Verde, Vermelho, Dourado - Capítulo 13: Rebelião Vermelha – Augusta, Maine, 1929

A cidade estava em dificuldades. Após a queda do mercado de ações, os humanos reverteram-se em seres Neandertais. Era incrível para mim ver como a pobreza súbita fazia os humanos sucumbirem aos comportamentos mais hediondos. Roubar, mentir, trapacear. O caos no ar era praticamente palpável. Fez as escolhas tão fáceis.

Enqaunto os desafios diminuíam, comecei a me perguntar o que eu ainda estava fazendo aqui na América. Eu era tão cuidadoso quanto pudesse ser, embora ocasionalmente vacilasse e meu erro acabaria nos jornais. Pareceu-me bastante estúpido estar no mesmo país que outros vampiros conhecidos. Vampiros que não se alimentavam de seres humanos, que eram plenamente capazes de lerem os jornais nacionais.

“Opa, desculpe!”, o humano masculino disse.

Eu sorri agradavelmente. Era eu que tinha estrategicamente me colocado no caminho desse homem, a fim de induzir o que pareceria um encontro por acaso.

“Está tudo bem”, respondi graciosamente.

Ele piscou, olhando para mim com uma mandíbula travada e olhos vidrados. Seus pensamentos eram tão excessivamente simples que apenas encontrei uma imagem de mim mesmo em sua mente – um alto senhor vestindo um terno marrom e sapatos usados. Eu tinha que me misturar ao ambiente. A depressão havia afetado os humanos de todas as formas, incluindo suas vestimentas. A imagem de um homem bem vestido em um terno branco caro naquela época não seria benéfica para mim.

Dei um sorriso ainda mais largo para o homem, bloqueando sua saída do beco escuro e inclinando meu ombro contra uma parede. Eu podia sentir o cheiro da jovem garota que ele havia escondido num caixote no final do beco. Ouvi os pensamentos dela muito antes dos dele. Este homem certamente não era o pai dela ou parente de nenhum grau.

Ainda assim, eu tinha de ser meticuloso em meus esforços.

“Como você conhece a adorável Anna?” Perguntei docemente.

O homem branqueou. Seu rosto ficou tão pálido e tenso que por um momento fiquei preocupado que ele fosse ter um ataque cardíaco antes que eu tivesse minha chance. A imagem do que ele tinha feito à garota chamada Anna percorreu por sua mente, assim como as imagens de várias outras meninas. O caos da depressão era simplesmente uma desculpa para ele. Ele já estava rondando por aí antes mesmo de que qualquer um tivesse ouvido falar da quebra no mercado de ações.

Eu dei uma passo à frente lentamente. Ele cambaleou para trás, tropeçando e batendo a cabeça nos escombros atrás dele. Seus olhos estavam arregalados, sua respiração ofegante, seu coração batendo em um ritmo extremamente rápido. Suspirei enquanto me aproximava dele. Eu já estava ficando cansadodesse jogo. Não podia prever o futuro, mas sabia que Anna ficaria bem enquanto esse monstro choramingando aos meus pés não existisse mais. Avancei por seu pescoço. . . e ele deixou de existir.

Minha rotina havia se tornado fácil. Humanos eram tão previsíveis. Eles seguiam as linhas de suas vidas. Iam para o trabalho e escola, e aproveitavam seus passatempos favoritos. Um dos quais também gostava.

Eu estava agradecido pelos filmes. Os humanos tinham finalmente entrado em uma indústria cinematográfica em desenvolvimento e isso me permitia estudar o comportamento humano em um contexto muito interessante. Paixão, ódio, vingança, ciúmes. Embora não pudesse sentir essas emoções eu mesmo, sentia que as entendia bem, simplesmente por observar as emoções encenadas pela tela do cinema.

“Oh meu Deus, ela está grávida”, cochichou uma mulher. Eu não me importaria em estar grávida dele.

Virei meus olhos e reprimi a vontade de debochar. Um jovem casal estava sentado algumas fileiras à minha frente no cinema escuro. Suas conversas baixinas estavam começando a me irritar, assim como seus pensamentos.

Muito jovem, muito bonita, nada tão bonito assim vive por muito tempo. . .

Esperei pacientemente para que o filme terminasse, o que foi difícil, já que era uma pretensiosa história de amor. Eu conhecia bem isso, de tanto ler a mente das pessoas, que esse drama simplesmente não acontecia na realidade. Como os humanos podiam se apaixonar por um enredo tão banal, eu nunca entendi.

