Nascer do Sol - Capítulo 7: Um Amigo

- Que brincadeira doentia é esta, Adélia? – vovó perguntou. – Você vai internar a sua filha em um hospital psiquiátrico?

- Minha filha está precisando de acompanhamentos, não parece? Não é normal uma menina inventar que está vendo o futuro.

- Mas eu vejo! – eu gritei. – Eu não estou louca mamãe. Eu vi. Vi o assassino de Louise. Ele está vindo atrás de mim. Tenho certeza...

- Basta. – minha mãe gritou. – Não tolerarei esse tipo de loucura.

- Adélia, você não vai internar a minha neta... – vovó disse, mas foi interrompida.

- Se você tivesse feito isso com a sua filha, cuidado do bem estar dela ao invés de dar atenção à sua loucura, ela estaria viva.

Aquilo me fez tremer. Como a mesma pessoa que tinha me dado a vida podia ser tão dura? Ela sabia que aquilo teria atingido vovó como um tiro certeiro no coração. Falar daqueles que já haviam falecido era doloroso demais para a vovó. Senti uma raiva incontrolável dentro de mim.

- Como você pode ser tão fria? –eu perguntei com ela, enquanto abraçava a minha avó. – Como você pode ser tão seca e fazer sofrer alguém que te acolheu quando a sua própria mãe renegou a sua existência?

- Eu não vou tolerar esse tipo de comportamento. – Ela me disse, trincando os dentes.

- Vai sim. – eu disse, decidida. – A senhora afasta tudo e todos de você com essa amargura. Veja o que está fazendo. Mandar sua filha para ser internada como uma louca. Eu não estou louca!

- Não interessa o que você diz. Você está falando baboseiras sobre vampiros, sobre assassinatos. Você vai para o hospital ser tratada para que não pense mais nestas coisas. Quando sair, vai ser uma jovem normal. Acha que será uma dama prevendo o futuro desse jeito, igual a uma cigana? Acha que algum homem decente vai querer casar contigo? E o que minhas amigas vão dizer.

Então, de repente, eu entendi. Olhei para o seu rosto. Gritava tão alto que a esta altura todos da casa já deviam ter despertado. O que a família Franklin estaria pensando? Pra ser sincera, pouco me importava. Estava vermelho de tanta raiva.

- Então, é tudo questão de vaidade, não é? – eu disse, baixando meu tom de voz. – Sobre ter uma filha que se case com alguém rico, algum bom marido para que você não passe a vergonha que a sua mãe passou ao vê-la casada com filhos de fazendeiros e que escrevia um jornalzinho qualquer, não é mesmo?

Ela olhou-me com dúvida. Estava mesmo, eu, dizendo aquelas palavras tão frias? Sim, eu estava e não estava arrependida. O último fio de esperança que eu guardava em meu peito de que minha mãe um dia iria me amar da forma como eu era tinha acabado de se romper. Ela ia dizer alguma coisa, mas eu me antecipei. – Não se preocupe. Eu vou me tratar para que não sinta vergonha de mim. – Desviei o meu olhar para os enfermeiros. – Senhores, eu os acompanharei sem resistência, mas deixem que eu me despeça da minha irmãzinha.

Eles acenaram a cabeça, concordando. Um deles, o mais alto, disse que me acompanhariam até o quarto de Cynthia, mas que esperariam do lado de fora e que eu não tentasse fugir, pois teriam que tomar providências.

Quando cheguei ao quarto, vi que Margareth estava encolhida num canto do quarto, abraçada em seu travesseiro. Deve ter ouvido a parte em que eu falei que tinha visto a morte da irmã. Abaixei até onde ela estava sentada, no chão e disse.

- Ninguém teve culpa de nada, nem você, nem eu, nem outra pessoa senão o assassino. Não se esqueça disso. – eu disse. Ela fungou e então me abraçou. – Cuide de Cynthia enquanto eu estiver fora, por favor.

- Aonde você vai? – minha irmãzinha levantou-se da cama e veio até mim. – Estes homens aí fora, porque estão aqui?

- Mamãe acha que estou doente. Terei que me ausentar alguns dias, mas assim que ficar curada, voltarei. Cuide do papai e da vovó. Seja uma dama. – eu a abracei.

- Você vai ficar boa em breve? – ela me perguntou. Seu semblante era de tristeza e temor. Tentei parecer calma. Eu estava com a sensação de que não veria a minha irmã novamente, então tentei fazer com que a nossa despedida fosse a mais tranqüila possível.

- Talvez em breve. Mas prometa que ficará bem e nunca deixe que ninguém te diga o que você tem que fazer de sua vida, principalmente mamãe. – eu pedi. Ela fez um sinal com a cabeça, afirmando. – Eu amo você.

- Eu também amo você. – ela disse, me abraçando.

