Meio Dia Avermelhado - Capítulo 01: Fogos de Artifício Em La Push

Eu tenho tido o mesmo sonho já por vários dias.Era como um ciclo,se repetindo uma vez e outras mais,sem fim.Nada nunca mudou nele.Tudo aconteceu exatamente igual em todas as vezes que o sonhei.

Os Anciões da nação Quileute muitas vezes nos avisava sobre esse tipo de sonho.Eles falavam que sonhos repetitivos não eram sonhos de verdade.Eram visões místicas enviadas por nossos ancentrais lobos,mais provavélmente para nos avisar de um perigo por vir.

Apenas as pessoas ‘de medicina’ eram capazes de entender o significado dessas visões.Todos os outros na reserva eram bem secretos se caso as tivessem.Todos conversávamos sobre elas como uma coisa do passado,algo que apenas nossos ancestrais experimentaram.Ninguém nunca admitiu ter visões místicas por medo de ser chamado de louco.

Que situação desagradável eu estava.Se o sonho continuasse se repetindo,eu teria que dizer ao Sam sobre ele.Sam Uley seria a pessoa a se perguntar se alguém não quisesse consultar os curandeiros.Ele sabia de tudo sobre os segredos místicos da nação Quileute.

O único obstáculo era como ferozmente Sam protegia seu sagrado conhecimento.Ele era extremamente hesitante em discutir com qualquer um,até mesmo os membros de seu proprio bando.

Seria difícil fazer com que Sam confie em mim o suficiente para revelar o que ele sabia.Sua atitude mudou drasticamente no momento que ele descobriu que eu tinha sofrido um imprinting em Renesmee.Minha amizade com ele se acabou naquele dia,exatamente 5 anos atrás.

Agora,ele era obrigado a confiar em mim como seu colega lobo,mas ele provavelmente nunca iria confiar novamente em mim como seu amigo.Minha única esperança seria convencê-lo de que minha visão poderia,em fato,ser um aviso.

Como o Alpha do meu bando,sentia uma grande carga de responsabilidade em proteger meu povo.Eu sempre tentei estar à frente do jogo quando era a respeito de prevenir um possível ataque.Apenas por essa razão,eu teria que engolir meu orgulho e ir ao Sam por conselho.

Eu o encontrei andando pelo lado de fora da casa de Emily um pouco antes do cair da noite.Ele ficou surpreso ao me verquando abriu a porta parado próximo ao seu carro.

“Hey,Sam,” eu murmurei por baixo de minha respiração,quase nem olhando para ele.

Ele coçou sua cabeça e sorriu,então estava prestes a dizer algo,mas rapidamente mudou sua idéia.Emily saiu para ver do que ele estava rindo.

E acenei para ela. “Oi,Emily.”

“Hey,Jake.” Ela abraçou Sam em despedida e fechou a porta.

Sam avançou devagar em minha direção. “O que está acontecendo?”

“Precisamos conversar.” Eu fiz questão de parecer sério,mas não foi necessário.

Sam sabia o que estava acontecendo.É como se ele estivesse esperando para que lhe contasse.Ele me olhou por um curto tempo,deliberando. “Aqui não.” Ele abriu a porta do seu carro e entrou.

Eu parei hipnotizado por um momento.Olhar para o carro do Sam sempre era uma forma de me distrair.Era uma obra maestra.Ele próprio o restaurou.Comprou por menos de mil quando o encontrou todo amassado em um ferro-velho.

Meu pai e eu rimos no dia que ele trouxe para sua casa ano passado.Ele teve que guinchar até sua garagem porque nem sequer tinha um motor.Ninguém acreditou que ele conseguiria.

Agora era uma verdadeira beleza.Ele realmente riu por último.Era um Thunderbird de 1962,transformado em um carro de corrida da pesada – modificações de última por todo o painel.Ele restaurou tanto o exterior quanto o interior do zero,então o pintou em azul metálico.Mas o que eu mais tinha inveja era a pintura de um thunderbirdque ele fez com jato de tinta no capô.

Em legendas Quileute,o thunderbird era uma criatura mitológica conhecida por proteger nosso povo em épocas de problema.Sam rabiscou um desenho básico dele em um papel.Era turquesa na cor e suas asas estavam abertas.Ele então teve o desenho feito com jato de ar,em tinta cor alumínio-glitter,no capô.Um pouquinho ‘cheguei’,eu sei,mas gostaria de ter pesado nisso antes dele.

Sam deve ter percebido que eu estava babando em seu carro,porque ele sabia exatamente o que dizer para me tirar do transe. “Quer levar para dar uma volta?”

Meu queixo caiu enquanto todo meu corpo tremia com antecipação. “Eu?” Isso era novidade.

“Vê alguém mais por perto?” ele perguntou,deslizando para o banco do passageiro.

Ele nem teve que me falar duas vezes.No momento em que ele me jogou as chaves,eu as agarrei no meio do ar e pulei para dentro do carro. Pisei na embreagem,liguei o motor,e o prodígio disparou em um jato impossível de velocidade .Talvez Sam e eu ainda éramos amigos depois de tudo.

Quando atingimos a 110 o céu já estava escuro. Eu mal conseguia ver a estrada á frente. Mesmo no meio de Julho, a rodovia para Forks estava coberta pela neblina.

O perigo me atraía como um imã; isso me seduzia. Eu contemplava a possibilidade de desafiar a morte e me senti em êxtase. Apostar com minha vida era o sentido da minha existência. Sabia que isso era contraditório, mas eu me sentia mais vivo quando a morte me perseguia.

