O Sopro do Vento - Capítulo 03: Opções

- Eca! Fido está de volta? – ouvi tia Rose rosnar.

Então, era isso. Meu melhor amigo estava de volta. Eu senti uma vontade de correr e poder pular em cima dele, como faria há alguns dias. Mas, desta fez, fiquei imóvel. Será que ele ainda seria meu amigo? Mamãe disse que eles ainda eram amigos, mesmo após ela ter mudado, mas... Esse pensamento me fez sentir um nós no estômago. Nunca tinha sentido isso antes. Foi ai que ouvi sua voz. Pela primeira vez soou como algo novo. Não era a voz do meu melhor amigo. Não era a voz brincalhona de um adolescente como eu estava acostumada. Era uma voz rouca e suave.

- Onde ela está? – ele perguntou. – Eu quero vê-la.

- Jake, escute. – mamãe já havia descido as escadas. – Ela está com medo de que você a estranhe. Ela está bastante... Diferente.

- Não importa, eu quero vê-la. – Ele ignorou a presença da minha mãe e lançou-se escada a cima. Senti o seu cheiro, como se fosse a primeira vez. Era amadeirado. Um cheiro bom e quente. Ele não fedia, como minha família dizia. – Nessie, onde você está?

Respirei fundo, tomei coragem e respondi. – Estou aqui, Jake.

Ele caminhou em direção à porta aberta do quarto de tia Alice. Pela primeira vez, eu o vi de verdade. Ele não era mais o meu Jacob, o melhor amigo. Ele também estava diferente. Pra mim, parecia que ele estava revestido em luz. Seus cabelos pretos na altura dos ombros, seu porte alto e musculoso. Sua cor avermelhada, contrastando tudo aquilo que, para mim, agora era novo. Seus olhos me fitavam com curiosidade. Ele ia se aproximando lentamente, como se tivesse medo de me tocar. De repente, senti minhas bochechas queimarem. Ousei uma olhada rápida ao espelho para ver o que havia acontecido: elas estavam cor-de-rosa. Iguais aos da Virgínia, quando eu falei com ela pela primeira vez. Eu estava com... vergonha? Ele continuou se aproximando, lentamente e parou. Respirou levemente e então, falou.

- Nessie... Ah Nessie, fiquei tão preocupado, achando que algo havia acontecido com você. – ele disse, enquanto seus longos e musculosos braços me laçavam. Eu senti que minhas bochechas estavam em brasa. Meu coração estava acelerado e eu não conseguia respirar direito. O que havia de errado comigo? Estava lá, com meu melhor amigo. Eu já o conhecia há tanto tempo, porque essa sensação de novidade? – Mas como, como...?

- Isso é o que vovô Carlisle está tentando descobrir. – eu falei, de cabeça baixa. – Ele precisa falar com você.

- Comigo? – ele questionou. – Nessie, o que ele quer comigo? Nessie? ... Nessie, você quer, por favor, olhar pra mim?

- Eu... não... não consigo. Me desculpe. – eu não conseguia falar direito.

- Você quer que eu vá embora? – ele recuou um passo, me soltando de seus braços.

- Não, por favor, não é isso. Só estou um pouco... confusa.

- Confusa? – ele questionou. – Com o que?

- Com tudo, Jake. – eu sussurrei, enquanto sentia uma lágrima caindo sobre a minha face.

- Por favor, Nessie, não chore. – ele disse, me tomando de volta em seus braços. Eu nunca tinha percebido o quanto ele era quente e aconchegante. Poderia ficar para sempre daquele jeito e não me incomodaria. Não me importava mais a preocupação exagerada de Jacob. Só queria estar na proteção de seus braços fortes, e mais nada.

- Desculpe interromper, - disse vovô, enquanto entrava no quarto – mas preciso tirar uma amostra do sangue do Jacob, se ele não se importar.

- E porque precisa de uma amostra do meu sangue, doutor? – ele perguntou, ainda me abraçando.

