Sol Ardente - Capítulo 10

Dei um passo adiante na direção da beira da floresta que rodeava a casa de Kevin. O uivo dolorido de Jake parou. Tentei outro passo e o som recomeçou, dessa vez muito mais perto. O solo tremeu levemente – tu-dum, tu-dum – enquanto cada pata gigante batia contra o chão, cada vez mais perto. Claro, só eu conseguia sentir isso com minha pele ultra-sensível.

“Renesmee?” Derek chamou, vindo a mim confuso com minhas ações, mas não dei atenção. Levantei a cabeça, tentando ouvir mais forte. Parecia que o uivo estava ficando mais suave, como se agora a fonte estivesse se afastando de nós.

“Oh, Deus,” murmurei, enterrando o rosto em minhas mãos. Eu estaria morta quando voltasse. Não, esquece isso. Derek estaria morto. Meu pai e Jake iriam pessoalmente fazer pedacinhos dele. Afinal, Jake até demonstrou seus sentimentos sobre eu beijando Derek – o lado de irmão protetor deve ter tomado conta quando percebeu o que havia acontecido. Ele deve ter se transformado imediatamente de raiva e estava a caminho para arrancar Derek de mim.

Alguém deve tê-lo impedido de sua fúria. Pai? Não. Mãe? Talvez, se ela o alcançasse e o forçasse a ouvir o bom senso. Mas, como ela faria isso com ele transformado? Talvez Quil ou Embry. Ou Seth. Um deles deveria estar em sua forma de lobo quando Jake se transformou,e então ouviram os pensamentos e planos dele e o convenceram a parar.

De qualquer forma, tinha certeza que estaria em maus lençóis quando chegasse em casa também. E já podia ver meu pai ou minha mãe me dando uma lição sobre o quanto é arriscado beijar um humano, como eu poderia tê-lo matado, ou como eu poderia ter exposto a todos nós. Teria que convencê-los a deixar Derek em paz.

Eu provavelmente devia ir pra casa agora e encarar o que estava por vir.

Virei para ir embora, mas então senti uma mão agarrar meu punho numa tentativa de me segurar ali. Eu poderia apenas ter me livrado do aperto fraco e humano, mas minha semi-consciência gritou, “Humano! Cuidado!” então cedi e me deixei ser mantida. Virei para encarar o culpado: Derek. Ele parecia abismado.

“Onde você está indo?” ele perguntou, sua sombrancelha franzida em confusão e preocupação.

“Pra casa,” respondi simplesmente.

Derek levantou uma sobrancelha pra mim, cruzando os braços com ar arrogante. “E se eu não quiser que você vá?”

Eu soltei um som de deboche. “Não acho que você tenha tanto poder assim sobre mim.”

O ar arrogante sumiu,e fiquei chocada com a vulnerabilidade que surgiu debaixo de sua armadura. Seus olhos, redondos e suplicantes, me imploravam, e sua expressão facial amoleceu. “Por favor? Fique comigo um pouquinho mais.”

Fiquei em dúvida, senti que estava caindo nas profundezas de seus olhos castanhos.Ele notou minha incerteza e pressionou mais. “Alem do que, eu não quero você por aí quando um lobo maluco está a solta. Você não ouviu aquele uivo?”

Eu ri internamente com a verdade crua por trás de suas palavras.

“Pelo menos me deixe te levar em casa se estiver mesmo certa disso. Assim posso saber que você chegou em segurança.”

Sua sinceridade me tocou; parecia que ele realmente se importava! Senti meus lábios se curvando em um sorriso. Eu estava para concordar com a oferta quando meu celular soltou outra vibração incansável no meu bolso, exigindo atenção. Eu suspirei, tirando-o do bolso. “Espere aí um segundo, Derek. Deixa eu atender essa.”

Caminhando alguns passos para longe, olhei para o visor. Alice. Claro. Ela provavelmente teve um borrão de visão de Derek e eu, se amassando um no outro. Um arrepio passou por minhas costas. Então Edward viu sua visão e pirou, metade porque eu poderia ter matado o cara e metade porque eu era filha dele. Jacob descobriu e pirou também, e ele sendo impulsivo como é, apenas se transformou e saiu correndo a mim. Fazia sentido.

Olhei por cima do ombro e abri o telefone para atender. Derek me observava com um olhar ansioso, me dando um sorriso tranquilizador quando nossos olhos se encontraram. Rachel e Jay estavam prestando atenção em mim igualmente preocupados,enquanto Sophie me dava um olhar mortal (quase pude ver fumaça saindo de suas narinas). Kevin e os outros estavam olhando para a mata com expressões abismadas em seus rostos, incertos do que aconteceu. Aparentemente lobos raramente eram ouvidos nessa região.

“Nessie!”, Alice gritou no meu ouvido.Afastei o telefone com um gemido de surpresa. Quando Derek correu até mim, eu só balancei a cabeça e sorri me desculpando. Coloquei o pequeno celular de volta no ouvido.

“Por favor, não grite. Machuca meus ouvidos.”

“Ness! O que aconteceu? O que você fez?”, Alice bombardeou.

Eu suspirei e respondi calmamente com velocidade vampiresca para afastar os espiões. “Você sabe tão bem quanto eu o que aconteceu. O que você viu?”

Ela hesitou. “Eu… vi seu futuro mudar”, ela respondeu simplesmente.Pude sentir minha sobrancelha curvar de confusão. “Mudar como?”

