Maré Vermelha - Capítulo 15: Entregue, Desarmado & Indefeso

Jake levou Nessie até a porta da casa de seu avô, beijou-lhe a testa, desejando-lhe que tivesse uma boa noite. Esperou que ela entrasse para se afastar até as árvores mais próximas e transformar-se no lobo castanho-avermelhado que passaria as próximas horas patrulhando o entorno da casa e se necessário fosse daria sua vida para impedir que qualquer perigo se aproximasse dali.

Ness observando que o avô havia dormido no sofá, assistindo TV, tirou-lhe os sapatos, ajeitou-o com um travesseiro e cobriu-o com um edredom. Ficou parada por alguns longos segundos admirando-o e pensando no imenso amor que sentia por aquele homem, buscando reconhecer o que nela, havia dele. Deu-lhe um beijo amável e subiu para o quarto que um dia fora de sua mãe. Despiu-se e jogou as roupas desajeitadamente sobre uma poltrona, vestiu um short e uma camiseta bem mais confortáveis, pegou seu MP-3 e deitou-se na cama olhando o teto, antes de colocá-lo nos ouvidos pôde ouvir o farfalhar das folhas secas sob as patas pesadas do lobo que andava próximo na floresta e sorriu para si mesma, ao imaginá-lo em pensamento. Ouvindo a música esperou que o sono viesse encontrá-la, mas ao invés disso, devaneios lhe invadiram a mente, ela relembrava os momentos que estivera com Jake durante aquele último ano, a chuva que escorria do cabelo dele, descendo pelo seu pescoço fazendo brilhar o R que então ele tinha preso ao pescoço, o tremor que ela sentia passar por todo seu corpo cada vez que ele corria os dedos pelo seu cabelo, e como ela fechava os olhos sempre que ele suavemente sussurrava em seu ouvido, a cumplicidade das risadas altas nas descidas da montanha russa, o encontro das mãos nas cenas de suspense no cinema, a seriedade com que ele olhava para ela quando lhe explicava matemática compenetrado no seu papel de professor, a irritação que ela sentia cada vez que ele saía sem camisa debaixo de um carro numa oficina sempre lotada de mulheres deslumbrantes e o sorriso de menino que ele dava cada vez que ganhava dela no Playstation... e sem perceber seu rosto já estava lavado pelo pranto que descia-lhe dos olhos, sem exatamente saber o que fazer com o sentimento que lhe inundava, aos soluços sentou-se na cama com o celular em punho e apertou o 5 da discagem rápida.

- Ness? – Do outro lado Rosalie atendeu.

- Rosie... - Aos soluços ela tentava falar, deixando a tia em pânico.

- Aconteceu alguma coisa? Fale comigo!

As lágrimas insistiam em descer embargando sua voz e dificultando que ela falasse, mas com algum esforço ela prosseguiu.

-Não aconteceu nada, eu estou bem!

- Como está bem você está chorando, eu vou chamar Edward!

- NÃO ROSIE! É com você que eu preciso falar!

- Está bem, mas fale, não me deixe aflita criança!

- Pois é Rosie, acho que a criança cresceu!

- Nessie, será que você pode ser mais clara meu bem! Eu estou realmente preocupada!

- Eu não consigo mais parar de pensar, ele não me sai mais da cabeça! O que eu faço?! Eu não posso! Não é justo com ele, com o seu povo! – Nessie falava desesperada sem dar pausa entre as palavras e o choro incessante não parava de cair.

- Finalmente entendi... você está assim por causa do cach... – Ela ia dizer, mas se corrigiu a tempo. - ...Por causa do Jacob. – E de novo ia incorrendo no mesmo erro. – O que aquele monte de... pul... bem o que ele fez para deixá-la nesse estado? – Rosalie esbravejava.

- Ele todos os dias me faz sentir a melhor e mais importante pessoa do mundo, me faz sorrir, me atende todos os desejos e me faz sentir protegida.

- Está gostando dele né?

- O que eu faço tia? Eu não posso!

- Meu amor... como eu gostaria de estar aí para poder abraçá-la... mas... já que não posso... vou lhe dizer o que penso disso tudo... honestamente Nessie, acho que esse sentimento é recíproco e talvez vocês precisem finalmente falar sobre isso!