- Se você se lembra, Jacob, depois do incidente com os recém-nascidos eu tirei a amostra de eu sangue para examiná-lo. Seu material genético é muito parecido com o de Renesmee. Para ajudá-la eu preciso observar o seu também.

- Bom, está bem. – ele concordou. – Vamos acabar logo com isso. Mas mantenham a loira longe de mim. Não quero ter um motivo concreto para machucá-la.

- Está bem. Nessie, tudo bem se o Jacob se ausentar por um momento?

- Ela não pode vir comigo? – Jacob me apertou um pouco mais.

- Não... Consigo... Respirar... – eu falei, com dificuldades.

- Ah, desculpe. – ele se afastou um pouco.

- Tenho certeza que Nessie é extremamente controlada, mas como sua mudança foi rápida, temo que não consiga controlar seus instintos. Ela pode querer mordê-lo e você também poderá não controlar os seus.

- É... Claro. Tudo bem pra você? – ele me perguntou. Fiz que sim e logo ele estava saindo para o escritório do vovô.

Desci as escadas e todos estavam na sala – menos tia Rose, tio Emmett e tia Alice. Minha tensão de repente se amenizou. Tio Jasper, nesse sentido, é meu tio favorito. Comecei a pensar no que tinha acabado de acontecer. O cheiro, o quente do corpo de Jacob, os braços fortes me abraçando. Quando olhei para a frente, papai me fitava. Sério. Sem expressão.

- Você se importa? – pensei.

- Desculpe, - ele disse – não posso controlar, esqueceu?

- Desculpe, papai. Estou muito ...

- Confusa. Sim, eu sei, senti isso quando conheci a sua mãe.

- Mamãe?- eu questionei.

- Bella, eu acho que devemos explicar algumas coisas à Nessi... Renesmee – ele corrigiu quando mamãe lançou um olhar seco e quase fatal.

- Venha conosco, meu amor. Jacob nos encontrará em seguida.

E então, caminhamos para a nossa cabana. Tia Alice vinha de lá, caminhando, saltitante e sorrindo.

- Espero que goste. Eu vi na tv. – e saiu, assobiando, dando seus passinhos de ballet.

Não entendi, mas procurei não entender. Estava tão embriagada de curiosidade sobre o que meus pais tinham para me contar que esqueci.

Entramos na cabana. Aparentemente, nenhuma travessura de tia Alice. Sentei na minha cadeira preferida. Tinha pertencido ao quarto antigo da mamãe.

- Então... – eu disse, tentando parecer séria e ao mesmo tempo brincalhona. Um fuga para a minha tensão pós-Jacob. – podem falar, Edward e Isabella.

- Sabe, só porque nós chamamos os nossos pais pelo nome – mamãe sentou o sofá, quase que ao mesmo tempo que papai – não significa que você também possa...

- Eu sei, estava brincando. – eu tentei acompanhar a risada deles... uma tentativa inútil, aparentemente.

- Bom... Quando conheci sua mãe eu lutei por um bom tempo contra meus sentimentos por ela. Nunca havia sentido nada assim por ninguém em toda a minha... existência. Não por ela ter o sangue mais doce, por ser a criatura humana mais linda que eu havia visto ou pelo enigma de seus pensamentos me deixarem fascinados. Mas porque estávamos predestinados a ficar juntos. – ele disse e a abraçou. – Há coisas na vida que não tem explicação. Uma delas é a impressão que o Jacob tem por você.

- Filha, - mamãe me falou. – A impressão é algo que faz parte do que Jacob é. É algo involuntário. É como ele acha sua companhia para a vida toda.

- Então eu estou predestinada a conviver com Jacob por toda a minha vida?

- Mais que isso... A impressão é como eles, os lobisomens ou seja lá o que ele seja, encontram suas, como posso dizer? - ela tentou procurar uma palavra que se encaixasse perfeitamente.

- Fêmeas. – papai completou.

- Fêmeas? – eu repeti. – Assim como no Discovery Channel?

