A Infiltrada 2 - Capítulo 09: Por Um Fio

O TEMPO ESTAVA MUDANDO.

Os dias oscilavam entre frio intenso, frio e ameno; a neve esporadicamente caía fazendo a alegria de crianças e adultos, mesmo que alguns achassem que já haviam tido o suficiente e que a primavera poderia chegar a qualquer momento.

Mas para alguns criminosos havia algo a mais no ar do que somente ventos gelados ou a esperança de um ano novo melhor. Mesmo nas mais confortáveis situações algo pode bater em nosso íntimo como um aviso de que as coisas não continuarão do mesmo modo por muito mais tempo. A ex-infiltrada da NSA estava tendo aquela sensação, embora não conseguisse pensar em algo que pudesse a tirar do estado, quase sonolento, que estivera repousando no último mês.

O orfanato continuava o mesmo de sempre: crianças felizes na medida do possível, noviças fazendo seus deveres e ela ajudando o quanto podia, nunca saindo daquela estrutura nem para ver o sol pálido de um ponto de vista diferente do mostrado pela janela do quarto dividido com Catherine.

Na primeira semana pelo menos pôde ir para o jardim e brincar com as crianças, mas não mais.

Helicópteros apareciam esporadicamente circundando aquela região, não exatamente mirando o orfanato, mas toda a Washington. A capital do país era relativamente próxima da sede da NSA, em Fort G. Meade, Maryland, e com toda a certeza outras cidades em um raio de vários quilômetros estariam recebendo visitinhas.

Sentada no parapeito da janela, com os braços circundando os joelhos e a testa encostada no vidro frio, a criminosa tentava criar um plano para o futuro. Ao sair da NSA, um mês antes, não pensara para onde iria muito menos aonde chegaria. Essa parte não era de sua responsabilidade então evitava pensar sobre. Mas e quanto ao seu futuro? O que fazer?

Antes tinha um objetivo, mesmo que não dos mais lícitos, mas objetivo... E era de conhecimento comum de que todos precisavam de uma meta para a vida ter um rumo e podermos continuar.

Não que ela não tivesse um, ela tinha. Ela queria alcançar os Volturi. Queria achá-los e fazê-los pagar... Queria tanto! Eles destruíram toda sua vida... Deixaram em pedaços qualquer possibilidade de ter uma vida feliz e completa, com seus pais. Embora fosse difícil ter uma vida mais fácil sendo eles foragidos, pelos menos estariam juntos.

Mas não sabia por onde começar, não sabia como sair daquele país sem ser pega... Não sabia o que fazer!

Sempre previra que a estadia no orfanato seria temporária, afinal, naquela noite a um mês não existia lugar mais perto e mais seguro do que ali. Mas entendia que era questão de tempo até o general Cullen ir buscá-la e levá-la para outro lugar. Onde, não fazia a mínima idéia. Recebera um bilhete na semana anterior avisando que dentro de quinze dias ele viria buscá-la. O que faria com que se despedisse do orfanato dali uma semana.

Suspirou e fechou os olhos por alguns segundos, evitando pensar. De repente lembrou-se de Jasper e Alice... Que naquele momento deveriam estar na NSA, começando mais um ano de treinamento militar. Jasper e Alice que gostavam um do outro, mas não sabiam como vencer a situação da idade ou da vergonha. Jasper e Alice que foram seus amigos... Que gostaram dela... Que a ajudaram...

Mas logo tratou de afastar aqueles pensamentos da cabeça, pois aquelas pessoas não mais faziam parte de sua vida. Seu presente e seu futuro se resumiam a um único alguém e nada poderia fazer para mudar isso.

Então, repentinamente, ouviu uma série de exclamações e gritos, fazendo com que se sobressaltasse. Atinou os ouvidos, mas tudo o que pôde codificar foi uma noviça gritando socorro.

Bella saiu do quarto e se pôs a caminho dos sons, encontrando na cozinha uma freira chorando e gritando no telefone, pedindo por uma ambulância. Outra mulher afastava algumas crianças dali; e perto dos fogões industriais algumas noviças cercavam um corpo no chão.

Foi como um dejavú.

Poderia muito bem detalhar aquele dia: Fora seu primeiro trabalho na máfia.

Entrara nos amores de uma viúva milionária e começara a inventar coisas sobre os membros de sua família, fazendo com que no final a única pessoa em que acreditava que gostava realmente dela era Bella. Mudara o testamento e colocara todo o patrimônio em seu nome, o que incluía algumas contas bancárias essenciais para a organização.

Foi à própria quem provocou a morte dela.

Pareceu um infarto ante a vista de todos, mas mesmo assim alguns da família desconfiaram da então mafiosa, mas nada puderam provar. A velhinha tinha realmente problemas com a saúde, a ex-infiltrada só adiantara o inevitável.

Bella ficara com tudo... Ou na verdade, a máfia ficara com tudo. Houve um grande processo querendo pegar o dinheiro de volta, mas ninguém achava a moça que atendia pelo nome de Helena.

E mesmo depois de tantos anos se via de vez em quando recordando o corpo morto no chão, os olhinhos azuis vívidos encarando o vazio.

Não sabia por que se lembrara daquilo justo naquele momento; talvez por que, quando se aproximara, aquela senhorinha italiana que morrera há vários anos lembrava tanto Mary.

Ela estava no chão, rodeada das noviças, pálida e claramente alheia ao mundo exterior. As jovenzinhas chamavam-na desesperadas tentando reanimá-la, mas nenhuma reação vinha.

“O que aconteceu?” Exclamou abrindo espaço entre as mulheres.

“Ela... Ela...” Catherine, a noviça com quem dividia o quarto, balbuciou parecendo chocada demais para falar. “Ela estava aqui... Cozinhando... Quando viu um menino fazendo arte no jardim. Ela começou a gritar para ele parar e de repente a expressão dela mudou... Ela colocou a mão no coração... Fez alguns barulhos estranhos e caiu.”

“Meu Deus!” Bella logo se agachou e grudou o ouvido no peito da freira. Como temia, ele não batia. “Ela teve um ataque cardíaco! Chamem um médico!” Gritou.

“Thereza já está chamando, ela... Ela...” A noviça não parecia estar se agüentando.

“A ambulância só vai chegar daqui vários minutos. Eles estão atendendo outra ocorrência.” Thereza avisou com o telefone comprimido no peito.

“Só existe uma ambulância nessa cidade?” A assassina de tantos rugiu.

“A única nas proximidades é esta.”

“Se não fizermos nada, ela vai morrer!”

A questão era clara. Não dava para esperar pela ambulância... Quando chegasse poderia ser tarde demais. Bella olhou para a freira e em milésimos de segundos tomou sua decisão.

“Afastem-se!” Ordenou, retirando rapidamente o casaco de lã que envolvia seu hábito. Ergueu as mangas e se colocou de joelhos ao lado do corpo e começou a impulsionar as mãos na região do esterno, fazendo massagem cardíaca.

A enfermaria da NSA fora útil para alguma coisa afinal; uma vez um novato teve convulsão e ela teve que aprender como lidar com a situação. Como prevenção, Alice ensinou-a também em casos quando havia parada respiratória e ataque cardíaco.

“Vamos... Vamos...” Começou a balbuciar, enquanto fazia força no peito da freira e tentava reanimá-la.

Estava pouco consciente das pessoas nervosas a sua volta, tendo como seu único objetivo reanimar a freirinha que estava a acolhendo mesmo não sabendo de onde vinha, ou para onde iria.

“Oh meu Deus!” Alguém gemeu apavorado.

“Protejam a cabeça dela!” Gritou, e logo uma noviça agachou-se e colocou as mãos entre o chão e a cabeça da freira.

A ex-infiltrada usava toda a força que tinha, mas o coração não voltava a bater. Sabia que a partir do momento que havia começado a massagem, não poderia parar. O desespero começou a crescer em seu redor como ondas e a criminosa fez de tudo para não se deixar influenciar por elas. Precisava manter frieza e calma... Não poderia se desesperar.

Mas os batimentos cardíacos não voltavam e as pessoas gritavam e choravam... Ouviu o esperneio de crianças ali perto e distinguiu uma voz infantil gritando um desesperado “Ela não pode morrer! Não! Não! Deus não pode fazer isso com a gente! Faz ela viver!”

Bella, então, se viu ela própria rezando para que a freirinha não morresse. Suas mãos começaram a tremer, mas obrigou-se a recompor-se. Fizera coisas piores na vida, só precisava manter a calma.

“Vamos... Vamos...” Murmurou sentindo algumas gotículas de suor em suas têmporas.

Onde estava a porra da ambulância? Por que só havia UMA em funcionamento na região? Cadê a porra da boa saúde que o governo tanto se gabava? Será que eles não percebiam que aquilo poderia custar à vida de alguém?

Os médicos precisavam chegar lá logo, precisavam do desfibrilador... Precisavam do choque... CHOQUE!

Como um flash ela lembrou-se de uma conversa com Alice, em que a enfermeira havia dito que quando não há por perto o desfibrilador, a pessoa que está fazendo a massagem cardíaca pode dar um soco na região do coração, que funcionaria como o aparelho. Só que havia avisado que precisava ser alguém forte, porque o soco precisava se comparar ao choque que variava entre 200 a 300 joules.

Agarrando-se a última oportunidade estando muito ciente de não haver muito tempo restante, ergueu o punho e com toda a força que tinha deu um soco no peito de Mary. O corpo subiu com o impacto e algumas pessoas gritaram com o ato.

“Afastam-se!” Rugiu, quando percebeu que algumas pessoas tentavam afastá-la. “Eu sei o que estou fazendo!” Continuou a massagem e depois de mais alguns segundos deu outro soco. Sua mão doeu extremamente com o impacto, mas foi eclipsado pela urgência da situação.

Ficou vagamente ciente da chegada do padre Andrew e do grito de outras pessoas também.

“Meu Deus! O que ela está fazendo? Batendo nela?” Ouviu a voz histérica do ancião. Ele carregava um jornal fortemente protegido nos braços, mas ante a visão em sua frente deixou-o cair no chão.

“A ambulância está chegando!” Na mesma hora ouviu o barulho característico das sirenes se aproximando. Outro forte soco se seguiu mais forte que todos os outros. E foi quando houve um enorme silvo de ar. O peito da freira se ergueu e o ar entrou em seus pulmões. Bella parou a massagem assim que a irmã começou a tossir violentamente, pedindo por lufadas de ar e voltar à vida.

“Ela voltou! Ela voltou!”

“Mary! Mary!”

“Graças a Deus!”

Bella estava sentada no chão respirando com dificuldade enquanto assistia as noviças se aproximando e cuidando de Mary. Seus braços e sua mão doíam, mas toda sua atenção estava focada no peito que subia e descia da freirinha. Era quase como se estivesse petrificada por um basilisco.*

*Harry Potter! Yeah!

“Os paramédicos estão entrando!”

Então, muito de repente, sentiu braços a pegando com força e erguendo-a, e se viu encarando os olhos do padre Andrew.

