Maré Vermelha - Capítulo 26: Perfeito Para Mim!

Havia se passado quase um ano desde que Nessie deixara La Push e Jake para trás, o abismo que se formara entre eles era para ela intransponível, ela não tinha como perdoá-lo embora soubesse que levaria a eternidade para tirá-lo de dentro de si e de sua vida. A dor e o sofrimento ainda não a tinham abandonado e, às vezes, ela se perguntava se um dia isso viria a acontecer, absurdamente tinha se acostumado à estranha companhia desses sentimentos sombrios, mas, na verdade, eram o que dele restava nela e contraditoriamente, no seu íntimo, desejava senti-los, como se de alguma maneira ainda estivesse assim ligada a ele. Em inúmeras ocasiões se pegava pensando o que poderia ter sido, mas não se sentia capaz de voltar atrás, ela tinha uma boa vida agora, era QUASE feliz. Era assim que se definia e sentia-se realmente satisfeita por isso, se comparado a dor dos primeiros meses, quando em alguns momentos receou que sua alma pudesse quebrar, e então restariam só os pedaços... mas, o tempo ajuda e afinal não haveria mesmo como saber, o passado tinha que ser deixado em seu lugar. Nessie havia se despedido de seu amor, centenas de luas se foram e amanheceres vieram, lágrimas morreram em seus lábios e seus olhos aos poucos perderam a cor, mas em seu refúgio, longe de tudo e de todos, ela conviveu com a dor e sobreviveu.

Phoenix tinha sido realmente uma boa escolha e Renné não poderia ter sido mais acolhedora, Nessie concluíra que realmente fora acertado ter insistido com Bella de vir morar com a avó por uns tempos, apesar de ter sido uma decisão contrária a vontade de toda sua família. A história da prima dos Cullen que ganhara uma bolsa na Universidade de Phoenix pareceu suficientemente convincente, apesar do susto que Renné levou ao se deparar com Nessie no Aeroporto, devido a inegável semelhança com Bella. Nessie lembrava-se da fala da avó como se tivesse ocorrido no dia anterior:

Flashback On

- Seus olhos... Meu Deus é impressionante! – E calou-se observando Ness prolongadamente. Só foi tirada da sua minuciosa avaliação quando Nessie rapidamente dirigiu-se a ela.

- É... desculpe... está tudo bem com a senhora Dona Renné! – A estratégia que Bella havia sugerido, de tratar Renné por “Dona” sempre que as coisas parecessem poder fugir do controle, realmente dera certo!

- Ah... querida, “Dona” não... por favor, apenas Renné... não que a idade me incomode, mas definitivamente é com esse excesso de formalidade que não posso conviver!

- Ok! Então, Renné... – E procurando mostrar-se descontraída, Nessie piscou para a avó.

- Me desculpe a falta de educação, mas seus olhos... são impressionantes, só vi outro par como esses em minha vida... os lindos olhos de Bella... bem, quero dizer, antes daquela estranha doença tropical que quase a levou de mim!

- É parece que você está realmente com muita saudade da Bella!

- É, você deve ter razão... saudade!

Flashback Off

Depois disso Nessie lembrava-se de ter mudado completamente de assunto a fim de distrair a avó... e o ano passou sem maiores problemas, com Nessie esforçando-se para lembrar o menos possível sua mãe, até fez umas mechas escuras no cabelo a fim de parecer bem diferente e procurava ousar mais no visual, ao que recebia constantes aprovações de Alice, nas raríssimas ocasiões que se viram naquele ano, todas nas quais os Cullen foram até o Arizona, tomando o cuidado de sair a rua somente a noite. Uma única vez, estiveram na casa de Renné, na ocasião do jantar do aniversário de Nessie, até comeram da comida, tudo pela pupila, que quase matava a todos de saudade, se isso fosse possível de ocorrer, claro! Todas as outras vezes, Nessie os via escondido da avó.

