muito orgulhosa do feito.

Nem teve coragem de espiar no que virara o cookie. Ou a tentativa de um. Tá certo que na receita não dizia nada de colocar a massa na panela e mexer até ficar consistente, mas quando deu a idéia de mudar as coisas e Mary dissera que não ficaria bom, resolveu provar o contrário.

Bem... Teria dado certo se ela não estivesse pensando na porra de filosóficos gregos defuntos. Mas por que caras que descobriam verdades e pregavam aquelas coisas malucas lembradas séculos depois, não viviam eternamente? Seriam bem úteis. Se Sócrates, Isaac Newton ou o infeliz do Einstein estivessem vivos, eles poderiam ajudá-la em alguma coisa. Sócrates em dar “a luz” ao que estava dentro dela, Newton para... Hm... Explicar as aplicações das leis que nunca conseguira entender, e Einstein bem... O cara era um gênio, deveria lhe dar todas as respostas que precisava, não? Tipo um... Guru? Vidente? Nem que para isso tivesse que seqüestrá-los e mantê-los em cativeiro. Talvez o general Cullen pudesse ajudá-la naquilo.

“Que cheiro é esse?” Ouviu a voz de Mary atrás de si, e tentou inutilmente esconder a panela com o corpo. Meio impossível já que estava com a mão ainda embaixo da torneira.

“Hm... Nada.”

A irmã ignorou e foi se aproximando de Bella. “Escuta, Mary, acho que...” Tentou afastá-la de lá, mas a velhinha safada espiou por cima de seu ombro e sorriu.

“Ah... Mingau. Está com uma cara... Hm...” Franziu a testa procurando alguma palavra adequada.

“Não é mingau.” A criminosa respondeu emburrada.

Mary riu. “Ah, ainda bem.”

Adorava aquela velhinha, mas tinha horas...

Retirando a mão da corrente de água, secou-a no guardanapo e percebeu que a dor já estava indo embora. Nem fora uma queimadura forte ou algo assim, sobreviveria.

Depois de sofrer a humilhação de ver Mary dizer “ah, talvez ainda dê para comer”, levar uma colher da gosma á boca, fazer uma careta e discretamente sugerir que nem os famintos da paróquia comeriam aquilo, se sentou na enorme mesa da cozinha e ficou lá batucando os dedos impacientes no tampo de madeira.

Depois de alguns segundos, Mary, que estava lentamente jogando o conteúdo irrecuperável do “cookie” fora, perguntou:

“Tenho notado você meio estranha esses dias, querida. Principalmente depois do natal. Algum problema?”

Bella levou às mãos a boca e ficou roendo as unhas, nervosamente. Péssimo hábito, mas fazer o quê?

“Absolutamente nenhum.”

“Hm...” A freira comentou naquele tom eu-sei-o-que-você-fez-no-natal-passado. “Aconteceu alguma coisa?”

Aquele era outro jeito de perguntar ‘algum problema’? Quantos jeitos havia?

“Absolutamente... Definitivamente nada.”

A irmã aparentemente desistiu do tópico. Estava ainda mexendo nas coisas da cozinha, naquele jeito ‘conversa casual’. Meio que não enganava mais á ex-infiltrada.

“Bem, ainda temos ingredientes para um cookie. Eu mesmo faço, sabe... Talvez você não tenha vocação para cozinhar.”

A mais jovem crispou os lábios. Sua vontade era de falar o que exatamente tinha vocação. Sabia que eu consigo acertar dois alvos diferentes, com metros de distância entre eles, com um revolver na mão esquerda e uma faca na direita?

Se sabia tudo aquilo, para que cozinhar? Cozinhar era para fracos. Poxa... E ela era medíocre naquilo. Isso a rebaixava a qual nível?

“É.” Respondeu dando de ombros.

“Mas você tem muito jeito com as crianças em compensação. Elas adoram você.”

E também minha ficha criminal, pensou com amargura. Mas espera... Por que estava tão vaca nos últimos dias? Por que estava meio que evitando as pessoas e pensando no infeliz que inventou a roda?

“Acho que sim.”

“Eles estavam me perguntando se Edward vinha para o ano novo. Eles ficaram tão entusiasmados, principalmente os meninos.”

“Se alguém algum dia me dissesse que crianças gostariam de ver o general... Eu iria rir e ainda apostaria toda minha vida que não aconteceria.”

Ela sorriu serenamente. “Sabe, essa é uma das coisas que eu mais gosto dele. Essa capacidade de surpreender. Ele não é previsível.” Chocalhou a cabeça com divertimento. “Nunca pensei que ele traria uma garota para casa, por exemplo.”

Franziu o cenho. “Eu não sou propriamente uma ‘garota’.” No sentido de não ter mais dezesseis anos e nem mesmo estar ali como uma namorada.

A freira deu de ombros e Bella analisou as unhas roídas, com ar perdido.

“Bella...” A freira então se virou para ela e colocou as mãos gentilmente em seu ombro. “Eu queria lhe dizer muito obrigada.”

“Por...?”

“Por ter trago meu menino para casa.” Sorriu calidamente.

“Eu...” Engoliu em seco. “Não fiz nada.”

“Você sabe que sim.”

A reação natural dela seria a falsa modéstia, dizendo ‘oh, não foi nada’, mas por dentro se rejubilando por provar as coisas que fizera. Mas não estava com ânimo para aquilo... Não estava com muito ânimo ultimamente, e Mary estava certa, era desde o natal. Desde que o general havia partido em sua altura e imponência, virando a cabeça por cima do ombro e com seus quentes olhos verdes mandar-lhe fagulhas por todo o corpo.

“Você pode confiar em mim, sabe? Diga-me o que realmente está acontecendo com você.”

Bella quis negar, mudar de assunto ou mesmo fingir uma dor de barriga e sair correndo, mas se surpreendeu quando encolheu os ombros e o rosto desabou em suas mãos.