Após alguns instantes, desfiz o abraço. Dei um último abraço em minha avó. Ela parecia estar em estado de choque. Não avistei minha mãe quando saí de casa, nem as criadas. Os Franklin estavam em uma das varandas do andar superior. Pude vê-los enquanto os enfermeiros me colocavam em segurança na ambulância. Acenei cordialmente com a cabeça, recebendo um olhar de tristeza de Taylor em troca. Você é um bom rapaz, Taylor. Encontrará uma moça que o mereça e te fará feliz, eu pensei e sorri.

O caminho até o asilo psiquiátrico não foi tão longo quanto imaginei que fosse. Logo que cheguei, mandaram-me até uma sala meio escura, com altas estantes cheias de livros velhos. Em cima da mesa do que parecia ser o escritório, havia uma plaquinha com o nome do responsável pelo asilo: Dr.Müller.

Poucos instantes depois, entrou um senhor magro de aparência cansada, com óculos de lentes grossas, longa barba branca e quase se cabelos cobrindo a cabeça. Parecia uma caricatura, na verdade. Nunca tinha visto ser tão estranho. Acho que cuidar das pessoas aqui o afetou um pouco, eu pensei.

Dr Muller chegou até mim. Fez sinal para eu sentar em seu divã e ele sentou na cadeira em frente à ele. Seus olhos atentos à minha pessoa me fitavam de forma curiosa. Olhou-me durante um minuto extremamente longo e então disse com seu sotaque bastante alemão carregado:

- Então, você vê o futurro, ja? – ele perguntou, tirando os óculos e limpando a lente.

- Sim... – respondi. – Eu vejo.

- E você vê com frreqüência, nein? - ele quis saber, colocando os óculos no rosto e apertando os olhos para mim.

- Às vezes. – eu disse, séria e friamente.

Ele deu um suspiro. Levantou e andou até à mesa. Fez algumas pequenas anotações.

- Sabe, minha carra, aqui nesta hospital recebemos várrios casos de esquizofrrenia. Alguns acrreditam que podem voar. Outras dizem que escutam vozes vindas de outrra dimensão. Há dois dias recebemos um senhor que afirrmava ser uma vampirro e que não queria matar mais pessoas, então...

- Vampiro? – eu me espantei.

- Ja, vampirros. Criaturras das trrevas que sugam sua sangue enquanto você dorme. Transforrmam-se em morrcegos e tem grrandes dentes afiados. – ele me disse. Esta descrição não se parecia em nada com o assassino que eu vi. – Mas é clarro, essas coisas nein existem.

- Então, o homem que matou Louise não era um vampiro? – eu perguntei. – Ele não tinha dente afiados. Era apenas um homem muito branco e tinha olhos vermelhos e...

- Chega. – ele disse. – Já tive tudo porr hoje. Manfred, Joseph, levem a senhorrita Brandon parra suas aposentos, ja?

Os dois enfermeiros que estiveram comigo mais cedo em minha casa entraram na sala do Dr. Muller. Eu os acompanhei até o quarto.

Ao entrar naquele quarto, percebi que era o mesmo que tinha visto em meu sonho. Uma onda de terror me atingiu e eu tive medo. Era o quarto onde o assassino me mataria.

- Não, não, me tirem daqui. Ele está vindo, ele vai me matar aqui, por favor. – eu disse aos enfermeiros, mas a tentativa de saída foi em vão. Desabei no chão e me pus a chorar.

Ao chegar o meio dia, fomos liberados ao pátio para que pudéssemos almoçar. Não queria ficar presa no meu refúgio, esperando pela morte. Saí e resolvi ficar num canto encolhida, à sombra de uma árvore. Avistei de longe vários Napoleões Bonaparte, uma moça que afirmava ser a Princesa russa Anastácia. Alguns estavam num canto, conversando com gnomos invisíveis que tinham o segredo da felicidade eterna. Fechei os olhos pensando se levaria muito tempo para que a loucura do lugar me consumisse.

Estava de olhos fechados, e só percebi a sua presença quando finalmente ouvi sua voz.


- Desculpe-me, minha cara, mas não pude deixar de ouvir a conversa que teve com o Dr. Muller esta manhã. – Ele me disse, com aqueles grandes olhos dourados escuros em cima de mim. Sua voz tinha um tom extremamente cordial. Sua pele era branca como a neve e parecia ser tão macia. Seus cabelos escuros e lisos me olhavam o tempo todo, com bastante atenção. Nunca tinha visto um rosto tão belo. Parecia um anjo.

- Como nos ouviu? Estávamos trancados na sala do Dr. Muller? – eu perguntei.

- Digamos que eu tenho sentidos mais apurados que a maioria de vocês, humanos.

Humanos... Eu pensei. Será que aquele anjo era a criatura das trevas que sugava o sangue de inocentes?

- Afinal, quem é você? – eu perguntei, sem cerimônias.

- Um amigo. – ele simplesmente respondeu.

1 comentários:

Amy Lee disse...

UHUU!
Carlisle!!

Postar um comentário

blog comments powered by Disqus
Blog Design by AeroAngel e Alice Volturi