No dia seguinte à chegada dos Franklin, acordei com Cynthia pulando em cima da minha cama.
- Acorda... Vamos Alice, acorda. – ela disse enquanto me agitava com suas mãozinhas. – Consegui com que Margareth saísse do quarto, olha. – ela se afastou do meu campo de vista, fazendo com que eu visse a garota de cabelos encaracolados e vermelhos e pequenos olhos azuis. Eles estavam um pouco vermelhos e apresentavam olheiras. Devia ter dormido mal ou chorado à noite.
- Como se sente, Margareth? – eu perguntei.
- Melhor... – ele disse, sussurrando e então, sorriu timidamente. – Cynthia me animou um pouco. Soube que Taylor está melhor. Obrigada.
- Não precisa agradecer. – eu disse.
- Também queria... Queria pedir desculpas. Sempre fui tão mal criada com vocês. Sinto-me tão envergonhada, agora. Acredito que Louise... – ela disse, e então parou. Uma lágrima escorreu dos seus olhos. – Se Louise pudesse agradecer, ela estaria feliz pelo o que vocês estão fazendo por nós.
- Venha cá. – eu a chamei até a minha cama e dei-lhe um longo abraço, consolando a caçula da família Franklin. – Pronto, vai ficar tudo bem. Porque não fazemos algo divertido hoje, manter sua cabeça ocupada? Aposto que Louise iria querer que você fizesse isso.
- É, - ela disse, sorrindo, com seu rosto vermelho e lágrimas escorrendo enquanto as enxugava, - ela iria gostar que eu me distraísse.
- Vamos à cidade? – Cynthia pediu. – Vamos Alice, quero ir. Soube que há uma feira itinerante.
- Sinto não poder acompanhá-las, prometi a Taylor que cavalgaríamos juntos. – eu disse. Quando olhei para Cynthia, ela tinha o mesmo olhar desaprovador da mamãe.
- Sabe, Alice, jovens damas não devem andar a cavalo. – ela disse, imitando perfeitamente nossa mãe.
- Jovens damas também não jogam comida no cabelo das companhias, Cynthia. – eu disse. Nós duas sorrimos e Margareth também.
- Vamos Margareth. Naná irá nos levar. – ela disse enquanto puxava a nova amiga porta afora. Pobre Naná. Teria que levar Cynthia para ver aqueles mágicos, palhaços e ciganas. Aquelas charlatonas que tiram dinheiro de pobres coitados para prevê o futuro. Pelo menos isso eu fazia de graça. Este último pensamento me fez soltar um sorriso alto.
- Espero que este sorriso seja de felicidade por estarmos indo passear.
- Taylor! – eu sorri para ele. – Não havia percebido a sua chegada. Por favor, espere lá embaixo, ainda estou com roupas de dormir. – eu disse, cobrindo-me com os lençóis.
- Cinco minutos, Alice, mais do que isso será um atraso deselegante. – ele sorriu. Certo... Como se uma garota pudesse realmente ficar pronta em cinco minutos.
Demorados vinte longos minutos eu desci as escadas, certificando-me que a minha mãe não estava em casa. Levaria uma cesta com algumas comidas e dentro dela a minha roupa de montaria. Mamãe jamais poderia saber que recebia aulas de equitação na escola.
- Naná? Naná? – eu gritei pela cozinha. Vendo Eliza e Meredith, deduzi que Cynthia havia convencido a pobre Anastácia de sair. – Elizabeth, onde está a minha mãe?
- Saiu hoje cedo, Alice. – ela me disse. – Foi juntamente à sua avó ao banco e depois iriam visitar umas amigas. Passarão o dia e voltarão ao entardecer.
- Ótimo. Sairei para cavalgar e, por favor, não conte isso a ninguém, só ao papai e à Naná se estes perguntarem onde estou.
- Anastácia, aquela velha, acostumou mal estas meninas. – ela fez uma careta pra mim.
- Seja boazinha! – eu disse, fazendo beicinho e me aproximando para dar um beijinho em sua testa. Eu sabia que tinha ganhado uma aliada. Eliza tinha um coração mole. – Por favor.