“Saia logo, menina! Você não pode ficar aqui!”

Ela estava desnorteada demais para sequer calcular alguma coisa, mas quando viu já estava sendo empurrada para fora da cozinha em direção ao seu quarto, deixando toda uma agitação para trás.

Sentada em sua cama tentou entender alguma coisa, mas nada parecia coerente o suficiente. Tudo acontecera muito rápido... Ouvira os gritos, encontrara Mary caída, e percebera que se não agisse rápido ela morreria. Então quando o desespero a sua redor estava em alta e lutava para não se deixar engolfar por ele também, o coração dela voltara a bater. Os paramédicos chegaram e o padre Andrew praticamente a chutara em direção ao seu quarto.

Ouvia vários sons distantes, mas não conseguia distinguir exatamente o que estava acontecendo. Dentro de alguns minutos, a maçaneta da porta girou e Catherine entrou com uma expressão severa no rosto.

“Como ela está?” Perguntou, se levantando, imaginando que algo dera errado pela expressão em sua face.

“Ela... Ela...” Engoliu em seco então um enorme sorriso inspirou seus lábios. “Ela está bem! Está bem!” Gritou de felicidade e então correu até Bella e abraçou-a. Ela ficou meio desconfortável com o gesto carinhoso, mas retribuiu na medida do possível. A noviça se afastou e começou a narrar: “Ela está no quarto dela, em repouso. Teve mesmo um ataque cardíaco e o médico disse que se você não tivesse agido a tempo, ela não teria muitas chances. Ele queria te conhecer, mas o padre Andrew impediu-o.” Fez uma careta de como achava aquilo estranho. “Você salvou a vida dela, Bella! Você salvou!”

O impacto daquelas palavras ressabiou por seu cérebro, fazendo-a até ficar meio fora de mundo. Ela salvara a vida de alguém... Nunca fizera aquilo... Geralmente fazia o contrário. E se surpreendeu ao se sentir bem com aquilo... Bem, não... Em paz. Plena. Satisfeita.

Apesar da intensa revolução em seu interior, ela fingiu-se de indiferente, dando de ombros e murmurando um “não foi nada”

A mais nova sorriu e foi se dirigindo para a porta até então voltar-se por cima do ombro: “O médico ainda está aqui, e o padre Andrew pediu para não deixá-la sair daqui até ele ir embora. E eu terei que trancá-la...” Pareceu desconfortável com aquilo, não sabendo ao certo o motivo. “Bem, espero que não se importe...”

“Não, vá em frente.” Garantiu, tentando sorrir. Por que trancá-la? O padre achava mesmo que fugiria? De quê?

Catherine deu um sorrisinho fraco e fechou a porta e dentre instantes a chave girou na fechadura.

Ficou encarando-a por um longo tempo se questionando o motivo daquilo. O padre a pegara na cozinha e a olhara de forma muito estranha, mandando-a ir embora dali. Por que havia feito aquilo? Achava que tentara alguma coisa contra Mary? Estava culpando-a? Por isso a trancara?

Mas aquilo não fazia sentido, porque Catherine tinha ido ali dizendo que se não fosse ela, Mary poderia não ter tido uma chance.

A menos que... Não, não poderia sequer cogitar aquela possibilidade.

Longos minutos se passaram, até que novamente ouviu o barulho de chave girando na fechadura e deu de cara com o padre Andrew.

Encarou-o não sabendo o que dizer até que, de modo um pouco relutante, ele informou: “Mary quer vê-la.”

Não muita ao certa da situação entre eles, assentiu. Levantou-se e seguiu-o, parando na frente de uma porta de madeira onde sabia ser o quarto da irmã.

O sacerdote abriu a porta e ainda segurando-a, avisou: “Ela está muito fraca.”

A criminosa entrou e sentiu a passagem sendo fechada atrás de si, com um leve farfalhar. O quarto da freira não era grande; o armário, a cômoda e a cama ocupavam quase toda a dimensão, deixando pouco espaço livre. Parecia um quarto aconchegante do mesmo modo, talvez pela sensação trazida pelos raios sonolentos de sol que entravam pelas persianas.

“Ei querida...” Ouviu o sussurro fraco vindo da cama, e logo seu olhar repousou na senhorinha de sessenta anos, muito mais pálida e fraca, que parecia ter envelhecido uma década.

Sorriu não se arriscando a se aproximar mais, temendo fazer algum mal ou violar algum espaço privado. “Hey... Fiquei sabendo que acabou de chutar a bunda da morte.”

Retribuiu com um sorrisinho fraco. “Pelo visto ainda não é minha hora.” Suspirou. “Graças a você.”

Desconfortável, o sorriso dela foi diminuindo. Percebendo, a freirinha sorriu fracamente. “Vejo que você não está acostumada a salvar a vida de alguém.”

“Nem foi tão grande coisa assim...”

“Pelo o que me contaram, foi.” Fechou os olhos, como se estivesse com dor, e Bella mudou o peso dos pés, preocupada.

“Está sentindo alguma dor? Eu posso chamar alguém e...”

“Não, não.” A freira negou. Voltou a abrir os olhos azuis. “Venha mais perto, querida.”

A criminosa foi hesitante. Ao se aproximar, notou que o peito da freira estava coberto de marcas roxas, e instantaneamente soube que fora por sua causa.

“Desculpe por isso...” Começou. Seguiu seu olhar e sorriu.

“Por favor, não se desculpe! O médico disse que foi o que fez a diferença. Ficou impressionado por alguém ter pensado nisso...”

“Mas mesmo assim...” Os machucados pareciam bem feios.

“Deixe de bobagem.” Sorriu e então fez um gesto fraco com a mão no colchão, chamando-a para sentar ali. Ela foi e se sentou com as pernas juntas e as mãos repousando nos joelhos.

Seu olhar recaiu na cômoda onde havia um porta-retrato que trazia a foto do que logo reconheceu como sendo ela e o general na entrada dele para o exército. Ele estava com a farda camuflada e a expressão fechada como sempre, contrastando com o sorriso contagiante da freirinha ao seu lado que passava um braço por sua barriga.

“Muito obrigada, Bella. Você tem sido um anjo em nossas vidas.”

A ex-infiltrada voltou o olhar para a senhorinha e engoliu em seco.

“Eu sei que você não ficará aqui por mais tempo... E que precisará seguir com sua vida... Mas saiba que você sempre terá um lugar aqui, está bem?”

Assentiu, sentindo um nó estranho na garganta.

“E, por favor,” Deu um sorrisinho. “Não conte sobre isso á Edward.”

“Por quê?” Questionou curiosa.

“Do jeito que ele é, é bem capaz de querer me internar em um hospital e me deixar apodrecer lá dentro. Já tive reprimendas demais hoje... O médico ficou questionando meus hábitos...” Bufou. “Respeito à medicina, mas ninguém tem o direito de me dizer como comandar minha vida... Ou me dizer o que comer, e quando comer.”

Bella riu, e a freira retribuiu com seu sorrisinho fraco.

“Queriam me levar para o hospital, vê se pode? Mas então disse ao médico que se tivesse que ficar em uma cama que fosse aqui, onde tinha certeza que me recuperaria bem mais rápido. Ele me entufou de remédios e precauções... Como se Deus não fosse o bastante.”

A freirinha além de esperta era bem das teimosas, percebeu. Mas todo aquele incidente do ataque do coração serviu para mostrar a todos que ela não era imortal, e já estava envelhecendo. O general precisava saber daquilo para dar mais valor, mas se a freira não queria que soubesse não contaria, embora achasse que deveria.

As duas ficaram em silêncio por algum tempo, até a Alfa I perguntar:

“O padre Andrew sabe de alguma coisa sobre mim?”

“Por quê?”

“Bem...” Começou hesitante. “Depois do... Ocorrido, ele me trancou no quarto e só me deixou sair agora... Eu não sei o que pensar, eu...”

“Não contei nada querida, se é o que me pergunta. Embora não tenha muito que contar.” Suspirou, dando ênfase ao fato de não saber muito mais de Bella do que Andrew. “Mas ele é muito inteligente... Muito. E ele só quer seu bem... É um ótimo homem...”

Assentiu. O padre a tirara da cozinha quando falaram que o médico tinha chegado. E depois impedira que o médico a visse. Tinha a protegido? Sabia que ninguém de fora poderia vê-la, porque estava sendo perseguida pelo país?

Mas como descobrira? E se sabia, porque não falara nada com ela? Porque não a ameaçara? Ele não gostava dela, nem um pouco, por mais que Mary dissesse que sim. Então por que não a entregara?

A freira, no fim, só queria agradecer e um pouco de companhia. E Bella ficou ali boa parte da tarde na cabeceira da cama, lendo alguns livros e até a Bíblia. Nunca sequer pegara no livro sagrado e foi meio estranho estar lendo pela primeira vez, ainda mais quando não entendia praticamente nada... Ou melhor, não acreditava em praticamente nada.

No tempo que estava ali no orfanato, Deus estivera presente em cada dia. Seja nas orações, nas missas diárias, no padre, nas freiras e em todo o ambiente religioso em si. Não poderia dizer que adorava religião agora, mas pelo menos ali sentia a paz que há muito tempo não sentia.

Quase ao crepúsculo, Tony apareceu na porta, um pouco temeroso e com a voz fraca perguntou:

“Ela vai viver, não vai?”

Bella sorriu e chamou-o com a mão para perto de onde ela estava. Ele se aproximou de forma hesitante e espiou a freirinha que dormia.

“Ela parece branca.”

“Está pálida.”

“Ela vai ficar boa?”

“Vai sim.”

“Então por que ela precisa ficar aqui trancada?”

“É só por um tempo.”

O menino assentiu colocando as mãos atrás das costas, fazendo uma cara de resistente. A criminosa logo viu outra semelhança com o general ali: A cara de “não ligo nada para isso”. Mas sabia que assim para tantos outros, aquela velhinha era como uma mãe, e perdê-la seria bem difícil.

“Ela vai ficar boa, Tony.” Bella segurou a mão dele e olhou-o bem nos olhos, confortando-o.

“Tem gente que não deve morrer.” Sussurrou.

Ela engoliu em seco. “Eu sei.” Concordou, pensando em seus pais.

Tony foi embora minutos depois e pelo que parece, era o porta voz de todos os outros pivetes, pois logo espalhou o veredicto de que Mary viveria. Fizeram uma pequena algazarra do lado de fora do quarto, mas logo foram reprimidos por algumas noviças, clamando que Mary precisava de silêncio.

“Bella.” Alguém a chamou da porta. Era Thereza, outra freira. “Você pode ir descansar. Eu fico com ela o resto do dia.”

Assentiu e deu uma última olhada para a figura fraquinha e tão teimosa na cama. Acariciou sua mão e logo os orbes azuis tão vívidos a encaravam.

“Obrigada por tudo.” Sussurrou. Achava que a freira estava agradecendo-a somente pelo episódio mais cedo, mas na verdade também agradecia por Edward.

“É eu quem tem que agradecer aqui, Mary.” Sorriu.