Apesar de a universidade ter sido a desculpa para Renesmee passar uns tempos em Phoenix, ela não pôde manter escondido de Renné o abatimento que lhe assolava e então, cansada de inventar tolices, do tipo o cansaço com os estudos, enxaquecas, falta da família e tudo o mais que lhe vinha à cabeça, decidiu revelar a avó uma parte da verdade e contou que em ocasião de sua temporada com os Cullen, conheceu um amigo da família e se apaixonara... contudo, eles pertenciam a mundos diferentes e cada um tinha seu lugar, ele era líder de um povo e ela uma garota filha de pais ricos e superprotetores... Ness não pôde dizer mais nada... talvez fosse o suficiente para Renné, talvez não... mas, jamais ela poderia contar a história de uma híbrida, meio vampira que um dia se apaixonou por um lobisomem.

- Hoje eu sei, Renné, que ele nunca acreditou que eu pudesse pertencer ao seu mundo, não confiou que eu pudesse ficar ao seu lado e me mandou embora da pior maneira que alguém poderia escolher para fazer... demonstrou claramente o quanto para ele eu nunca pertenceria aquele lugar... beijou uma Quileute, como que para me dizer que aquela era mulher que deveria ficar ao lado dele... – Ao terminar de falar, as grossas lágrimas que vinha escondendo da avó lhe desceram o rosto e de repente se viu tomada por intermináveis soluços e um desequilíbrio emocional dominou-lhe os sentimentos que há tanto vinha represando...

Daquele dia em diante as duas se tornaram muito amigas.

* * *

Da janela, Renné viu quando a Hylux estacionou na porta da casa.

- Nessiiieee! Matt chegou!

- Já vou indo Renné... – Nessie desceu as escadas correndo, mas estava bem acostumada a fazer tudo num ritmo que parecesse o mais natural possível, afinal, não era tão difícil, fazia isso desde o seu ingresso na escola.

- Heeeeey, que produção hein? Está linda!

- A ocasião merece... vamos comemorar oito meses de namoro!

- É parece que você realmente conseguiu! – Renné a olhava esperançosa, estava grata por Matthew ter aparecido na vida de Ness... e pensou que aquele rapaz realmente tinha fibra, apesar dos incontáveis foras que levou, nunca desistiu, Renné perdera a conta de quantas vezes ele telefonara, aparecera por lá convidando-a para sair, enviara e-mails, flores, bombons e nada... só recebia negativas. Até que um dia, sabe-se lá porque motivo, se foi de tanto Renné ter insistido, ou se porque, finalmente Ness tinha concluído que havia chegado a hora de seguir adiante com sua vida, resolveu dar uma chance ao quarterback do time da Universidade. E, dois meses depois de terem começado a sair juntos, engataram num namoro. Nessie realmente parecia ter conseguido superar seu luto e Matt, sem dúvida alguma, era o principal responsável por isso.

O que Nessie mais gostava em Matt era como ele lhe lembrava Emmet, não só por seu porte atlético, mas principalmente pelo espírito brincalhão que era muito semelhante em ambos. Matt era o tipo de cara de bem com a vida, sempre bem humorado e divertido, de hábitos simples e gentis, que estava sempre com um sorriso no rosto. Era encantador, mas nada arrogante e nisso ele era diferente de Emmet que sempre fora um tanto exibicionista. Por tudo isso, Matt transitava por todas as “tribos” da universidade, dos nerds aos atletas, das patricinhas, as bicho-grilo, dos caretas aos bem loucos, todos gostavam dele. Era um cara agregador, que aproximava as pessoas uma das outras, alguém muito fácil de se gostar e justamente por isso, um tremendo sucesso entre as mulheres. Mas foi por Nessie que ele se encantou, a garota que entrava e saía das aulas fazendo de tudo para não ser vista, que caminhava por entre as árvores da universidade como que tentando se esconder... dentre todas, ele a enxergou e a discrição dela só o fez interessar-se ainda mais, ele a observava em cada um dos seus movimentos, da maneira como ela segurava a cabeça com uma das mãos quando uma aula a entediava ou como parecia completamente ausente do mundo quando sentava-se nas arquibancadas para acompanhar os jogos dos campeonatos nacionais. Aliás, foi essa quase que permanente ausência que intrigou-o e o fez querer saber o que havia, afinal, por trás daqueles olhos distantes e conversas sempre evasivas... e dizem que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, que chegou o dia em que ela deixou de evitá-lo.

