Maré Vermelha - Capítulo 19: Impasse

Leah acabara de sair do banho e caminhava até a sala chamando por sua mãe, estava enrolada em uma toalha branca e com outra secava os cabelos ainda molhados. Ao mesmo tempo Jacob entrava pela porta da frente que frequentemente ficava destrancada, mas quando seus olhos encontraram os de Leah, estancou à soleira pouco à vontade, ficaram emudecidos por longos segundos e a imagem do anjo molhado envolveu-o num transe, arrebatado pelo pensamento. Leah, também parada, tampouco podia dizer nada, a distância não tivera o efeito pretendido. Ao vê-lo ali diante de seus olhos teve certeza que nunca o esqueceu, era ele seu enlevo, seu afeto, seu bem. A ressonância de tudo o que os dois já tinham passado juntos voltou à memória de Jacob que há muito procurava não pensar sobre isso. E suspirando constatou gentilmente:

- Seus cabelos cresceram!

E ela soltou a toalha que carregava nas mãos e tocou nos próprios cabelos, enternecida com a observação dele. Mas algo de imediato chamou a atenção de Leah, fazendo com que sua resposta fosse bem mais ardilosa.

- E você desde quando abandonou a alcateia?

- Do que está falando Leah?

- Ah já entendi, agora você tem uma matilha... coisa de cachorros... não de lobos!

- Leah... foi a briga de ontem que deixou você assim ... não diz mais coisa com coisa!

- Bem, é que pensei... já que você agora usa coleira... teria mudado de status! – E seus olhos estreitados miravam o “R” que pendia no pescoço dele.

- Ora, ora, ora... quem diria... Leah está de volta! – Jacob constatou entristecido a conhecida amargura na voz da amiga, mas mesmo que quisesse, ele não conseguia se ressentir com ela.

- Em carne e osso... – Leah tentava manter-se distante. – Mas, se você veio procurar o Seth ele não está, foi até Forks a pedido da minha mãe e ela... pelo visto saiu também.

- Não vim procurar Seth... eu vim ver você, fiquei preocupado com toda aquela loucura de ontem!

- Ahhhhh! Por favor... não me venha você também falar no meu ouvido! O falatório já encheu! Dá um tempo tá Jake!

- Hey pare com isso Lee, só queria saber como você está, ok! Afinal que direito eu tenho de dizer alguma coisa! – Jacob sentia-se culpado por tudo o que tinha ocorrido entre Leah e Nessie, além de continuar acreditando que era responsável por não ter conseguido evitar que Leah se apaixonasse por ele. E ainda, tinha aquela avalanche de sentimentos que insistia em tomá-lo e deixá-lo confuso. Jake sentia falta da cumplicidade que tinham, de entenderem-se apenas no olhar, do ombro sempre pronto a oferecer conforto, dos longos papos-cabeça noite adentro e até mesmo do sarcasmo inteligente dela.

Já a muralha que ela tentava erguer a todo custo entre eles, se desfez como areia ao vento, ao ouvi-lo pronunciar seu apelido tão docemente.

- Jake...- Foi tudo o que ela pôde dizer.

- Precisava te ver, saber de você!

- Ainda dolorida, mas vou superar, só a dentada que... bem vai demorar mais, talvez fique aí... de “lembrança.” – E ela fez uma careta, quando disse essa palavra. – Eu estava justamente procurando minha mãe para me ajudar com o curativo. – E dizendo isso Leah virou- se para mostrar as costas ao amigo.

Jacob assustou-se com a extensão da ferida, era visivelmente profunda e já sangrava novamente. E seu semblante foi atravessado pela dor. Leah percebeu e tentou minimizar os sentimentos que não suportava ver nos olhos dele.

- Logo ficará, bem... ao menos a sang... ela não é venenosa! – E corrigiu-se a tempo para não chateá-lo.

- Como eu permiti isso Meu Deus?! Como permiti? – Jacob se martirizava. – Leah, onde está o unguento que Seu Ateara preparou, você não pode esperar sua mãe... já está de novo aberto!

- Jake, está tudo bem...

- Leah, faça o que eu peço, ou melhor... o que eu mando, é uma ordem! – Ele bem sabia que uma ordem ela não poderia contestar, não de seu Alfa.

Vencida, Leah agora voltava carregando a cuia com o unguento que o velho Ateara havia preparado para ela.

- Sente-se aqui! – Jake apontou para o sofá, o tom na voz era indiscutivelmente de uma ordem.