Levantou-se e cedeu o lugar para Theresa que deu um tapinha gentil em seu ombro.

“Como está Mary?” Catherine perguntou quando Bella apareceu na sala da lareira onde estava tricotando.

“Bem melhor.” Sorriu. Achou um jornal na mesinha de centro e pegou-o. “Pensei que só tínhamos um exemplar.”

“Ah, o padre esqueceu-o aqui no meio de toda a agitação.”

Bella assentiu e deu uma folhada no jornal. E quando estava quase o devolvendo, um artigo interessou-a:

Fontes acreditam que a Agência de Segurança Nacional esteja escondendo poderoso crime.”

Leu rapidamente o artigo, mas nada de relevante havia. Só especulações de que grandes líderes estavam se reunindo na NSA nas últimas semanas, e embora dissessem ser pela ocasião da eminente guerra no Oriente Médio, acreditavam que algo grave acontecera dentro daqueles muros.

Suspirou e devolveu o jornal a mesinha, virando-se para Catherine: “Onde está o padre Andrew?”

“Ah... Ele saiu há algumas horas. Ele tem uma missa para rezar hoje.”

“Missa?” Questionou. Tratava-se de uma quinta feira e as celebrações na paróquia durante a semana só eram realizadas de manhã.

“É, pensei que você sabia.” A noviça encarou-a assustada. “Hoje faz vinte e seis anos da morte dos pais de Edward.”

“É hoje?” Questionou, se erguendo em um ímpeto.

“Eu pensei que soubesse.”

“Não, não sabia.” Ninguém contara. Sabia que era lá pro meio de janeiro, mas não exatamente a data. E com todos aqueles acontecimentos, como poderia se lembrar? “Onde está sendo a missa?”

“Na paróquia mesmo... Por quê? Bella, você não pode ir.” Mas a criminosa já tinha se levantado e começado a ajustar as vestes.

“Mary está de cama e o médico proibiu-a de sair... Ela é a única que vai nessa missa. E ele vai estar sozinho lá.”

“Sim, mas...”

“Eu preciso ir.”

“Mas Bella... Você não pode sair... Mary falou sobre seu... Problema.” O “problema” era que a criminosa era perseguida por um ex-namorado que nunca aceitara sua escolha de vida religiosa.

“Eu estarei bem.” Garantiu, ajustando o véu na cabeça. Mary esquecera-se de falar que a missa era naquele dia? Achava provável, devido a sua situação.

“Mas...”

“Eu voltarei Catherine. Não se preocupe.” Sorriu, assegurando-a, mal sabendo que não cumpriria aquela promessa.

*

A catedral All Souls Church ficava a algumas quadras do orfanato. Seu interior estava extremamente silencioso, a não ser pelas palavras doces proferidas pelo sacerdote Andrew. Na primeira fileira de bancos se sentava um homem de ombros largos, postura perfeita e cabeça erguida, cujos olhos se mantinham fixos na cruz de madeira ao lado do altar.

Outras duas pessoas estavam presentes, mas não tinham conexão alguma com a família. Suas roupas eram comuns á região, mas havia alguma coisa no rosto de ambos que dizia que não provinha dali.

“Eles eram pessoas respeitadas e corajosas. Esme e Carlisle Cullen, dois cristãos que temiam a Deus...”

A cerimônia estava quase na metade e o general Cullen embora estivesse com o olhar sempre fixo na cruz, absorvia vagamente as palavras do padre. Se fosse por ele, o padre poderia calar a boca a missa inteira que teria o mesmo valor. Aquelas expressões eram para ele mais sem sentido do que novato se achando general.

Percebeu que durante todos aqueles anos nunca dera importância a presença de Mary na igreja. Ela nunca faltava, embora nunca a chamasse ou fizesse questão de que fosse. Nem ao menos lhe dirigia o olhar e quando a cerimônia terminava, ele simplesmente se levantava virava as costas e ia embora sem olhar para trás.

Mas se surpreendeu quando naquele dia, em que não viera, sentiu como se algo estivesse faltando. Como se as coisas não estivessem normais. Não que se importasse –estava pouco se lixando pra toda aquela porra – mas era estranho.

“Hoje é o vigésimo sexto aniversário de morte desse casal, que morreu de forma tão trágica... Rezemos pelas almas deles... Com certeza eles estão em paz, pois são tão amados mesmo depois da partida e honrados por seu único filho...”

Edward fechou os olhos sentindo toda a calmaria romper por seu corpo. Sempre fazia questão de missas todos os anos, embora não fosse de todo religioso. Sentia-se bem quando o fazia. Achava que devia pelo menos isso a seus pais e, que fazendo aquilo, a memória deles estaria sempre presente nas pessoas que pareciam se esquecer tão facilmente.

Por que ninguém se lembrava deles? Por que viviam vidas inteiramente felizes e seguiam em frente quando uma barbaridade como aquela havia acontecido? Não entendia porque era o único que estava naquela igreja lembrando-se, importando-se.

O que havia de errado com o resto do mundo?

De repente sentiu o banco ranger um pouco. Era Mary, só poderia ser.

O olhar do presidente da cerimônia deslocou-se rapidamente para a cena que se desenrolava bem na frente de seus olhos. E na observação dos fatos que se sucederam muitas coisas esclareceram-se e encaixaram-se como um quebra cabeça.

Edward continuara de olhos fechados respirando calmamente e continuando a ouvir as palavras do ancião. E foi só depois de vários minutos que sentiu uma mão quente de forma hesitante ir trilhando um caminho pelo banco até cobrir sua mão, mandando-lhe a costumeira corrente elétrica. Surpreendeu-se ao perceber que a respiração tão calma falhara algumas batidas com aquele toque.

Seus olhos se abriram repentinamente enquanto virava a cabeça para a pessoa ao seu lado e encontrava a razão de todos seus problemas vestida de freira. Ela não o encarava, seu olhar fixava-se no padre – que dava algumas olhadelas naquela direção a cada cinco segundos.

Ele estava confuso, chocado... E uma bosta de tantos outros sentimentos por sua presença ali. Mais estava ainda mais irritado... Porque suas ordens eram claras: ela não poderia sair da porra daquele orfanato.

Por pressentir exatamente o último sentimento, Bella nem se deu ao trabalho de virar-se e encontrar o olhar reprovador. O general poderia falar o que quisesse... Não iria embora dali. Quando Catherine avisara da missa, não pensara duas vezes. O general poderia se fazer de muito durão, mas ninguém merecia ficar sozinho daquele jeito. Não importasse o que dissesse.

“Porque Deus... Deus é misericordioso... Com certeza suas almas estarão com ele... E eles estarão olhando por nós... E por seu filho...”

“Que porra está fazendo aqui?” Ouviu-o murmurar sub-repticiamente.

Ignorou-o e recebeu um baixo rosnado como resposta.

Depois de vários minutos, já estava se mordendo na vontade de desviar o olhar do padre e procurar outra coisa para fazer. O teto da igreja era daqueles no estilo barroco, cheio de ornamentos, com cores fortes e nenhum espaço para os olhos repousarem. Tornou a cabeça para trás e começou a tentar recordar o que a pomba branca significava. Estava quase chegando à resposta – que era Espírito Santo – quando sentiu um olhar queimando-a. O certo seria ter evitado encontrá-lo, mas seu corpo respondia antes de sua mente. Encontrou os olhos verdes e não soube por quanto tempo ficou ali simplesmente encarando-os. Não havia somente um leve tom de irritação neles, - como se era de se esperar já que havia desobedecido a ordens, - mas também confusão, parcialmente encoberta por sua expressão tipicamente impassível.

De repente, a ALFA I baixou os olhos e tornou-se consciente de sua mão ainda repousada sobre a dele. Talvez por parecer tão natural não houvesse prestado grande atenção, e agora, envergonhada por suas atitudes, recolheu-a. Que porra estava pensando?

Aquele homem ao seu lado poderia dividir algo profundo com ela, mas ainda continuava sendo o cara que teria que entregá-la. E ela não gostava dele também... Nem um pouco. Credo!

Uniu as mãos no colo e voltou-se para o altar, só para depois sentir aquelas mãos grandes e másculas buscando-a novamente e entrelaçando seus dedos clandestinamente no banco da igreja. Um sorrisinho discreto brotou em seus lábios enquanto fingia que não via o olhar perspicaz do padre.

Durante todo o tempo em que esteve na cerimônia, à criminosa estava tendo a sensação de estar sendo observada. Achou que fosse o general com seu olho no ouvido, mas logicamente que não era. Discretamente espiou por cima do ombro o lugar parcialmente vazio, fazendo o trabalho de cobrir seu rosto com boa parte do véu. Notou dois homens no canto mais afastado que aparentemente tinha toda sua atenção no padre.

Encarou-os por algum tempo até voltar seu olhar para o altar novamente.

Aproximou-se um pouco mais do generalíssimo e murmurou quase não movendo os lábios:

“Aqueles dois homens estão me observando.”

Bella não soube quando o general olhou, mas de algum jeito o fez, e seus lábios crisparam-se.

“Conhece-os?”

Ela negou minimamente. Olhou novamente, e embora não estivessem encarando-a, o corpo deles estava voltado na sua direção. Bendita NSA e suas aulas de expressões corporais!

O padre limpou a garganta, claramente chamando atenção, e a criminosa rapidamente voltou-se a ele. A visão somente, porque o resto estava nos homens suspeitos.

“Que Esme e Carlisle descansem em sua glória, Senhor, e viveremos para o dia onde todos nos encontraremos onde é melhor; onde todos nos veremos novamente sob Suas mãos. Amém.”

“Amém.” Repetiu, silenciosamente, pensando nos seus próprios pais.

A cerimônia terminou e o padre entrou na sacristia para trocar-se, sem deixar de lançar um olhar de esguelha naquela direção, ato que repetira toda a missa.

Os dois permaneceram parados por um bom tempo. Sabia que o general embora estivesse com o olhar na cruz de madeira, estava observando de algum modo os homens no fundo do salão.

Precisavam ir embora... E só então poderiam o fazer também. Ela tinha muita certeza que estavam a observá-la. Não se enganava facilmente... Quer dizer, só quando envolvia certo militar na equação.

Então duas coisas aconteceram simultaneamente.

Primeiro os dois homens se levantaram ao mesmo tempo.

Depois eles começaram a ouvir passos ecoando pelo corredor central da igreja.

As mãos entrelaçadas se separaram rapidamente e tanto a ALFA I tanto o generalíssimo viraram a cabeça a tempo de ver o homem se aproximando. A sorte da mulher foi que não virara o rosto totalmente e que a atenção do recém-chegado estava no general, cujas mãos se apertavam em punhos.

“Cullen.” McCarthy cumprimentou, enquanto parava a dois passos do lugar onde a criminosa se encontrava.

*

Quantos merdas uma pessoa é capaz de dizer em um milésimo de segundo? Bella falara tantas que já até perdera a conta.