Sem que Nessie percebesse ela já passava mais tempo com Matt do que em casa com Renné, estavam no primeiro semestre do curso de Relações Internacionais, e agora além de sentarem-se lado a lado durante as aulas, fazendo piadas dos professores chatos e trocando bilhetes durante as aulas enfadonhas, marcavam na cafeteria depois dos exames, faziam os trabalhos em grupo e estudavam juntos as matérias mais difíceis, e a relação aos poucos foi transpondo os muros da universidade, Nessie se quer se deu conta da primeira vez que tiveram um encontro não acadêmico, Matt era inteligente e sabia que não podia assustá-la, do contrário, ela “fugiria” para seu mundo de novo, então, aproveitou a dica de um filme dada por um professor para propor um cinema depois da aula. Foi nesse dia que pela primeira vez ele pegou na mão dela, “despretenciosamente” o fez enquanto atravessavam a rua. Dessa mesma maneira ele agiu para conseguir que finalmente namorassem, evitou um pedido formal, ela não aceitaria. Mas, Matthew tinha torcida a seu favor e sabia disso, Nessie, apesar de relutante, não pôde negar que ela e Matt já tinham algo muito além de uma amizade quando, foi pressionada por Renné, que enumerou uma série de comportamentos do rol daqueles que se diz dos casais de namorados. E, dois dias depois dessa conversa, ela não negou o beijo que ele lhe deu na cafeteria da faculdade, ela lia em voz alta um texto que lhes havia sido solicitado para aula de Economia Internacional I e de repente parou se dando conta que Matt, não prestava atenção no que era lido, mas sim nela, encabulada e totalmente ruborizada com o olhar fixo e penetrante que Matthew lhe dava, Nessie, baixou a cabeça novamente em direção ao texto, mas desta vez ele segurou-lhe o queixo e beijou-lhe os lábios com ternura.

Oito meses já haviam se passado desde esse dia e Nessie nunca contara a Matt sobre Jacob, mas ele sabia que algo havia acontecido, percebia que, apesar de ela estar muito menos reticente e a cada dia mais à vontade na relação, invariavelmente ele a pegava ausente, com aquele olhar parado, como se estivesse em outra dimensão... mas Matt sempre soube que não poderia perguntar nada, que o assunto era TABU e, se um dia ela quisesse, contaria a ele de livre espontânea vontade.

Outro toque na buzina foi ouvido, Nessie apressada, beijou rapidamente o rosto da avó e puxou a bolsa que estava sobre a mesa de jantar, não reparou que a mesma se encontrava aberta e que com o puxão, quase tudo o que estava dentro foi parar no chão, Renné abaixou-se para ajudá-la a recolher, puseram tudo meio desajeitadamente lá dentro e Ness se foi. Ela tinha acabado de atravessar a porta quando Renné reparou que o cartão de registro acadêmico havia ficado sob uma das cadeiras, quando o pegou na mão, soube então, qual era mesmo o nome de Nessie.

- Renesmee Carlie Cullen! – Leu em voz alta e ao fazê-lo, acabou por ter um “insight” absolutamente involuntário, assustando-se diante do que seus olhos identificavam: os dois nomes Rene/Esme.