Tomou-lhe a cuia e dirigiu-se ao banheiro para lavar as mãos. Ao voltar, agachou-se ao lado dela e com uma suavidade que Leah não podia compreender como um homem tão forte poderia ter, Jake começou a passar a mistura pegajosa sobre a ferida. E com o toque dele no seu corpo desnudo ela esqueceu-se de qualquer dor, era como se aquelas mãos pudessem curar-lhe e um arrepio percorreu-lhe eriçando todos os pelos de seu corpo, Jacob sentiu o corpo dela reagir ao seu toque e por mais que quisesse esconder de si mesmo, lá no fundo... bem no fundo de sua alma ele sabia que sentia-se lisonjeado por uma mulher tão linda reagir a ele daquela maneira. E sem que ele quisesse um sorriso clandestino surgiu em seus lábios. Leah virou o rosto para olhá-lo, estavam centímetros um do outro, podia sentir a respiração dele em sua nuca, ela o flagrara. E a chance que tanto esperara, de repente estava ali. Então, decidida, encheu-se de coragem para fazer o que sempre tivera vontade e, enquanto Jake distraiu-se em apanhar mais da mistura, Leah virou-se com a delicadeza de um predador à espreita e quando ele levantou o rosto, ela estava ali, os lábios cheios de desejo quase colados aos seus e, apesar da surpresa, visível nos olhos que piscavam, ele nada mais fez...

- Interrompo alguma coisa? – A voz ácida e ofendida ressoou enérgica pela sala.

E os dois foram forçados a sair do olhar que há segundos atrás os mantinha presos.

- Hey, Embry! – Jake não sabia muito bem por que, mas queria parecer despretencioso.

Já Leah fez questão de demonstrar sua insatisfação.

- Você não deveria estar na oficina de Port Angeles não?!

Embry com os olhos em chamas cravados em Jacob respondeu sem se quer olhar para Leah. Há tempos atrás seu corpo todo estaria tremendo a ponto de transformá-lo num lobo, mas os anos tinham trazido a todos eles mais controle sobre os acessos de raiva e surtos de transformação.

- Fechei mais cedo!

Jacob, sem entender bem a reação do amigo, tentou suavizar o clima.

- Fez bem, afinal eu tenho abusado de você e do Quil.

O arco que se formou em uma das sobrancelhas de Embry, somado aos olhos estreitados evidenciou a desconfiança dele diante da fala de Jacob.

- Você bem sabe que eu jamais teria me importado de cuidar da NOSSA oficina se você estivesse onde deveria estar... cuidando de Nessie, mas pelo visto... seus planos mudaram!

Jacob estava confuso com a reação exasperada de Embry, não conseguia enxergar motivo para nada daquilo.

- Estive com ela até há pouco Embry, mas precisava saber de Leah, estava angustiado... coloque-se no meu lugar!

Embry nada respondeu. Leah, no entanto, esbravejou:

- Será que dá pra me dizer o que você está fazendo aqui?

- Eu também estava preocupado, vim ver você...

Leah quis gritar que a chegada dele não poderia ter sido mais inoportuna, mas ela não ofenderia o amigo daquele jeito, então suspirou e limitou-se a agradecer.

- Obrigada Embry... mas parem de me tratar feito uma criança, sou bem crescidinha, sei me cuidar!

- Hã, rã... nós vimos ontem... – Embry respondeu irônico.

- Bom, ótimo que você tenha chegado Sue saiu... então me ajude com esse curativo, precisaremos embeber gaze nesse unguento e enfaixar para que fique em contato com o corpo dela.

Vendo que a oportunidade tinha se perdido, Leah falou resignada.

- Há gaze e faixas no armário do banheiro.

* * *

Quando a tarde já se findava, Renesmee não acreditava mais que o mau tempo passaria e, entre relâmpagos e trovões a chuva continuava martelando na janela, um daqueles dias bastante convidativos para se ficar na cama lendo um bom livro, ou assitindo a um bom filme, enredada pelos braços quentes de quem se ama e um capuccino depois. Mas, O Retrato de Dorian Gray, Anna Karenina e outras relíquias do século XIX ou do começo do século XX que descansavam sobre as prateleiras que um dia haviam sido de Bella, não era o tipo de literatura que a atraísse.

