Como Eu Me Tornei... - Capítulo 06: Queimando

Se espalhou lentamente pelos meus ombros e para meus braços e dedos, quente escaldante como fogo depois de gelo. Me desorientou, pois eu repentinamente pensei se era o inferno afinal. As chamas avançaram através de mim, eliminando todo toque do meu estranho de mãos frias, e lambendo minha pele.

Tentei lutar contra o queimar, abrir meus olhos e gritar com o Anjo por fazer isso comigo, mas tudo estava negro. A fumaça nebulosa havia desaparecido, substituída pela escuridão tão profunda que era até impossível. Suspirei por ar, mas meus pulmões estavam quentes demais. Tomad por uma dor a qual nunca tinha pensado antes possível. Eu estava com medo – não, aterrorizada; completamente sozinha sem ninguém para diminuir o terror.

A dor começou a centralizar em meu corpo, se acumulando no meu coração. Lutei, tentando me livrar do calor e das chamas que eram muitas vezes piores que a fogueira de antes. Mas ao invés de diminuir, o inferno ficou pior, rastejando por minhas veias e se concentrando no meu coração até que pensei que ele fosse explodir. Eu podia sentir que estava perdendo e retomando a consciência, meu cérebro parecia morrer e depois voltar de repente, com uma nova explosão de fogo.

Quente e mais quente se tornou. Certamente não poderia ficar mais quente. Mas eu estava errada. Naquele momento uma grande onda de tontura me encobriu, lançando-me na inconsciência.

* * *

Não sei quanto tempo depois a realidade voltou à mim. Não havia tempo nesse estupor sem fim. Entretanto, eu sabia que a dor estava se espalhando. Não diminuindo de maneira alguma, mas forçosamente se espalhando, do meu coração gradualmente se espalhando para outras partes do meu corpo. Ela aumentava e se enfurecia, queimando meus braços e pernas, fervendo minha alma. Eu não conseguia respirar; cada parte de mim estava tentando rejeitar a dor.

“Me mate agora!” Ouvi a mim mesma suplicar. Até mesmo o fogo da estaca era melhor do que isso.

Tentei pensar em todos aqueles que tinham me amado e que eu tinha amado, mamãe, papai, Anna, Domenico e Alec.

Alec.

Onde ele estava? Ele viu o Anjo? Ele estava bem? Oh, Senhor, ele não poderia estar. . . Eu não podia me fazer pensar sobre isso. A ideia me fez tremer.

De repente, uma nova onda de dor me envolveu, me fazendo engasgar alto. Por que eu não estava morrendo? Eu poderia sentir nas pontas de meus dedos, nos meus dedos dos pés. Eu queria chorar, mas nenhuma lágrima veio. Ao inves disso, eu gritei. Um grito tão alto e cortante que eu surpreendi até a mim mesma. Mas não adiantou nada, pois apenas fiquei sem o precioso ar mais depressa, e não fez nada pela pulsação de dor dentro de mim. Eu estava sufocando em um poço sem fim de escuridão.

Acho que eu devo ter desmaiado novamente, pois a próxima coisa que eu percebi é que a dor começou a diminuir nas extremidades do meu corpo. Ela me puxava, levando o sangue de volta para o meu centro, onde se enfurecia mais uma vez, como uma fornalha. A mudança foi tão gradual que eu não percebi de imediato, mas logo senti deixando meus dedos. O fogo parecia focar novamente em meu coração, contudo, se possível, dessa vez ele estava mais quente e mais feroz que antes. Me sentia como se tivesse sido lançada mesmo em uma fornalha ou tivesse segurado no lado errado de um atiçador de lareira.

Lenta, mas certamente, a dor ficou mais quente, até que, de repente, quando eu pensei que não conseguiria mais suportar, ela desapareceu, deixando uma batida seca, como se alguém tivesse dado um soco onde estava meu coração.

Permaneci lá, na escuridão, lentamente tomando o repentino alívio. Cuidadosamente, movi meus dedos, depois os dedos dos meus pés, depois. . .

“Ela está se mexendo. ”

A voz de Alec.

Congelei. Todos os meus sentidos – exceto meus olhos, os quais eu mantive fortemente fechados – estavam no máximo. Ouvia intensamente os sons ao meu redor, sua respiração e o roçar de suas roupas.

Havia dois homens na mesma sala, e eu e uma mulher. Apenas de ouvir eu era capaz de dizer que a mulher estava de pé ao lado de uma porta que estava aberta cerca de meia polegada. O vento soprou através dela, fazendo seu cabelo se mover delicadamente e lançar seu perfume floral em minha direção. Eu também podia dizer que havia um homem sentado não longe de mim – Alec – e outro se curvando sobre mim e me examinando com cuidado.

“Sim, eu percebi. ”

A voz era do segundo homem, o que estava inclinado sobre mim. Sua voz era suave e parecia mel. E soava familiar, como se fosse de um sonho.

Foi então que percebi que o fogo não havia parado completamente. Ele ainda estava lá, mas agora estava no fundo de minha garganta e nem de longe era tão quente. Era, contudo, ainda quente o suficiente para ser bastante desconfortável. Automaticamente senti meu braço se levantar para tocar minha garganta.

“Ela deve estar com sede. ”

A voz de Alec novamente. Não, espere. Ela parecia suave demais, linda demais.

“Jane?” ele disse, sua voz iluminada com curiosidade.

Abri meus olhos.

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