Renné sentou-se na cadeira ainda surpresa, olhava para o cartão em suas mãos, verdadeiramente intrigada. Leu e releu o nome umas mil vezes aquela noite e não largou o cartão por nenhum segundo, como, se de alguma forma, ele pudesse revelar algo mais sobre a identidade de Nessie. Já era tarde quando subiu para o quarto e ao abrir a porta, as fotos que tinha de Bella no criado-mudo ao lado da cabeceira de sua cama, pareciam ter criado vida, os olhos de sua filha pareciam ser reais, algo dentro de Renné naquele momento mudou, uma certeza inexplicável lhe invadiu o peito, ao fechar os seus próprios viu os olhos de Bella em Renesmee e como por magia o acobreado dos cabelos de Edward se misturaram aos cachos que tantas vezes havia acariciado aquele ano. Um vento noturno forte abriu os vidros das janelas, que estavam apenas encostadas, batendo-as contra as paredes, fazendo as cortinas cor de pérola esvoaçarem, o ar gélido que tomou o quarto fez Renné arrepiar-se e sem poder dar uma explicação lógica para tudo aquilo, lembrou-se da temperatura das mãos de Bella de anos para cá e ao fechar os olhos diante de um medo incompreensível que lhe acometeu viu Bella vestida de noiva com um véu perolado esvoaçante, valsando nos jardins da casa dos Cullen. Nada daquilo fazia o menor sentido e sem saber exatamente o que pensar, ficou parada horas, na frente daquela janela, contemplando a noite, com a sensação de ter borboletas no estômago.

* * *

Matthew sempre fôra uma companhia agradável, fazia Nessie sorrir e frequentemente conseguia fazê-la pensar menos em Jacob. E em especial aquela noite ele estava adorável, sempre soube como agradá-la, observava cada um de seus gostos e vontades e reparava em cada detalhe que ela mudava em sua aparência. Escolheu um lugar que ele sabia que a deixaria feliz, sempre locais divertidos e ambientes leves sem grandes ostentações, eram os preferidos dela. Foi assim que ele o fez nessa noite também, foram numa boate bastante agradável, arborizada, que proporcionava um ambiente ao ar livre, uma praça externa com teto retrátil e o piso forrado de caquinhos coloridos, com paredes forradas em madeira conferia-lhe um ar rústico, onde eram servidos carnes, peixes, risotos e deliciosos panine assados em forno à lenha. O local era rodeado por três bares e, um pouco mais afastado observava-se a pista de dança, comandado por um DJ. Depois de jantarem, em meio a uma conversa animada, Matt, convidou-a para dançar, perderam a noção do tempo, divertiam-se um com o outro, faziam piadas de si mesmos e de seus jeitos desengonçados ou excessivamente travados de dançar e riam muito por terem que quase gritar para se ouvirem, enfim... a madrugada há muito que começara e uma música romântica tocou na pista... Nessie ficou um pouco desconcertada e o rubor nas maçãs lhe denunciaram, Matthew sorriu da sua timidez e puxou-lhe pela mão para perto de si, enquanto dançavam ele acariciava-lhe as costas com ternura, em oito meses de namoro esse tinha sido o momento de maior intimidade entre os dois. Ness sempre fora reticente... afinal ele era humano, ela tinha medo de envolvê-lo no mundo do sobrenatural, há muito que ela controlava sua sede com muita facilidade, mas, mesmo assim, um relacionamento mais sério tinham muitas implicações e uma acima de todas que ela fazia de tudo para não pensar: Jacob. Foi carinhosa e quase receosamente que, Matt beijou-lhe o pescoço e subiu os lábios, próximo a sua orelha, sussurrando as palavras no seu ouvido...

- Eu te amo, Ness! – Mas sentiu-a enrijecer sob suas mãos, ele já havia suposto que ela seria de certa forma refratária, mas estava decidido a não evitar mais o assunto.

- Matt... – Nessie começou cautelosa e apesar de ser difícil lidar com a situação, era capaz de admitir que não era uma surpresa, ela já vinha esperando que logo teriam de falar . Mas ele, a interrompeu e continuou dizendo...

- Não espero que você sinta o mesmo Ness, mas já é tempo de dizer o que sinto! – Se ele soubesse o que já há algum tempo Nessie vinha decidindo teria deixado-a terminar.

- Acho mesmo que já é tempo... mas preferia que fosse num lugar mais reservado. – Respondeu-lhe olhando profundamente nos olhos dele.

- Onde você gostaria de ir??? – Matthew falou receoso em sugerir.

- Pode ser no seu apart-hotel? – Um sorriso maroto brotou dos lábios dela.

“BINGO” – Ele gritou internamente, seria mesmo onde teria sugerido e não pôde evitar sorrir em concordância.