Eu não tinha medo de morrer, e dirigir rápido em condições perigosas era meu jeito de mostrar isso. Enquanto a praia desaparecia atrás de nós num borrão, eu acelerava, vendo agora o velocímetro passar de cem milhas por hora.

Sam não disse uma palavra desde que entramos no carro. Eu pensei em deixar ele falar primeiro, mas ele só sentou lá, ouvindo umas musicas seriamente bizarras de uma banda de garagem que ele viu tocando em Port Angeles. Foi uma das misturas mais estranhas que eu já ouvi – trash metal e gótico alternativo com um pouco de vocais de rap no meio. Não faz meu estilo, mas era tolerável.

“Sam!” eu finalmente gritei.

Ele só desligou o som e virou para me encarar. Eu dei alguns segundos para ele responder, mas ele só aguardou em silêncio.

“Tem algo que preciso perguntar para você.” Eu pausei e estava prestes a continuar.

Mas ele me interrompeu. “É a garota, não é?”

Ele me pegou desprevenido “Que garota?”

“Aquela assombrando seus sonhos.”

É, ele sabia sobre isso sim. Como eu havia pensado. “Você tem visto ela também, não tem?”

Ele sorriu. “Talvez.”

Sua atitude relaxada realmente me estressou, então na hora, decidi testar a capacidade da sorte. Eu pisei nos freios e desacelerei,girei o volante um pouco para a direita o suficiente para fazer a traseira do carro rodar abertamente. O carro inteiro tremeu enquanto as rodas traseiras travaram e cantavam, uma densa nuvem de fumaça branca subindo debaixo do carro. Nada mal para a minha primeira tentativa, eu pensei orgulhoso.

Entretanto Sam não gostou muito. “Que diabos você acha que está fazendo?”

“Como você sabe da garota?” eu exigi.

“Encoste.” Ele estava furioso.

Mas eu fiz o oposto. Eu pisei fundo. “Eu quero respostas, Sam. Preciso saber o que está acontecendo.” Odiava fazer isso com ele, mas eu estava desesperado. Se batêssemos nessa velocidade,morreríamos instantaneamente.

Ele estava tão furioso, tão agitado, que eu pensei que ele se transformaria ali e na hora. Mas ele não se transformou. Ao invés disso, ele fechou seus olhos e gradualmente diminuiu sua respiração. Se encostando no assento, ele entrou num estado de profunda meditação.

Eu nunca tinha visto Sam fazer esse tipo de coisa antes. O jeito que eu estava dirigindo teria posto até o monge mais disciplinado em um estado de loucura. Obviamente, minha tentativa de assustar ele para me contar o que sabia falhou. Teria que achar uma estratégia melhor.

Suspirando conformado, eu desacelerei e encostei perto da praia. Sam continuou em seu transe beatífico e ignorou o barulho quando eu abri a porta para sair.

Eu senti a brisa fresca do oceano em meu rosto enquanto passeava pela margem, meus pensamentos acelerando. A lua crescente espelhada baixo na água, emanando um brilho prateado pela neblina que a envolvia. Noite perfeita para ir caçar, pensei. Não tivemos muita ação ultimamente, mas eu tinha uma impressão que as coisas não iriam ficar calmas por muito tempo.

Eu não tinha caminhado mais que algumas jardas quando ouvi a voz de Sam um pouco atrás de mim.

“Ela é uma vampira.” ele disse.

Um pouco alarmado, parei de caminhar e virei para encontrar ele a alguns pés de mim. Ele tinha esse hábito estúpido de aparecer do nada bem na minha cara todas as vezes que queria me assustar. Isso nunca funcionou, mas me incomodava demais.

Eu fui para trás como reflexo e quase perdi meu equilíbrio. Mas me recuperei rapidamente, inflamado pela súbita urgência de bater nele. Me estabilizei jogando a parte superior do meu corpo para frente, e então comecei a atiçá-lo, um baixo rosnado na minha garganta, pronto para atacar.

Sam ignorou minha reação e continuou. “Ela não é o tipo de vampiro que nós estamos acostumados a lidar. Ela é hibrida, uma parte vampira e parte outra coisa.” Eu senti um súbito vacilo em sua voz quando ele acabou de falar, e me fez perceber que ele estava preocupado assim como eu.

Me senti envergonhado, tentando lutar quando ele estava para me dar a informação que eu precisava. Me acalmei e pensei no que ele havia me dito. “Quer dizer como Renesmee?” eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça, não. “Renesmee é meio humana. Muitos vampiros nasceram humanos e então se transformaram. Mas essa garota,” ele pausou, engolindo com dificuldade. “Essa garota definitivamente não é humana. Ela nunca foi.”

“Bem, com o que ela é misturada então?” perguntei impacientemente.

“Eu não sei do que sua outra parte é,” Sam respondeu com frustração, “mas eu pretendo descobrir.”

“Como?”

“Primeiro precisamos descobrir o que ela quer de nós,” ele anunciou, um tom de urgência em sua voz.

Me senti aliviado quando ele se incluiu no objetivo. Isso poderia acabar sendo bem mais fácil do que eu havia pensado. “Ok, então o que fazemos?”

Ele não hesitou. Eu sabia dizer que ele esteve pensando nessa resposta já por um tempo. “Vamos para os Espíritos Guerreiros.”

Quase fiquei mudo pelo choque. Meu alivio havia sido prematuro e tinha desabado tão rápido quanto aparecido. Ele não pode estar falando sério,estremeci. Como ele ousava considerar essa probabilidade?

Mas meu espanto só parecia aumentar sua determinação.

