A primeira coisa que me atingiu foi a luz. Milhares de cores diferentes que ressaltavam de tudo, rosas, verdes, amarelos, azuis, e uma outra que não conseguia identificar. Olhei em volta e descobri que estava em uma pequena câmara, em uma cama levemente acolchoada e ainda assim dura. Me sentei, confusa.
Isso era o céu?
Ou era o inferno?
Ou eu tinha de alguma forma milagrosamente sobrevivido as chamas de onde eu tinha acabado de sair?
Olhei a minha volta e não estava surpresa ao ver um alto homem de cabelos negros parado perto da cama. Ele estava coberto com uma capa de profundo cetim preto que caia até o chão.
“Olá minha criança. ” Ele falou em sua voz macia e sedosa, imediatamente o reconheci como sendo meu Anjo.
Ele ergueu uma longa e branca mão, que era tão pálida como giz, que era quase translúcida, e gentilmente tocou minha bochecha. Ele a deixou ali por não mais de um segundo antes de abaixá-la e dizer;
“Ora, sua ultima suposição é verdadeira. ”
Franzi o rosto. O quê?
“Oh, minha querida, tão rude de minha parte, eu não me apresentei. ”
Ele pausou como se estivesse contemplando o clima, então em um único movimento ele inclinou-se, e fez um gesto floreado com sua mão.
“Eu sou Aro. ” ele disse, me olhando por baixo de espessos cílios negros. Ele se levantou e inclinou sua cabeça, me observando. Eu engasguei, pois seus olhos eram de um vermelho profundo, de alguma forma escurecidos por uma película cor leitosa que os cobriam.
Aro ignorou meu engasgo e continuou.
“Eu sou um de três, eu e meus irmãos, Caius e Marcus. Nós somos os lideres dessa unidade, e peço a você minha querida, pra se juntar a nossa guarda”.
Eu o encarei, atordoada. Do que nessa terra ele estava falando?
De repente houve um alto estrondo, como um trovão do lado oposto de onde fosse que estivéssemos. O ruído vibrou pelo quarto me fazendo chora em espanto.
“Oh, pelo amor de deus”, Aro disse olhando para a porta. “Ele tem que ser cuidado.”
A ultima palavra foi quase um rosnado e me chocou depois da suave e doce voz a que eu estava acostumada. Aro se levantou e deslizou pra fora da sala tão suavemente que era como se estivesse flutuando.
Meus olhos o seguiram pra fora da sala, em transe, quando algo pegou a borda de minha visão. Olhei novamente.
“Alec!”, eu exclamei.
De repente eu estava parada frente à ele, a poucos centímetros de distância. No mesmo momento em que aparentemente eu havia saltado da cama, Alec deu um salto pra trás de cerca de 10 metros, sua posição em guarda. Olhamos um ao outro, ambos impressionados com nossas reações, olhei para seus olhos e ele para os meus. Engasguei novamente.
“Seus olhos!”
Ele franziu a sobrancelha,
“Seus olhos, eles… eles estão cor de sangue!”
E realmente estavam, meu irmão, tão calmo e digno de confiança, tinha os olhos de um demônio.
“E… e sua pele” eu observei, minha voz caindo pra não mais do que um sussurro, “está branca como a neve. ”
Ele era lindo.
“Mas Jane, ” ele respondeu, mostrando uma expressão mista de dor e outro sentimento que não pude dizer. “Você está o mesmo. ”
“Não, NÃO!” Eu me afastei dele, pânico crescendo dentro de mim, a queimação em minha garganta se tornando mais e mais nítido a cada segundo. Esbarrei em uma pequena mesa e automaticamente a agarrei com minhas pequenas mãos, a madeira se esfarelando entre meus dedos como se fosse feita de cera mole, e não de duro carvalho.
Virei-me subitamente num surto de raiva que passava por mim para ver Alec parado no mesmo lugar que estava antes.
“O que nós somos?” Exigi entre a mandíbula apertada. Minha voz era um rosnado, cortando por minha garganta como um raio.
Alec me encarou pelo que pareceu uma eternidade, seus profundos olhos cor borgonha me penetrando.
“Vampiros. ”
Tão logo as palavras saíram de sua boca eu já me havia ido, correndo pela porta e descendo por corredores e salões ornamentados, tudo passando por mim em um borrão. Parei quando atingi um grande pátio. Estava escuro lá fora, mas visível, a lua em fase inicial de um de seus ciclos brilhava rodeada por milhões de estrelas. Por quanto tempo eu estive assim? Busquei em minha mente pela noite em que fomos raptados. Lembrei-me de que era para ser lua cheia se não estivesse tão nublado. Olhei novamente para o céu. Essa lua estava em sua quinta noite. Cinco dias. Cinco dias que eu estive entre aquelas chamas.
Fiquei parada no pátio de pedras deixando o frio ar deslizar por meu rosto. Eu não estava com frio, eu não sentia calor.
Olhei para frente e vi uma grande fonte no centro do lugar, duas trabalhadas figuras de pedra de um homem e uma mulher em pé no meio dela, as palmas de suas mãos e bocas lançavam jatos de espumante água fresca. Olhei para ela em transe na forma como a luz da lua refletia na água corrente. Ela cintilava e brilhava, a água fazendo um barulho suave, como a sua própria música. Nunca antes tinha visto tamanha beleza.
De repente, uma brisa fresca assoprou, trazendo com ela o perfume mais maravilhoso que eu já tinha sentido.
Senti meu corpo caindo de quatro no chão, minhas pernas traseiras se dobrando. Então, eu estava correndo. Não, voando seria uma palavra melhor, deslizando para fora do castelo e por sobre grandes portões que fechavam a parede em volta dele. Era sem esforço, tão fácil quanto levantar minha mão. E foi de se libertar, a paisagem passava voando por mim. Concentrei-me no conjunto de luzes, o lugar onde eu estava direcionada. Tudo o que eu conseguia pensar era a constante queimação em minha garganta, e a necessidade de satisfazê-la.
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