Durante o percurso a conversa de maneira geral foi sobre as variações climáticas e depois... silêncio. Quando chegaram, Matthew estava nervoso, apesar de ter sonhado meses com aquele dia e ensaiado dezenas de vezes um texto pronto e decorado, seu coração acelerado, palpitava a ponto de sair pela boca e um vazio lhe assolava o estômago. Ele não sabia, mas ela podia ouvir cada uma das batidas e sorriu de imaginar como ambos estavam fazendo de tudo para parecerem naturais. Ele convidou-a a se sentar e ligou o home-theater, então lhe ofereceu algo para beber, ela aceitou um suco. O apart tinha a cozinha conjugada com a sala e enquanto ele foi até a geladeira, Nessie pensou que era o momento de agir, antes que perdesse a coragem. Há uns dois meses vinha conversando com Renné sobre o seu relacionamento com Matthew e finalmente achou que era hora de ouvir a avó e se permitir viver um novo amor, porque evitar mais... Matt já havia dado demonstrações suficientes de que a merecia, de que era um cara confiável e acima de tudo que gostava dela, amava-a. A hora era agora, ela seria de outro homem, Jacob seria uma página virada na sua vida.

Ao virar-se com o copo na mão, Matt deu de cara com Nessie a centímetros dele, ela pegou-o e pôs sobre a pia, depois envolveu seus braços no pescoço dele e apesar de um tanto surpreso, ele correspondeu, abraçando-a na cintura. Sorrindo Nessie disse a ele:

- Sobre o que ia lhe dizer quando você me interrompeu na boate, então... – Ela aproximou seus lábios dos dele e beijou-lhe a boca doce e prolongadamente. Estava dada a resposta. Matt então soltou uma das mãos de sua cintura e lentamente sem desgrudar dos lábios dela, abaixou-se e num movimento seguro e preciso, ergueu-a no ar, segurando-a por trás dos joelhos e nas costas. Carregou-a até o quarto e colocou-a sobre a cama. Nessie, apesar de vacilante, não demonstrou resistência e, à medida que Matt percebia concordância, acariciava-a com maior intimidade, deslizando suas mãos pelo corpo dela, ele tinha sede de amá-la, mas sua aproximação era de uma gentileza sensível, Ness não conseguia corresponder como ele talvez merecesse, não se sentia muito à vontade, mas comovida pela delicadeza com que ele a beijava e sussurrava baixinho a grandeza de seu amor, entregou-se a profundidade daquelas sensações e deixou que ele a amasse.

Nessie reconhecia verdadeiras promessas por trás do mel daqueles olhos e sentiu intimamente que queria de alguma maneira responder a eles e mordendo-lhe a orelha carinhosa e maliciosamente segredou no seu ouvido.

- Você me fez uma pessoa mais feliz desde que entrou na minha vida, Matthew.

Ele fechou os olhos e apaixonado abraçou-a, como se pudesse mantê-la em seus braços para sempre.

- Eu não tenho certeza se está realmente acontecendo... Ness, amo você! – E, dizendo isso, foi despindo-a lentamente enquanto beijava as partes que aos poucos ficavam nuas. Ele vidrou seus olhos no corpo abaixo do seu, na pele macia e nas curvas perfeitas e sorriu pra si mesmo hipnotizado pela beleza dela. E levantando-se, ajudou-o a tirar a camisa, fazendo-a suspirar quando a mesma escorregou pelos braços fortes e delineados de Matthew. Mas agora, totalmente colada nele, Nessie sentiu a garganta queimar e a sensação de SEDE que há muito controlava bem ressurgir, os corpos nus e suados tinham despertado um instinto que há muito estava adormecido, selvagem e feroz, sua metade vampira parecia querer ali se sobrepor, mas não foi o medo de que pudesse bebê-lo que lhe abateu,foi ter sido de repente lembrada de quem ela realmente era. E, sem que quisesse, por mais que evitasse a imagem do lobo tomou-lhe a mente e numa tentativa desesperada de expulsá-lo e conter as lágrimas que já brilhavam em seus olhos, quase implorou:

- Me faça sua Matthew, me faça ser só sua mulher!