”Ouça, Jake. Existem muitas coisas que os mais velhos não te contam até você estar pronto.”

Eu zombei sem querer, então adotei meu tom sério de novo. “Se você está sugerindo que a gente faça viagem espiritual, você está seriamente delirando, cara. Nunca vou te deixar fazer isso. Eu avisarei aos anciãos.”

“É o único jeito de descobrir o que aquela garota está tentando fazer com a gente,” Sam continuou inalterado pela minha resistência. “Nós temos que subir pelas montanhas, assim como nossos ancestrais fizeram–”

Não deixei ele continuar. “É proibido,” declarei firmemente.

A prática de viagem espiritual foi banida a muitos anos atrás pelos nossos ancestrais, por que era extremamente perigosa. Isso envolvia deixar o corpo de alguém num lugar secreto na floresta e deixar o espírito viajar sozinho, sem o corpo. Taha Aki, o ultimo dos Espíritos Guerreiros Quileutes, proibiu essa prática depois de que seu corpo foi roubado enquanto seu espírito estava viajando.

Sam interrompeu meus pensamentos. “Essa criatura inumana, esse monstro, está infiltrando nossos sonhos, Jake. Você honestamente pensa que é uma coincidência que você e eu estamos tendo exatamente o mesmo sonho e exatamente na mesma hora todos os dias?”

Minhas defesas enfraqueciam quanto mais ele insistia. Tão absurda como sua lógica parecia, eu tinha que admitir, mesmo que só para mim, que Sam tinha um ponto. Se a hibrida achou acesso aos nossos sonhos, tínhamos que descobrir como, e o mais importante, o por que ela estava fazendo isso. “Você está dizendo que ela é um Espírito Guerreiro também?”

“Ela é mais uma feiticeira, eu acho. Ela conjura espíritos malignos do Submundo e manipula suas energias.” Sam sabia a isca perfeita para mim.

Eu estava quase concordando, mas ainda não estava inteiramente convencido. “É muito arriscado. Podíamos ficar presos no Mundo Espiritual como Taha Aki.” Eu sabia que sua decisão era inabalável, mas só não queria desistir facilmente.

“E se isso for uma armadilha? Ela pode estar nos fazendo deixar nossos corpos para trás para ela poder roubá-los.”

“Estamos fazendo isso para proteger nosso povo, Jake. E, além disso o bando vai cuidar de nossos corpos o tempo todo que não estivermos.”

“Legal, agora você quer envolver o bando, também.” Desesperadamente procurei por alguma brecha. “Emily sabe sobre esse seu plano?”

As feições de Sam mudaram instantaneamente, me fazendo perceber que havia lhe dado um golpe baixo. Eu podia praticamente ver a retaliação tomando forma em sua cabeça, então evitei seus olhos, me preparando para me defender se ele tentasse me atingir. O que ele estivesse pronto para fazer, eu teria que lidar como um homem.

Eu sabia melhor do que trazer Emily á tona, a garota que Sam teve um imprinting. Ela era a razão pela qual Sam vivia, então esperava que ele ficasse furioso sobre meu comentário. De novo, sua recentemente descoberta disciplina me assustou.

Ele respirou fundo algumas vezes e então falou num tom calmo de novo. “Vou fazer isso com ou sem você. Conte para os anciãos se você quiser, mas ainda vou fazer, e você não será capaz de me parar.”

Eu sabia que ele estava sério. Não havia sentido em procurar mais empecilhos. “Tudo bem, estou dentro.” Pausei por um segundo, então reconsiderei. “Mas preciso saber o que–”

Eu estava pronto para bombardear ele com mais questões quando uma fraca agitação nos arbustos nos forçou a ficar em silencio. Sam e eu reagimos bruscamente, então nos separamos para seguir em direção do barulho. Mas no momento que ficamos próximos aos arbustos, tudo estava perfeitamente parado de novo.

Olhei para Sam, e ele pressionou o dedo indicador em seus lábios. Enquanto ficávamos lá, tentando não fazer nenhum som, eu captei um cheiro incomum. Eu podia dizer que pelo jeito no rosto de Sam ele também havia detectado, mas ele não disse nada sobre isso. Ao invés disso,levantou sua palma aberta pedindo silêncio.

Antes que eu pudesse saber o que estava acontecendo, uma súbita explosão de imagens me atingiu de uma vez, com tal intensidade que fiquei tonto e tive que achar uma pedra próxima para me apoiar.

Sam correu para o meu lado assim que ele viu que eu estava próximo de perder a consciência. “Pare todos os seus pensamentos.” Ele sussurrou em meu ouvido.

Eu consegui falar em pedaços. “O que . . . está . . . aconte . . . cendo . . . comigo?”

“Ela está te atacando. Não permita que você pense e você ficará bem.”

Mais fácil falar do que fazer. Eu podia entender o que ele estava dizendo, mas não conseguia mais reagir. Meu corpo tremia involuntariamente enquanto a praia parecia girar em círculos ao meu redor. Minha mente parecia um mar tempestuoso de pensamentos e emoções colidindo uma contra a outra. Nunca tinha sentido uma coisa dessas na minha vida.

“Jake olhe para mim.” Sam pegou meu rosto e forçou ás minhas pálpebras abrirem. “Não pense, está me ouvindo? Bloqueie todos os seus pensamentos.”

Suas palavras vieram abafadas. Tudo desacelerou. Ele podia estar falando uma língua diferente e eu nem perceberia. Meus ouvidos zuniam com a onda de questões invadindo minha mente. Ela está aqui? Ela está nos espionando? Quanto ela ouviu do que a gente acabou de falar? Ela consegue ouvir nossos pensamentos?

