- Como? – Taylor me questionou. – Está me dizendo que o assassino está vindo atrás de você? Você acha que ele se daria ao trabalho de atravessar a fronteira dos estados só para vir aqui e mata-la quando há inúmeras outras jovens para que ele o faça.
- Taylor... eu o vi. Ele estava em meu quarto na casa da vovó. Ele cheirou meu travesseiro e disse que eu era irresistível. Ele vai vir atrás de mim. Tenho certeza que vai.
- Acho que você está se tornando obcecada com esta história de prever o futuro. – ele me disse, seriamente.
- Tudo não passa de uma grande brincadeira pra você, não é? Então está bem, Taylor Franklin. Eu irei me proteger sem a sua ajuda. – eu disse, enquanto pegava a cela de Destiny. – Aproveite o seu lanche, vou para casa. – eu disse enquanto atirava a ele a cesta que estava presa na sela da minha égua e disparava em sua frente.
Corri o mais rápido que pude. Senti que Destiny estava cansada, mas eu não podia esperar. Tinha que contar à minha avó o que eu tinha visto. Senti as lágrimas invadirem a minha face enquanto corria. Eu não queria morrer ainda. Não estava pronta. Havia tanto o que ver, tanto o que eu queria fazer. Não queria minha família chorando por mim como os Franklin choravam por Louise. Eu ainda tinha esperança de encontrar meu cavaleiro, e se eu morresse, eu nunca iria encontra-lo.
Quando cheguei no estábulo já se passavam das quatro horas da tarde. Coloquei Destiny no estábulo e corri para dentro de casa ao ouvir os galopes de Cheval. Quando entrei pela cozinha, notei um silêncio perturbador. Eliza e Meredith estavam na cozinha. Não era normal que estivessem em silêncio. Eliza fez sinal para que eu nada falasse. Aproximou-se de mim e cochichou em meu ouvido.
- Sua mãe desistiu da visita na casa da amiga e veio para casa mais cedo. Ela perguntou por você e eu disse que havia saído mais Cynthia, Naná e a menina Franklin. Ela questionou a sua ausência quando encontrou as três no centro de Biloxi hoje mais cedo, então saiu a sua procura. Foi aos estábulos e não viu os cavalos. Ela parece estar zangada. Se eu fosse você, esperaria mais um pouco antes de entrar naquela sala.
- Não posso esperar, Elizabeth. – eu sussurrei. – Eu preciso falar com a minha avó. É algo de extrema importância.
- Menina, sua mãe está com os nervos à flor da pele. Por favor, deixe que se acalme.
- Eliza... – eu pausei. Sabia que podia confiar-lhe um segredo, mas não à Meredith. Falei o mais baixo que consegui. – Lembra porque tia Alice morreu?
- Sim, de desgosto. – ela disse com uma fisionomia de quem não havia entendido aonde eu queria chegar.
- E lembra porque? – eu falei. – Porque ela viu que o noivo ia morrer na guerra e não pôde impedir, certo?
- Como... como sabe..?
- E vovô e tio Antony morreram por causa de um ataque de um ser que ninguém sabia o que era, mas tia Alice sabia que era uma mulher e que havia roubado o sangue deles.
- Mary Alice, como você sabe dessas...?
- Eu sei porque eu posso prever o futuro também, assim como tia Alice. E eu sei que o assassino está querendo me matar. Eu preciso informar minha avó e saber o que será necessário fazer. Você entendeu a urgência do assunto, Eliza?
Ela não disse absolutamente nada. Com o olhar mais assustado e com seus grandes olhos negros arregalados, apenas acenou a cabeça.
- Entendeu também que isso deva ser um segredo. – eu pedi. – Não conte a ninguém. Deixe que vovó decida.
- Está bem. Pode ir. – ela disse, ainda assustada.
Adentrei pela sala de jantar, procurando por algum rosto familiar. Deduzi que mamãe estava em seu quarto, então atravessei a sala na ponta dos pés. Ao chegar à sala de leitura, reconheci a voz alterada que chamou o meu nome.
- Mary Alice Brandon, você poderia me explicar o que estava fazendo? – ela disse com um tom de voz alto.