E então... ele estava com ela, estavam mergulhados um no outro, Matthew era especialmente doce e tinha um jeito só seu de se mostrar viril e trilhar o corpo dela com seus lábios. Nessie grudou-se nele, precisava-o desesperadamente, seu corpo tremia involuntariamente e ela não saberia dizer em que momento começou a chorar.

Há milhares de quilômetros dali, naquela madrugada enregelante de outubro, mais alguém estava com Nessie... Jacob... em mais um dia como todos os outros que se seguiram desde que perdera Sam naquela batalha e acima de tudo desde que Renesmee se fora, ele comia porque tinha que comer, respirava porque lhe era inerente, não vivia mais... sobrevivia, estava em modo automático. Perdeu interesse no seu trabalho e fazia-o absolutamente sem entusiasmo, e quando não estava envolvido com as responsabilidades da aldeia, único motivo pelo qual ele ainda estava ali, vagava sem saber para onde ir ou o que fazer, sua vida perdera todo sentido, descuidou da aparência e por um bom tempo depois da partida de Nessie, caiu doente vítima de febres altas e delírios onde chamava e chamava por ela, mas sem que nenhuma justificativa clínica tivesse sido encontrada por médico algum. Quando finalmente a febre passou... ele tornou-se apenas um corpo que existia, vazio de significados. Para quem o amava era extremamente doloroso vê-lo entregar-se daquela maneira a própria sorte, mas a muito haviam deixado de falar qualquer coisa porque sequer ele se dava ao trabalho de argumentar, vivia a sombra do mundo, seus lábios nunca mais se abriram no sorriso simpático e caloroso que costumeiramente se via ali e revelava uma dureza no rosto, já há muito acostumado ao desconsolo.

O corpo deitado na cama, imenso e inerte a olhar o teto, após mais uma noite insone aguardava entediado o amanhecer quando de repente foi tomado por um suor frio e imagens pouco definidas que se misturavam a realidade o acometeram. Imediatamente uma compreensão esmagadora tomou-lhe o peito, acompanhada de uma sensação insuportável de sufocamento. Uma tristeza aguda o dilacerou, seus olhos já opacos orbitaram apavorados e ele sentiu o sangue gelar em suas veias tomado pelo desgosto de tê-la sentido entregar-se a outro, uma pressão esmagou-lhe o peito e seu rosto distorceu-se com a dor, uma fenda tinha se aberto em sua alma, Nessie tinha escolhido seguir com sua vida, estava definitivamente acabado... cambaleante e nauseado ele levantou-se e subitamente em meio a imensa dor ele gritou o nome dela:

- RENEEEEEEEESSSSSSSMMMMMMMEEEEEEEEE! – O grito virou uivo e viu-se apenas o vulto do gigantesco lobo entrar na floresta, para nunca mais voltar.

* * *

Deitada sob o corpo de Matthew, foi inútil para Nessie tentar esconder os soluços que irromperam, assim que um grito de dor que chamava por ela, seguido por um uivo desesperado rasgou-a por dentro, foi como se o tivesse ouvido ali cortando o ar de tão real, era quase paupável. A voz transtornada de Jacob invadiu sua cabeça e no momento que tudo deveria ter se tornado perfeito, àquela imensa dor que agora era sua também sangrou-a por dentro, naquele instante a certeza que ele soube de tudo lhe consumiu e ela foi tomada por um remorso incontrolável, foi assolada por um sentimento de repulsa por Matthew e uma luta começou a ser travada em seu interior, ela precisa ter cuidado, pois Matt não merecia que ela fosse insensível, essa era a única parte que ainda lhe restava de racionalidade, mas como controlar a sensação de nojo e sujeira que a consumia? Um sentimento devastador de solidão se tornava cada vez mais crescente... imagens do rosto de Jacob formavam-se em sua retina, ela queria poder apagá-lo da sua mente, lavar o gosto dos beijos que agora insistia em voltar e arrancar o desejo que sentiu quando seu corpo ardeu pedindo pelo dele, tudo estava confuso e desolador. Más decisões a tinham levado até ali e agora Nessie dava-se conta que poderia levar uma vida, mas ela nunca o tiraria de dentro de si, sentia raiva de si mesma por não conseguir superá-lo... estava partida e longe de Jacob, parecia que nada no mundo estava no lugar.