- Ai, está bem. Mas volte logo. Não quero mentir a Senhora Adélia e para sua avó.
Sabia que estava segura agora. Então segui aos estábulos da nossa propriedade. Não era tão grande assim, tínhamos apenas quatro cavalos e em cada cubículo onde ficava cada um dos cavalos havia os nomes: Destiny, Sir Newton, Melody e Cheval.
- Cheval? Cavalo em francês? – Taylor sorriu enquanto afagava o cavalo.
- Mamãe não é nada criativa para escolher nome para animais. – eu ri. – Certa vez nós tivemos um gato chamado Cat. Mas acostume-se com Cheval, é com ele que você vai andar. Agora, se puder virar, eu tenho que colocar as calças de montaria. – eu pedi.
- Suponho que você também tenha dado um nome a um cavalo. – ele perguntou, de costas para mim.
- Sim... Cada um de nós deu. Papai pediu. É um segredo, mamãe não sabe, mas cada cavalo pertence a cada um de nós... Exceto Cheval, seria de mamãe, mas como ela acha que equitação é um esporte para homens não monta e não nos deixa montar. Pode virar agora, eu já as vesti.
- Pobre Cheval. – Taylor riu, virando-se. – Será que adivinho qual é o seu?
- Tente. – eu incentivei.
- Hmm... Creio que seja o... Destiny.
- A Destiny. – eu corrigi, fazendo carinho na minha grande égua branca e subindo em suas costas. – É uma menina. Como sabia?
- Você parece falar sempre sobre destino. Imaginei que fosse este o nome. – disse ele, após subir em Cheval.
- Então presta atenção em tudo o que eu digo, Taylor Franklin?
- Sempre prestei, você sempre soube. – ele disse, sorrindo. – Sabe, sua mãe devia deixa-la montar. Fica muito bem com roupas de montaria.
- Taylor Franklin, seu grande bobo. – eu gargalhei. - Vamos. Siga-me, quero mostrar um lugar a você. – saí galopando disparada em sua frente.
Levei alguma vantagem. Destiny era bem mais rápida do que Cheval. Minha Quarter Horse corria como o vento, me dando sensação de total liberdade. Cheval, um Saddlebred, era muito teimoso e brincalhão. Sabia que Taylor levaria algum tempo para me alcançar.
Corremos alguns quilômetros. Já podia avistar o grande farol branco emergindo no horizonte. Eu adorava o farol de Biloxi. Adorava ficar horas contemplando, deitada na areia, sonhando acordada. Era majestoso.
- Você corre como o vento. – Taylor disse. – Agora sei o que quer dizer quando se refere a voar. – ele riu, enquanto descia de Cheval.
- Venha, deixa eu te apresentar o meu lugar preferido. – apontei para o farol.
- Um farol? – ele questionou. – Seu lugar preferido é um farol?
- Sim. Este é o farol de Biloxi. Eu o acho magnífico
- Vejo beleza mais magnífica diante do farol. – ele sorriu. – Vejo olhos mais azuis do que este mar que banha esta costa e pele mais branca do que esta areia que se estende pelo litoral.
- Bobo. – eu mostrei-lhe a língua. – A magnificência deste lugar é sua persistência. Ele resistiu a um furacão em 1860.
- E por isso você o acha magnífico? Por ele ter resistido a um furacão? – ele perguntou.. – Alice, quantos castelos e grandes casas resistiram a furacões e outras tragédias naturais ao longo dos anos? Inúmeras,
- Sim, eu sei. Mas isto é o que é interessante. Eles não se abalam. Uma estrutura inteira não é abalada nem pela brisa do mar e nem pela tormenta de uma tempestade.
- E? – ele me questionou.
- Não seria maravilhoso se as pessoas começassem a ser assim? – eu olhei para ele e sorri.
- Você... você está dizendo?
- Sim, eu me comparo sempre a este farol. Ele está em pé apesar de tantas coisas o atormentarem. Porém ele está preso aqui e me questiono se ele tem tanta vontade de sair pelo mundo como eu tenho.