- Mas Rosie, nossa relação é impossível eu sou uma vampira e ele é um lobo, um líder de um povo... um povo que se afeta por nossa presença... e acho que ele também pensa assim porque também nunca... bem acho que ele também não acha certo...

- Em primeiro lugar mocinha, você é apenas meio vampira, dentro de seu peito bate um coração de verdade! E segundo, você não tem como sabê-lo, quem lê mentes é o seu pai, não tente adivinhar o que se passa com Jake, dê a ele a oportunidade de dizer-lhe, acho que ele merece! – E de repente Rosalie estava sentindo certa empatia pelo lobo que sempre detestara.

- Não sei se posso...

- Não se force a nada, deixa que as coisas simplesmente aconteçam, mas quando se deparar não fuja da oportunidade!

- Eu te amo tia!

- Também te amo docinho, gostaria que estivesse aqui para colocá-la no colo e fazê-la dormir... mas espero que tenha ajudado de alguma forma...

- Ajudou muito tia, obrigada... posso pedir um favor... sei que meu pai saberá, mais cedo ou mais tarde, mas se puder evitá-lo por algum tempo... seria bom. E peça para o tio Emmet fazer o mesmo, pois sei que ele está bem ao seu lado e vai enchê-la de perguntas quando desligar.

- Farei o que puder, prometo!

- Tchau Rosie, obrigada mesmo!

- Ness, só mais uma coisa... “Não significa que o céu não tenha mais estrelas, só porque você não pode vê-las.” Pense nisso querida.

- Você é mesmo terrível tia Rosie!

- Por isso é que você me ama! Procure dormir agora!

- Farei isso... – E foi realmente o que ela fez... dormiu... e sonhou com Jacob.

Na manhã seguinte ao deparar-se com o espelho ela levou um susto, teria que inventar uma boa desculpa para aqueles olhos inchados e vermelhos.

- Aaaah, droga! Vai dar trabalho explicar isso! – Murmurou descontente para si mesma.

Então, um toque na porta.

- Nessie... querida, já se levantou? Temos companhia para o café...

- Me levantei sim vô, já vou descer! – E dizendo isso correu até a sua mochila feliz por Alice ter insistido novamente em ajudá-la arrumar a bagagem... “Obrigada tia Alice, seus exageros hoje serão providenciais, bendito corretivo... será de grande utilidade!”

Pôs um Armani no rosto, decidida a passar o dia com ele e desceu torcendo para que não perguntassem demais.

- Bom dia família! – Tentou um tom amistoso e um sorriso a fim de disfarçar.

- Noite mal dormida anjo? – Jacob perguntou-lhe, sentado a mesa da cozinha segurando uma caneca entre as mãos.

“Será possível?” – Pensava ela. – “Nada passa despercebido por esse cara!”

- Espero que não tenha sido o colchão! – Charlie preocupou-se.

- Não vovô, o colchão é ótimo, só que é a primeira vez que durmo longe de meus pais e com tudo que tem acontecido em casa... acabei fritando um pouco na cama... - Ela sabia que não seria tão difícil despistar Charlie, afinal de todo não era mentira, mas Jacob... ela torcia para que fosse o suficiente.

* * *

Já no caminho de La Push:

- Tudo o que está acontecendo na sua família, as tais visões de Alice estão realmente afetando você... – Jacob olhava para o rosto dela com evidente preocupação.

- Bem, acho que não só a mim, há outros que também passaram a noite sem dormir por isso!

- Estávamos patrulhando...

- Mas ficaram sem dormir também! Aliás, assim que chegarmos a La Push você deveria dormir um pouco...

- Farei isso, Sam está dando uma força já que o efetivo dele é maior, ele sabe que Leah faz falta!

- Leah faz falta... é deve fazer mesmo! – Nessie virou os olhos, balançando a cabeça desagradada.

- Não entendi... resolveu dar uma de Bella agora? – Ele referia-se ao mal-estar que havia entre as suas duas amigas.

- Não há nada para entender! Não sei do que você está falando, afinal eu concordei com você, não?

- Hey, você é sempre ácida assim quando dorme mal?

- Sempre...

- Bem, então deveria tentar dormir também, adoraria ter a sua companhia... – Jacob sorriu maliciosamente. – Mas depois completou. – Na rede da varanda!