- Como é que minha mãe pode gostar desses dramas trágicos... que inclinação mais masoquista! – Falava consigo mesma, olhando a chuva que escorria pelo vidro da janela. E pela quarta vez em menos de uma hora ela dirigiu seu olhar para o relógio de pulso, e não pôde evitar o pensamento que lhe assombrou... “nenhum livro que eu goste, nada de filmes e os braços quentes sabe-se lá onde foram parar... bom só me resta a droga do capuccino.”

Desceu as escadas em direção a cozinha, mas na verdade estava era mesmo com sede, queria era poder ir à caça e aplacar sua vontade de sangue... “Mas a cadela até isso me privou, desse jeito, toda arrebentada não conseguiria imobilizar nem mesmo um filhote de cervo!” E depois de alguns minutos fazendo uma cara horrorosa para a xícara a sua frente o telefone tocou.

- Nessie?

- Oi vô... antes que me pergunte... fisicamente estou bem... quer dizer... melhorando, mas meu humor está péssimo, então por favor não bronqueie! Ah, obrigada por não ter ligado para minha mãe!

- Como sabe que não liguei?

- Oras, o senhor acha que meu pai levaria quanto tempo de Olympia até aqui se tivesse sabido do que aconteceu?

- Não pense que concordo... apenas protelei enquanto sua mãe resolve uns probleminhas meio chatos por lá!

- Que problemas? É com a casa? O que aconteceu?

- Acalme-se Renesmee, parece que são umas chatices com banco, segundo Jake uns problemas com as aplicações... mas soube que eles já estão resolvendo!

- E por que Jake não me falou nada?

- Nessie... você estava dormindo! Ah, e antes que eu me esqueça mocinha, você está de castigo!

- Vovô?!

- Nada de sair sem mim e, Jake só pode ficar até às 22h!

- VOVÔ?!

- Dê-se por satisfeita... ele bem sabe o quanto estou decepcionado!

- Jake não teve culpa alguma, fui eu que parti pra cima da cach...

-Renesmme!!!!

- Ok! Até ás 22h...

- Jacob voltará com Raquel para ela lhe ajudar com os curativos!

- Mas o Jake pode me ajudar a fazer isso... a Raquel não precisa vir...

- ESTÁ LOUCA NESSIE... JACOB PODE SER SEU MELHOR AMIGO, MAS CONTINUA SENDO HOMEM! SE AQUELE LOBO... É... BEM... METO-O NO XADREZ POR TEMPO INDETERMINADO!

- Tá, tá, tá, já entendi... já entendi!

- Ótimo... vejo você mais tarde... cuide-se!

- Até mais tarde, vô!

E ao desligar, mesmo com todo estardalhaço causado pela forte chuva que caía, Nessie reconheceu o barulho do carro que estacionava e apesar do impulso que a acometeu de correr até a porta e atirar-se nos braços quentes que parecia estar há séculos aguardando, ela conteve-se... Já algum tempo despedia-se da adolescência, mas às vezes, ela ainda tinha suas recaídas e se comportava como tal... não daria o braço a torcer que estava ali morrendo de tanto contar os minutos para ele chegar, ficou impassível, fez a cara de mais “paisagem” que conseguiu e sentou-se mirando a caneca ainda nas mãos. Ela queria que ele sentisse pelo menos um “tantinho” da insegurança que ela sentia. Demorou tanto a assumir para si mesma que o amava e tomar a decisão de lidar com a culpa de se manter em Forks e interferir na vida dos lobos Quileutes, mas agora tinha essa, suportar Leah e seu delírio de amor por Jacob, pelo menos em relação a Leah não ficaria mais nem um pouco remorsada. “Ela que se exploda em seu beco genético!” E continuava remoendo-se. “Maré Vermelha desgraçada! Trouxe essa cadela de volta e ainda a iminência de coisas piores acontecerem... o que pode ser pior do que essa infeliz voltar para atazanar a minha vida?” Nesse momento Jake atravessava pela porta sacudindo com as mãos os cabelos molhados pela chuva, e ela podia vê-lo inteiramente de onde estava sentada... seu Adônis. Então foi quando seus olhos encontraram os dele uma lembrança lhe veio à consciência e uma onda de dor estraçalhou-a por dentro, consumindo-a, maior do que a de qualquer ferida que pudesse haver aberta em seu peito, a maior dor do mundo... a dor da perda... “não havia sequer um grande conflito ou crise que tivesse terminado em mortes de pessoas importantes e líderes da nossa tribo, que não fosse antecedido por este fenômeno natural” ela ouviu mentalmente Jacob repetir as palavras ditas por ele no dia anterior, mas se por um mecanismo de defesa ou se por estar muito envolvida por tantas revelações em tão curto espaço de tempo, só agora lhe caía a ficha, só agora ela entendia o que realmente de pior podia acontecer... e então as palavras voltavam em sua mente... “mortes de pessoas importantes”... “mortes de líderes da nossa tribo...” E a caneca caiu de suas mãos num estrépito, espatifando-se em centenas de cacos pelo chão da cozinha. O terror tomou-lhe os olhos com a miserável idéia de perdê-lo, de ser ele o líder a morrer... e um gosto de fim de mundo afundou-lhe no estômago! Ela agora sentia náuseas e tudo pareceu girar...