- Sim, assim como os animais, como os humanos e como os vampiros. Todos nós estamos aptos a encontrar nossa companhia para a vida toda. Esse é o laço de amor que une um casal. Mas, com Jacob, funciona diferente.

- Ele viverá em função de você, filha. – mamãe falou. – A impressão significa que você e Jacob têm um elo muito forte e mútuo. Você, por ser muito pequena, não entendia essa ligação, o que a impressão significa. Mas, agora que você chegou ao seu limite, acredito que seja a hora de saber certas coisas.

- Como o que, por exemplo? – eu indaguei.

- Bom, - papai pareceu envergonhado, pela primeira vez. – Vou deixá-las a sós para uma conversa de garotas.

- Ah claro, como se você não fosse saber disso depois, seu fofoqueiro. – eu pensei. Ele sorriu e eu também. Depois, piscou para a minha mãe.

- Conte a ela sobre borboletas, amor.

- Pode deixar, Edward. – e então, ele saiu da sala. – Bem Renesmee. Quero que me conte o que sentiu quando Jacob entrou no quarto de sua tia Alice.

- Primeiro minhas bochechas queimaram... Depois eu senti uma coisa estranha aqui, como se ... – apontando para minha barriga, enquanto mamãe me interrompia.

- Milhões de borboletas estivessem querendo sair de seu estômago?

- Sim.

- E suas bochechas queimaram em brasa?

- Sim.

- E você não conseguia olhá-lo nos olhos?

Fiz uma pausa, enquanto olhava séria para ela.

- Papai andou contando meus pensamentos de novo?

- Não meu amor, - ela riu, dando tapinhas no sofá para que eu me sentasse a seu lado. – eu digo isso pois foi o que eu senti quando comecei a me apaixonar por seu pai.

Apaixonar... Eu falei na segurança dos meus pensamentos, agora que papai não estava. Quase um sussurro dentro da minha cabeça. Mamãe continuou falando, mas parei de prestar atenção. Por um breve momento, analisei a palavra apaixonar. Tinha visto em filmes, lido em livros. Um dos favoritos da mamãe, Orgulho e Preconceito, falava sobre isso, quando o Sr. Darcy se apaixonou por Elizabeth. Mas nunca tinha aprendido o suficiente. Não para saber o que era se apaixonar.

- Espera, espera, espera... – eu a interrompi. – Está me dizendo que eu estou... me... apaixonando?

- Bom, é o que estou tentando te explicar. – ela colocou seus braços em volta dos meus ombros, me puxando para mais perto dela. – Não é algo complicado quanto parece. Não quando é correspondido. É algo que está em seu destino, quando Jacob a escolheu.

- Pois eu quero que ele desfaça. – eu levantei, num impulso, com lágrimas nos olhos.

- Renesmee... – mamãe me olhava com os olhos cheios de dúvida.

- Eu não quero perder meu melhor amigo. Eu não quero ter que me afastar de Jacob, mamãe. Eu não quero mudar o que já temos. Eu quero poder ir caçar com ele, poder sentar embaixo da minha árvore preferida com ele e ouvir histórias antigas de sua tribo. Eu quero poder dar risada e ficar zangada quando ele irrita a tia Rose. Eu não quero perder nada disso.

- E você não perderá. – ela se levantou, ficando em minha frente, com seus olhos dourado-escuros por estar por algum tempo sem caçar, olhando-me nos meus. – Sae, eu tive que abrir mão de algumas coisas para estar com seu pai. Eu estou há muito tempo sem ver Renée, - ela disse e então eu senti o peso quando pronunciou o nome da minha avó. – e não posso sair na rua em Forks com tanta freqüência por acreditarem que eu estou na faculdade. Mas eu teria aberto mão quantas vezes fosse preciso. Não é um tormento ficar aqui todos os dias com ele, com você e nossa família. É o meu paraíso particular. É a vida que eu escolhi.

- Mas eu não escolhi me apaixonar pelo meu melhor amigo. – eu respondi. – Eu não tive escolha.