Eu estava fazendo o oposto do que Sam tinha dito para fazer. Eu estava pensando, e o mais que pensava, mais vulnerável ficava para seu ataque. Estava perdendo o controle de meus pensamentos, e talvez até minha vontade própria.

A voz de Sam parecia ter sumido. Tudo o que eu podia ouvir eram barulhos aleatórios e ecos. Me sentia escorregando rápido para o esquecimento. Isso deve ser um aperitivo do que a loucura parece- um esmagador sentimento de desamparo, muito parecido a um afogamento.

“Pare de pensar!” a voz de Sam comandou de novo.

Tentei seguir seu aviso mas falhei miseravelmente todas as vezes. Se houvesse um modo de me fazer parar de pensar eu não sabia como fazer, então parei de tentar e deixei as coisas irem. Antes de que eu percebera, uma sombra escura tomou conta de mim e desmaiei.

A ultima coisa que vi antes de perder a consciência foi uma alucinação. Tinha que ser, já que meus olhos estavam fechados. Eu não estava acordado e também não estava dormido, então não podia ser um sonho. Pode ter sido uma visão, mas chamarei de alucinação, pois durou menos de um segundo.

Eu a vi. Tive um flash passageiro de minha atacante. Ela se mostrou para mim brevemente, como uma aparição, como no sonho. Ela era a imagem vívida da morte, uma menina jovem, com quinze anos ou menos, com pele pálida e cabelo preto brilhante.

Ao redor de seu pescoço estava um talismã que eu reconheci do sonho. Parecia uma relíquia antiga e tinha uma pedra clara e redonda no centro, uma pedra preciosa de origem desconhecida. A pedra era de um marrom avermelhado e parecia perfeitamente polida. Brilhava como o sol. Meus olhos estavam presos nele como se fosse um imã.

Mas a garota desapareceu tão rápido quanto apareceu, e então tudo ficou escuro de novo.

Não tenho certeza de quanto tempo estive apagado, mas depois percebi que tinha sido pelo menos por uma hora. A primeira coisa que lembro de ter ouvido quando recuperei a minha sensibilidade foram muitos barulhos aleatórios, ali e aqui.

Pouco antes de abrir meus olhos,senti uma pressão inconfortável, como algo apertando meu braço. Usando minha outra mão, alcancei para remover o que era, mas alguém bateu nela levemente para me impedir.

“Jake, deixe.” Uma voz feminina familiar chamou próxima a mim.

Imediatamente abri meus olhos para olhar para ela,e não consegui acreditar. Sentada próxima a mim, com um aparelho de medir pressão em sua mão, estava Leah Clearwater.

“Faz tempo que não te vejo!” dei-lhe um abraço de urso assim que a vi.

O aparelho desatou e escorregou do meu braço assim que eu a abracei, então ela protestou e me empurrou ao lado, fingindo estar incomodada. Mas a conhecia muito bem. Havíamos crescido juntos, então podia dizer que ela estava tão feliz em me ver quanto eu em vê-la.

“Quando você chegou aqui?” sorri amplamente, me perguntando o que estava fazendo na cama do seu irmão Seth.

“Noite passada.” Ela retribuiu meu sorriso, botando o aparelho ao redor de meu braço e começando a bombear ar dentro dele para apertar de novo.

“Estou bem, Leah.” realmente me sentia perfeitamente bem, talvez um pouco tonto, mas deixei ela conferir meus sinais vitais de qualquer jeito só para ela se sentir importante. Sempre uma boa coisa quando se lida com mulheres.

“Sim, por isso que Seth quase teve que atirar um balde de água fria em você para te acordar.”

“Nah. Ele não faria isso. Ele pensaria melhor.”

“Então você terminou a escola?” eu perguntei, esquecendo que ela acabou a mais de um ano.

“Jake!” Ela reclamou assim que removeu o aparelho do meu braço.

Depois de acabar o ensino médio, Leah se mudou da casa da mãe dela para freqüentar uma escola de enfermagem em Seattle. Lembro que no dia que ela partiu, ela disse ao bando que queria sair de La Push por um tempo.

Algumas de suas amigas do ensino médio estavam se mudando para lá também, então elas conseguiram um incrível apartamento juntas. Leah estava morrendo para abrir suas asas para voar do ninho, então ela tentou e foi aceita na escola de enfermagem, arrumou suas malas e deixou La Push sem olhar para trás.

“Desculpa. Realmente quis te mandar um presente de formatura. Sério mesmo, juro.” Menti em vão.

Ela não acreditou em uma palavra do que eu disse, então me bateu na cabeça com o aparelho. “Sempre o mesmo mal mentiroso.”

“Ai!”

Ela estava pronta para me bater de novo mas me esquivei na hora certa, então ela só riu e saiu para pegar um termômetro na sua mochila. “Ainda tenho que saber sua temperatura, então abra sua boca e diga ‘ah’.”

“Mas, espere.” Eu repentinamente me lembrei. “Como cheguei aqui?”

Tive que perguntar até por que eu duvidava que Sam teria coragem para aparecer nessa casa. Fazem anos que ele terminou com Leah, mas o embaraço entre eles provavelmente ainda continuava, mesmo depois de tanto tempo.

“Embry ajudou Sam a te carregar pra cá.” Leah explicou.

“Embry estava aqui, também?”