Ela queria esconder, mas inevitavelmente um sorriso brotou no canto dos seus lábios e pensou como era possível que ele sempre conseguisse arrancar-lhe um, mesmo quando ela estava irritada.

Seguiram o resto do caminho em silêncio, a reserva estava mais calma do que de costume, havia poucas pessoas nas ruas, ao chegarem Jacob logo percebeu que Billy, Raquel e Paul também não estavam, largou-se na rede e puxou Nessie que caiu sobre seu colo. Muito gentilmente ele retirou-lhe os óculos de sol e uma mecha de cabelo que caíra sobre o rosto dela, com a ponta do polegar esquerdo circulou-lhe a volta do olho e lhe disse.

- Gosto de ficar perdido no brilho dos seus olhos e no calor do seu olhar, não os esconda mais de mim!

Todo corpo dela se arrepiou com o toque de Jacob, de chegar mansinho, acariciar-lhe o rosto e fazê-la se aninhar... e pensou que o que mais amava nele era aquele jeito bom que ele tinha de gostar. Palavras quase lhe saíram da boca, mas ela tinha que ser forte, não queria uma alma egoísta, ele nunca poderia ser dela e por isso apenas sorriu num disfarce, baixando o rosto no peito dele para que ele não pudesse ver a tristeza lhe atravessar.

Ficaram abraçados balançando na rede, sentindo a brisa fria tocar-lhes a pele. Algum tempo se passou até que Raquel, Billy e Paul viessem acordar Jacob.

- Filho, acorde, precisamos falar!

- Oi pai... oi Paul... – Respondeu sonolento, foram necessários poucos segundos para Jacob notar que alguma coisa estava acontecendo.

Nessie também acordava, instintivamente ele envolveu-a num abraço protetor e em seguida perguntou:

- O que há? Qual o problema?

- Não sabemos ainda... – Billy respondeu e no seu rosto havia óbvia preocupação.

- Se você for até a praia, poderá ver com seus próprios olhos... – Paul completou.

Jacob não esperou que ninguém lhe dissesse mais nada, levantou-se rapidamente e dirigindo-se a Renesmee falou:

- Fique com meu pai e Paul, você estará mais segura aqui!

- Você está louco Jacob, acha que eu vou ficar aqui esperando você voltar sem saber o que está havendo?! Eu vou!

- Ness, não dificulte!

- Você não pode me impedir! Vai fazer o quê, me manter amarrada aqui? – Ela agora esbravejava.

- Não a deixarei ir...

- Jake... ela pode... – Paul tentou falar, mas Jacob lhe interrompeu com um olhar grave.

- Não se meta Paul!

- Jacob Black... eu vou com você!

- Não vai!

- NÃO VOU ME AFASTAR DE VOCÊ POR NADA, NADA ENTENDEU! NÃO O DEIXAREI IR SEM MIM! – Ela gritava, o desespero de que alguma coisa pudesse acontecer a ele, de que ela pudesse perdê-lo lhe dominou e nada mais era racional.

Jacob também foi tomado pelo mesmo sentimento, mas em meio ao medo da perda, o instinto de protegê-la, a toda discussão e aos gritos, as palavras de Nessie foram como música para o seu ouvido, como se a vida inteira ele estivesse esperado por aquilo e a sua convicção então se foi.

- Prometa que fará como eu pedir, nada além do que eu pedir! Prometa!

- Prometo! Farei somente o que me pedir!

Caminharam a passos rápidos até a praia, as mãos entrelaçadas, estavam com medo. Medo de perder um ao outro. Jacob não sabia o que vinha pela frente, apesar do perigo não ser iminente, do contrário Paul não estaria de volta em casa, ele conhecia seu pai como a ninguém e aquele semblante taciturno de Billy definitivamente referia-se a algo realmente grande. Nessie tentava sem sucesso imaginar o que viria pela frente, mas nada, simplesmente nada lhe ocorria. Aqueles minutos até a praia pareceram horas, a expectativa de que algo ruim pudesse tragá-los a qualquer instante atormentava-os e, a medida que, se aproximavam sentiam maior pressão, era como se o ar estivesse carregado, ficava mais difícil de respirar.

