Maré Vermelha - Capítulo 10: Chegadas & Partidas

- Partiu, como assim partiu? – Jacob estava confuso.

- É Jake, foi embora, voltou para a Califórnia. – Seth lhe respondeu.

- Pare de brincadeira Seth, eu a vi tem algumas horas. – Jake parecia não acreditar.

- Não estou brincando, minha mãe está inconsolável, não queria que ela fosse de jeito nenhum, mas não teve jeito não, ela estava decidida. Tentei conversar com ela, fazê-la mudar de idéia, mas foi tudo inútil.

- Posso saber por que vocês não me chamaram? – Jacob falou exaltado.

- Simplesmente porque ela jurou a todos nós de morte! – Seth respondeu no mesmo tom.

- Quem são todos nós Seth? – O interrogatório parecia não ter fim.

- Eu, minha mãe, Charlie e o Embry! – Seth respondia quase que automaticamente, praticamente adivinhava qual seria a próxima pergunta.

- O quê? O Embry sabia que ela ia embora e não me falou nada? – Jacob enfureceu-se.

- Pior... ele a levou! A essa altura devem estar chegando ao aeroporto de Seattle! – Seth se encheu do autoritarismo e respondeu sarcástico.

- Por que ela fez isso? O que deu nela? – Jacob agora perguntava a si mesmo.

- Talvez tenha sido a notícia da chegada do mais novo Quileute na reserva! – Kim estava parada na porta e Jared mais atrás, segurando seus ombros, ternamente.

- Do que você está falando Kim? – Jake perguntou.

Mas foi Jared quem respondeu:

- Viemos para cá, pois suspeitávamos que ela fosse precisar dos amigos por perto... mas parece que ela continua preferindo ficar só...

Jacob perdendo a paciência hostilizou:

- Dá, por favor, pra alguém me falar o que está acontecendo!

- Emily está grávida! – Kim falou sem rodeios.

- P... Q... P... – Por essa eu não esperava! – Jake foi pego de surpresa, ficou absolutamente perplexo.

- Pois é... acho que nem ela Jake! – Jared concluiu o que parecia óbvio.

- Quando foi isso? Quero dizer quando vocês ficaram sabendo? Por que o Sam não falou nada? – As perguntas pareciam que não iam cessar.

- Ontem Jake, no Luau... Sam não disse nada porque a Emily fez surpresa para ele também. – Kim, compreendendo a angústia de Jacob, explicou.

- Como eu não fiquei sabendo? – Jacob continuava a falar consigo mesmo.

Mesmo assim Kim respondeu:

- Você estava com Nessie e a Emily não quis fazer alarde, até mesmo para preservar a Leah.

- Meu Deus... eu preciso falar com ela... eu preciso ir pra Califórnia! – Jacob sentia-se responsável por Leah ter voltado à La Push para ajudá-lo.

- Que é Jake, ficou louco? E a Nessie? Você vai deixá-la aqui depois de tê-la esperado todos esses meses? – Jared perguntava inconformado.

- Como eu posso deixar Leah agora, ela está precisando de mim! Quando eu precisei, ela veio! – Jake estava dividido, mas não suportava a idéia de não amparar Leah nesse momento.

- Jake, ela foi porque quis ficar sozinha! Conheço minha irmã! – Seth ponderou.

Mas ele estava irredutível, dificilmente conseguiriam evitar que ele despencasse em Fresno.

- Não Seth, ela não quer ficar sozinha, ela só não admite!

Nesse momento Sue entrou na sala, trazia um envelope na mão, seus olhos tristes estavam vermelhos, ela havia chorado.

- Isto é para você Jake... Achei sobre a cômoda no quarto. – E estendeu o envelope a ele.

Jake

Há muito eu não me sentia tão bem, os dias ao seu lado fizeram melhor a mim do que a você. Percebi que não estou condenada a um falso amor, o vazio que há muito habitava em mim se foi e se um dia eu precisei de um tempo pra esquecer o que passou, hoje eu me libertei, pois quando estou com você esqueço de tudo que sofri. Mas não dá mais, não tenho mais como esconder. Tudo o que eu podia eu tentei fazer mas não quero mais só ser sua amiga.

Não estou triste, na verdade estou feliz porque redescobri minha capacidade de amar, mesmo que de novo seja um amor impossível! E ontem vendo você com Renesmee tive certeza disso. Dói, mas tenho esperanças de um dia gostar de outro alguém.