Porque só mesmo com ELA que aquilo poderia acontecer. Primeiro de tudo: pessoas normais não trabalhavam para organizações mafiosas; pessoas normais não se infiltravam em organizações fodásticas de segurança internacional; pessoas normais não sentiam falta de um miserável arrogante e problemático generalíssimo com malditas três estrelas no peito; pessoas normais não eram foragidas; pessoas fora-da-lei não se importavam se ninguém estaria na porra de uma missa lembrando a morte de seus pais; pessoas criminosas E normais não eram tomadas de surpresa com situações inesperadas... Quando, por exemplo, aparecia o cara que não hesitaria em prendê-la a menos de um metro de distância.

E pessoas normais e criminosas não ficavam paradas sem fazer nada nessas situações!

E por mais que falasse para seu corpo se mover e fazer alguma maldita coisa, ele não a obedecia. Permanecia ali, parada, feito uma estátua, olhando para frente e rezando para que McCarthy não a reconhecesse.

E também para onde iria mesmo se pudesse? Para chegar até a porta principal ou quaisquer umas das laterais precisaria se virar e conseqüentemente revelar seu rosto. Poderia ter a sorte de o general ser bonito e másculo o suficiente para atrair os olhares até de seu ex-amigo, mas aí seria abusar da sorte.

O jeito era permanecer ali e esperar que fosse embora. Mas por que estava com aquela porra de pressentimento que não iria ser do jeito dela?

McCarthy sempre tivera o físico avantajado. Era alto e forte, com todos os músculos no lugar. E mesmo depois do longo período na cadeira de rodas, conseguira de volta todo o tônus muscular e a não ser por um andar um pouco mancado, parecia perfeitamente bem. Porém quando o general Cullen se levantou com toda sua majestosa muralha de músculos e imponência ficando cara a cara com o ex-amigo, - com uma expressão que conseguiria gelar o fogo do inferno, - Emmett entrara em certa desvantagem.

“Que porra você está fazendo aqui?” Rugira, em um tom baixo, porém que não deixava de transmitir todo o desprezo que o emissor possuía por aquela pessoa.

Emmett não pôde evitar recuar um passo como se em volta daquele homem que controlava todo um exercito e era temido por vários criminosos houvesse um campo que afastasse aqueles quem não suportava. Sabia muito bem que estava na tal lista, embora mesmo quando os dois viviam em harmonia ele nunca fora capaz de adentrar mais que lhe era permitido. Com Cullen era assim.

“Calma.” Disse enquanto levantava as mãos no ar em rendição. “Eu vim prestar minhas condolências...” Repousou o olhar no altar por um segundo até completar. “Pelos seus pais.”

“Ótimo. Eles já estão extremamente ofendidos com elas. Agora poupe Jesus de sua presença e se retire.”

McCarthy suspirou pesadamente. Não duvidara nem por um minuto que seria fácil, mas encarar a situação na realidade era outra coisa. Parecia que o general Cullen tinha um verdadeiro arsenal de tiradas que usava toda vez que via ele. Um bem grande, deve-se ressaltar.

“Eu também vim porque preciso conversar com você.”

Cullen bufou com impaciência e puxou o militar pelo braço para mais longe do banco o possível. “Eu não tenho porra alguma para falar com você, caso não tenha deixado claro nas últimas ocasiões.”

“Eu sei...” McCarthy separou-se de seu aperto e parou no meio do corredor. “Eu não viria se não fosse um assunto importante. Precisamos conversar como pessoas civilizadas.”

“Pessoas civilizadas?” Bufou ironicamente. Apesar da voz baixa, o tom ríspido era bem ressabiado pela igreja vazia. “Pessoas civilizadas seguem hierarquia, sabem a porra de seu lugar! Pessoas civilizadas recebem um monte de porra de ordens e obedecem-nas!”

O maxilar do outro homem cerrou-se e o pomo de adão ficou bem evidente acima da gola da camisa que usava. “Eu só fiz o meu dever, o que você deveria ter feito.” Mas sabia que acusações não era o caminho certo por ali. Suspirando, olhou-o pesadamente. “Parece se esquecer que fomos amigos antes de tudo...”

“Você. Nunca. Foi. Meu. Amigo.” Disse ele, com muito mais desprezo na voz do que anteriormente. Apontou com o queixo a porta da paróquia e continuou. “Agora faça a porra do favor de sair daqui, porque igreja não é lugar para filhos da puta como você.”

O outro respirou fundo. “Cullen...” Começou. “Eu realmente preciso conversar com você. E não sairei daqui antes que consiga.”

Edward cerrou os punhos controlando-se para não socar o infeliz ali mesmo. Ele ainda não percebera a freira que continuava sentada no banco de forma rígida, mas era questão de tempo até que alguma merda acontecesse. Se não fosse ela, nem teria se dado ao trabalho de olhar para Emmett. Teria simplesmente virado as costas e partido, como sempre fazia. Para ele, indisciplina era uns dos piores defeitos que um homem poderia ter. E mesmo que, estando certo em tentar proteger o país, aquele infeliz continuava sendo um subordinado seu e deveria ter seguido suas ordens.

Sabendo que McCarthy não arredaria o pé dali até conseguir seu objetivo e por mais que odiasse fazer com que ele o conseguisse, precisava agir. Por seu novato. Não jogara tanta merda no ventilador para simplesmente ser molhado por elas.

Olhou para a saída da nave e constatou o que suspeitava: Na praça da igreja os dois homens estavam sentados em um banquinho comendo cachorro quente.

Ele, então, cerrou os olhos com força pedindo por controle. Tinha suas desavenças com McCarthy, lógico. Tudo porque desde que confessara que sabia que havia um infiltrado na organização, ele não parara de pressioná-lo para revelar quem era e prendê-lo. Quando não fez nada no prazo que estipulara, o infeliz acabara armando uma emboscada por suas costas que quase fizera com que seu novato fosse pego.

Admitia que o coronel-general havia feito o que era certo. Quem estava fora-da-lei ali era ele. E toda aquela raiva e ódio poderiam ser um pouco exageradas vendo a situação de fora... Mas é que não poderia suportar nenhum infeliz mexendo com seu novato. E tudo o que aquele homem na frente mais queria era prendê-la, o que ele estava lutando tão arduamente para não acontecer.

Todas aquelas reflexões aconteceram em milésimos de segundo, pois logo o general já olhava para o colega militar com ironia espalhada na face, tornando suas feições bem menos humanas do que quando costumava estar com Bella.

“O que você vai dizer, hein?” Disse, então. “Me deixa adivinhar... Vai me acusar de estar protegendo a porra de um criminoso?”

Uma sombra passou pelos olhos do militar e Edward sabia muito bem que desconfiava, e tinha quase absoluta certeza, que havia alguma coisa a ver sim com ela. Grande merda.

“Eu vim conversar.” Repetiu paulatinamente. “Como adultos.”

Edward bufou. Será que não desistia? E por que teve que ir justo ali na igreja para obter aquilo? Porque não o abordara na porra da NSA?

A resposta veio antes mesmo que terminasse seus resmungos: Ele não dava chance.

Então, o olhar de McCarthy instalou-se na freira que continuava sentada no banco com os ombros curvados como se estivesse rezando.

Seu olhar pregou-se naquela cena mais tempo do que deveria, afinal, era algo comum encontrar freiras rezando em igrejas. Mas havia alguma coisa estranha ali. Era como um sexto sentido. McCarthy era conhecido por cheirar situações que não se encaixavam. Conseguira perceber algo quando vira Bella disfarçada no meio do pátio da NSA e ali não era diferente.

Lógico que aquilo não passou despercebido pelo general que cerrara os punhos prontos para socá-lo até a morte se fosse necessário. Não importava se estava na igreja ou o raio que o parta.

“Quem é ela? Mary?”

“E eu lá me importo com quem seja?” Rugiu o general, fingindo indiferença. Com perfeição, deve-se ressaltar.

“Ela estava no banco com você.” Merda.

“Agora vai tomar conta de quem senta no mesmo banco que eu também, porra?”

“Não...” Olhou-o de forma desconfiada. “Eu só irei cumprimentá-la. Não é todo dia que vemos uma freira, e fiquei sabendo que são mulheres muito sábias. Talvez ela coloque algum tipo de discernimento na sua cabeça.”

Precipitou-se para ir em direção a ela, mas uma mão enorme agarrou-lhe pelo braço. “Repita o que você disse.” Edward sibilou, expelindo veneno. “Repita o que você disse e tenho certeza que sua família não gostará de ficar sem comer nos próximos anos.”

McCarthy olhou para a mão que o segurava com firmeza e depois para os olhos verdes com certa dor. O general tinha pegado em um ponto fraco. Era ele quem sustentava sua família, e isso era um dos motivos que, mesmo quando poderia tirar licença para recuperação do acidente, continuara trabalhando. Não se machucara em trabalho para a NSA, portanto não receberia nada se largasse o emprego. Com o olhar que o ex-amigo sustentava, não desconfiou nem por um momento que seria capaz de mexer seus pauzinhos e mandá-lo para o olho da rua.

“Retiro o que disse.” Disse com o maxilar trincado. “Mas creio que o senhor ainda não tem o poder de impedir que eu converse com alguém.”

Começou a andar, mas novamente foi impedido pelo generalíssimo.

“Vamos lá para fora. O problema é entre mim e você. Não meta outros nisso.”

“Agora você quer conversar?”

“Vamos embora.” Repetiu furioso com uma veia latejando perigosamente em sua testa.

“Não.” Lançou-lhe um olhar perspicaz. “Eu irei conversar com ela primeiro.”

“Seu filho de uma...”

Mas antes que Edward pudesse fazer alguma coisa, McCarthy se desvencilhou e foi em direção a freira, suspeitando a verdade. Havia alguma coisa ali. Tinha quase certeza, não quando vira a sombra de preocupação nos olhos do general.

Seu coração chegava até a palpitar ante a perspectiva, mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, o padre Andrew saiu da sacristia e se dirigiu á Bella:

“Irmã Catherine, ainda bem que continua aqui. Por favor, venha me ajudar em alguns afazeres dentro da sacristia!”

Quando Bella vira o padre indo a sua direção, por um milésimo de segundo, achou que se, verdadeiramente soubesse quem era, aproveitaria a oportunidade e a denunciaria. Aquele tempo fora o suficiente para gelar dos pés a cabeça e sentir como se todo o sangue do seu corpo fosse para seu coração.

Então dissera aquelas palavras, e apesar da desconfiança, sabia que não tinha alternativa. O único ponto de salvação ali era o padre.

Levantou-se, rezando para não estar tremendo e murmurou um “absolutamente” com uma voz rouca e envelhecida. Fez até um teatrinho encurvando as costas como se estivesse com dor. O pároco até passou os braços por seus ombros e foi guiando-a, enquanto tagarelava que “o sacristão da igreja não aparece mais, ninguém respeita os horários. Todos acham que dia de igreja é somente nos domingos... Que grande falta de fé!”

Quando a porta da sacristia fechou-se atrás dela em um baque, respirou fundo e quase se encostou a ela e foi deslizando-se em alívio, tentando controlar as batidas aceleradas de seu coração.