No momento em que Jacob pôs os olhos sobre o mar ele compreendeu tudo, era realmente perturbador que aquilo estivesse acontecendo. Havia ainda pessoas na praia, algumas pareciam estar extasiadas, outras evidentemente entusiasmadas que até fotografavam, mas outras, e Nessie logo notou pelos corpos morenos e cabelos negros que se tratavam de moradores da reserva, encaravam o mar silenciosa e apreensivamente, incluindo Jacob.

Nessie esperou algum tempo para que Jake dissesse alguma coisa, pois na verdade, como muitas das pessoas, estava achando tudo impressionante, realmente incrível, ela nunca estivera diante de algo como aquilo, no entanto apesar da aparência inofensiva e notável, ela sabia que havia algo que ela não compreendia e por isso resolveu romper com o silêncio.

- Parece bonito...

- Tem razão... visualmente é maravilhoso... – Ele deu ênfase à palavra. – Maré Vermelha... é como é conhecido esse fenômeno, trata-se do crescimento excessivo de algas microscópicas nocivas presentes no plâncton marinho, provocando essas manchas de coloração avermelhada na água do mar. As algas produzem e liberam toxinas que envenenam as águas, provocando a morte da fauna marinha e problemas de saúde importantes aos seres humanos que eventualmente se alimentem de peixes, moluscos, mexilhões ou ostras contaminados, são raros, mas há também casos de morte.

- Posso compreender a preocupação de vocês, mas até que essas algas se dissipem, há como evitar a contaminação, não poderemos mais incluir peixe e frutos do mar na dieta, pelo menos nada que seja pescado daqui! – Nessie não conseguia compreender a tensão que notara nos olhos dos Quileutes ali presentes, era triste, mas contornável, não podia entender porque Jacob estava tão mexido com aquele problema.

Jake então sentou-se na areia, de frente para o mar, olhando o espetáculo natural, mas ele não parecia estar mais ali, algo o levara deixando Nessie nervosa, ela estava se sentindo só.

- Jake, você pode me dizer o que está acontecendo? Parece ter sido abduzido!

- Desculpe linda... ainda gosta de ouvir histórias? – Referindo-se as vezes que ele lhe contara histórias quando pequena.

- Principalmente quando você as conta...

- Então sente-se aqui comigo. – E ele deu a mão para que ela viesse sentar-se ao seu lado. Jake estava sentado com as pernas flexionadas e envolvia os joelhos com os braços, ao sentar-se Nessie passou seu braço esquerdo por baixo do dele de modo que sua mão agora estava sobre o joelho dele. Estavam muito próximos, ela tentava de alguma maneira confortá-lo e esperou que começasse.

- Na história do meu povo, a Maré Vermelha representa um tipo de presságio...

- Um presságio?!

- Foi o velho Ateara, bisavô de Quil, que percebeu a relação, nunca ninguém da tribo tinha notado, na penúltima ocorrência desse fenômeno em nosso território, ele pediu a palavra no conselho dos anciãos, era jovem ainda, tinha uns 20 anos, não sei bem, mas sempre fora muito inteligente. Ele dizia ter uma teoria que relacionava a crise que tínhamos acabado de enfrentar com os Hohs, outra tribo que vive aqui próxima, com o episódio da Maré Vermelha ocorrida cerca de um mês antes.

- Nossa Jake, nunca soube de outras tribos que vivessem próximos daqui!

- Sempre tivemos uma convivência muito pacífica Ness, em toda nossa história, foram raros os conflitos, a magia e o sobrenatural sempre estiveram presentes no meu povo, por isso os Hohs, bem como os Makahs preferiram se manter distantes. Nessa ocasião o enfrentamento foi inevitável porque uma moça Quileute namorava há muito um rapaz Hoh, eles haviam se conhecido na cidade, estavam seriamente comprometidos e em breve ela deixaria a nossa tribo para viver com eles. Mas um jovem Quileute, Kai Clearwater, bisavô do Seth e da Leah, acabara retornar para reserva. Pode adivinhar o que aconteceu?

- Acho que posso imaginar... Kai e a moça se apaixonaram...