Tenho um pedido... vou deixar você longe dos olhos, mas não fora da minha cabeça, não me evite se me ouvir em seus pensamentos, eu estarei bem. Você sempre será meu alfa.

A lição que fica de tudo isso é que sempre há espaço para um novo amor!

Leah

Jake lia e relia a carta, parecia não acreditar no que seus olhos, pregados naquele pedaço de papel, lhe mostravam... Começaram as perguntas...

- O que diz Jake? – Sue perguntou ansiosa.

- Ela voltou mesmo pra Fresno?

- Mencionou algo sobre a gravidez de Emily?

- Jake fala alguma coisa... – Sue voltou a insistir.

Ele não conseguia, não podia dizer nada... todos estavam ali atentos e angustiados a espera de algum tipo de resposta, mas ele não sentia seu corpo, suas forças pareciam ter se esvaído e uma enorme pressão sobre o peito parecia que ia sufocá-lo, faltava-lhe o ar, estava despedaçado, sentia-se confuso e culpado e nada lhe sobrou nem mesmo o suficiente para conter as lágrimas que agora começavam a escorrer pelo seu rosto contorcido em dor.

O desespero tomou conta de Sue.

- JACOB PELO AMOR DE DEUS, ELA É MINHA FILHA, O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Mas nada saiu de sua boca... e como em anos atrás, ele deixou-se dominar pelo instinto do animal... durou o tempo apenas de passar pela porta e ele já era o lobo. Pegou a carta com a boca e correu, correu tudo o que podia, colocou toda sua força sobre suas patas e se embrenhou pelo meio da floresta densa, naquele momento só pensava em nunca mais voltar.

- JAAAKE! – Sue gritou. – Seth vá atrás dele faça-o parar, por favor faça-o parar! - Ela implorou já aos soluços.

Seth correu, mas ele não o alcançaria e os pensamentos de tristeza e dor de Jake só serviram para deixá-lo ainda mais apavorado. Ao voltar, abraçou a mãe que chorava sentada na escada da varanda.

Kim diante da desolação de Sue resolveu agir de maneira prática, pegou o celular e discou para Leah.

- Leah? Graças a Deus!

Do outro lado Leah percebeu o tom desesperado na voz da amiga.

- Kim? O que houve?

- Nós é que perguntamos Leah, o que é tudo isso? Jake leu a carta e parecia ter recebido a notícia da morte de alguém tal foi o transtorno que ele ficou, ele se foi Leah... Sua mãe não pára de chorar.

- Deixe-me falar com ela...

- Sue, é Leah... – Kim estendeu-lhe o telefone.

- Filha... filha o que está acontecendo? O que você vai fazer? – Sue chegou a pensar que Leah pudesse atentar contra sua própria vida, ela sabia do desejo da filha em ter uma família e de sua impossibilidade em razão de sua transformação, bom pelo menos enquanto houvesse vampiros por perto... e agora Emily grávida...

- Mãe, acalme-se, por favor, acalme-se! Estou voltando para casa, para minha casa em Fresno, não posso mais ficar em Forks. – Sua voz era firme, transmitia segurança.

- O que foi com Jake? O que você disse a ele?! – Sue ainda estava confusa.

- Deixem Jake em paz mamãe, peça para Seth também lhe dar um tempo... ele precisa processar algumas coisas...

- Por que tanto mistério Leah?

- Não tem mistério mamãe, eu o amo... e revelei isso a ele. – Leah nem sequer titubeou, estava decidida a não esconder mais seu sentimento, de ninguém.

- VOCÊ O QUÊ? – Sue ficou perplexa, não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir.

- Mãe, já disse... agora procure se tranqüilizar, estou dentro do avião e preciso desligar. Chegando em casa eu telefono!

- Cuide-se... – Sue também precisaria processar a informação que acabara de receber.

******

O lobo não parou correu e correu sem rumo e por muito tempo, numa fuga incessante... fugia de si mesmo, lutava contra a sua impiedosa consciência que insistia em culpá-lo, estava cativo de si próprio, da indignação que sentia por não ter poupado Leah de um novo sofrimento. Como ele queria poder corresponder a ela... – “Suas histórias tinham sido escritas para se cruzar, mas por que isso não acontecia?” – Quanto mais pensava, mais sofria. Ensopado de chuva e tristeza, afundou exausto na terra e lá abandonou-se sem saber por quanto tempo.

Mas as coisas se lançaram no seu curso, e mesmo que ele quisesse esquecer-se e que os outros o fizessem também...

- Jake... já é hora de voltar...