“É esse o problema!” Fungou. “Eu não posso contar á senhora, porque nem eu mesmo sei!”

Não podia ver Mary, mas se pudesse teria visto o brilho diferente em seus olhos e o sorriso discreto em seus lábios enrugados.

“Sabe... Ouvi em algum lugar que o primeiro passo é admitir. Bem, você admitiu que esteja confusa. Então o próximo passo é dizer o que sente... Talvez eu possa te ajudar.”

Bella abanou a cabeça e levantou o rosto das mãos. Os olhos estavam um pouco injetados e na opinião de Mary, desesperados. Seu coração se apertou com aquela visão.

“Não acredito que a senhora possa entender.”

“Tente.” Replicou com gentileza e firmeza.

Suspirou e esticou as mãos à frente, dobrando-as e se perdendo em pensamentos.

“É sobre Edward?”

Bufou. “Claro que não, por que seria...? Ah, certo!” Desistiu de negar. “Tudo tem envolvido ele ultimamente. Mesmo quando tento fugir, para qualquer lugar que vou, para qualquer lugar que olho...” Fez um gesto amplo para a cozinha. “Tem ele... É a casa dele... A vida dele, o passado dele. Estou meio de saco cheio disso tudo.” Suspirou. “Olha, não sei como continuar.”

Mary colocou as mãos sobre as suas e disse, calidamente.

“Mas por que isso te aflige tanto?”

A mais jovem levou as mãos para o ar em frustração. “Porque eu não quero pensar nele o tempo todo! Eu não quero imaginar como era aos treze anos, não quero tentar entendê-lo, não quero imaginar quantas meninas ele levou para trás da igreja!”

“E por que você acha que isso acontece?”

“Por que...” Mordeu os lábios e olhou pela janela. Estava começando a desconfiar que preferisse mil vezes fugir da NSA, do que encarar toda aquela anarquia dentro de si. “Não faço a mínima idéia.”

“O que você sente por ele?”

“Eu...” Engoliu em seco. Mas o que raios estava fazendo? Estava contando tudo para uma mulher que conhecia a duas semanas, que amava o generalíssimo Cullen, e insistia que não era mulher para seu querido filho?

Trancou o maxilar e estava pronta para se despedir e se recolher em seu quarto, mas algo nos olhos daquela senhora fez com que ficasse bem quietinha, e cautelosamente continuasse: “Não sei...” Suspirou e olhou para as mãos. “Eu achava que eu o odiava depois que desprezava então que não ia com a cara... Mas... Bem, eu admito que sinta uma... Pequena, sabe... Quase minúscula atração por ele... Tipo, ele é alto... Forte... Musculoso... Confesso que aquele ar de perigo é excitante e tem uma peg... Deus! Olha o que estou falando!”

“Não se preocupe. Sou uma freira, mas não uma cega.”

Bella meio que se sentia uma corruptora de inocência de freiras também. Mas bem... O general era visto como filho, então não tinha problema.

“Isso é tudo muito confuso para mim, por que... Eu nunca me senti assim antes. O confuso é que tem uma parte da minha mente que me alerta para me afastar dele... Desde o primeiro dia em que o vi notei a áurea de perigo, mas... Cá estou, sabe? Confesso que hoje até gosto do modo arrogante dele e como ele me chama.”

“E como é?”

Enrubesceu. “Ah, é... Nada especial.”

A freira riu.

“Mas o que realmente a vem perturbando desde o natal?”

“Algo vem me perturbando desde que não tive coragem para matá-lo.” Quando falou isso, os olhos da freira se arregalaram e Bella acrescentou. “Hipoteticamente, é claro.”

“Claro.”

“Mas no natal... Inferno, não posso falar disso. Seria como... Como...”

“Admitir?”

“É!” Então se agitou. “Quer dizer, NÃO! Só estou desse jeito, por que... Não quero que isso aconteça! Não quero esperá-lo pro natal... Não quero defendê-lo das palavras ásperas do padre Andrew... Não quero mais ir para trás da... Enfim, não quero mais perder o senso de mim mesma, dos meus pensamentos e de minhas prioridades ao lado dele. Não que ele tenha um grande efeito sobre mim, já disse, é quase microscópico, mas...” Suspirou e olhou para as mãos com os ombros caídos. “Preferia que não tivesse nada.”

Bella estava se abrindo... E a freira sentia que aquilo não era lá muito freqüente. A garota parecia muito abalada nos últimos dias, como se realmente começasse a perceber que algo estava errado, algo que queria sair dela e explodir. Estava tão cansada e chateada de se manter para si, somente, que estava demolindo algumas barreiras. Aquela linda mulher de olhos castanhos em sua frente era mais parecida com Edward do que imaginava.

A freira não sorriu. “Bella... Responda-me algumas perguntas. Da forma mais sincera que conseguir?”

“É...” Hesitou.

“Por favor.”

Acabou assentido. “Eu não estou pedindo para saber de sua vida antes, detalhes... Mas quero saber se... Você alguma vez já teve relacionamento sério com alguém?”

Bella nem teve que pensar nessa. “Não.”

“Já... Se apaixonou por alguém?”

“Não...”

“Já... Ficou do jeito que você está agora?”

“Não.”

“Você acha que amor e casamento são para fracos?”

“Isso é o que o general pensa.” Rolou os olhos.

“Mas e você...?”

Bella encarou seus orbes azuis. “Não...” Suspirou depois de um longo tempo pensando. “Eu acho que amor e casamento são coisas que precisamos almejar.” Não iria comentar que as duas idéias estavam totalmente fora de questão em sua situação e nem seu problema com idades, de jeito nenhum.

Isabella Swan. Quarenta anos. Amargurada, solteira e foragida. Céus, a idéia até lhe causava arrepios.

“Mas o que tudo isso tem haver com toda essa confusão?”

A freira recostou-se melhor na cadeira e apoiou as duas mãos no colo.

“Muita coisa.”

“E essa coisa, seria?” Pressionou quando não vieram maiores esclarecimentos.