- Hummm, você está ficando boa de contar histórias Quileutes... mas na verdade eles se reencontraram, haviam crescido juntos, Nayeli era um pouco mais nova e na adolescência já tinha nutrido uma paixão platônica por Kai, quando ele fora ajudar parte de sua família que vivia no Hawaí, ela tocou sua vida por aqui, mas sabe aquelas coisas que ninguém pode explicar... destino, sei lá... escrito nas estrelas... os dois não puderam negar o amor despertado. Bem, o resto você pode imaginar, um ciúme passional tomou conta do jovem Hoh que só pensava em vingança, seu pai era um dos líderes Hoh e também não admitiu a quebra de compromisso, consideraram uma humilhação, Kai foi desafiado, pelo rapaz que pretendia defender sua honra, mas os anciãos não admitiram que ele entrasse num embate direto, ele não era um guerreiro, foram tentadas soluções diplomáticas sem sucesso. Até que numa noite, os Hohs entraram furtivamente na reserva e raptaram Nayeli, o combate foi inevitável, até porque há muito os lobos só despertavam da hibernação espiritual quando na presença dos vampiros, os Hohs, conhecedores da magia presente no nosso povo e temerosos disso, por anos se prepararam para tornarem-se grandes guerreiros e de fato conseguiram, estavam bem organizados e armados, então, depois de muito sangue ter sido derramado, finalmente conseguimos reavê-la, pegamos o rapaz também, o pai dele prometeu recuar se o devolvêssemos com vida, assim fizemos, mas foram muitas as baixas do nosso lado.

- Grandes histórias de amor parecem sempre render muito sofrimento e morte! William Shakespeare enxergava a frente de seu tempo! Eternizou Romeu e Julieta!

- É... acho que tem razão, seus pais são um bom exemplo disso... – Jake concordou pensando em tudo que Bella e Edward já tinham passado em nome do amor... rastreadores loucos por sangue, viúvas vingativas, exércitos de vampiros recém-criados... – depois completou. – É, mas a ânsia pelo poder também causa muitos estragos...

- Está falando dos Volturi? – Ness perguntou, mas seu tom, na verdade era quase de constatação, diante da obviedade.

- Sem dúvida eles são um bom exemplo, mas não era neles que eu estava pensando...

- Em quem então?

- Vou continuar com a história... logo você vai entender... – E com os olhos atormentados de dor, fixos no horizonte Jake prosseguiu. – ... então Quil Ateara, naquela reunião falou para os anciãos, de algo que lhe havia chamado atenção... o fato de que o fenômeno da Maré Vermelha parecia preceder grandes momentos de crises ou conflitos vividos pelo nosso povo. Lembrou de conversas que havia tido com o falecido avô e histórias que havia ouvido dele e reparou que o tal fenômeno parecia ser algo recorrente na história dos Quileutes. Para comprovar sua teoria ele havia ido à biblioteca da cidade e levantado nos jornais antigos notícias sobre a ocorrência da Maré Vermelha. Todos ficaram perplexos com a coincidência entre as datas, não havia sequer um grande conflito ou crise que tivesse terminado em mortes de pessoas importantes e líderes da nossa tribo, que não fosse antecedido por este fenômeno natural. A confirmação veio muitas décadas depois, a nossa tribo foi vítima de um vírus, uma arma biológica, na ocasião uns soviéticos haviam aportado por aqui, foi no final da Guerra Fria, não demorou muito para que fossem descobertos pelo FBI e a Inteligência, mas foi o suficiente para matar muitos e deixar outros com sequelas. Era um vírus neurotóxico, ou seja, atuava no sistema nervoso. O primeiro sintoma era a sensação de ardência ou formigamento nos lábios, na língua e nas pontas dos dedos. Em seguida, ocorria a dormência dos braços, do pescoço e das pernas, tonturas, descontrole muscular e dificuldade para respirar. Após um período que variou de duas horas a um dia, algumas pessoas morreram por insuficiência respiratória, o avô do Sam foi uma delas. Por causa desse incidente com a então União Soviética todas as famílias da reserva que perderam suas pessoas ou tiveram algum tipo de sequela foram tratadas nos mais modernos centros de reabilitação do país e receberam uma indenização do governo. Graças a tecnologia da medicina 7 anos depois eu nasci, minha mãe, havia sido vítima do tal vírus também, e durante muito tempo teve que conviver com uma hemiplegia, uma grave paralisia de um dos lados do corpo. Uma parte do dinheiro da indenização financiou os estudos da Raquel, outra parte ajudou no casamento da Rebeca e o restante foi investido num imóvel, que ajuda na renda lá em casa até hoje.