- Agora não mamãe, preciso conversar com a vovó. – eu disse, tentando fazer com que ela esquecesse da bronca. Eu teria coisas mais importantes para me preocupar. Minha vida, por exemplo. Ela podia me deixar de castigo se eu sobrevivesse.
- Como assim? Como ousa me enfrentar? Nunca dei tamanha liberdade às minhas filhas para que estas pudessem fazer o que bem entenderem.
- Mamãe, quando eu conversar com vovó, a senhora poderá me dar todos os castigos do mundo. Mas é necessário que eu...
- Não me diga o que fazer. – ela gritou.
- Mas o que é que está acontecendo aqui? – vovó entrou pela sala.
- Minha sogra, sua neta está sendo de tamanha grosseria com a mãe. – mamãe disse.
- Não é verdade, vovó, eu apenas lhe disse que precisava falar contigo sobre algo muito importante. – olhei para vovó e lancei um olhar apelativo para que compreendesse a gravidade do meu problema.
- Adélia, veja bem, a menina parece confusa por algum motivo. Deixe que descanse e depois vocês conversam de forma civilizada.
- Mas... mas... – mamãe se surpreendeu ao ouvir as palavras da sogra.
- Venha, Alice, preciso que me acompanhe até o centro da cidade. Já é hora de buscar as outras.
O veículo dos Franklin ia nos levar. A viúva estava enclausurada em seu quarto, não havia saído ainda. No caminho para o centro eu pude contar à vovó o que eu havia visto. Contei sobre o assassino. Ele estivera em nossa casa e agora estava planejando vir à Biloxi para me atacar. Ao longo do caminho eu tive outra visão. Um quarto. Ele era branco e havia uma cama que mais parecia um leito de hospital. Uma pequena janela onde entrava pouca luz e sem outros objetos além da cama. Não achei necessário contar este à vovó.
Ao chegarmos à feira, não foi difícil encontrar Cynthia e as outras. Estavam vendo uma pequena demonstração de mágica. Enquanto elas viam aquele homem tirar um coelho de uma cartola eu fui até as outras barracas para ver o que acontecia nesse tipo de festival. Estava distraída quando uma senhora apareceu de repente à minha frente. Ela era muito mais velha do que a minha avó, vestia uma capa escura e tinha um rosto estranho, sua expressão era de sofrimento. Seus olhos eram grandes e escuros, sua voz falhava, mas consegui ouvir com clareza o que ela me disse.
- Você vai ser muito feliz. Você encontrará o seu amor, mas não vai ser agora.
- E quando será? – eu perguntei. Sabia que a possibilidade dela acertar era menor do que as minhas. Essas pessoas sempre tentavam tirar dinheiro da gente e com ela, eu acreditava, não seria diferente.
- Não agora. Num futuro distante. Seu cavaleiro a encontrará. – ela sorriu.
- Como sabe do cavaleiro? – eu perguntei.
- Não se espante com o que o futuro reserva, criança. Você terá amigos para te ajudar. Mas cuidado com aquele que suja o sangue até a morte. – ela me disse, séria.
- Como... como?
- Vampiros! – ela disse. – Eles são perigosos. Cuidado. – ela me disse. Logo em seguida seu corpo estremeceu um pouco e ela olhou-me. Seus olhos agora apresentavam uma tonalidade azul. Seu rosto estava mais aliviado. Ela olhou para mim e deu um grande sorriso sem dentes. – Quer que eu leia sua mão, querida? Apenas cinco moedas.
Como assim?, eu pensei. Ela acabara de falar tanta coisa da minha vida que poucas pessoas sabiam. Será que ela tinha um dom igual ao meu? Quando tive coragem de perguntar o que aconteceu, Cynthia apareceu do nada, puxando o meu braço e me levando até onde as outras estavam.
Já era hora do jantar quando chegamos em casa. Todos nos aguardavam para comer. Fui ao banheiro lavar-me e desci. Taylor já estava à mesa e permaneceu calado toda a noite. Papai, então, anunciou que viajaria naquela noite.
- Meu editor quer que eu vá a North Gulfport. Haverá a inauguração de uma nova estrada e ele quer que eu esteja lá.
Na hora de se despedir, dei um longo e forte abraço em papai. Como se fosse uma despedida.
