Verde, Vermelho, Dourado - Capítulo 26: Morango

O tempo que passamos no Alasca foi bastante agradável. Estávamos longe da pressão da máscara de humanos e passando tempo com vampiros que compreendiam perfeitamente o estilo de vida que escolhemos. O tédio do deserto ártico foi logo substituído por uma atmosfera de uma família extendida.

Eu nunca fui muito próximo com Kate e Irina durante esses anos. Eu não tinha maus sentimentos para com elas, mas o meu desconforto nunca diminuíu quando eu estava perto delas. Tanya e eu, por outro lado, muitas vezes íamos a passeios ou viagens de caça, só nós dois. Conversar com ela era fácil, ela se tornou uma espécie de confidente. Minhas suspeitas sobre o clã desapareceram completamente e cheguei a considerá-los da mesma forma que a minha família fazia: velhos amigos.

Numa caçada em particular, Tanya e eu achamos uma matilha de lobos árticos um tanto grande. Foi um grande banquete. Nos sentamos em uma caverna perto, conversando calmamente.

Quantos anos você tinha quando foi transformado?

“Dezessete”, respondi automaticamente.

Ela balançou a cabeça: “Eu tinha dezenove. . . quase há mil anos atrás. ”.

“Hmm”, aquilo não era nenhuma informação nova, então não me surpreendeu realmente.

“Eu era uma escrava e era boa para o meu mestre. ”, ela respondeu. Como fui boa para muitos homens depois que fui transformada.

Eu olhei para ela com curiosidade, pensando se ela queria que eu conhecesse o seu passado. Então, ela abriu a sua mente. Vi homens de todos os cantos da vida serem amados por ela. Ela os seduziu, os trouxe de bom grado para a sua cama. E matou cada um deles.

“Você gostava de brincar com a sua comida?”, provoquei.

Ela olhou para baixo para suas mãos.”Essa era a maneira como nós caçávamos. Nós amávamos os homens e de boa vontade eles morriam pelo amor que nós dávamos a eles. Mas, como minhas irmãs, eu comecei a desenvolver simpatia para com a minha presa e não podia continuar.”

“Bem, isso eu realmente entendo.” Embora eu não aprovasse a sua forma anterior de caça, eu entendia simpatia.

Sério? Como você pode entender?

Dei de ombros casualmente. “Eu fiquei por aí sozinho por algum tempo. ”

“Você matou inocentes?”, sua voz aumentou uma oitava.

Balancei a cabeça.”Me tornei um assassino de outros assassinos menores. Eu acreditava que se eu matasse homens que tivessem matado, ou que estavam prestes a matar, meus atos seriam justificados.”

“E eles foram?” O que o levou a voltar para Carlisle?

Eu me endureci, não disposto a discutir detalhes, mesmo com Tanya.”Pelas mesmas razões porque você parou, eu imagino. A tomada da vida humana se tornou demais.”

Ela deslizou para mais perto uma fração de uma polegada.”Você não respondeu à minha primeira pergunta. Os seus atos foram justificados?”

“Não”, sussurrei, em seguida suspirei.”Sempre, em retrospecto, não é?”

“Sim, a verdade muitas vezes não pode ser revelada . . . até que seja tarde demais”, ela sorriu.

Era bom ser bem entendido assim por outro vampiro. Pelo menos eu pensei que era entendido.

Então o ano de 1945 foi se desenrolando e a guerra dos humanos tinha terminado. Era hora de voltar à nossa fachada humana. Me peguei ansioso pela oportunidade de provar ao meu pai que eu poderia ser melhor do que aquilo que eu tinha sido. Tanya me ajudou a colocar meus pertences nas malas em meu quarto, na noite antes de partirmos, e eu expliquei meus planos para ela.

“Eu posso nunca ser capaz de lidar com o sangue como Carlisle consegue, ” eu disse, “mas eu gostaria de tentar. Estou pensando em voltar para faculdade de medicina”.

“Essa é uma ambição fantástica”, disse ela com ligeira admiração.”Eu nunca vou entender como Carlisle consegue fazer isso.”

“Sim, o autocontrole dele é fenomenal”, eu disse calmamente.