“Ah, acho que... Você não está pronta para ouvir ainda.”

“Mas é lógico que estou pronta para ouvir!” Protestou. “Vamos, me conte Mary!”

“Ok.” Sorriu e olhando bem no fundo de seus olhos, disse: “Você já considerou a idéia... De que na verdade, você esteja apaixonada por ele?”

Por ESSA Bella não esperava. Não soube se fora uma defesa de seu corpo, mas depois de ficar totalmente chocada, começou a rir.

“Poxa, Mary, essa é boa!” Deu um soquinho nos ombros da freira, mas esta não sorriu de volta. O sorriso da criminosa foi murchando, até olhar a irmã com um olhar espantado. “Você realmente está falando sério?”

“Estou.”

“MEU DEUS!” Exclamou Bella levantando-se de um pulo da cadeira e andando pela cozinha. “Eu acho que se EU estivesse apaixonada por ele, saberia! Isso é uma coisa que as pessoas simplesmente sabem, não?”

“Como saber se você mesma me respondeu que nunca sentiu nada assim por ninguém?” Alguma coisa palpitava na cabeça de Bella sobre as perguntas de Mary. Não sabia se era técnica de terapeuta... Ou... Sócrates! Ah, inferno! Mas ela não tiraria nenhuma luz de verdade de dentro dela, porque não existia essa luz de verdade relacionada á paixão!

“Isso é fácil!” Exclamou em um tom de voz agudo demais. Não sabia explicar, mas seu coração palpitava e seu cérebro zumbia com tantas informações. “Há livros, filmes, seriados, desenhos animados... Tudo fala sobre amor! Tudo fala sobre se apaixonar! As mocinhas descrevem seus sentimentos, e quem lê simplesmente sabe e espera que um dia aquilo aconteça com elas. Confesso que ele é um puta de um gostoso, e que ele me incomoda de algum modo, mas isso não quer dizer que estou apaixonada! Eu não sou uma ignorante, eu SEI! E... e... É impossível me apaixonar por ele, sim, sim! Eu tenho certeza absoluta que eu não estou apaixonada. Eu sequer gosto dele.”

Já estava a meio caminho para sair da cozinha e ir embora, deixando bem claro que não nutria tais sentimentos pelo arrogante militar. Mas algo palpitou em seu interior, dizendo que estava sendo covarde. Covarde? Ela não era assim! Com determinação, voltou-se para a freira e disse:

“E eu posso provar que eu não estou... Não que eu esteja sequer considerando essa hipótese, mas eu estou muita certa dos meus sentimentos, afinal, são MEUS! E não que eu deva alguma explicação... Mas as coisas são realmente complicadas, e bem...” Se embolou inteira, até a freira sorrir e questionar:

“Certo, então me conte sobre os livros. O que falam sobre isso?”

“Oras!” Bella levou as mãos ao céu em exasperação. “Se EU estivesse apaixonada pelo general, o que definitivamente não estou eu teria o notado desde primeira vez. Meus olhos teriam se incendiado, meu corpo pinicado, meu coração batido mais forte, perdido o ar e desmaiado e alguém teria que me acordar, e esse alguém seria ele... E quando eu sentisse seu cheiro, eu derreteria em seus braços... Fecharia os olhos e diria mil palavras de amor... Sentiria como se meu corpo não fosse realmente meu, como se ele tivesse total e absoluto domínio sobre mim... Como se eu pudesse mover céus e terras, como se eu pudesse voar...”

“E você se imagina sentindo tudo isso?”

O barato de Bella cortou imediatamente. Murchou e resmungou. “Na verdade eu acho tudo muito gay.”

A freira riu. “Isso é que os livros trazem querida. Mas o amor não acontece como nos filmes, livros ou seriados animados. Você se imaginaria olhando um homem, perdendo o ar e desmaiando?”

“Talvez.” Bella deu de ombros, lutando com o orgulho. Porra! Definitivamente nunca! “Mas eu imagino como seria o carinha.” Respirou fundo e olhou no ar fazendo gestos com as mãos, como que construindo o homem e o cenário.

“Um nobre, com um leve sotaque inglês e fala impecável. Em seu cavalo branco entrando pelos portões da minha casa... Ok, talvez um belo carro esporte. E toda vez que me vissem, seus olhos brilhassem e ele me entregasse rosas e dissesse ‘uma rosa, para minha rosa’, e então me pegaria delicadamente nos braços, me rodopiaria no ar como uma boneca, e diria que me amava. Levar-me-ia para os balanços e ficaríamos balançando no fim da tarde, contemplando um ao outro e sorrindo... Dizendo palavras doces. Ele sentaria aos meus pés e iria colocando na minha boca romanticamente pedaços de uva que tirava de um cacho recém colhido. Faríamos piqueniques no parque... E todas as vezes que nos encontrássemos plantaríamos orquídeas, que depois de vários anos formariam o mais belo jardim exist... Eu disse algo engraçado?”

Olhou irritada para a freira que não se agüentava de rir. “Bella, você está escutando o que você mesma está dizendo?”

“Lógico que estou!”

“E pergunto de novo... Você se imaginaria sendo feliz, vivendo uma vida inteira ao lado de alguém que lhe tratasse como uma boneca, uma princesa?”

“Não.” Sussurrou por fim, derrotada. Na verdade, achava que morreria é de tédio. Homem tem que é ser forte, másculo, com um olhar quente que fazia a calcinha molhar, que não tinha medo de quebrar a cama se não teriam que comprar outra no final do mês... Um homem que tivesse uma pegada forte e te prensasse contra o tronco da árvore... Porra!

“Talvez alguém seja feliz com o homem que você descreveu, talvez funcionasse para as heroínas das histórias. Mas e você? Você não é como elas... Não existe ninguém no mundo igual a você, assim como existe um tipo especial de homem feito para ti.”