Ele não respondeu, um misto de medo e dor lhe inundou e... ele lembrou de cada gesto, cada palavra, sorriso e olhar de Leah.

Ela então insistiu.

- Vai ter que se transformar se não quiser me ouvir!

- Você se foi... e por minha causa...

- Eu iria embora de qualquer forma, aliás era para ser só por um tempo mesmo...

- Leah me desculpe, por favor, me desculpe... – mas foi por ela interrompido.

- Desculpá-lo por ter sido sempre gentil e compreensivo, ou desculpá-lo pela sua inquestionável capacidade de amparar e ser continente... ou quem sabe você quer que eu o desculpe por ter sido, até mesmo quando discutíamos, amável e tolerante... ora Jake, faça você um favor a mim... não se culpe... não há culpados, se insistir nisso é que me será doloroso!

- Mas é que eu devia ter evitado...

- Evitado o quê? Que eu me apaixonasse por você? Quanta pretensão hein Jake... você não é capaz de escolher quem você pode amar, que dirá fazer isso pelos outros! Aliás, quem de nós somos? Portanto poupe-me.

- A velha Leah de sempre!

- De sempre... vê o que digo, tudo está no lugar!

- Ora Leah, não exagere! Não está sendo fácil pra nenhum de nós dois!

- Claro que não! E não está sendo mais fácil para mim do que para você, mas estou aqui “tocando” minha vida. Portanto, seu direito à depressão já acabou... você tem responsabilidades, e as pessoas que te amam e se preocupam com você e nisso me incluo também!

- Desde quando o fato de você me amar lhe dá o direito de falar nesse tom petulante comigo? Que eu saiba, ainda sou o alfa dessa matilha!

- Ahá! – Leah exclamou vitoriosa. – Consegui, você já está até fazendo piada dessa história toda! Posso ou não posso ser petulante?

Jacob sorriu pra si mesmo, tinha que admitir, ela havia conseguido.

- Pode se vangloriar, “dou meu braço a torcer”... está mesmo na hora de voltar!

E então, num tom não tão ameno, Leah se enrolou para perguntar:

- Hey Jake... você acha que ... bem... que nós dois... é... teríamos alguma chance, quero dizer... se não fosse pelo imprinting?

- Agora você foi má... perversa sabia?Também dói pra mim! – Ele tinha medo de tocar no assunto sob essa ótica, magoá-la mais era algo que em hipótese alguma iria admitir.

- Desculpe...

- Você realmente quer falar disso? – Sentiu uma pressão no peito, ficou a ponto de chorar novamente, mas ele sabia que era inevitável, que precisavam conversar.

- Eu... quero saber!

- Por quê?

- Vai ver alguma tendência masoquista! – Ela sempre fazia uma piada para tentar parecer melhor do que realmente estava.

- Pare de brincar...

- Então responda.

- Não sei, acho que não temos como saber... mas meu palpite é que sim... que daríamos uma boa dupla!

- Boa dupla nós já somos Jake! Não precisa ter medo de falar!

- Você também tem! Confesse, acabou de ficar aí toda engasgada e procurando as palavras certas!

- Ok! Agora quem “dá o braço a torcer” sou eu! – Admitiu.

- Eu não mereço... – E foi ele quem hesitou. – ...seu amor Leah!

- Merece sim... só não pode corresponder, mas isso não o faz desmerecedor!

- Sabe o que na verdade eu mais tenho medo... é de perder a naturalidade quando estiver de frente para você, ficar assim sem jeito, escolhendo palavras... perder coisas preciosas que a gente tem: franqueza, espontaneidade e transparência.

- Por que você acha que eu vim embora? Nesse momento isso seria inevitável Jake! Fiquei me imaginando esbarrando no mundo para falar com você, sabe assim atrapalhada, pouco à vontade... um desespero me assolou! Aí pensei que disso eu não abriria mão por nada e então percebi que a única saída era dar um tempo para nós dois.

- Você sempre pensa em tudo...

- Só no que é realmente importante! Você é importante!

- Você também é...

A essa altura o lobo já estava correndo de volta.

- Obrigada por atender meu pedido!

- Qual deles?

- Os dois, até porque você não teria atendido o segundo se não tivesse atendido o primeiro!

- Logo estarei em casa.

- Tchau Jake... cuide-se!

- Não sei se tenho o direito à pedidos também, mas vou pedir assim mesmo... não suma por muito tempo...

Ela calou seus pensamentos e só o ouviu correr de volta para casa e quando teve certeza que ele já não estava mais ali, ela falou...

- Amo você Jake!