Ela acenou dizendo que sim, virando quando eu disse o nome de Embry, mas ainda percebi o beicinho tímido que ela estava tentando esconder. Sempre suspeitei que Embry gostasse de Leah, mas nunca perguntei para evitar vergonha a ele. Me perguntei se ele finalmente teve coragem de chamá-la para sair agora que ela está de volta. Afinal, nenhum dos dois havia sofrido imprinting ainda.

Leah levantou uma sobrancelha para mim, e seus olhos se estreitaram suspeitamente. “O que aconteceu hoje á noite, Jake?”

Eu pausei, tentando lembrar. Então consegui. A chupadora de sangue me atacou na praia. Pulei da cama assim que percebi que Sam tinha muitas coisas para explicar. Procurei freneticamente meu celular nos meus bolsos mas não consegui achar ele em lugar algum.

“Aqui.” Leah disse, me dando o telefone. “Caiu do seu bolso quando eles te trouxeram.”

“Obrigado.” chequei ele, mas testava apagado, então o liguei, minhas mãos sacudindo nervosamente com antecipação. Então percebi que havia ficado desmaiado por pelo menos uma hora.

“O que está acontecendo, Jake?” Leah perguntou, com um tom duvidoso em sua voz.

Estava quase respondendo á ela quando vi a mensagem de alerta na tela. Eu tinha três chamadas perdidas, todas da Bella. Bella era a mãe de Renesmee,e também minha futura sogra- se eu jogasse bem minhas cartas.

“Bella tentou me ligar. Desculpe Leah, eu tenho q-”

“Vá em frente e ligue para ela,” ela me cortou no meio da frase. “Mas, depois que você terminar,vamos ter uma conversa séria.”

Eu concordei e movi meus ombros, não sabendo o que responder.

Mas Leah não era do tipo que esquece as coisas. “Jacob Black, você está escondendo algo de mim?” Me olhando nos olhos, ela parou na minha frente, um meio sorriso em seus lábios.

Olhei para meu celular e acenei de novo, dessa vez caminhando pela porta. Esperançosamente ela perceberia a urgência da situação.

“Estarei esperando.” Ela iria me segurar ali, então não tinha outra escolha que me preparar para seu interrogatório.

Na varanda disquei o número de Sam primeiro, procurando achar um jeito de fugir desse predicamento. Legal. Não atende. Foi direto para o correio de voz, então ele podia estar falando no telefone ou ele o desligou durante a noite. Estava tão estressado com ele, que iria desligar sem deixar mensagem, mas mudei de idéia.

“Sam,” falei com raiva. “Me ligue assim que você receber isso. Tchau.” Eu percebi que seria melhor deixar isso breve. Ele saberia do que eu estava falando.

Maravilha. Agora aqui estava eu na casa de Sara Clearwater, sozinho e sob a piedade de Leah. Nem Seth estava em casa. Ele provavelmente saiu com Sam e Embry. Todos na reserva sabiam que Leah era uma força a ser reconhecida se ficasse nervosa.

E ainda, conhecendo Sam, tinha certeza que ele havia feito isso com um propósito especifico em mente. Eu só queria ter descoberto qual antes de vir para cá. Isso certamente não era por que Leah era uma enfermeira. Não, não seria isso. Havia algo mais. Eu podia sentir isso em meus ossos.

Suspirando, disquei o numero da Bella. Já passava das onze. Esperava que Edward não se importasse que ligasse para sua esposa tarde da noite. Que bom que eles eram vampiros, eles não tinham que dormir nunca.

“Alô?” A voz de Bella parecia nervosa. Algo havia acontecido.

“Oi, Bella. Desculpa que eu não pude te ligar mais cedo. Tem algo errado?”

“Jake, eu preciso falar com você.”

Incrível. Agora outra mulher está querendo falar comigo, e não por causa do meu charme.

“Manda,” eu disse.

“Não, não agora. Amanhã, depois que chegarmos aí.” ela balbuciou.

Achei estranho que ela estivesse falando tão baixo numa casa cheia de vampiros psíquicos. “Bells,não quero ser rude, mas tem sido uma noite realmente longa e estou exausto. Por favor me diga que tudo está bem, a menos que você queria que eu pegue a próxima balsa para o Canadá.”

Ela riu. “Nós estamos bem. Vamos sair amanhã de manhã e devemos estar aí de tarde.”

Junto com o resto dos Cullens, Bella e Edward se mudaram para Victoria, na Ilha Vancouver, depois de que ofereceram uma promoção para Carlisle num hospital lá. Era uma viagem de cerca de quatro horas para ir de La Push para onde eles moravam, mas eu não tinha problema com isso.

Primeiro de tudo, eu me importava com o bem estar de Nessie e sua família “Tem certeza que não é nada urgente?” insisti.

“Jake, pare de se preocupar.” Bella sabia muito bem que eu faria o oposto, mas ela ainda tinha que me fazer esperar. “Falaremos amanhã, ok?”

Os Cullens estavam vindo para La Push para celebrar o quinto aniversário de Nessie conosco. Seu aniversario era em setembro, mas ela amava as Celebrações Quileutes que tínhamos todos os meses de Julho na praia. Os fogos de artifícios e luaus eram seus preferidos, então, nos últimos anos isso virou uma tradição,celebrar o aniversario de Nessie em Julho ao invés de Setembro,

“Nessie está bem?” Dessa vez não pude mais esconder a ansiedade em minha voz.

Bella riu de novo. “Eu sou a mãe dela, Jake. Deixe que me preocupo com ela, tá?” Depois de dizer isso, seu tom de voz mudou subitamente. “Preciso ir. Falo com você amanhã.” Ela desligou antes que eu pudesse perguntar mais.