“Ok...” Suspirou. “Talvez os livros sejam meio exagerados...” Ela não tinha culpa que secretamente lia romance água com açúcar sonhando com um amor de novela. E nem poderia admitir que tivesse medo de nunca sentir o que eles demonstravam. “Mas eu e o general... Não, definitivamente. Água e óleo. Entende? Não se misturam.”

“Mas deixe sua mente um pouco aberta e pense Bella. Se você não sabe o que é, pois nunca sentiu... E esqueça o que você leu em livros... Como você pode saber o que sente por ele?”

Bella abriu a boca para responder qualquer coisa, mas este qualquer coisa não saiu. Batucou as unhas no tampo da mesa, pensativa.

Sua cabeça estava tão ocupada com dúvidas ultimamente... E todas elas envolvendo aquele homem. Por que ele entrara em sua vida, afinal? Por que os Volturi tinham matado seus pais? Se não tivesse, talvez o homem nunca entrasse no exército, nem nunca na NSA... E então nunca a conheceria... E então ela seria pega, e agora estaria presa... E... Inferno!

Aquela freira dos infernos era realmente boa nos questionamentos.

“E por que você não poderia estar apaixonada? Por acaso ele tem alguma doença, você sente nojo... Ou ele fede?”

“Não...” Definitivamente não tinha nojo.

“Ele não é homem? Não tem uma idade razoável perto da sua? Não pode dar filhos saudáveis e felizes?”

“Sim...” Engoliu em seco. Pensando por AQUELE lado, realmente não havia motivos para alguém não se apaixonar por ele, a não ser os óbvios... Ele era difícil de aturar, mas bem... Ela também, e talvez seja por isso que eles sempre estivessem juntos.

Sem conseguir pensar em justificativas para dizer que não estava apaixonada, optou por outro ponto sólido.

“Eu não posso me apaixonar por ele.” Disse determinada.

Mary percebeu a mudança em toda sua estrutura e apertou-lhe a mão com firmeza. “E por quê?”

Bella ficou olhando sem ver um ponto da madeira, até levantar os olhos opacos para a freira e explicar: “Imagina que um cara que trabalha pro Osama Bin Laden decida vir disfarçado para os EUA. Ele está planejando um novo ataque terrorista no país a mando do chefe, e fica algum tempo trabalhando nisso.” Bella não gostava nada do barbudo, mas era o melhor que conseguia. “Agora imagina que...” Pensou em algum nome importante. “A Hillary Clinton acabe descobrindo ele e todos seus planos.” O general como Hillary Clinton era o cúmulo, mas...

“Hillary então decidi que é melhor observar o tal assistente de perto e tentar descobrir onde o Bin Laden está escondido, mas não porque ela queira para o bem da humanidade, mas sim, por que... Hm... Ele acabou com o escritório dela nas Torres Gêmeas, e ela realmente gostava dele.”

Bella umedeceu os lábios e continuou: “Quando está perto do ataque ser concluído, Hillary aparece pro assistente e diz que sabe quem ele é... Então ele tem que matá-la, mas não consegue. As autoridades estão perto para pegá-lo, mas Hillary acaba escondendo ele.”

“A complicação é que ela é casada.”

“Não, ignora o marido dela.” Rolou os olhos. “Ela é uma mulher do Estado, entende? Mesmo perdendo as eleições, o dever dela é cuidar da nação americana com lealdade... Mas está ajudando o pequeno terrorista. Agora imagina se... Claro que essa história não tem nada haver comigo e o general, mas... Imagina se os dois se apaixonam?”

A freira ficou olhando para ela durante um bom tempo. E Bella quase conseguia ouvir as engrenagens rodando em seu cérebro. Não poderia ser mais direta do que aquilo, era quase como se tivesse dito: ‘ei, eu sou perigosa, hello!’ Ok... Ela talvez não conseguisse ligar o fogão até alguns dias atrás, mas isso não tinha nada a ver.

“Sabe...” Ela comentou depois de um tempo. “Eu sou freira por uma razão: Eu confio em Deus. E ele não faz nada por acaso... E não importa como vocês dois se conheceram, se vocês foram feitos para outro, pense... Vocês se encontrariam se fosse de outro jeito? E em uma coisa os romances têm razão...” Ela então sorriu. “Não importe o quanto o casal sofre, a quantidade de problemas que eles passem tudo sempre dá certo no final.”

Bella olhou-a querendo acreditar naquelas palavras, mas ao mesmo tempo não conseguindo. Final bom? Feliz? Puff...

Mary então se levantou subitamente e sorriu. “Sabe, acho que vou fazer os cookies agora... E ah...” Acrescentou como se falasse a temperatura do dia. “Se você quer realmente conseguir algumas respostas, está na hora de parar de negar o que você não sabe. Você nega que não o ama... Mas e daí? Como você prova isso?”

E então se virou e começou a procurar os ingredientes pela geladeira, enquanto Bella encarava o espaço vazio, totalmente atordoada. Mas que velhinha endiabrada!

“Mas claro...” Ela acrescentou depois de um tempo. “Foi só uma hipótese. Você estava aqui na minha cozinha confusa e quis te ajudar. Mas talvez isso não seja verdade, sabe... Talvez você nem sequer seja capaz de se apaixonar...”

“Como assim EU não sou CAPAZ de me apaixonar?” Questionou se irritando. Era inválida, agora?

“Edward é um homem bem difícil.” Comentou, dando de ombros.

“E daí? Tenho certeza que posso dar conta!” Protestou, então percebeu que só porque a freira estava falando que talvez não fosse capaz TAMBÉM de se apaixonar, ela estava tentando provar o contrário. Maldito orgulho! “Mas EU quem não quero.”

A freira deu de ombros, como se morresse o assunto. Bella não podia ver seu rosto, que carregava um belo sorriso enigmático.

Com um franzido na testa e as sobrancelhas quase unidas, a criminosa assistiu noviças e pivetes andando de um lado para outro na cozinha, nos quartos adjacentes e no pátio lá fora. Fora chamada várias vezes para brincar, mas não estava no humor. Na verdade, só depois de muito tempo conseguiram fazer com que prestasse atenção nelas.