Observei o jovem casal de cabelos claros sair do cinema, de mãos dadas. Eles estavam obviamente profundamente apaixonados. Senti pena deles, cegos para tudo que acontecia à sua volta, e incapazes de ver algo mais do que um ao outro. Esperei alguns segundos antes de seguí-los.

Vou torná-la ainda mais bonita, ela ficará perfeita quando estiver morta. . .

Eu podia ouví-los alguns passos à frente, rindo e conversando sobre suas simples vidas. Meus passos eram silenciosos enquanto deslizava através das sombras.

“Fique perto de mim, Louise”, ouvi o rapaz cochichar para sua amada.

“O que foi, Jack?” Louise cochichou de volta.

“Acho que estamos sendo seguidos.”

Claro que estavam sendo seguidos, mas não por mim. Eu tinha meus olhos no outro homem com um sobretudo marrom, indo em direção a eles, entre eu e o casal. Podia ouvir os pensamentos dele claramente.

Tudo que é bonito morre. . . todas elas morrem. . . cada uma das minhas flores. . .

Podia sentir que ele estava prestes a atacar, um ridículo plano de golpear e deixar o rapaz inconsciente, e em seguida raptar a mulher, pairava em sua mente. Corri e parei na frente dele, bloqueando seu caminho, antes que ele pudesse concluir seu pensamento.

“Essa é uma flor que não morrerá tão cedo, ” sibilei. Ele me encarou, mandíbula fechada. Várias perguntas bombardearam sua mente.”Eu tenho te seguindo há dias, George”, expliquei em um tom entediado.”Honestamente, você tem sido o jogo mais tedioso até hoje.” Então sorri desagradavelmente.”Se eu soubesse que você já tinha matado ‘flores’, eu teria terminado esse jogo muito mais cedo.”

“Eles eram minhas flores.” George resmungou, franzindo a testa.”Minhas lindas flores. . . minhas lindas flores. . .”

“Não”, eu retruquei.”Elas nunca foram suas para que você as tomasse.”

Quebrei seu pescoço, e o suguei. Ele continuou lutando em meus braços. Demorou algum tempo antes que ele parasse de se contorcer. Eventualmente, ele parou. Eles sempre paravam. Até mesmo coisas que não são bonitas morrem. . .

Olhei para minha presa morta. Seu rosto eternamente congelado em uma máscara de horror e dor. Senti a mais estranha sensação me infiltrar. De início, não pude distinguí-la. Em seguida isso me atingiu, quase como um ataque mental. Poderia estar eu sentindo. . . remorso?

Culpa, uma estranha emoção. E uma emoção humana. Como se eu pudesse sentir qualquer obrigação em relação a assassinos e violadores humanos. . . Ainda assim, a culpa estava lá. Talvez era apenas pelo fato dos rostos de Carlisle e Esme continuarem a me perseguir, seus olhos dourados cheios de decepção. Eu ressentia a imagem no início, mas então comecei a pensar. .

Verdade, eu estava sendo arrogante em minha caça aos monstros humanos. Um complexo Deus complexo, se assim o preferir. E vendo os rostos deles apavorados, antes que eu fosse pelo bote, apenas reforçava aquela primeira imagem em minha mente. Um jovem e zangado Deus, vingativo e determinado a buscar justiça. Isso aumentava minha arrogância e retidão. Ainda assim uma pergunta ainda maior estava começando a se fazer mais alta em minha mente.

Seria essa imagem de justiça minha. . . ou do monstro que deixei escapar ?

Eu decidi continuar com minha arrogância e por de lado o remorso. Além do mais, minhas presas era monstros ainda piores do que eu era. Suas vítimas eram selecionadas aleatoriamente e se eram escolhidas de propósito, era apenas devido a uma mente perigosa e psicótica. No entanto, até mesmo a minha presa mais perigosa estava começando a me entendiar. Foi uma conclusão óbvia em minha mente – tudo que eu precisava era um desafio maior, uma aventura maior. Um jogo melhor. Era hora de cruzar o Oceano Atlântico.

¹Criatura pré-histórica; homem das cavernas; selvagem.

2 comentários:

Kah disse...

Legal ele sente remorso depois de quase matar uma cidade enteira qe lindo isso em

Júlia Karolyne disse...

ANSIOSA POR TERMINAR A FIK

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