Eu estava oficialmente preocupado agora.Julgando pelo jeito que Bella falou comigo parecia que ela estava tentando esconder a conversa de alguém.Mas de quem? Certeza que não deveria ser Edward.Tinha que ser outra pessoa.

Do jeito que as coisas estavam indo,minhas chances de ter uma boa noite de sono eram quase nulas, então percebi que melhor tomar um café com Leah e superar isso. Segurar o boi pelos chifres de uma vez, a história da minha vida.

Café teria sido legal, principalmente quando você não quer ficar vagando meio dormido por aí como um zumbi. Mas não tenho tanta sorte. Leah sempre tinha que fazer as coisas de um jeito não-convencional. Nada para ficar surpreso, considerando que ela foi a primeira mulher lobisomem na historia Quileute.

Ao invés de sentar para ter uma conversa normal num café como eu sugeri, ela insistiu em nos levar para o meio da floresta para uma caminhada de meia-noite.

“Tem algo aqui que quero te mostrar,” ela explicou enquanto me guiava por uma trilha íngreme.

“Deixe-me adivinhar”, eu interrompi. “Você não se transforma a algum tempo e não pode esperar pra fazer de novo”.

Em um segundo, sua expressão mudou de descontraída e despreocupada para total pânico. Ela sacudiu a cabeça freneticamente e parou de andar. “Não haverá transformação hoje a noite Jake”.

Agora, essa última me derrubou. “Sem transformação? O que você quer dizer, sem transformação? Eu achei que você queria apostar corrida.”

Ela me encarou. “É sério”.

“Também estou falando sério”, retruquei de volta. “Quando foi a última vez que você se transformou?”

”Não é para isso que estamos aqui.” Ela continuou sua subida da trilha.

Virei os olhos, seguindo-a relutantemente. “Você está fazendo uma cena por nada, Leah. Eu desmaiei, provavelmente por exaustão, mas me sinto bem agora”.

Mas não convenci nem a mim mesmo com o que acabei de dizer. Quanto mais eu tentava acobertar o incidente, mais a irritava.

Continuamos a avançar fundo floresta a dentro saindo da trilha,até que chegamos em uma área densa com árvores cheias de musgo. Leah ficou em silêncio o tempo todo, suas sobrancelhas franzidas como se estivesse ponderando algo.

Depois de uns três quilômetros fora da estrada, Leah finalmente jogou a bomba em mim. “Jake”, ela começou num tom solene. “Você devia estar feliz por ainda estar vivo. E é melhor você não dizer que estou exagerando”.

Essa me pegou bem fora de guarda. “O que você está dizendo?”

“Você sobreviveu a um ataque psíquico gigantesco essa noite”.

Ainda desconcertado pelo o que ela falou, perguntei, “Então… Sam te contou tudo?”

“Não tudo, mas estou familiarizada com os sintomas de ataques psíquicos”. Ela tentou soar confiante, mas agora a mesa tinha virado e ela que estava sob interrogatório.

“Então foi isso que me apagou? Um ataque ‘psíquico’?”

”Sim”, ela respondeu. “O híbrido usou seus próprios pensamentos contra você.”

Suspirei com frustração. “E o que isso tem haver com nossa transformação?”

Um riso sarcástico escapou dos lábios dela. “Não é óbvio, Jake? O que você acha que teria acontecido se ela te atacasse enquanto todos nós fossemos lobisomens?”

Leah estava certa, claro. O ataque teria nos abatido a todos de uma vez. Pelo menos as coisas começaram a fazer sentido. A sanguessuga queria derrubar o bando todo, por isso infiltrou-se na mente dos Alfas.

“Ok, entendi agora”, declarei. “Sem transformação”.

“Ok”, Leah concordou, soando aliviada.

No entanto eu ainda não estava satisfeito. Fiquei com a impressão de que Leah tinha algo mais na manga, então decidi colocá-la contra a parede até ela começar a falar. “Mas porque tivemos que vir por todo esse caminho até aqui então?”

Leah checou o relógio e estava prestes a abrir a boca para responder, quando uma voz masculina chamou na distância.

“Eu pedia a ela que viesse.”

Reconhecendo a voz de Sam, girei para ter certeza de que não estava ouvindo coisas. A apenas alguns metros de nós, Sam, Embry e Seth emergiram de debaixo das árvores, cada um segurando uma tocha acesa.

“O que vocês estão fazendo aqui caras?” Eu não tinha certeza se devia estar bravo ou agradecido pelo encontro surpresa que planejaram sem meu consentimento.

“Tem alguém que você precisa conhecer”, Sam anunciou, então virando-se para Leah ele disse, “Mostre o caminho”. Ele acendeu mais duas tochas e nos entregou. Depois ele nos pediu para segui-la.

”Ei, espera um segundo. Onde estamos indo?” Se queriam que eu seguisse, teriam que me dizer o que estava acontecendo primeiro. “E qual é a das tochas, cara?”

Sam checou o relógio. “Não temos muito tempo. Podemos falar ao longo do caminho?”

“Vamos indo”, Leah ordenou, “ainda temos um bocado a caminhar até lá”.

“Lá onde?”, insisti.

”A Casa do Eremita dos Olhos Vendados”, Seth respondeu e me deu um cutucão para me juntar a eles.Vamos Jake,vamos te contar tudo”.

Fui adiante e os segui, ainda meio séptico. “Quem é esse?”

Leah parecia ser a mais bem informada. “É um monge da Espanha. Ele veio da Europa centenas de anos atrás para escapar de uma sentença de morte”.