- Quer dizer que gostaria de ir embora de Biloxi? Porque não vem morar no Alabama com a sua avó? Garanto que ela...
- Não é questão de mudança de ares, Taylor. – eu o fitei séria. – Eu não me vejo aqui, não me vejo casada, sendo uma esposa, uma dama. Não me vejo como a minha mãe, sendo mãe, com responsabilidades, com uma casa para cuidar. Esta não sou eu.
- Mas e se esta for você? Alice, preste atenção. Medo do futuro é compreensível. Ninguém pode prevê-lo. – ele disse.
- Acho que podem sim. – eu disse séria, lembrando-o de quem previu a morte de duas jovens. – Infelizmente não é algo que eu possa escolher.
- Só porque você adivinhou que duas garotas iriam morrer, - ele parou por um momento. Acho que lembrou que falava da sua própria irmã- não significa que será assim, sempre.
- Você acha que eu adivinhei? – eu disse, experimentando uma ira diferente. – “Oh, vou tentar adivinhar o que vai acontecer a um pacato condado... Hmm, acho que um assassino vai matar duas meninas e roubar todo o seu sangue”. Acorde, Taylor. Eu não escolhi isso, eu não adivinho nada. Eu apenas vejo.
- Assim como você viu o seu cavaleiro? – ele se aproximou, aumentando o seu tom de voz. – Olha ao redor, Alice. Ele não existe.
- Eu não penso assim. – eu disse, envergonhada por admitir. Ele tinha alguma razão. Meu cavaleiro era alguém que eu havia visto em alguns sonhos. Nada concreto, apenas um sonho. – E se ele não existir, não vejo como isto pode ser da sua conta.
- Alice... eu... – ele pausou. Seu tom de voz estava mais suave, mas ainda firme. – Eu te amo. – ele disse. Seus olhos azuis estavam marejados pelas lágrimas. – Eu sempre amei, desde criança. Sempre sonhei em crescer e esperar o dia em que você aceitaria ser a minha esposa. Por favor, não me descarte por causa de uma ilusão.
Eu mal podia acreditar nas palavras que eu acabei de ouvir. Eu sabia que Taylor nutria sentimentos por mim, mas ele nunca os deixou tão evidentes como hoje. Ele disse que me amava, mas eu não sentia o mesmo. Como magoar um amigo que acabara de perder a sua irmã? Eu não queria ser esse monstro que machucaria o seu coração.
- Taylor, eu... – eu comecei a dizer, mas não deu tempo de dizer nada. Taylor havia se aproximado demais, mas eu não havia percebido. Com um movimento brusco, ele conseguiu arrastar-me pela cintura. Levantou-me alguns centímetros do chão por causa da minha baixa estatura e então, ele me beijou. Seus lábios corriam gentilmente pelos meus, com movimentos suaves. Eu estava confusa, não sabia o que fazer, que atitude tomar. Quando ele terminou de me beijar, olhou esperançoso para o meu rosto. – Taylor... Você não deveria ter feito isto.
- Porque não? Alice, por favor, dê-me uma chance. Eu irei faze-la feliz, poderás andar a cavalo, fazer o que você quiser. Viajaremos para que não se sinta presa a um lugar. Tudo o que peço em troca é o seu amor.
- Taylor, eu... – eu comecei a dizer, mas fui interrompida. Meus pensamentos voavam até a casa vazia da vovó, no Alabama, precisamente ao meu quarto. Aquele homem, o assassino, ele estava lá. Ele havia apanhado meu travesseiro e sentido o meu cheiro. Irresistível, ele disse. Tenho que encontra-la, ele concluiu.
- Alice? Alice, você pode me ouvir? – Taylor parecia preocupado. Acordei do meu transe e olhei para ele.
É o assassino. Eu o vi. Ele está vindo atrás de mim.
3 comentários:
Ñ consigo + para de ler, será que esse assassino é o James?
Adoro esse blog.
Bjs.
Aí diz que os olhos dele eram azuis, mas no outro capítulo dizia que eram castanhos/pretos... urr...
estou amando!!!
Bjs.
- Mary Alice.
Conserteza James não tinha olhos Negros e siim vermelhos.
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