A falsa freira tentava absorver tudo aquilo... Tentava ver algum sentido, mas não estava surgindo muito efeito, porque quando alguma parte idiota de seu ser dizia que poderia ser plausível a teoria de Mary e explicasse um bocado de coisas, outra parte logo tentava parar de pensar nos favoráveis e pensar nos contrários.

Mas tinha uma coisa que não se encaixava.

“Mary!” Chamou.

“Sim?” Questionou ‘distraidamente’ a anciã. Na verdade, se prestasse um pouco mais de atenção perceberia o tom de ansiedade em sua voz. A freira estava esperando há vários minutos sua pupila voltar a falar, e permanecer quieta e indiferente era algo que não manejava muito bem.

“Por que você acha tudo isso? No que você está se baseando exatamente?”

A freira deu um sorrisinho enigmático. “Isso o quê?”

Bella respirou fundo. “Todo aquele papo... Sobre... Você sabe.”

“Desculpe querida, mas mente de velho...”

As mãos da mulher já haviam virado punhos sobre a mesa. “Sobre... A teoria de eu estar... Hipoteticamente, apaixonada... Pelo...” Engoliu em seco. “General.”

“Ah... Isso.” De propósito começou a mexer na sopa que começara a fazer e testar seu gosto, aumentando o suspense. Por fim, disse: “Algumas coisas que conversei com Edward.”

“Coisas...?” Bella arregalou os olhos. “A conversa que tiveram quando eu cheguei aqui!” Então não se conteve mais, levantou-se e praticamente agarrou a freira. “Mary, você precisa, urgentemente me contar o que ele falou pra você! Não que eu esteja curiosa, nada disso, mas... Mas, eu preciso saber!”

“Querida...”

“Eu quero detalhe por detalhe. Palavra por palavra. Não omita nada, por favor... Ele falou... Sobre... Sobre...”

“Bella!” A freira advertiu rindo. “Não posso te contar a conversa privada que tive com ele!”

“Claro que pode!” Emburrou. “Era sobre mim!”

“E quem disse que era sobre você?”

“A senhora disse!”

“Não... Eu nunca disse tal coisa.” Sorriu o seu sorriso mona lisa. Estava começando a odiá-lo com todas as forças. “Mas por que está tão interessada? Pensei que já tinha sua opinião bem forte sobre esse assunto.”

“E tenho!” Recuou, engolindo em seco. “Claro que tenho, mas... Sabe...” Oh céus! Estava praticamente se comendo por dentro na vontade de querer saber o que o homem falara para Mary. Alguma coisa que ele dissera fizera com que Mary achasse que... Eles... Não! Mary não achava que ELE estava, mas só ELA! E esse pensamento machucou-há um pouco. Oras... Se ela poderia estar, por que ele também não?

A freira sorriu. “Mas também eu vi vocês se beijando. Na árvore.”

Os olhos de Bella se arregalaram quando sua mente processou aquelas palavras. Oh merda! Mary havia visto o beijo deles atrás da árvore?

Percebendo a expressão assombrada da moça, continuou: “Não se preocupe. Ninguém mais viu. E aproveito a oportunidade para dizer que não o criei daquele jeito! Nunca o ensinei coisas do tipo... Por que... Hm... Vocês pareciam... Entretidos?”

Bella engoliu em seco. Mary pelo jeito não tinha visto a parte de Tony, mas isso não diminuía a intensidade do pensamento de que se não fora para o inferno antes, iria agora. “Sabe... Eu acho que a neve atrapalhou sua visão...”

“Querida,” A anciã riu dando tapinhas em seu ombro. “Sou velha, mas não burra, pelo amor de Deus! Não me subestime!”

A criminosa corou. “Aquilo foi... Foi...”

“Espontâneo?”

“... Um erro.”

A freira arqueou a sobrancelha. “Um erro que parece que foi muitas vezes cometido.”

Bella abriu a boca para retrucar, mas fechou-a. O pior era que era verdade, merda!

“É, huh... Acho que eu... Vou... Tchau!” E então praticamente saiu correndo da cozinha, deixando uma freirinha sorrindo para trás.

“Esses jovens!” Murmurou enquanto voltava a mexer em seu ensopado.

*

“Apaixonada... Apaixonada... Huh! Eu vou provar que está errada... E eu tenho como, não tenho?” Bella andava de um lado para outro em seu quarto bagunçando os cabelos e gastando a sola dos sapatos, praguejando baixinho.

“Quem ela pensa que é para me falar tudo isso? Eu lá tenho cara de mulher que se deixa seduzir por... Por... Militares fardados?”

Bella estava no quarto que dividia com a outra noviça, Catherine, transtornada com a conversa com a freira. Não poderia passar por sua cabeça a simples hipótese que nutrisse um sentimento diferente de ódio pelo general. Aquela idéia era absurda, e louca... E... Que merda!

Quando fechava os olhos, podia perfeitamente se lembrar dos acontecimentos do natal. De como o general chegara, assustando-a e dando uma bela gargalhada. Do modo como contornou todas as crianças e levou-a para trás da árvore. De como parecera vulnerável e perdido no meio dos escombros da casa de seus pais... Da forma como ele sussurrara que ela era o problema que ele não queria se livrar tão cedo...

Aquelas palavras poderiam ser rudes vistas por fora, mas dentro do contexto “Bella-general” foram às palavras mais gentis que aquele homem um dia já falara para ela.

Sentia falta dele e poderia sentir seu calor ainda impregnado em sua pele... Poderia sentir ainda seu cheiro... Mas que merda!

Aquilo não significava nada! Naquela história não havia espaço para romance, não havia espaço para amor! Pois não havia protagonistas propensos a isso, e a história estava classificada como “suspense, drama, ação”. Não havia espaço para romance! Não havia!

Suspirou e chutou a quina da cama, com raiva.