O “quase” foi porque o padre Andrew a pegou pelos braços com força e começou a empurrá-la para uma porta lateral.

“Ei, calma!” Protestou.

“Você tem que ir embora daqui. Agora.”

“Espera!” Bella parou. “O que...”

“Não precisa mais fingir, garota. Eu sei quem você é.”

“Hein? O que? Como... Padre, você está delirando.”

Parou-a de supetão e pegou-a pelos ombros. Aqueles olhos duros entraram com força nos seus.

“Não perca mais seu tempo fingindo porque você não tem mais. O seu lugar não é aqui, você precisa ir embora.”

“Padre, eu acho...”

Começou a empurrá-la de novo em direção a porta. Sabia que não adiantava mais fazer o sacerdote pensar de outra maneira, então, por fim, perguntou totalmente confusa:

“Mas... Como?”

“Jornais, observações, inteligência, não é preciso ser um gênio para ligar pontos.”

Oh meu Deus... Se o padre descobrira tão facilmente, outros poderiam descobrir também.

Mas espera... Por que estava ajudando-a? Porque sim, ele a ajudara fazendo com que McCarthy pensasse que era uma freira conhecida impedindo-o de ver quem realmente era. Se não fosse o padre, sabia que estaria perdida. Por mais que o general tentasse impedir McCarthy de agir, mais ele desconfiaria que existisse algo ali.

“Eu sei que aquele homem está atrás de você, e outros virão. Se é que já não vieram. Eles estão atrás de você, menina. Você precisa ir embora. Não existe lugar seguro aqui para você.”

Ela assentiu e encarou aqueles olhos azuis com confusão. Atrás dela estava à parte detrás da praça que a recebia com um vento gelado.

Umedeceu os lábios e por fim, perguntou:

“Por quê? Nem sequer gostas de mim.”

“Isso não é por você.” Disse, simplesmente, fechando a porta na cara dela.

Por Mary, ela sabia. Por ter salvado a vida dela mais cedo.

Ficou alguns segundos parada embasbacada ainda tentando absorver toda a situação recente. A vida dela era uma merda. Mas uma merda bem agitada. Poderia ser dividida em dois momentos principais: quando não fazia nada, e esse nada era definitivamente nada... E quando tudo acontecia de uma vez e ela nem tinha tempo de pensar “fudeu!”

Convenceu seu corpo a botar-se em movimento e sair dali. Para onde ir? O orfanato? Seria seguro lá? Poderia chegar até lá?

“Outros virão. Se é que já não vieram. Eles estão atrás de você, menina. Você precisa ir embora. Não existe lugar seguro aqui para você.”

Mas para onde ir? Estava em uma cidade desconhecida com um pequeno detalhe: Ali era a porra da capital do país!Simplesmente não poderia sair correndo por aí, pegar um metrô ou morar embaixo da ponte, porque tinha um grande risco de esbarrar acidentalmente na Casa Branca ou ser pega pelos caras dos helicópteros e polícia local, que com certeza tinham o aviso de procurá-la.

Mas todos os pensamentos voaram para além do arco-íris quando uma sombra ao longe foi flagrada pela luz do lampião. Ordenou seus pés a se moverem e andou pelas áreas mais escuras e desertas.

Havia chovido recentemente e o solo estava pegajoso, fazendo com que seus pés grudassem e fizessem um barulho irritante.

Mas não era o único sapato a fazer aquilo por ali.

Apressou o passo sentindo o coração bater de forma agitada em seu peito. Poderia ser qualquer transeunte vagando por ali, certo? Não era muito tarde da noite e as pessoas costumavam andar pela praça, passeando.

Mas depois de alguns minutos ela já não acreditava mais nas próprias estórias de carochinha. Alguém estava seguindo-a.

Então ela simplesmente respirou fundo e correu.

*

Dentro da igreja, Emmet, por sua vez, ficou a ver navios enquanto o generalíssimo quase respirava de alívio. Ao invés disso simplesmente arqueou uma sobrancelha.

“Pensou que era quem? A porra da infiltrada?” Provocou, brincando com fogo. “Por favor, me poupe. Pensei que os homens da NSA fossem melhores que isso.”

Emmet suspirou pesadamente e virou-se para Edward. “Eu também pensei.”

Sabia o que estava sugerindo. McCarthy, enquanto Bella ainda estava na NSA, sempre fora da ridícula teoria que os dois tinham alguma espécie de envolvimento, chegando até uma vez a ler um livro sobre pessoas apaixonadas para ver em qual classificação os dois se encontravam.

Mesmo não conseguindo no livro nada que pudesse relacionar a eles, sabia que existia algo, e os sinais apesar de discretos eram evidentes.

Quando houve todo o negócio do infiltrado e acabou que era Bella, e todo aquele lance da fuga, ele logo desconfiou que os sentimentos do general tivessem ido muito além do racional e que ele pudesse ter cometido a loucura de acobertar a criminosa. Mas Edward não dava a mínima sugestão de estar apaixonado por alguém, então McCarthy começou a criar a teoria que os interesses do comandante eram vingativos, já que a mulher tinha uma ligação com os Volturi.

A criminosa em questão dividia exatamente a última teoria com McCarthy, mas com o passar dos dias, mesmo que não conscientemente, começara a perceber que vingança e seu relacionamento com os Volturi não eram as únicas coisas que impulsionavam o arrogante.

O general pegara aquilo muito bem, mas lutou para não deixar aquilo demonstrar em seu rosto.

“Você viajou até aqui, em Washington, para me acusar novamente de estar protegendo uma criminosa? De onde você está se baseando dessa vez?” Ironizou. “De algum livro de como as pessoas ficam apaixonadas?”

McCarthy fechou a cara.

“Eu não vou perder meu tempo com você.” O general por fim disse, com a voz seca.

“Eu não vim falar nada disso.” Suspirou. “É sobre a guerra.”

“Não poderia esperar a porra da reunião que acontecerá em alguns dias?”

“É importante. Preciso falar antes da reunião.”

Apesar de desconfiar disso, os dois homens saíram da igreja, não sem antes o olhar de o general ir discretamente para a porta da sacristia, pensando pela primeira na vida no padre Andre com gratidão.

Na praça, escrutinizou o ambiente e notou que um dos homens suspeitos não estava ali. Merda. Precisava se livrar de McCarthy e pegar seu novato antes que as coisas piorassem.

Mas não poderia simplesmente virar as costas. Emmett estava obstinado e poderia segui-lo ou impedir seus planos.

“Fale.” Ordenou de uma vez.

O outro limpou o suor da testa. “Podemos conversar no caminho de volta para a NSA.”

“Fale!” Ordenou, perdendo a paciência. O idiota sabia muito bem que sempre que Edward vinha para a missa de seus pais passava uns três dias longe do trabalho.

“A situação está cada vez pior, você sabe. Não sabemos se vai ser necessária a nossa intervenção ou não, mas se isso acontecer pode ser amanhã, daqui uns dias ou até meses.” Quando o general bufou em impaciência, afinal ele sabia aquilo de cor e salteado, continuou: “Fiquei sabendo que eles querem mandar os novatos para a guerra.”

“O quê?” Toda a atenção exterior do generalíssimo se extinguiu enquanto encarava McCarthy como se fosse de outro mundo. “Mandar os novatos? Eles estão loucos?”

“Eu também concordo com você. Mas parece que o governo não quer mandar a elite de suas organizações para uma guerra naqueles países árabes pobres e loucos.”

“Mas isso não justifica mandar os novatos. Eles não têm treinamento suficiente para ir para uma guerra, pelo amor de Deus! Mandá-los para lá é pedir que seja um fracasso e que ainda várias mães preparem enterros múltiplos.”

O pior era que sabia que os próprios gafanhotos gostariam de ir. Ficariam até excitados ante uma “emoção” daquela.

“Eu concordo totalmente com você.” McCarthy suspirou. Edward deixou de lado a cara feia por o infeliz concordar com algo que ele dissera. “Mas foram os rumores que ouvi. Por isso vim aqui hoje,” Não acrescentou que também quisera dar uma espiada no terreno, mas tudo bem. “A reunião vai ser daqui alguns dias. E eu não serei suficiente para lutar contra isso. Você tem muita influência, Cullen, poderá fazê-los reconsiderar.”

Edward ficou em silêncio por algum tempo digerindo toda aquela informação. Já tinha tomado sua decisão, porém não poderia perder oportunidade alguma de cutucar McCarthy.

“Não sei se minha influência será tão necessária, afinal, tem certas pessoas nessa organização que se acham no poder de se auto-hierarquizarem. Por que não se auto-influenciam também?”

O outro fechou a cara, mas a atenção do agressor não estava mais nele, mas sim no segundo homem que se levantando do banco da praça dirigira-se até um carro estacionado ali perto. Embora toda aquela conversa sobre os rumores da guerra terem desviado um pouco sua atenção, no fundo de sua mente suas preocupações atuais continuavam ressabiando.

Precisava mover-se rápido. Algo lhe dizia que iria dar merda aquela noite. Se McCarthy não estivesse ali, daria um jeito de pegar aquele homem e arrancar-lhe respostas. Mas logo o carro se distanciou contornando a rua da praça e ele perdeu sua oportunidade.

“O recado já está dado.” Disse, recobrando a compostura, com a voz gélida. “Agora pode ir embora.”

“Cullen, eu...” Começou o outro.

“Isso é uma ordem.” Rosnou. McCarthy encarou-o firmemente por alguns minutos, mas logo desistiu.

Edward esperou que ele desse partida em seu carro até entrar na igreja novamente indo em direção a sacristia. Sua mão automaticamente foi para a pistola que estava em sua calça.

Lá dentro encontrou um padre com as duas mãos apoiadas em uma mesa de madeira, como se estivesse lendo um mapa, mas nenhum estava sobre o tampo. Na entrada impetuosa do homem, se limitou a erguer os olhos e dizer:

“Ela já se foi.”

“Para onde?” Rugiu.

“Para onde mais uma criminosa iria, Edward? Para a cadeia, lógico.”

“Você ligou para a polícia?” Em um rápido movimento, o padre já estava com os olhos esbugalhados sentindo o fino cano da arma prensado contra sua garganta.

O padre, aterrorizado, olhou no que o homem que Mary via como filho e que brigara tanto na adolescência havia se tornado. Era um homem muito alto e forte, com uma cara que poderia ser considerada atraente quando relaxada. Mas seus olhos naquele momento... Se o padre pudesse fazer algum movimento teria feito o sinal da cruz. Era algo como... Demoníaco. Assustador.

“Chamei.” Murmurou. Logo quando a criminosa saíra ele ligara para a polícia local, dizendo achar que uma suspeita deveria estar vagueando por ali. Não revelou quem era, e não ficou tempo suficiente na linha para que o identificassem. Deixara-a ir embora por causa da gratidão que sentia por Mary, mas era só. “Fiz meu dever como cidadão.”

“Mas você deixou-a sair?”

“Deixei. Ela deve estar em algum lugar por aí, fugindo.”