Jacob gritou...

- NESS!!!! – E num salto ele estava ao seu lado impedindo que ela caísse sobre os pedaços de cerâmica.

Jake carregou-a nos braços até o quarto e deitou-a na cama, afofando os travesseiros para deixá-la confortável. Mesmo ainda assolada pela vertigem, Nessie abriu os olhos procurando pelos dele e quando os encontrou, puxou-o para si, abraçando-o com sofreguidão e apesar da dor que sentiu na ferida que ainda cicatrizava, não o soltou, ao contrário prendeu ainda mais sobre si. Jacob foi surpreendido por sua reação, mas enterrou o rosto nos cabelos acobreados e cuidadosamente escorregou pela lateral do corpo dela deitando-se ao seu lado para não machucá-la.

- Desculpe-me, amor, não podia tê-la deixado só, você ainda não está bem! – E dizendo isso ele tirou os cachos sobre o rosto dela e beijou-lhe a boca com doçura.

- Esse meu mal-estar nada teve a ver com o episódio de ontem, Jake. A dor que senti foi muito mais forte e profunda que qualquer patada que pudesse receber de Leah, - E as lágrimas correram-lhe o rosto.

- Nessie, o que houve? O que você está sentindo? – Seu semblante também já era pura dor, misturado a dúvida.

Renesmee sentou-se e lembrando de tudo que seu avô havia lhe dito... Jacob apenas ergueu o tronco, apoiado em um dos cotovelos, ficando na altura dos olhos dela.

- Raquel não viria com você me ajudar?

- Ela vem, mas não mude de assunto!

- Tanto melhor, precisamos mesmo conversar!

- O que houve então?

- Você corre perigo, né?! Sua vida está em risco...

- Ah... – Ele compreendeu do que se tratava e temia por essa conversa. Sim... corro e cada Quileute da reserva também.

- Mas você é um líder... e você disse que os líderes, as pessoas importantes... hã... – E ela não encontrou coragem para terminar o pensamento. – ...bem você sabe o que disse, Jake.

- Sei...

- Estou com medo... um medo que nunca imaginei poder sentir em minha vida. – E novas lágrimas brilharam nos seus olhos e ela o abraçou novamente.

- O mesmo medo que senti quando aqueles sanguessugas desgraçados tiveram aqui há anos atrás com o objetivo de tirar sua vida! – Falou nos ouvidos dela e tremeu com a lembrança.

Ness afastou-se, mas, segurou-lhe o rosto nas mãos, olhando séria e profundamente nos olhos dele.

- Então você vai entender se disser que sou capaz de dar a minha vida pela sua! – Ela sabia que ele iria querer tirá-la de lá a qualquer custo e estava disposta a enfrentá-lo e ele teve certeza que seus problemas por ela se recusar a partir, estavam apenas começando.

- Ness... a reserva não é mais um lugar seguro...

- Não tente me mandar embora Jake, você sabe que não irei!

- Entenda... não é uma escolha...

- E como você pretende me tirar daqui... à força?

- Se preciso for...

- Me quer longe de você, é isso?

- Renesmee o que eu mais quis na vida, cada um dos segundos dela desde que você nasceu foi ficar ao seu lado e nada disso mudou! Não confunda as coisas! – Jake estava realmente sério e quase gritava as palavras.

- Não mudou, Jacob? Nem mesmo com o retorno de Leah?

- Hã? –

- Ela mexe com você... EU VI ONTEM! VI COMO VOCÊ FICOU QUANDO SENTIU QUE ELA ESTAVA NA CASA, OUVI SEU CORAÇÃO! COMO ACHA QUE ME SENTI TENDO ACABADO DE ME DECLARAR PARA VOCÊ!