- Ei, ei. Não se preocupe. Não vai acontecer nada comigo. – ele me disse. Eu sabia que nada aconteceria com ele. Mas sabe Deus se ele me veria novamente. – Cuide bem das outras, está bem?
Acenei a cabeça. Avistei o carro que o levaria até a balsa. Ele colocou suas mãos para acenar para a família. Uma lágrima rolou do meu rosto naquele momento.
Tive um bom sonho àquela noite. Sonhei com minha família. Mas não com Cynthia, meus pais e minha avó. Nem mesmo com meus falecidos parentes. Sonhei com outras pessoas. Uma mulher com lindos cabelos caramelos e seu marido, que era alto e loiro. Ao seu lado, uma jovem, creio que quase da minha idade. Ela tinha longos cabelos loiros que desciam até suas costas. O rapaz que estava a seu lado era enorme. Tinha cachos escuros e covinhas quando este sorria para mim. Também havia um jovem de cabelos bronze. Todos eles eram extremamente belos e tinham olhos dourados. Eu sorri para eles. Atrás de mim, logo atrás, estava meu cavaleiro dourado. Agora ele brilhava. Brilhava como um cristal ou um diamante.Eu nunca tinha visto tamanha beleza. Enquanto ele se aproximava da família e se afastava de mim, pude perceber algo diferente. Olhei para minhas mãos. Elas refletiam raios, projetando luzes coloridas ao meu redor. Eu estava irradiando alegria. Mas de repente, minha família havia sumido e o céu se tornou escuro. Olhei para as minhas mãos e elas estavam cobertas de sangue. Estava presa no quarto da minha visão e à minha frente, lá estava ele. O assassino.
- Não. Afaste-se de mim. – eu gritava para ele. – Saia daqui! Saia!
- Alice, Alice, querida, acorde. Está tudo bem.
- Vovó? – minha voz ainda estava aflita.
- Mas o que está acontecendo aqui? - mamãe entrou no meu quarto. – Que gritos foram estes?
- O assassino, ele está vindo me matar. – eu disse.
- Alice... – vovó falou, mas eu a interrompi.
- Chega de segredos vovó. Mamãe, eu vi o assassino. Ele estava na casa da vovó e ele está vindo me pegar.
- Você o viu? Mas como? Quando vocês ainda estavam lá? – ela disse, assustada.
- Não mamãe, eu vi ontem. Ele estava na casa da vovó. Ele está vindo. Vem me matar.
- Está louca? Como assim o viu? – ela me perguntou.
- Assim como eu previ a morte das outra. Eu posso prever o futuro, como tia Alice fazia.
- Você... como... Alice... que absurdo é este? Pessoas não podem prever o futuro.
- Mamãe, um vampiro está vindo me matar. – eu gritei, enquanto as lágrimas escorreram em meu rosto.
- Um o que? – ela questionou. – Alice, onde aprendeu esta palavra?
- Uma velha cigana me disse, mamãe. Ela disse para tomar cuidado com os vampiros.
- Bobagens de uma cigana que queria seu dinheiro.
- Adélia, por favor...
- Não alimente as fantasias de Alice. – ela gritou. – Tomarei minhas providências para que isto não se repita. Não quero outra Alice louca em minha família.
Então, mamãe saiu. Eu vi mais uma vez o mesmo quarto que havia visto no dia anterior e em meus sonhos. Vovó ficou comigo o resto da noite. Ela afagava os meus cabelos para que eu pudesse dormir novamente. Era cedo quando ouvimos um barulho aos portões da propriedade. Olhei pela janela do quarto. Era uma ambulância. Mamãe achava que eu estava doente?
- Por aqui. – ouvi sua voz. Ela entrou em meu quarto acompanhada de dois homens altos e fortes. – Alice, você terá que acompanhar os enfermeiros. – ela disse. Olhei em suas roupas brancas as iniciais do asilo psiquiátrico da cidade.
5 comentários:
nossa que dó da Alice :(
uau
Que MONSTRO é a mãe da Alice!
Ai, é mesmo... a mãe da Alice é um monstro!
Aposto que se Emmett ou Jasper estivessem ali, dariam uma surra naqueles enfermeiros!!
Que mãe Louca e Doiida, nem acreditou na pobre da Alice.
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