“Merda.” Foi tudo o que Cullen murmurou enquanto guardava a arma e ia em direção a porta da sacristia. O padre Andrew tomou controle de si mesmo depois de alguns segundos e enquanto encarava as costas onipotentes de seu afilhado, se questionou:

“No que você se meteu Edward?”

*

Quando as pessoas costumam assistir filmes de suspense e sempre quando há aqueles momentos de perseguição, o diretor geralmente não deixa som nenhum, limitando-se a por somente as respirações entrecortadas e os passos desesperados no chão. Bem... Não era muito diferente da realidade de Bella.

A diferença, claro, era que no caso era uma freira.

A praça tinha algumas poucas árvores, não o suficiente para escondê-la caso fosse necessário. Mas também seu perseguidor estava tão próximo que poderia ver aonde quer que ela fosse.

Cogitou que talvez quem estivesse atrás dela fosse o general, e então estivesse correndo a toa. Mas algo lhe avisava que não era ele e se fosse já teria a gritado.

Depois de alguns metros daquela maneira, quando já tinha atingido algumas ruas depois da praça – recebendo olhares surpresos dos transeuntes – achou um vão entre dois prédios onde pôde se esconder.

Os passos foram se aproximando e quando seu perseguidor estava chegando perto, pulou em cima dele. A sorte era que a rua em questão estava vazia, senão a situação seria meio tensa.

Tentou socá-lo, mas o homem se mexia muito com Bella presa em suas costas. Percebeu que não era do tipo atlético – embora estivesse em boa forma física. Até que ouviu o barulho de um tiro e olhando para baixo constatou que o homem segurava uma arma.

“Filho da puta!” Acertou o olho dele com força, fazendo com que uivasse de dor enquanto suas mãos tentavam chegar a seus olhos. Armas de fogo não forneciam lutas justas. O negócio mesmo era o contato corporal em que o mais forte venceria e não aquele quem tinha a arma na mão.

Bella saiu de suas costas e tentou tirar-lhe a arma, mas houve um novo tiro. Passou bem longe dela, mas mesmo assim fez com que suasse em bicas. Aproveitando o momento de fraqueza do homem, socou-lhe o abdômen.

“Não esperava isso de uma freira, infeliz?” Rugiu, enquanto conseguia pegar a arma e tirava a munição de dentro.

O homem quis ainda pegá-la, mas Bella não deixou. Viu seu rosto e soube do que já então suspeitava: Aquele era um dos homens que estavam na igreja.

“Quem é você?” Exigiu resposta e quando ele tentou alcançá-la de novo, ela pressionou o sapato na garganta dele fazendo com que engasgasse. “Quem é você, filho da puta?” Repetiu.

Ele encarou-o com raiva e então cuspiu em seu rosto. Soltou um grito irado enquanto se limpava. Logo o chutou com força e perguntou novamente. “Cadê seu amiguinho?” Apertou mais o sapato em sua garganta. “Quem são vocês dois?”

Mas antes que pudesse continuar com alguma coisa, soube muito bem onde estava o “amiguinho” dele. Um carro acabara de virar a esquina em uma curva bastante aberta e começara a acelerar em sua direção.

“Merda.” Rugiu. Largou o infeliz lá no chão e saiu em disparada para longe dali. Um tiro quase acertou em seu pé e ela rosnou, correndo como uma maratonista, mesmo com todo aquele hábito limitando-a. Conseguiu uma curtíssima vantagem, pois parecia que o carro havia parado para pegar o cúmplice. Ótimo! Criminosos unidos, jamais serão vencidos!

Ela por fim achou uma escadaria do lado de um prédio e subiu nela com rapidez. Chegou ao topo do edifício junto com as antenas e enquanto corria para o outro lado quase se sentiu o homem aranha.

Para onde iria? O orfanato? Seria muito perigoso, não com aqueles homens perto demais. Como eles chegaram até ali afinal? Será que haviam descoberto?Mas como? Eram tantas questões.

O motor do carro continuava por perto, mas a menos que a seguissem a pé, não a pegariam. E mesmo assim, Bella daria um belo trabalho para pegarem-na.

Acabou descendo do teto e parando em uma ruela que não conseguiu identificar. Parecia de um bairro pobre de Washington, nenhum lugar que vira enquanto ia para o orfanato ou até a casa destruída do general.

Então ouviu um novo motor roncar alto. Encolheu-se pronta para correr, mas logo percebeu que não era motor de carro. Era de moto.

Correu para ficar longe, achando que poderia significar perigo, mas então de repente, uma moto daquelas de corrida extremamente grande e veloz freou bruscamente ao lado dela.

“Sobe novato!” Aquela voz ela reconheceria até no inferno, tinha certeza. Sem pensar duas vezes, pulou e subiu na garupa, segurando com força na cintura do homem, que acelerou tanto que quase deixou sua alma para trás.

Respirava fundo e suava horrores, e aquele hábito ainda não ajudava a situação. As ruas estavam parcialmente desertas àquela hora, mas era por causa do bairro em questão. Mas sabia que logo teriam problemas quanto à povoação.

“Como você conseguiu a moto?” Gritou. Achou que o general não tinha ouvido, mas ele logo resmungou.

“Roubei.”

“Você roubou uma moto?!” Exclamou, chocada. Mas não pôde falar mais nada porque logo o carro estava bem atrás deles. “Oh merda.” Suspirou. “Eles estão atrás de nós!”

Ouviu o que pareceu ser um rosnar, então o general gritou um “segure-se” enquanto fazia uma curva extremamente fechada em alta velocidade. Bella quase se viu caindo, mas logo estava de novo segurando ainda mais forte na cintura do homem.

Mas os criminoso-cristãos continuavam atrás deles e não demorou muito para começarem os tiros. Sério, ela achava que eles tinham demorado até bastante.

“Pegue a arma na minha calça!” O general gritou.

Não estava nem um pouco a fim de tirar seus braços da cintura do general, sabendo correr um enorme risco de capotar no asfalto. Mas quando sentiu que os tiros estavam passando bem rasteiros, decidiu que preferia correr o risco de morrer depois de uma queda da motocicleta do que baleada.

Apalpou o homem até encontrar o metal enfiado na parte da frente. Ajustou-a na mão e preparou o gatilho e foi exatamente quando um tiro acertou a parte da moto que ficava bem abaixo de onde estava sua bunda. Com raiva nos olhos, virou-se mirando a pistola para o carro.

“Minha bunda não, seus filhos da puta!” Atirou com precisão, mesmo na alta velocidade. Acertou o vidro que trincou, mas isso não impediu que prosseguissem.

Foi quando ouviu as sirenes.

“Meeeeeeeeeerda.” Rosnou ela, tentando atirar nos pneus, mas naquela velocidade e posição não estava conseguindo.

“Segure-se!” O general gritou de novo e ela prontamente obedeceu, passando de novo os braços pela sua cintura com a arma lá.

O general entrou em uma rua movimentada. Havia carros em todos os lugares e não havia como passar em alta velocidade. Necessitaria de fazer um perfeito ziguezague e aquilo os atrasaria muito.

Então o piloto subiu na calçada arrancando gritos dos transeuntes que pulavam para ficar de fora do caminho.

Logo à frente duas viaturas fizeram uma curva bem de filme de policial – com direito a fumaça saindo do pneu e tudo. Achou naquele momento que estava tudo perdido, mas de algum jeito ele conseguiu virar em uma ruela super apertada e sair da mira dos tiras.

Em questão de minutos estavam em uma pista.

Estava se perguntando se o general participava de corrida de motos clandestinamente. Não duvidava que ele ganhasse todas e assim apoiasse o narcotráfico. Ultimamente ficara tão surpresa com ele que não desconfiava mais de nada que provesse de sua pessoa.

Só então aí que percebeu que o carro dos cúmplices amigos-para-sempre não esteve atrás deles na rua movimentada. E falando no diabo...

Foi justamente naquele momento que o infeliz apareceu.

A vontade que ela tinha era de estar filmando tudo aquilo e guardar para seus netos apontarem e gritarem orgulhosamente “É a vovó!”, mas os carinhas estavam atirando novamente e ela foi obrigada a revidar.

Mas aquela posição era uma merda. E a munição estava sendo desperdiçada naquelas tentativas.

Logo, as viaturas voltaram a fazer parte da festa e se possível o general aumentou ainda mais a velocidade. A criminosa poderia jurar que sua alma ficara perdida em algum lugar bem lá trás.

Chegaram a uma região em que a estrada passava no meio de uma grande vegetação e foi aí que o general gritou:

“Atire nos pneus!”

Já tentara. E sabia que naquela posição era perder munição. E pelas suas contas restava apenas mais uma bala.

“Não tem como!”

Ele rosnou e então aumentou a velocidade absurdamente. O velocímetro chegou a marcar 240 km por hora. O carro foi se distanciando, e a criminosa achou que o plano era ir se afastando até perdê-los de vista. Mas até quando a gasolina duraria?

Então, surpreendendo-a, ele começou a diminuir a velocidade quase drasticamente e depois a manteve rente. Virou a cabeça e gritou:

“Suba no meu colo!”

“O quê?” Gritou não acreditando estar ouvindo aquilo.

“Sobe logo, porra!” Berrou. Incrédula, ela abanou a cabeça se perguntando como diabos conseguiria subir no colo dele. Então percebeu o que estava tentando fazer. Se ela ficasse de frente para o carro, poderia atirar nos pneus com certeza. Para ficar de frente, teria que se sentar no colo dele batendo peito com peito.

Sabia não ter muito tempo até que o carro os alcançasse, então, respirando fundo colocou tudo nas mãos da Nossa Senhora protetora dos criminosos e foi. Enlaçou uma perna na barriga dele e com a outra deu um impulso. Com um pouco de ajuda do general conseguiu ficar no colo dele.

Nem dando tempo para respirar, voltou a acelerar.

“Manda ver, porra!”

Ela então mandou ver. Apontou a arma para o carro que se aproximava cada vez mais e mirou no pneu. Mordendo os lábios, atirou. E acertou.

Porém, parecia que a polícia também começara a disparar suas armas, e como a moto estava depois deles, a mira estava no carro. Acabou que de certo modo, o veículo não pôde mais andar e saiu rodopiando pela estrada.

Alguma coisa escapou do carro que acertou em cheio no escapamento da moto, fazendo com que os dois fossem jogados para longe dela.

As sirenes continuavam e a ex-infiltrada sabia que se não morresse de um tiro, morreria de ataque cardíaco. Sentindo todo o corpo doendo, ardendo e pinicando, se controlou muito para não gritar de dor.

Sentiu os braços do general em volta dela ao mesmo tempo em que via os dois homens tentando sair do carro, mas a polícia estava perto, portanto eles não tinham chance.

Os tiras gritaram através de um megafone “Mãos ao alto! Vocês estão cercados!”, embora não conseguissem ver o general e a Bella.

O homem reagiu agarrando-a pelo braço e erguendo-a. “Vamos embora daqui. Rápido.” Ordenou. Ambos começaram a correr em direção à vegetação e foi aí que ouviram a explosão.