Uma compreensão súbita torturou Matthew, nada precisaria ser dito, ele chutava-se por dentro por ter insistido sabendo que sempre houvera uma história, uma pessoa, os segredos de Nessie guardados a sete chaves. Essas eram agora as implicações da escolha de nunca ter querido saber de nada e, de repente, ele se deu conta da facilidade que é perder aquilo que se pensa já ser seu. Envolveu-se num jogo perigoso demais, perdido para ele desde o começo. Mas alguma coisa precisa ser feita... ele não poderia deixá-la ali chorando uma vida toda e abraçou-a, e mesmo lhe sendo muito doloroso colou seu peito junto ao dela e disse-lhe o que ele sentia que precisava ser dito:

- Os fantasmas voltaram a atormentá-la... não adianta Ness... só há uma maneira... PARE DE FUGIR seja lá do que for que estiver fugindo, há muito que percebo que há um segredo, mas me iludi com a expectativa de que você realmente tivesse conseguido virar essa página de sua vida... mas parece que o tempo não passou e nesse exato momento ele andou mesmo foi para trás! É chegada a hora de resgatar essa história, você tentou, fui testemunha de que tentou, mas isso a está paralisando, não conseguirá seguir em frente nem comigo nem com ninguém... você sabe que a amo e que te quero, mas você precisa resolver isso dentro de si mesma primeiro... e se depois, ainda quiser voltar, eu estarei aqui! – Embora, intimamente ele sentisse que ela não voltaria.

Permaneceram ali abraçados por um tempo que não saberiam precisar e finalmente quando ela conseguiu recobrar algum controle, seus olhos gratos eram consonantes com suas palavras.

- Você nunca acreditou em minhas mentiras, não foi?

- Resolvi correr o risco... e ter uma chance... mas sei que não foram mentiras...

- Não, não foram... mas foram só meias verdades... – E depois de um breve silêncio ela continuou. – Matt obrigada por ter sido meus olhos quando não pude enxergar.

Então, ele se inclinou para mais perto e colou seus lábios no dela, sabendo que essa seria a última vez.

- Bem... acho que é hora de irmos então, vou deixá-la em casa! – Apesar da generosidade de sua atitude, Matthew estava aos pedaços e foi num esforço sobre-humano que conseguiu deixá-la na porta da casa de Renné aquela madrugada, sabendo que, muito provavelmente, seria a última vez que veria Nessie.

Depois que o carro desapareceu em meio a serração da noite, Renesmee sentiu-se vil, indigna de Matthew e contraditoriamente imunda, por, de maneira absurda, sentir-se traindo Jacob. Arrebatada por essas sensações, subiu quase voando para o seu quarto, chorando compulsivamente, era inútil tentar conter-se. Ao entrar, descontou sua dor na porta, batendo-a fortemente, sobressaltando Renné que havia pegado no sono, ainda com o registro acadêmico dela nas mãos e após ter falado com Bill, ao telefone, que havia lhe dado a notícia de sua volta em algumas semanas após o fim da temporada do campeonato nacional.

Trilha Sonora:

Fucking Perfect - P!nk

Dentro do quarto colocou-se diante do espelho, encarando-se com fúria nos olhos, não admitia ser fraca e não conseguir esquecer Jacob, no entanto o pavor de imaginar onde ele pudesse estar, sabendo que havia se entregado a outro homem a fez quase enlouquecer e podia-se ver labaredas queimarem em seus olhos e num ato completamente insano, na tentativa de expurgar aquela avalanche de sentimentos de dentro de si, ela atirou um dos vidros de perfume que estava sobre a cômoda contra o espelho, despedaçando-o e lançou todo o mais que havia sobre esta, carregando com seu braço, escovas de cabelo, maquiagens, outros vidros de perfume e tudo o mais que havia ali, seu choro era desesperado e enlouquecido e ela então correu para o banheiro jogando-se debaixo da água fria ainda vestida e em seguida, arrancando as roupas com fúria deixando-as, aos pedaços. Esfregava-se compulsivamente como que tentando limpar-se e finalmente caiu exausta, abraçando seus próprios joelhos enquanto a água fria caía sobre seu corpo, misturando-se às suas lágrimas que teimavam em rolar. Ali uma compreensão abateu-lhe... eles haviam sido feitos um para o outro, ela não poderia ter pertencido a mais ninguém porque nunca deixou de ser dele... ele era perfeito para ela!