Trilha Sonora:

When You Kiss Me - Shania Twain

Jake contara tudo visivelmente emocionado, com a voz embargada e uma expressão triste que Nessie não estava acostumada a ver naquele rosto. Mas foi quando ele lembrou de sua mãe que as lágrimas lhe correram o rosto e de repente aquele homem enorme que a olhos de estranhos poderia parecer uma fortaleza inabalável, agora parecia um menino indefeso. Ele apertava os lábios para evitar chorar, mas era inútil, as lembranças de sua mãe eram ainda muito intensas, mas sua dor era contida e resignada e ele continuaria a luta para mantê-la assim, para não mostrar-se fragilizado, desvencilhou-se de Nessie e gentilmente procurou se afastar, temia que ela o achasse fraco. A pequena distância que Jake colocou entre eles deixou-a apavorada, ela podia muito bem imaginar porque ele a estava afastando e não queria que se envergonhasse, ou não se sentisse à vontade junto dela. Mas ela não permitiria que as palavras maculassem o silêncio, procurou os olhos dele e com uma das mãos tocou-lhe o rosto... “Saudade é o amor que fica Jake... sinto isso também... por você, certamente não da mesma maneira, porque você... eu volto a ver, mas, nem por isso é menos intenso... saudade não pode ser sinônimo de tristeza, é sinônimo de amor. A tristeza vai, a saudade fica.” – A mão que lhe tocava o rosto escorregou pelo pescoço de Jake, parando entre seu ombro e as costas, Nessie então prendeu-se a ele num abraço terno e acolhedor, ele deitou sua cabeça no ombro dela e chorou: entregue, desarmado e indefeso. Com Jacob em seus braços, Ness sentiu-se agradecida por finalmente ele ter se permitido ser, ao menos uma vez, frágil ao lado dela. Algum tempo se passou, talvez minutos ou horas... eles nunca saberiam, porque para ambos o tempo ali pareceu nada significar. E num sussurro ele falou no ouvido dela:

- Nem mesmo para sua mãe nunca falei da minha...

Nessie segurou-lhe o rosto entre as mãos e colou sua testa na dele, respondendo:

- Eu sei Jake e sou grata por isso!

Apesar de toda tristeza que pairava sobre aquele momento Jacob e Nessie estavam completamente sintonizados um com o outro e a proximidade de suas bocas e o hálito quente que lhes acariciava a pele, os fez arder por dentro, despertando neles o desejo há tanto reprimido. Ali frente a frente, os olhos não conseguiam mais esconder, sentiram o sangue queimar nas veias, o coração acelerar e um calor subir-lhes pela espinha fazendo todo o corpo arrepiar, os lábios pareciam não mais resistir, a boca de Jake foi se abrindo e Nessie lentamente se aproximando, ele correu suas mãos pela cintura nua dela, fazendo-a tremer e morder os lábios e um meio sorriso nervoso surgiu no rosto dele. Os dedos dela enroscaram nos cabelos dele e a tensão aumentou mais do que Jake poderia suportar e fechando os olhos apertou o corpo dela contra o seu, Nessie agora podia sentir o peito dele subir e descer com a respiração e rendeu-se ao toque dos corpos juntos que pareciam se encaixar perfeitamente um no outro. E quando os lábios se tocaram Ness teve certeza que pertencia a ele, Jake beijava-a com gentileza, seus lábios passearam pelo rosto dela, enquanto deixava-se inebriar pelo perfume, mas os lábios dela procuraram os dele ansiosos e quando Nessie sentiu a língua de Jake tocar a sua, pensou que iria desfalecer, suas pernas pareciam não mais obedecê-la e ele sentindo-a abandonar-se em seus braços, sustentou-a percorrendo com gentileza a base de suas costas, ela quase podia sentir o desejo dele na ponta dos seus dedos, ele era doce e paciente mas, seu beijo quente e desconcertante a fazia ofegar, todos os pensamentos pareceram fugir de sua cabeça, enquanto se beijavam... menos um, o único que ela silenciosamente o fez ouvir quando tocou-lhe o rosto... “eu amo você Jake... e não quero mais lutar contra isso...”