Bella olhou por cima do ombro e viu o carro pegando fogo. Logo uma gigantesca nuvem de fumaça se espalhava pelo ar.

“Oh meu Deus!” Exclamou, chocada.

Mas o general a liberou daquele estado de estupor, puxando-a. “Vamos. Isso irá distraí-los!”

Sabendo que era verdade, seguiu-o correndo. A explosão atrasara muito os policiais, fazendo com que até se esquecessem dos dois que estariam na moto. Logo o lugar se encheu de bombeiros e mais polícia ainda.

E apesar das dores no corpo, Bella continuou correndo ao lado do general no meio da vegetação que não tinha fim. Logo, não conseguiam ouvir mais nada da estrada, mas mesmo assim não abaixaram a guarda.

Os machucados na perna dela ficavam querendo sua atenção e ela corria praticamente mancando, até que o general perdendo a paciência pegou-a no colo e começou a correr com ela.

“Me solta! Eu posso me locomover sozinha!” Protestou orgulhosa, mesmo na crítica situação em que se encontravam.

“Não me faça tacar sua cabeça no chão e desacordá-la.” Ameaçou.

Não soube por quanto tempo permaneceram correndo, e a criminosa se surpreendeu, pois o general conseguia manter o ritmo ainda carregando-a! Quantos e quantos anos de corrida poderiam garantir aquilo? Bem... Quando estava na NSA, corriam todos os dias antes do sol nascer pela Floresta dos Esquilos. E todos aqueles músculos deveriam servir de alguma coisa afinal...

Então ao longe avistaram uma região da cidade que Bella nunca antes visitara, mas que o general bem conhecia. Os altos portões que circundavam aquela área estavam devidamente encadeados e no principal a silhueta de um guardinha era bem perceptível na escuridão.

“Pode andar agora?” Perguntou, quase sussurrando.

“Era o que estava tentando dizer a meia hora.” Rolou os olhos enquanto colocava-a no chão. Sentiu uma pontada na perna, mas tentou ignorar.

O general então pegou em sua mão e começou a guiá-la ao longe dos portões de ferro pelo perímetro do lugar. Parecendo saber exatamente para onde ia, finalmente chegaram a uma área onde havia um pequeno portãozinho que se abriu facilmente com um mínimo empurrão.

Finalmente Bella percebeu que lugar era. Claro que... Todas aquelas lápides espalhadas serviriam para alguma coisa.

“Um cemitério?” Perguntou um pouco temerosa.

“Medo de que almas venham vingá-la?” Provocou, mas logo a guiou para as profundezas do lugar. A criminosa não gostava muito de cemitérios... O máximo que ia era de vez em quando por causa dos pais e por peso na consciência e só.

Parecia que o general sabia exatamente para onde ir e dentre poucos minutos chegaram a uma área mais coberta por árvores.

“Aqui.” Disse finalmente, parando perto de um lugar mais recoberto por árvores. “É uma das áreas mais afastadas. Ninguém irá nos procurar por aqui. Pelo menos até amanhã.” Tirou um celular do bolso e discou algum número enquanto se distanciava de Bella.

Ela foi seguindo-o com o olhar se perguntando com quem ele estaria falando. Deu uma olhada ao redor e com o frio passando por ela, finalmente se rendeu a dor dos machucados. “Merda.” Murmurou pela qüinquagésima vez aquele dia. Derrubou-se no chão e levantou a perna achando o machucado. Achara que fora só uns arranhões na hora que foram lançados para fora da moto, mas parecia que fizera algumas coisas bem feias ali.

O general voltou nesse momento com uma expressão irritada.

“O que foi?”

“Pelo visto terá que passar a noite com os mortos.” Bufou.

“Com quem estava falando?”

“Não é da sua conta.” Ele rugiu. Ótimo. Antigos hábitos nunca mudam.

“Bem, pelo menos espero que a NSA não tenha interceptado a ligação, porque caso não saiba ela intercepta todas as ligações do mundo!”

“Eu acho que sei disso.” Rolou os olhos, então seu olhar recaiu em sua perna. Ele agachou-se ao seu lado e pegou sua perna examinando o machucado. Bella tentou controlar o calafrio que se instalou em seu corpo no toque daquelas mãos quentes que também traziam alguns arranhões.

O rosto dele estava compenetrado em suas injúrias, com as sobrancelhas quase unidas e uma expressão militar.

“Precisamos estancar esse sangue...” Procurou ao redor e por fim seu olhar recaiu exatamente no hábito de Bella. Sem nem pedir permissão, arrancou uma tira de suas vestes e enrolou no ferimento.

“Ei!”

“Cala a porra da boca.” Ordenou. Rolou os olhos, mas estava grata por não ter mais que ver o machucado. Tá certo que todo seu corpo estava arranhado, mas o pior era aquele ali.

Tocou em seu rosto e percebeu que sua bochecha esquerda estava arranhada também. Ótimo, lá se foi seu sonho de ser uma criminosa com pele de porcelana.

“E você? Alguma coisa?” Dirigiu-se a ele preocupada.

Olhou um pouco surpreso por ela se preocupar por ele, por fim deu de ombros e resmungou: “Inteiro.”

“E para onde iremos agora? Um hotel?”

“Que porra de mundo você vive? Acabei de dizer que será aqui.”

“Aqui?” Quase gritou. “Você só pode estar brincando.”

“Olha a minha cara de quem está para brincadeiras.”

Ela soltou um muxoxo. “Mas por que não pode ser... Sei lá... No bosque, no zoológico... Em um hotel de beira de estrada... Qualquer coisa, menos em um... Cemitério.” Controlou um calafrio que se instalou em seu corpo.

“Que merda de criminosa você é?” Resmungou. ”Não podemos correr o risco de sair nas ruas. A NSA está atrás de você e a polícia local vai investigar o incidente na estrada. Aqui é seguro até amanhã, depois darei um jeito de levá-la ao lugar certo.”

“E o que fazemos aqui?”

“Que tal psicografar com alguém?” Rolou os olhos. “Dormir, lógico. Não quero peso morto nas minhas costas amanhã não.”

Bella bufou sentindo as fagulhas de raiva incendiando-a. “Olha aqui, não jogue esse seu mau humor todo em mim.”

“E vou jogar em quem? Na porra dos infelizes que nos descobriram hoje à noite? Em McCarthy que não para de desconfiar um minuto sequer? Ou quem sabe no padre Andrew, aquele filho da puta, que sabe quem você é e que eu estou com você?”

“Respeite o padre!” Ela gritou. “Ele me ajudou hoje à noite!”

“Ajudou? Claro, deixou-a ir embora e depois chamou a polícia.”

Bella não sabia disso, porém não se deixou abalar. “Se não fosse ele, McCarthy teria me descoberto. É por isso que está todo nervozinho? Por que sentiu que tudo está saindo de controle? Que você não está mais no controle?”

“Eu estou controlando a porra da situação!” Ele gritou, enraivecido. Ao longe o som de uma coruja foi à trilha sonora enquanto se encaravam com fúria.

“Então pare de jogar esse mau humor dos infernos em mim, saco! Já basta toda essa situação! Não precisamos de mais coisas para mandar tudo á merda!”

Ele abriu a boca para revidar, mas por fim começou a ver a razão. Sentou-se no chão e esfregou as palmas das mãos no rosto, em frustração. Bella, por sua vez, apoiou-se no tronco de uma árvore enquanto encarava o estado do homem que queria controlar tudo – e talvez controlasse.

Ela por fim, resmungou: “Ótimo. Sabe que eu estou até gostando dessa situação? Sabe, estava tudo muito monótono.” Revirou os olhos. “E o melhor de tudo é que foi pacote Premium. Tudo de uma vez. Com direito a McCarthy de um lado e dois caras da porra de lugar nenhum atirando na gente. Sem contar que você roubou uma moto.”

O general parou de esfregar as mãos no rosto e perguntou:

“Você não os reconhece?”

“Não...” Suspirou, coçando a cabeça. “Eu tentei pressionar o cara para me dizer, mas ele cuspiu em mim.” Bufou. “Será que eles trabalharam para alguém? Espera!” Exclamou, de repente. “E se eles trabalhassem para McCarthy?”

“Não...” O general negou. “McCarthy estava desconfiado de alguma coisa, mas foi lá para falar da guerra.”

“Vai ter guerra?” Bella arregalou os olhos. “Aonde?”

“Não importa.” Desconversou. “Além da NSA, quem mais poderia ter um interesse em você?”

Pensou, mas nem gastou muitos neurônios. “Os Volturi. Eles devem estar morrendo de raiva de mim por causa da falha no carregamento.” Suspirou, sabendo que fazia sentido. Ótimo. Ela sempre quisera aquilo mesmo. Se fosse ser perseguida que fosse pelo mundo inteiro, não só por uma poliazinha de merda. “Mas isso não explica...”

“Como que eles estavam na missa hoje.” Edward completou.

A mulher olhou para ele surpresa e assentiu. “Exatamente. Como eles sabiam que eu estaria lá? Tipo, eles têm que ler pensamentos porque decidi ir quando a missa já estava quase no...”

“Eles sabiam que eu estaria lá.”

A criminosa olhou para o general e pôde ver em seus olhos verdes que pensava o mesmo que ela.

“Eles não sabiam que eu iria... Eles suspeitavam que eu estivesse com você.”

O general rosnou. “E então tiveram as respostas deles.”

“Mas eles não poderão dizer a ninguém.” Decretou brincando com um graveto no chão. “Porque estão mortos.”

O general não disse nada. E nenhum dos dois revelou o que verdadeiramente pensavam. Alguém havia suspeitado do envolvimento dos dois... Mas por quê? Como?

A criminosa olhou discretamente para aquele homem enorme se perguntando se... Bem, aquele relacionamento meio estranho deles fosse perceptível para alguém. Mary percebera, mas já pensara que fosse coisa maior, como... Estar apaixonadas. Baboseira.

Mas será... Será possível que estivessem suspeitando?

Um vento gelado passou por ali fazendo com que Bella se encolhesse toda. O cabelo de sua nuca se eriçou.

“Vá dormir.” Disse o homem, de repente. “Eu ficarei vigiando.”

“Pensei que era seguro aqui.”

Ele rolou os olhos como resposta. “Nenhum lugar que tem você no meio é seguro, novato.” Bella ficou feliz ao ver que ele não estava mais tão raivoso quanto antes, embora totalmente em alerta. Entendia que toda aquela ira não era destinada a ela, mas sim a ele próprio, por não prever os acontecimentos daquela noite, que quase fizeram com que fossem pegos.

Revirou os olhos enquanto deitava no solo. Era um lugar coberto por bastante grama, mas na parte mais perto da árvore era mais terra. Ela deitou pensando no maldito lugar em que chegara. Mafiosas de último escalão não deveriam dormir no chão de um cemitério, porra!