“EU. NÃO. SINTO. NADA. POR. ELE!” Gritou, frisando bem as palavras. Por que ainda estava pensando nisso, afinal? Mary estava envelhecendo, ficando caduca e ela não deveria escutar nada do que dizia.

Então houve uma batida na porta, e Catherine enfiou a cabeça timidamente no vão desta. “Bella?”

“Sim?” Murmurou entre dentes controlando a raiva. A noviça engoliu em seco e estendeu-lhe um pedaço de papel.

“É para você.”

“De quem é?”

“Não sei.” Sorriu, e quando Bella pegou o papel retirou-se, silenciosamente.

A mulher de vinte e cinco anos suspirou e sentou-se na cama. Olhou pela janela o dia escurecendo. Dali a algumas horas seria o ano novo. Vida nova.

Ou talvez não...

Desdobrando o papel reparou que fora arrancado de uma revista. Leu algumas linhas e se surpreendeu ao encontrar o ‘Ele é como um leão... Realmente os americanos estão seguros com alguém como ele no comando. ’ Curiosa, olhou para o verso e havia uma mensagem escrita com uma letra padronizada, bem masculina.

“Vê se não faz merda esse ano.”

Olhou durante um longo tempo e não pôde evitar o sorriso que preguiçosamente foi brotando em seus lábios.

Então, percebendo o que estava fazendo, lutou para tirar o sorriso da boca. Endireitou a postura, levantou-se e marchou em direção à lareira. Com raiva, amassou o papel nas mãos e jogou-o no fogo.

“O que aconteceu com o bom e velho feliz ano novo, inferno?!” Ao ver as labaredas engolindo o papel, seu estômago se contorceu, mas permaneceu firme. “Como que eu poderia me apaixonar por um homem assim?!”

*

A neve caía pesada em Fort. G. Meade enquanto o homem alto andava a passos largos pelo enorme saguão tecnológico da Agência de Segurança Nacional. Vestia um sobretudo preto cobrindo o terno igualmente preto que usava por baixo. Alguns flocos de neve pairavam sobre seus ombros e cabelos, enquanto retirava com elegância as luvas grossas de couro das mãos.

“Senhor, estão o esperando na sala de reuniões.” Um funcionário fardado apressou o passo para acompanhar o homem imponente de dois metros.

Este último bufou e terminando de retirar as luvas, jogou-as em cima do funcionário, que as pegou prontamente.

Depois de mais um tempo de caminhada, o importante militar parou na frente de uma grande porta e abriu-a com um empurrão, já dizendo:

“Espero que seja algo realmente importante, senhores, para interromperem um belo dia de Ano Novo.”

Vários pares de olhares cravaram-se no generalíssimo Edward Cullen assim que entrou, mas este não se intimidou, nem tão pouco pareceu perceber. Todos também não gostavam de estarem ali no primeiro dia do ano, que estava bem frio.

“A situação piorou nos países conflitantes.” George anunciou de sua mesa. Seu semblante estava cansado e um tanto irritado, mas não chegava nem perto da irritação que sua recém esposa sentia. Casara-se há pouco mais de uma semana, e ainda não tivera uma lua de mel decente.

O generalíssimo soltou o ar que só naquele momento percebeu que estava segurando. Quando fora chamado ás pressas para a NSA, achara logo que tinha algo a ver com Bella. Praticamente fundira o motor de seu carro na tentativa de chegar o mais rápido possível na sede da agência, para poder tomar as devidas providências. Mas era só uma questão internacional.

Ele sempre fora no controle sobre tudo... Sereno e calmo não importava a gravidade da situação, mas se descobriu temeroso e um pouco apreensivo ao sequer imaginar que algo poderia estar prejudicando seu novato.

McCarthy estava do outro lado da mesa e olhava Cullen com olhos um pouco reprovadores, mas existia algo novo ali, como se ele quisesse falar alguma coisa para o ex-amigo.

“Há alguns meses viemos acompanhando a situação nos países do Oriente Médio... Há sempre a ameaça de estourar uma guerra, com os grupos terroristas cada vez mais fechando o cerco. A situação se agrava.”

O general assentiu lembrando que alguns dias antes, no dia da formatura, comentara com McCarthy sobre a possível guerra, que se acontecesse, influenciaria diretamente a maior potência mundial.

Depois de explicar algumas coisas novas, os homens discutiram as medidas imediatas para aplacar a situação. O país precisava intervir, era certo, pois se uma guerra estourasse naqueles países que carregavam uma das maiores fontes de petróleo que ia para os EUA, o país poderia entrar em uma crise causada pelo petróleo. Além do que havia muitos americanos lá, e era preciso protegê-los.

“Vamos mandar tropas para controlar os mais radicais, e tentar evacuar os americanos que pedem refúgio.” O general disse rodando sua costumeira caneta de ouro nas mãos. “Se estourar a guerra, vamos entrar.”

“Eu voto em acabarmos logo com a situação. São um bando de árabes filhos da puta lutando pelas mesmas causas só que com interpretações diferentes. Eles estão se matando com toda essa porra, qual a diferença se matar eles antes?” Um idiota falou.

O general Cullen revirou os olhos. “Larga de ser imbecil, sargento. Você acha que a porra da ONU e todas as organizações que fazem a porra de alguma coisa no mundo vão ficar quietas diante de um genocídio?”

“Não propus um genocídio.”

“Concordo com o Cullen.” McCarthy disse, olhando para George. O general fechou a cara e continuou a rodar a caneta entre os dedos. “Vamos tentar evitar que algo aconteça, mandando reforços para os nossos que já estão lá. Se estourar a guerra, a gente cai dentro.”

“Qual a posição do exército sobre isso?” O general perguntou, cortando McCarthy.

George arrumou os óculos. “Todos estão dentro. E também concordo com a intervenção direta quando as coisas ficarem feias.” Ele suspirou e então levantou os olhos para o generalíssimo. “Se a guerra estourar, eles querem você no campo de batalha como principal comando, generalíssimo. Está ciente disso?”