“Por favor, não me diga que é outra sanguessuga”, suspirei.

“Ele é um alquimista”, Seth explicou. “Leah e eu costumávamos vir aqui para espiá-lo quando éramos pequenos”.

Notando que Embry estava muito quieto, tentei descobrir se ele também estava nisso. “Você sabia do monge também?”

Embry sacudiu a cabeça e acelerou o passo para ficar ao lado de Leah. “Só o que Leah me disse”.

Leah olhou de relance com um meio sorriso para ele. “Embry veio conosco uma vez, mas o eremita não estava em casa naquele dia”.

Quanto a mim, eu não podia aguentar mais de curiosidade. “Mas por que a urgência de ir até lá?”

“A venda”, Sam respondeu. “Ele a fez para protegê-lo de ataques psíquicos”.

”Ah, entendi”, retruquei, rindo baixinho. “Então ele vai nos entregá-la se pedirmos com jeitinho?”

Minha observação deve ter cutucado o Sam, porque ele agarrou a chance de se acertar comigo na hora. “Você que trouxe todos nós pra essa bagunça em primeiro lugar, então é sua responsabilidade. Você que descubra”.

“Então estamos brincando de ‘quem é o culpado’ agora, é? Como de repente sou responsável por tudo?”

“Você sempre foi o responsável”, Embry balbuciou.

Sempre tão leal a mim, Seth protestou entre os dentes, “Embry” e o cutucou usando o cotovelo com força.

Leah agarrou o braço do irmão, puxando-o para ela. “Fique fora disso, Seth”.

Sam deu uma olhada feroz para Embry e Seth, então olhou de cara feia para mim, “Acorda, irmão. Você é o elo entre vampiros e lobisomens”. Ele pausou, permitindo que os músculos de sua face relaxassem, então colocou a mão no meu ombro como se estivesse me dando os pêsames. “Jake, você é o alvo”.

Tirando a mão dele, dei uma parada brusca. “Deixe os Cullens fora disso. Eles não têm nada com isso!”

Seth estava prestes a falar, mas Leah foi mais rápida. “Sam, não temos certeza disso ainda”.

“Você que me disse sobre a ligação de Bella”, Sam disse a Leah.

Mordendo a isca de Sam, eu a ataquei. “Você estava me escutando escondida?”

”Não, Jake”, Leah confessou, sacudindo a cabeça nervosamente. “Só disse a ele que ela te ligou. Só isso-”

Mas não queria as desculpas dela. Me senti traído. “Por que você faria isso?”

Embry ficou na frente de Leah em um gesto protetor. “Páre de gritar com ela, Jake. Ela só está tentando ajudar”.

Apenas nessa hora Sam levantou a voz e gritou, “Ok, já chega! Todos calem a boca!” Ele esperou até ter nossa atenção e continuou.

“Estamos dando à sanguessuga exatamente o que ela quer, não vêem? Aposto que ela está deliciada em nos ouvir batendo boca assim. Precisamos ficar juntos”.

Sentindo como derrotado, abaixei a cabeça em vergonha e fiquei em silêncio. Talvez Sam estivesse certo sobre a ligação de Bella. Talvez os Cullens estivessem conectados nesse quebra-cabeça de alguma forma.

Leah colocou o braço ao redor das minhas costas gentilmente, encorajando-me a segui-la. “Por favor, confie em mim Jake. Precisamos daquela venda para proteger o bando”.

Meu coração me disse que Leah queria o bem, então decidi confiar nela e ir conforme o plano. “Tá bem, vamos com isso. Só me diga mais uma coisa”.

”Manda”, ela disse, já dando passos largos. “Mas precisamos continuar. Não temos muito tempo”.

Fui depressa para alcançá-la. “Como é que vou enxergar com uma venda?”

“Não é uma venda comum, Jake”, ela declarou confiantemente. “Veja o eremita por exemplo. Ele é cego, mas quando a utiliza pode ver tudo”.

Sam completou, “Eles dizem que abre os olhos da alma e o deixa ver coisas que os olhos humanos não podem perceber”.

Acenando em concordância, Leah continuou. “É como ajuda a desviar ataques psíquicos. Deixa que você os veja antes que te atinja”.

Por mais impossível que a história soasse, parecia ser nossa única esperança para nos defender dos ataques do híbrido. E, só por essa razão, decidi que valia a pena tentar. Não havia nada que eu quisesse mais agora do que agarrar a sanguessuga de uma vez por todas.

Um cobertor de névoa desceu sobre a floresta enquanto aproximávamos da casa do eremita.O local não era nem uma casa como eu imaginava. Eram os restos abandonados de um velho prédio de pedra, cinza e dilapidado com uma camada grossa de musgo por cima de tudo.

Leah e Seth estavam certos. O eremita era mesmo um alquimista. Seu laboratório, se podia ser chamado assim, estava bem a vista, só escondido parcialmente por uma parede quebrada. Tinha todo tipo de garrafas de vidro empoeiradas em cima de uma mesa de madeira. Seria interessante saber qual continha o elixir da vida que o manteve vivo por séculos.

Sam checou a tocha de todos para ter certeza que estavam acesas. Depois, explicou sua estratégia para cercar o local. “Embry, você fica com o lado leste das ruínas, e Seth, você fica com o oeste. Leah guardará o lado norte e eu ficarei com a entrada da frente”.

Ainda quando Seth e Embry foram tomar suas posições, Leah não se moveu.

Ela ficou atrás de mim para me dar um aviso. “O que quer que faça, mantenha a tocha queimando. Ele não poderá te ver enquanto tiver fogo por perto”.