O general levantou-se a deixando ali enquanto dava uma vistoriada ao redor, mergulhado em pensamentos. Quem eram aqueles homens? O que eles significavam? Seriam mesmo dos Volturi? Quem mais sabia do envolvimento dos dois?

Sua cabeça parecia girar com tantas dúvidas e odiava aquilo tanto. Mais tanto.

O vento começou a aumentar de velocidade, fazendo com que o cemitério parecesse mais sinistro do que já aparentava.

Bella não conseguia dormir. Além das dúvidas que a perturbavam ela ficava lembrando-se daquele dia mais cedo onde tudo parecia tão monótono e tão seguro. De Mary... Oh céus, Mary quase morrendo na frente de seus olhos!

A vontade que tinha era de contar ao general do ocorrido, mas havia prometido a velhinha que não o faria. Em pensar que... Salvando a vida dela, acabara salvando a sua também. Pois foi por causa dela que o padre a deixara sair, mesmo ligando para a porra da polícia depois.

Só naquele momento que aquele provérbio que sempre achara para fracos fizera sentido “colhes o que plantas.” Colhera uma vida, plantara outra.

O tempo foi passando e passando até que o general voltou para perto das copas das árvores e percebeu que seu novato estava todo encolhido de frio.

No alto de sua estatura, ficou a observá-la até se agachar ao seu lado e tocar-lhe a testa, vendo se estava com febre. Estava normal. Quando a tocou ela abriu os olhos, parecendo não reconhecer quem estava ali.

Por fim, suspirando sentou-se ao lado dela. Internamente estava se maldizendo, mas por fora, somente disse: “Vem aqui, novato.”

Como o orgulho de Bella não estava se manifestando e também não estava em condições de menosprezar as situações, rolou para o lado dele sentindo seus braços a puxando mais para cima, e sua cabeça ser repousada em seu peito, bem abaixo de seu queixo.

Logo sentiu o calor que vinha do corpo dele e suspirou.

Além do friozinho chato, mesmo com todo aquele hábito sentia seus machucados ardendo. Aconchegou-se a ele sentindo sua posição rígida, extremamente tensa.

“Fale alguma coisa.”

“Hm?” Ele perguntou como se não tivesse ouvido.

“Fale alguma coisa... Para distrair.”

“E eu lá tenho cara de quem distrai pessoas?”

“Tem.”

Ele olhou-a afrontado, mas ela somente deu um risinho. “Mas que merda. Se você não tivesse ido à igreja hoje, não estaríamos passando por essa porra. Quando a vi quase te dei um chute bunda a fora.”

Bella deu um risinho abafado. “Mas não deu.”

“Mas deveria.” Rolou os olhos. “Por que você foi lá afinal?”

Houve um grande silêncio até que a criminosa respondeu, murmurando: “Por que não tinha mais nada para fazer.”

Novamente ele rolou os olhos e meio que ficou rígido quando sentiu os braços dela circundando mais seu corpo e prensando mais contra o seu, em busca de calor.

“Mais.” Ela pediu.

O general pensou, até que – continuando a maldizer a si mesmo – começou: “Uma vez ouvi uma piada...” Mas logo parou, achando-se ridículo.

Bella apertou-o, pressionando. “Continue.”

Ele suspirou e se odiando, prosseguiu: “Duas mulheres casadas decidiram passar um final de semana sem os maridos.”

“Só? Por que não um ano?”

“Não me interrompa.” Rosnou, mas sua voz carregava até certa leveza. “Elas estavam voltando para casa totalmente bêbadas, mas ficaram com uma vontade enorme de fazer necessidades.”

“Número um, dois ou três?”

“Que porra é o três?”

Ela deu uma risadinha. Não estava mais tremendo e até admitia que estivesse bem... Confortável com a cabeça apoiada naquele peitoral que... Céus!

“Uma coisa meio vermelha...”

“Vai se fuder!” Ele praguejou. “Mas que merda!”

“Esse é o dois.” Riu.

Ele rolou os olhos, desgostoso. “Eu vou parar por aqui, você não tem disciplina nem para ouvir a porra de uma piada.”

“Vai, continua...”

Ele suspirou. “Então... Elas estavam com uma enorme necessidade de fazer o número um. Só que o lugar mais perto era um cemitério.”

“Sério? Por que sempre o lugar mais perto é a porra de um cemitério?”

Ignorou-a. “Elas não tinham alternativa, então pararam o carro e entraram. A primeira fez e como não tinha mais nada para secar usou a calcinha e jogou fora.”

“Argh.”

“A segunda não queria estragar a calcinha dela... Essas coisas bestas de mulheres...”

“Se fosse uma Victoria Secret eu também não queria estragar.”

“Que seja.” Rolou os olhos, novamente. “Então ela pegou a primeira coisa que viu por perto. Uma faixa e secou-se. No outro dia os dois maridos se encontraram um mais infeliz que o outro. O primeiro disse: ‘Porra, eu briguei feio com a minha mulher ontem. Ela chegou em casa bêbada e sem a porra calcinha!’. O outro ouvindo isso, respondeu: ‘você tem é sorte. Eu terminei com minha mulher.’ O outro retrucou: ‘Mas que merda, por quê? Ela também chegou sem calcinha?’. O outro respondeu: ‘Antes fosse! Ela estava com a calcinha, mas tinha uma porra de faixa grudada na bunda que estava escrito ‘jamais te esqueceremos. De Pedro, João e Antônio.”

Bella riu quando ele terminou de contar e o general a acompanhou, de forma mil vezes mais discreta é claro.

“Que merda! Onde estão as câmeras quando precisamos delas?”

“Vai se fuder.”

Bella riu e os dois ficaram lá só curtindo um ao outro, em silêncio por alguns minutos. Um vento fresquinho passava por eles e a criminosa se acomodou ainda mais no homem, que a abraçou e começou até a acariciar um pouco seus cabelos.

Como que mãos que faziam tantas coisas importantes, violentas e másculas poderiam mexer no cabelo dela com tamanha...Leveza?

O general estava com os pensamentos bem longe. Tentava já esquematizar toda a ação do dia posterior e ver o que seria necessário. Mas se tinha algo que estava muito concreto em sua mente era que era necessário que conseguisse mantê-la a salvo.

Com toda a situação daquele dia, por um momento, ele achou que realmente falharia em protegê-la e sentiu algo muito estranho dentro de si por isso. E não queria sentir mais.

E faria todo o necessário para conseguir seus objetivos.

Ouviu um suspiro da parte dela e olhou para o rosto enterrado em seu peito. Observando-a, enquanto suas mãos faziam trilhas em suas madeixas, pela primeira vez em todo o tempo em que a conhecera um pensamento lhe ocorreu:

“Ela é linda”.

Nunca antes pensara nela daquele jeito, pelo menos não conscientemente. Já a beijara, já a apalpara e outras coisas a mais... Mas nunca, nunca tivera um único pensamento concreto sobre ela.

“Mais que porra!” Foi tudo o que conseguiu pensar.

Ouviu um suspiro e então os lábios dela se moveram só para perguntar, baixinho: “Será que isso um dia terá fim?”

Ele suspirou e olhou para o céu coberto de estrelas. “Tudo tem a porra de um fim.” Murmurou e depois acrescentou, quase esperançosamente. “Tem de ter.”

Quando olhou para baixo de novo percebeu que agora sim ela estava totalmente adormecida. Em seus braços.

Então, lentamente, abaixou a cabeça e depositou um beijo em sua testa prometendo que, na medida do possível, faria com que aquela história tivesse um fim. Um bom fim.

14 comentários:

Rainbow Butterfly Fanfics disse...

uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuul
primeiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
ah, Alice, vc já estava deixando a gnt preocupada!!!!!
vo le e dps eu do minha nota
LICE, FUI A PRIMEIRA! LALALALALALA

Leticia Rathbone disse...

KKKKKKKKKKKKKKK Eu ri muito com a piatinha que o general contou foi muito engraçada a bella perguntando se era um,dou ou tres entãoo cara foi demaisss!
Achei muito lindo o que a Bellinha vez pela irmã Mary foi lindo, mas é uma pena que ela tenha que deichar o orfanato! Ela dava se tanto bem la, sem falar que a Mary podia ta mais uma sacodita na bella e quem sabe ela não se tocase de que esta apaixonada pelo general, quando lugares Bella ainda vai der que passar pra se ver livrer de tudo isso?
PS.: Ainda não li o cap. 10 não vai ta tempo de ler agora so anoite =(

Laurinha disse...

Gostei da piadinha!
Nem acredito que ele pensou isso!
esse cap foi lindo!
Chorei um lágrima no final

Rainbow Butterfly Fanfics disse...

q piada mais suja, heim moçoilo...
tá, tá, tá, eu tenho q confessar: guenta coração!
ouwnt, eu ♥ meu general...
nota 9,9
tá, td bem...
10 =D

Biatrice Nina disse...

Nati criativa demais como sempre u.u
perfect demais, essas piadas sujas nem. Que coisita mais feia, tambom eu ri demais ^^
Lálalalalala espero que tenha um bom fim morri ali u.u

*St.Collins* disse...

Aiiii... Agora eu nem sei se fico feliz ou com raiva do padre Andrew, aquele filho da mãe! (queria dizer p***, mas é uma palavra mto feia!!!). SACANAGEM chamar os tiras depois de ajudar a Bella... Mas por outro lado, adorei a ação, os tiros e a piadinha ; p kkkkkkkkk. VALEU PADRE ANDREW!!!
Falando serio, eu amei o capitulo!

GabiClara disse...

Ai, ai... que lindo esse final. Eles não tem muito disso, PAZ.

Mary Alice L. disse...

PAZ a miseria e sim em GUERRA. Va para o proximo. Acha mesmo que o General e a Infiltrada vai ficar dois segundos depois de fazer as pases sem brigar? Olha pra esse cabeças duras.

Mary Alice L. disse...

E não falarei nada da piada. Não tem palavras nem notas. Foi tudo perfeito demais....

Rainbow Butterfly Fanfics disse...

Lice, o q aconteceu com vc? Sempre escreve um monte de coisa... O.o

Hermione disse...

UAUUUUUU!!!! HOLLYWOODIANO!!!! A Natália se supera a cada capítulo! Adoro esses dois tontos apaixonados brigando internamente para não assumirem!!!

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

só pra ver uma coisinha...

Joyce_florzinhas2 Cg disse...

OI GATAS,SENTIRAM SAUDADE?
BOM,EU SIM,MUITA!!!
NOSSA TO SUPER ATRASADA NAS FICS!
Q DROGA!
AIIIIIIIIIIIII MUITO LEGAL ESSE CAP,DA PARTE DA PERSEGUIÇÃO AO FINAL TA INCRIVEL!
TAVA NA HORA DE COMEÇAR A AÇÃO,TAVA MEIO CHATO!
AI,MAS AGORA TA D + E VOU FAZER O POSSÍVEL PRA ME ATUALIZAR EM TODAS AS FICS!
BEIJO BEIJO E FUI!

Isi disse...

Nossa esse capítulo foi tão perfeito (Andrew desgraçado). A piada do Gege foi muito boa kk amei

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