“Oh, não se preocupe”, ela riu, dando um tapinha no meu ombro.”Eu tenho certeza de que você terá a oportunidade de provar a si mesmo. Você irá se sair brilhantemente bem, eu tenho certeza.”

“Obrigado, Tanya, só posso ter esperança.”

“Você pode fazer melhor do que ter esperança, Edward, eu sei que você pode.” Ela deslizou para mais perto, passando um braço em torno de minha cintura.

“Eu aprecio o seu entusiasmo.”, franzi enquanto tentei me desvencilhar. Fiquei pensando sobre a súbita afeição. Ela nunca se atreveu a ser tão atirada antes. Ela não me soltava.

“Edward, você não acha que é hora de nos tornarmos mais próximos?”

Virei minha cara amarrada para ela.”Eu não entendo o que você está dizendo, Tanya.”

“Oh, vamos lá, ” ela suspirou ofendida.”Passamos quatro anos juntos. Tenho sido muito paciente com você. ”

Eu pisquei.”Você quer dizer, todo este tempo, a sua amizade era apenas uma farsa?”

Ela fez um pequeno ruído de dor e se sentou no chão.”Eu nunca tentei te seduzir”, disse ela tristemente, “ou te levar para a cama. Eu estava apenas tentando te conhecer, me abrir para você. Eu tinha esperanças. . . de que um dia . . . você faria o mesmo por mim.”

Eu me agachei e peguei suas mãos nas minhas.”Tanya, eu não quero uma companheira, eu tenho sido muito honesto com você sobre esse assunto.”

“Não sou linda o suficiente?”, ela perguntou com tristeza.

“Claro que você é, ” eu disse sinceramente. “Tal como uma pintura ou um pôr do sol . . . . . . ou uma irmã . . . ”

“Você não me ama”, ela disse suavemente e eu poderia quase sentir o gosto da dor nas suas palavras.

Ambos sabíamos que ela não estava se referindo ao tipo de amor que se sente por um membro da família. Eu soltei suas mãos, me sentei novamente e fechei meus olhos.”Sinto muito, mas eu não te amo.”

“A mim?”, ela sussurrou.”Ou será que você não consegue amar a si mesmo?”

Eu não respondi e mantive os olhos fechados. Senti uma brisa e rapidamente abri meus olhos. A última coisa que eu vi foi uma madeixa de cabelos loiros avermelhados desaparecendo.

Na manhã seguinte, nosso último dia no Alasca, fui cumprimentado por Carlisle. Em suas mãos estava uma folha de papel dobrado. Ela me deu isso lá fora um momento atrás, ele pensou para mim, Ela queria que você tivesse isso. Eu balancei a cabeça e peguei o papel de suas mãos. Ele sorriu com simpatia e depois saiu para ajudar a família a carregar o caminhão.

Abri o papel cuidadosamente e vi a letra firme de Tanya.

Bem, te perdi; e te perdi justamente;

Da minha própria maneira, e com meu pleno consentir.

Diga o que quiseres, reis condenados raramente

Foram para suas mortes mais orgulhosos do que este esteve a ir.

Algumas noites de apreensão e quente chorar

Confessarei, mas isso é permitido a mim;

O dia secou os meus olhos, não fui feita para ser aprisionada

Enfurnada em uma gaiola, uma asa que seria livre.

Se te amado menos tivesse, ou enganado-te furtivamente

Por um verão a mais poderia ter te prendido,

Mas ao custo de palavras que me são muitos queridas,

E nenhum verão tal como o antes vivido.

Se eu sobreviver a esta angústia – e os homens sobrevivem-

Terei apenas o bem para falar de você.

Seja livre, Edward.

Tanya

Entendi, então, o que ela estava fazendo por mim. Não havia nenhuma dúvida em minha mente de que eu a havia feito se sentir completamente rejeitada, mas ainda assim, ela me deu o melhor presente que ela poderia me dar. Ela estava me deixando ir.

**Nota da autora:

O poema utilizado é “Bem, eu te perdi” de Edna St. Vincent Millay, 1931.

2 comentários:

Kah disse...

Edward é amado por milhares aê em?

Convidada disse...

Bem colocada época

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