Jacob se levantou da cama furioso, seu corpo inteiro tremia, ele precisou impor uma força mental enorme para impedir seu instinto animal exteriorizar-se, então na tentativa de deslocar sua raiva pegou um castiçal de estanho que havia sobre a cômoda e atirou em direção ao espelho, deixando-o em pedaços.

- NADA DO QUE EU DISSE ONTEM VALEU DE ALGUMA COISA... EU DISSE QUE TE AMO, MAS VOCÊ NÃO ACREDITA... É COMO LEAH E SAM... NÃO ACREDITA QUE SOFRI IMPRINTING COM VOCÊ!

Nessie nunca o tinha visto naquele estado, e uma mistura de medo e culpa lhe assolou, sentiu-se responsável por ele estar em fúria, mas não sabia bem como lidar com esse Jacob que estava diante dela agora... foram poucas vezes que o vira irritado ou nervoso... mas daquela maneira... nunca. E assim que ele percebeu o olhar que ela tinha nele, sentou-se na poltrona longe dela para demonstrar que jamais faria algo que pudesse machucá-la.

- Estou sob muita pressão... me desculpe, não devia ter feito isso!

Percebendo a angustia que tomava conta dele ela fez piada para tentar descontrair.

- Então some a isso mais sete anos de azar pelo seu belo feito!

E um meio sorriso torto surgiu nos lábios dele, balançando a cabeça ligeiramente para os lados.

- Jake, não sou um lobo e até ontem imprinting era algo que significava muito pouco para mim!

- É porque amo você que a quero longe daqui, nunca me permitiria colocar a sua vida em risco... nunca, entendeu?! E ao terminar essa frase Jacob se deu conta de algo que em todos esses anos não havia se permitido enxergar... o ressentimento não deixara... mas agora, desesperado por fazer Nessie entender a necessidade de partir tudo ficou claro como água... Edward preferiu não ter Bella a colocá-la em risco e se foi... Agora estava ele lá... numa situação tão semelhante, passando pelos mesmos dilemas e de repente uma empatia pelo vampiro tomou conta de sua alma... eles eram parecidos, não nas ações... mas eram capazes de abrir mão do seu amor...

- Sinto muito... sou muito menos elevada espiritualmente do que você, tenho uma alma egoísta que não me permite deixar que fique longe de mim! Se algo acontecer, estarei ao seu lado...

Mas ela não pode terminar... os gritos de Paul do lado de fora a impediram.

- Estou avisando é bom se vestirem... estamos entrando!

- Entrem... já vamos descer Nessie respondeu sorrindo.

- A conversa não acabou mocinha!

- Tenha certeza que não!

E Jake já ia saindo do quarto quando ela o chamou.

- Hey, ontem... você sabe... o curativo... – Mordeu os lábios inferiores um pouco desconcertada, mas secretamente feliz por lembrar que Jake ajudara o ancião na noite anterior a fazer seu curativo e sensações que até então lhe eram desconhecidas a invadiram.

Jacob lhe deu um sorriso sedutor e malicioso e Nessie quase perdeu o chão com isso, o simples pensamento dele tocando em seus seios a fez amolecer.

- Hoje eu não poderia meu amor... eu não poderia me conter! – E piscou para ela lhe sorrindo e desceu as escadas para encontrar sua irmã e cunhado.

E ainda abobada, sob os efeitos do que acabara de ouvir... suspirou fantasiando a cena mentalmente... seu corpo pediu pelo toque dele, mas desta vez era por mais que ela ansiava, quase ardia... eram tão novas essas sensações atrevidas, que lhe corriam o corpo e dominavam o pensamento quando Jacob estava... que se tornavam incontroláveis. E inebriada por essas tentações Renesmee imaginou-o retirar as bandagens uma a uma com gentileza e cuidado, e ela então notar o olhar hipnotizado dele como quem olha para um diamante raro e num misto de desejo e receio tocar delicadamente seus seios ainda tímidos, mas que se encaixavam perfeitamente às mãos fortes dele...

De volta à realidade, Nessie percebeu seus seios intumescidos e sorriu para si mesma, balançando sua cabeça de um lado a outro como que para sair de suas alucinações. Dirigiu-se então ao banheiro para pegar as ataduras e riu ao lembra-se de Charlie, e então gritou em resposta a Jake.

- Até porque acho que eu não gostaria de vê-lo passar uma temporada na cadeia!