Alice pausou mais uma vez, incerteza surgindo no silêncio. “Não sei. Você meio que… desapareceu. Não da forma normal como quando está com Jacob. Mais como… uma incerteza no seu futuro. Você chegou a uma encruzilhada na estrada e ainda não decidiu ao certo que caminho seguir. Fico vendo flashes de futuros diferentes, nenhum claro. Quase me lembrou de quando Edward não conseguia decidir o que fazer quando conheceu sua mãe”, ela completou como um pensamento seguindo seu monologo rápido.

“Era isso? Você não viu nada em um futuro próximo?”

“Bem… Não. Vi outra coisa.” Ela pausou, culpa percorrendo sua voz.

“O que você viu?”, perguntei, me preparando para o veredicto.

“Eu vi… você e Derek… juntos. Abraçados. E se beijando”, ela completou. “Acho que isso deveria estar no passado desde que já aconteceu, né Nessie?”

Eu gemi. Ótimo. “Meu pai e Jake estão bravos?”

“Edward não está exatamente… bravo, vamos dizer assim. Não muito”, ela terminou esfarrapadamente. Podia sentir o silêncio intensificando meu ceticismo. “Ok, ok, ele está furioso. Mas não com você. Ele tem na cabeça que Derek está tirando vantagem de você. Não pode culpar seu pai por ser tão protetor assim.”

Suspirei. Acho que não podia mesmo. Teria que falar com ele sobre isso,para convencê-lo de que eu tinha tanta culpa quanto Derek. “Diga a ele que conversaremos assim que chegar em casa”. Espero que isso não signifique que a guerra de neve foi cancelada. “Espere, e o Jake?”

“Jacob também não está bravo”, notei um pingo de outra emoção por trás das palavras dela, mas não pude identificar o que era.

“Mesmo? Huh. Pensei que ele agiria todo protetor como meu pai. Afinal,ele foi assim com todos os outros garotos que tentaram falar comigo na escola”.

“Não é bem a mesma coisa, Nessie”, Alice disse brevemente. “Mas não sou realmente com quem você tem que te falar sobre isso.”

“Okay…” Estranho.Escutei vozes no fundo.

“Sai pra lá, Edward”.

“Me dá o telefone, Alice”.

“Edward!”

Ouvi um chiado,e coloquei o celular mais perto da orelha tentando ouvir melhor.

“Nessie?”

“Alô? Pai?”

“É, sou eu”. Podia ouvir a raiva contida na voz dele. “Escute, você pode passar o telefone para aquele garoto Derek? Quero falar com ele.”

“Hmm… Não acho que essa seja uma boa idéia. Você não quer que as pessoas descubram que não somos humanos, quer?” Eu meio que brinquei.

“Ness, não vou dizer nada que nos exponha.”

“Mantenha em mente também que você não é meu pai, é meu irmão.”

“Irmãos mais velhos podem ser protetores também.”

“Não acho que você se encaixa no estereótipo de ‘irmão mais velho’ muito bem.”

“Dê o telefone a ele, Ness.”

“Não.”

“Ness…”

“Não”.

Eu podia ouvi-lo suspirar exasperadamente. “Tão teimosa. Igualzinha à sua mãe.”

“Mas ouvi dizer que minha teimosia ganhei de você”, lancei descaradamente.

“Tudo bem. Não dê o celular a ele. Mas teremos uma conversa séria quando você chegar em casa, mocinha.”

“Ok, agora você definitivamente não parece um irmão mais velho.”

“Nessie…”

Eu ri. “Tá bom. Como está o Jake?” Um silêncio tenso ecoou do outro lado da linha.

“Pai?”

“Ele… está bem.”

“Pai?”

“Sério. Ele só está… com um humor estranho. Você pode ficar aí por mais uma hora? Eu irei te buscar.”

“Hmm… Claro.”

“Está bem. Tenha cuidado, Ness. Tchau.”

“Tchau”, respondi, mas ele já tinha desligado. Ok, as coisas estavam mesmo estranhas. Enquanto metia o telefone de volta no bolso,senti alguém se aproximando por trás e fiquei tensa. Meu corpo relaxou quando senti o quase familiar toque me abraçando.

“E aí?”, Derek murmurou no meu ouvido, sua respiração quente deslizando pelo lado da minha bochecha enquanto seus braços se trançavam ao meu redor.

“Você parece… triste e confusa.”

“Nada. Só uma coisinha em casa”, tentei responder levemente.

“Oh”. Ele levantou a sobrancelha. “Algo que eu possa fazer pra ajudar?”

Eu ri tensamente. “Não pergunte. Sério”.

“Ok. Então, sobre a carona pra casa…”

“Ah, é! Hmm, bem, meu pa-irmão me baniu de casa por mais uma hora e disse que virá me buscar, então…”, movi os ombros.

Seu abraço se apertou ao meu redor. “Isso também funciona pra mim. Te manterei como minha refém por uma hora até seu mano chegar pra te buscar. Poderiamos jogar alguns jogos”, seu tom de voz fez um leve arrepio deslizar por minhas costas.

“Okay”.

NOTA DA AUTORA: Sei que deveria ser tudo com o ponto de vista de Nessie, mas pensei que seria bom ver exatamente o que aconteceu com a visão de Alice e qual foi a reação de Jake. Raramente me afastarei da narração de Nessie nesta história, essa foi apenas uma excessão.