Acenei com visível impaciência. “Ok. Aqui vamos nós.” Inalei profundamente e corri até as ruínas.

Conforme me aproximava do que restava da entrada da frente, senti calafrios até minha espinha. Não estou com medo, pensei comigo mesmo. Ele é só um homem velho e fraco. Só um homem velho e fraco. Fiquei repetindo em minha cabeça como um mantra até que alcancei o local onde ele dormia.

O primeiro olhar sobre ele encheu-me de culpa. Como ele deve ser infeliz, tão só nessa floresta fria e úmida sem ninguém para conversar. Não podia imaginar que crime terrível ele deveria ter cometido para merecer a sentença de morte. Ele parecia tão inofensivo, deitado lá no chão rachado, usando uma túnica com capuz em farrapos. Perguntei-me porque ele quereria continuar vivendo essa vida solitária por séculos sem fim.

Fiquei lá imóvel, apenas observando-o e me sentindo extremamente acabado. Quem era eu para privar alguém de sua única defesa? Tinha de haver outra maneira.

Afinal, Sam tinha sugerido a possibilidade da viagem em espírito, então podíamos fazer isso. Claro, era arriscado, mas era muito melhor do que roubar de um pobre e velho homem, sendo alquimista ou não.

Tinha acabado de me convencer de voltar pra fora com as mãos vazias, quando uma súbita rajada de vento soprou violentamente em minha direção, quase apagando a tocha. Num ato desesperado de manter a chama acesa, fiquei de costas para o vento, mas falhei em ver um tubo metálico saindo do chão bem atrás de mim.

Enquanto eu girava os pés, acidentalmente tropecei no cano e caí de bunda no chão. Fiz um barulho tão alto que quando caí acordei o eremita.

Com toda a bagunça, não notei que uma pilha de folhas secas perto de mim tinha encostado na tocha. As chamas se espalharam em segundos e o eremita começou a gritar em terror, chacoalhando os braços selvagemente no ar. Era claro que ele não podia ver, mas tinha certeza de que ele podia sentir o calor e cheirar a fumaça.

“Jake, a venda!” Leah gritou.

Agindo por impulso, arranquei a venda do eremita.O que vi quando descobri seus olhos me deu um choque para a vida toda. Balançou a fundação de tudo que me era sagrado.

Remorso nem começa a descrever como me senti quando olhei aquele rosto. A área abaixo da testa e ao redor dos olhos era completamente desfigurada por cicatrizes. Haviam tantas delas, que pareciam galhos de árvores entrelaçados. Eu mal podia ver o que restava de seus olhos através do tecido das cicatrizes. Ele não tinha pupilas, apenas um filme branco acinzentado cobrindo a parte da frente dos olhos.

Era uma visão medonha, revoltante de observar, e ainda assim não podia desviar o olhar. Antes que soubesse, Sam e os rapazes me carregavam para longe do fogo crescente. Enquanto nos afastávamos, ainda podia ouvir o eremita gritando com todo o ar de seus pulmões.

Havíamos atravessados alguns metros, quando parei aterrorizado.

“O que você pensa que está fazendo?” Sam reclamou.

“Não podemos deixá-lo lá sozinho”. Não esperei por uma resposta.

Dando a volta, voltei para as ruínas e encontrei o eremita.Ele estava prestes a entrar em colapso por inalar a fumaça quando o agarrei, então o levantei e joguei por cima dos meus ombros,e o carreguei para fora em segurança.

“Meus livros! Por favor, salve meus livros!” ele implorava com um sotaque espanhol forte.

No momento em que o coloquei no chão, Seth e Leah sentaram-se ao lado dele. Enquanto Leah checava seu pulso, Seth oferecia água de uma garrafa para parar a tosse.

“Ele vai ficar bem Jake, não se preocupe”, Leah assegurou enquanto lia minha expressão preocupada. Mas Sam não estava tão contente. “Precisamos sair daqui agora”.

Eu olhei de modo desacreditado para ele, então corri de volta para as ruínas e tentei apagar o fogo. Felizmente, o eremita tinha tanto lixo por lá, que não tive que procurar muito. Assim que achei um cobertor, usei para diminuir as chamas.

Foi quando percebi que não estava só. Sam e Embry decidiram me ajudar no final das contas.Juntos, apagamos o fogo bem rápido e conseguimos salvar quase todos os livros do eremita.

Quando saímos das ruínas, o sol já começava a sair. Uma paz imensa caiu sobre mim quando vi Leah e Seth conversando com o eremita como se ele fosse um velho amigo. Tínhamos achado um aliado. E não qualquer aliado, mas um alquimista acima de tudo.

Minha alegria cresceu ainda mais quando Leah anunciou que o eremita havia aceitado seu convite para a festa de Nessie. Foi então que me lembrei que ainda estava com sua venda, então ajoelhei em frente a ele e a amarrei ao redor de seus olhos. O momento em que um sorriso iluminou seu rosto, soube que ele podia me ver.

Sorri de volta, mas então lembrei do que havia feito e me senti péssimo. “Por favor me perdoe. Eu estava tentando ajudar meu povo-”

“Sua amiga,Leah, me explicou tudo, filho. Seu arrependimento te absolveu”.

Eu me curvei em gratitude e tomei sua mão para ajudá-lo.

”Ok, garotos”, Leah nos chamou. “Temos uma festa para preparar. Os Cullens chegarão em La Push hoje a tarde. Temos que ter aqueles fogos de artifício no ponto”.

1 comentários:

Jaami disse...

aaaahh adorei essa fic sz'

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