O general parou de mexer a caneta e se surpreendeu quando a primeira coisa que pensou depois daquela informação foi em seu novato, e em sua segurança.

Levantou os incríveis olhos verdes para o diretor geral da NSA e assentiu, rigidamente. “Eu estou muito ciente disso.”

59 comentários:

Alice Volturi disse...

Agora os dias de postagem são terças, sextas e domingos, pois antes estava muito corrido para algumas pessoas lerem tudo! ;)

Alice Luttz disse...

Obrigado A. Volturi. E caracas cade a Rai ela sempre comenta antes de mim. Segunda a comentar e o melhor antes da Rai. Rain vaia lá gata ler tudinho ja que falta muito para mim voltar a ler e digo a cada capitulo vai ficar melhor. Mais AHHHHHHHHHHHH vai demora mais tempo, mas vai ficar menos corrido.

Nikita disse...

hummm...
então?...quando será q naty vai posta?????!!!!!....
cara serio to louca para o decimo primeiro capitulo!!!!
bom , meu povo ... a infiltrada não e droga + vicia!!FATO!ahuhauaua
já to pensando se vai ter até 3 temporada...e olha que mal começo a 2!!!!

Hermione disse...

Não consegui parar de ler me empolguei com a freira que naturalmente deve ser formada em psicologia e kkkkk, fez a Bella olhar-se no espelho!!!!!

Leticia disse...

Bellaaa! deixa essa p**** de orgulho de lado e acorda logo você ja ta de frente pro espelho você so tem que parar de ver o que quer e ver o que realmente ta contecendo com você e com o general!!!
AAAhhh to louca aqui o que que é isso a Natalia que msm me matar não é o que é isso! AAhh Parabens Mary você é tas minhas coloca a garota de frente pro espelho e mostra pra ela o que você que é uma velha caduca ja percebeu e ela que é uma mulher de 25 anos ainda não viu.

Alice Luttz disse...

E isso ai Mione. Lety. A bella precisa parar e pensar um pouco a burra não viu o logico. Ele esta apaixonada pelo o Gege e fica ai fingindo que não. Ela precisar a corda para a vida se o General fosse ate de se jogar fora eu concordava com ela mais o cara e a perfeição em forma de pessoa e ela fica ai fingindo que não. Cara ela tem que ouvir mais os conselhos da mary. A Mary e centrada e ama o General como filho e nunca vai deixar ele sofrer nem que isso tenha que proteger uma fugitiva e colocar o orfanato em risco. Cara a Natalia não posta logo e falta 2 capitulos para voces me alcançarem então pela a logica aparti de domingo não sei mais nada. Ate o proximo e espero que gostem do ultimo que li pois eu ODIEI;

Laurinha disse...

Poxa........
Quando ela vai admitir q ta apaixonadissima por ele?
Ela vai pra guerra?

Alice Luttz disse...

Laurinha.....
Acho que nunca nem pra si mesma.... Ela e do meu time.... Amar e pros fracos e oprimidos, mas eu assumo quando a paixão e avasaladora tambem leio muita coisa melosa mais prefiro os de ação com sangue e comedia..... Mais assumir eu acho que vai demorar.... Ela pode ate falar que sente algo a mais no beijo e em como sente saudades dele, mais ela não e garota de se apaixonar e como os dois e assim vai demora.... E o principal a Natalia e do mau então vai matar muita gente antes de um deles ter o pensamento de que pode esta apaixonado pelo o outro..... Natalia má.

Naty_14 disse...

gnt, com certeza vai falta mtooooooo tempo pra elis fla q se amam pq pelo q eu conheço a Natalia naum é menina d faze fic com 10 ou 15 capitulos d historia. e tbm q ta mtoooo bom assim pra acaba logo, né? e tomara q tenha uma 3ª e 4ª temporada pq ta mtooooo bom pra acaba, se bem q felicidad d pobre dura poko. WIEIWOEIWO digo isso exclusivamente pra mim.

Alice Luttz disse...

Naty... Naty... Naty...
Tu não e tão perversa assim como a Natalia Marques não né?
Mais desde quando fiquei sabendo da segunda temporada eu fiquei torcendo pelas as proximas. E sim felicidade dura pouco tanto é que nossas ferias acabaram e não nos encontramos mais. Daqui mais ou menos uma semana eu não vou mais viver na vida mança e talves só comente no domingo. Ah droga.

Mary Alice L. disse...

Só confirmando se vai nudar o nick. Mais como não sou de ferro. Rai voce sumiu e sei o motivo seu amorzinha *meu tambem* me avisou da viagem pra visitar a familia *brega* mais o Emm quer um final de semana num resort aqui e topei logico. Meu amor só pra mim.

Naty_14 disse...

só qndo eu qro msm, ou seja qse nunk.

Bellaads disse...

com certeza apoio nikita BOAideia ter a terceira
temporada não so dessa fic mais tambem
derrepente religiosa
e
bad romance
................
q horas vcs postam?

Helena Le95 disse...

Eu gosto mto dessa fic. Acho mto legal!!!!!
To loca pra Bella perceber q ama o gege!

Quando sai o próximo capítulo???

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Num, Lice, eu sumi pq toh doente msm... doente de amor pelo meu general *-* ushausuuahs
Sério, agr. Eu num ando mto bem num. Acho q toh resfriada. E o pior é q isso tah refletindo nas minhas fics. Faz mais de uma semana q num consigo escrevr nda... Ter sistema imunológico fraco é phods viu!? Mas nem por isso eu vo dexa d luta pelo meu mooozi.
Ah, q pena. A gnt pode marca um encontro de casais dps entaum. Eu e o Dudu e vc e o Emm. Pode ser?