- Como eu disse, algumas coisas são difíceis de serem explicadas... – ela me respondeu. – A impressão é algo que eu não entendo e acredito que nunca entenderei. Mas está em seu destino. Você já amava o Jacob antes. É só uma questão de tempo para se acostumar.

Claro... é fácil para ela falar isso. Ela nunca havia se apaixonado pelo seu melhor amigo, eu pensei. Como se pudesse ler meus pensamentos, ela respondeu.

- Sabe, eu já me apaixonei por meu melhor amigo. – ela me confessou. Era a primeira vez que me falava algo além da sua vida com meu pai.

- Sério? – eu perguntei, curiosa. – E o que aconteceu?

- Eu fiz minha escolha. Eu escolhi o Edward. – ela sorriu pra mim.

- E não se pergunta o que aconteceria se tivesse escolhido o outro?

- Sim, me questiono. – ela me abraçou e beijou a minha testa. – Mas tenho medo de qualquer tipo de vida que não envolva seu pai e você.

Ficamos, por um momento, abraçadas. Eu sabia que mamãe tinha mudado, em grande parte, por minha causa. Sabia que meu parto não tinha sido fácil para ela e que papai teve que injetar o veneno, se não ela morreria. Esse pensamento fazia meu coração acelerar. Me sentia culpada e ao mesmo tempo feliz por mamãe não ter optado pelo melhor amigo. Mas, eu tinha essa opção? Poderia escapar desse destino ao qual eu pertencia? Meu coração acelerou mais um pouco, e mamãe pareceu perceber o que havia acontecido.

- Bem, é melhor que você esfrie sua cabeça. Porque não toma um banho? – me falou, me guiando para dentro do meu quarto. Ela entrou primeiro e foi a primeira a perceber. – Mas o que...? – ela virou, bloqueando a entrada para o meu quarto. – Renesmee... apenas, fique calma.

- Calma? O que houve? - Eu olhei por cima de seus ombros – Mas... o que é isso?

Então, estava lá... Parecia que havia saído direto de seriados de tv e filmes de comédia adolescente. Meu quarto. Não o quarto de criança que eu estava acostumada...Minha cama de flores e pássaros havia sido trocada por uma king size, com colunas delicadas de ferro. Pude ver os detalhes de flores de metal douradas ao longo da coluna. Em cima, uma cortina branca caia sob a cama, dando um ar clássico a ela. Em frente, uma penteadeira combinando, com um grande espelho. Em cima, perfumes de marcas famosas, maquiagens, escovas, cremes e várias coisas que eu tinha certeza que só usaria quando tia Alice fizesse chantagem emocional. Em cima de uma pequena mesa dourada, contrastando as paredes brancas, porta-retratos. Alguns já estavam lá. Uma das fotos era com todos os amigos que eu tinha feito na última visita dos Volturis. Outra, eu bebê com mamãe e papai, uma com minha família inteira, uma eu e Jacob e a última eu, já grande, abraçada com a mamãe no quarto de tia Alice. Fiquei me perguntando quando diabos ela havia tirado essa foto. Senti o carpete dourado e fofo aos meus pés enquanto olhava alguns quadros e pôsteres de bandas que eu ainda não conhecia. Alguns livros na estante e um computador cor-de-rosa em cima de uma mesa no canto da parede.

- Não quero ver nem ver o que ela fez no closet. – eu falei.

- Vá se banhar. Estarei esperando na sala. – mamãe saiu.

Olhei meu novo quarto por alguns instantes. Em cima do criado-mudo dourado, ao lado do abajur, havia uma foto. Outra foto com Jake. Eu montada em suas costas, fazendo beicinho enquanto ele gargalhava. Aquele era meu Jacob. Rindo da minha cara, brincando comigo, e não aquele garoto musculoso e quente que esteve comigo mais cedo.

- Jake... – eu sussurrei.

- Sim? – Ouvi sua voz responder. Ele estava parado, do lado de fora da minha janela.