So complicated - Tão complicado

(…)

Filled with so much hatred - Cheios de ódio

Such a tired game - Um jogo tão empatado

It's enough, I've done all I can think of - Chega, eu fiz tudo que pude

I've chased down all my demons - Eu persegui todos os meus demônios

I see you do the - E vejo que você fez o mesmo

(…)

So cool in lying and we tried tried tried - Facilmente mentindo e eu tentei, tentei

But we try too hard, it's a waste of my time - Mas nós tentamos demais, é um desperdício do meu tempo

(…)

Pretty pretty please don't you ever ever feel - Querido, querido, por favor, nunca, nunca se sinta

Like you're less than fucking perfect - Como se fosse menos do que muito perfeito!

Pretty pretty please if you ever ever feel - Querido, querido, por favor, se em algum momento você se sentir

Like you're nothing you're fucking perfect, to me - Como se fosse nada, você é muito perfeito pra mim!

Foi nesse momento que Renné entrou no banheiro já com uma toalha nas mãos... desligou o chuveiro e sem nada dizer, enrolou-a com ternura, acolhendo-a em seus braços maternais. Nessie deitou na cama aninhando sua cabeça no colo da avó e depois de longos minutos silenciosos, não podendo mais manter os segredos ainda selados, beijou a face da neta e revelou-lhe:

- Renesmee... – A neta olhou assustada quando ouviu seu nome sair da boca da avó com todas as letras. E Renné, mesmo sem compreender nada e não encontrar nenhuma justificativa minimamente racional, tinha dentro de si uma certeza inexorável e continuou... – Será que você não herdou nada de mim, meu amor??? Você precisa correr atrás do que a faz feliz, nada aqui em Phoenix lhe fez sorrir de verdade... vá em busca do que a faz perder o chão e sentir-se como se não houvesse gravidade, “não perca esse trem” querida... decisões importantes são geralmente dolorosas, mas no fundo sempre sabemos aquela que nos fará mais feliz!

Nessie sentiu um misto de incredulidade, medo e contentamento... como Renné sabia de tudo, o que havia acontecido nessas horas que esteve fora, será que Bella contara, algo... parecia tão improvável... Os olhos cheios de dúvida e uma fisionomia que denunciava sua total surpresa fizeram com que Renné compreendesse o quanto havia pegado a neta desprevenida e concluindo que não deveria fazê-la sofrer com indagações sobre isso também, tirou do bolso da calça o tal registro acadêmico de Nessie e lhe disse, certa que esse não seria o momento que teria respostas... se é que um dia realmente as teria.

- Rene/Esme... me parece algo que seria a cara de Bella fazer... – Na tentativa de responder a avó sem necessariamente revelar o que no momento não sabia se poderia, Renesmee, visivelmente emocionada, completou...

- Assim como Carlisle/Charlie... – Renné voltou os olhos novamente para o cartão em suas mãos e sorriu conclusivamente.

- Carlie...

Nessie nada mais disse, apenas lhe sorriu de volta e abraçou-a como nunca antes o havia feito, Renné carinhosamente, tirou os cabelos da neta do rosto e fascinada beijou-lhe a testa, então, contrariando a todas as expectativas, ela afirmou complacente.

- Teremos tempo para conversar sobre tudo isso... mas por hora, o importante é conseguirmos colocá-la dentro de um avião que lhe leve de volta a Olympia o mais rápido possível... e de lá...Forks... que nunca foi o meu... mas certamente é o seu lugar!