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Axo q vão ter q colocar um neon na kbeça do Dudu pra Bella percebe q tah pxonada por ele. Tipo, escrever: "É ESSE AQUI!!!"
HÃ?
Liga naum, to doente e só vai sai bestera da minah mente agr. Axo q a dipirona tah fazendo efeito. Toh meio doidona, com sono... Ou pode ser só o general q num me deixa recuperar o fôlego. 66'
suhauhusua
bjundaaaaaaaaaaaaaaaa ♥

Mary Alice L. disse...

Oh gostei da ideia do encontro de casais o URSÃO ira amar. Avisa o 'DUDU' *cara pior que gostei do apelido mais morrendo de ri* ou quer que eu avise pra ele. Ah deixa eu ir ali meu telefone esta tocando. Espera deixa-me ver. Oh esta escrito 'Rai seu chefre vai crecer vai polir a galhada'. Voltou quando ele der brecha né.

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Pode deixar q eu aviso o Dudu. Falta escolhe onde a gnt vai, né? Sem comentários pra o q vc escreveu dps disso.

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

GENTEEEE, RECADO MEU NOS COMENTARIOS DE COMPLETA!!!!!

Mary Alice L. disse...

Não gostou' amiginha'. Nossa como sou falso né. Da ate arrepio eu não sou assim. Então esqueçe essa parte tá. Mais eu não sei onde podemos nós encontrar vamos. Pensa. Vai sabichona.

Mary Alice L. disse...

Cara meu nome não muda mesmo mais amei a foto que pena que teri que trocar a manha.

Bellaads disse...

gente por FAVOR quando que vão postar o capitulo 9

da infiltrada temp.2?
já estou doidaaaaaaa pra ler!!!
por ffffffffaaaaaaaaaaaavvvvvvvvvvvooooooooorrrr
postem lá

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Calma, Belaads!!!
pelo o q a Alice flo, vai er post amanhã...

Mariana Trindade disse...

cara cade o cap de sexta, ja estou sem unhas de tanta ansiedade
par favor não demore mais

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Kd a Lice?????

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

só pra ver meu avatar....

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

ow q demora pra eu ler esse cap. ainda não terminei.....só vim dizer q to com muita saudade de vcs! lice,seu avatar é lindo eu acabei de trocar o meu agora é só esperar...to cheia de coisa pra fazer e quase não tenho tempo de ler! ai q saudade das férias......

Leticia disse...

OIIII bebetty, saudades florrr. Realmente ta dificil de ta lerdo, tbm to com sauades das ferias, tive sorte que consegue um tempinho pra me atualizar!

Viihs disse...

OMG... Adorei o cap... E a Bella "contou" para a Mary que ama o G.C! Tipo, super duper d++! E agora, será q, se a guerra realmente estourar e o G.C for para o campo de batalha, vai acontecer alguma coisa com ele? Esperando o cap 9!

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

oi leti! tmb to com saudade de vc me add no msn?

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

brigada alice,assim é bem melhor! :D

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

ow! esse cap. ta d+! eu a-d-o-r-e-i! demorei + consegui terminar! nossa bella,acorda! vc ta caidinha pelo general!" dããããã!!!! que freira malandra! kkkkkkkkk mt boa essa fic ansiosa pelo próximo post ;)

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

eu amei ler bad romance,acho q foi a primeira fac q eu li aqui no blog! ;)

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Manolo, cade o cap novo????
já é quase nove horas e até agora nda...

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

o q q aconteceu O.o
???????????????????????
*medo*

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
Em abstinência akieeeeeeeeeeeeeeeeeeee
Kd meu General, Alive Volturi?! Preciso dele agoraaaaaaaaaaaaa

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Não, sério agr. Alguma coisa tá errada aki. A. Volturi (concordando com a Lice) nunca atrasou postagem. Por isso eu toh com medo. Ela num é de mata a gente infartada.
E o pior é q eu toh passando medo aki sozinha, pq ngm tah me respondendo...
O.o O.o O.o O.o O.o tenso

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

caraca...
22:08 da noite e até agora nada...
ALICE VOLTURI, VC ESTÁ BEM, XUXU?

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

22:13
UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general UP <3 general

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

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Rainbow Buttefly Fanfics disse...

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Rainbow Buttefly Fanfics disse...

UP 1

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Up 2

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Up 3

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Up 4

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

nem tenho unha mais pra roe de ansiedade, é só cotoco meus dedos. generaaaaaaaaaaaaaaal?

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

hã? meu coment sumiu... q aconteceu?!

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

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Rainbow Buttefly Fanfics disse...

aaaaaaaaaaaaaaaaaaahãnhãn
manolo, vo morreeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
kd postagem????
22:28!!!!

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

Lice, até tu, brutus?
nem vc tah mais aki pra me responder?????????
daki a poko vão me coloca no hospício pq eu fico flando sozinha.......... (yn)

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

vo faze numero nos otros coments tbm!!!
de reprovação pela demora nas postagens!!!

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

22:35

Rainbow Buttefly Fanfics disse...

poxa, eu axo q vo embora...........

Helena Le95 disse...

Quando vao postar o cap 9??????/
to loca pra le!!!!!!!

Julia disse...

Alice, vc. foi pular carnaval?! rs... meu coração tah pulando de ansiedade... sniff... socorro!!! para compensar agora terá que postar no mínimo 2 cap... rs...

Ketelly disse...

oiii, nossa comecei a ler a primeira tempo na sesta e fiquei esse feriado todo lendo , to ate com o pescoço duro, realmente a fic é muito boa, e viciante...
estou doida pra q chegue sesta logo, pra ler mais cap...
bjs e parabens !!!!

Naty_14 disse...

na verdade Ketelly, hj é dia d postagem, só q como esses ultimos dias ela naum postou capitulos novos naum sabemos se vai ter ou naum postagem nova. ok? bjus

Rainbow Butterfly Fanfics disse...

gente, se preocupa não. eu num so loka, só preciso de post!!!!!!!!!!!
ALICEEEEEEEEEEEEEEEE O.o

Isi disse...

Nossaaa essa fic é tãoo perfeita *-*

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