[Renesmee]
– Presos em Paris? Magnifique!
Não pude deixar de concordar com Agnes, era maravilhoso. Percebi que meu francês estava ficando bom: eu já compreendia algumas palavras.
– Mas não será por muito tempo, iremos em breve para Lyon – assegurou Stuart.
Arthur tocou meu ombro.
– Vamos dar uma volta lá fora?
– É claro.
Nos levantamos do sofá tentando não chamar muita atenção dos adultos, que estavam absortos em sua conversa estrangeira.
Dávamos passos leves pelo hall de entrada. Ninguém percebera nossa saída.
Arthur tocou a maçaneta oxidada da porta principal e parou para me avaliar.
Sorrimos um para o outro.
– Ouais! – ao ver minha expressão confusa, traduziu rindo marotamente – Oh Yeah!
– Oh Yeah!
Ele abriu a porta para mim e passei para o lado de fora, sentindo o ar gelado e o orvalho congelado na grama.
– Há muitas histórias interessantes de nossa família para eu compartilhar – Arthur fechou a porta delicadamente, mas um vento inesperado nos atingiu e fez a porta ranger alto.
Seu rosto se contorceu em um esgar.
– ARTHUR! NADA DE LEVAR RENESMEE PARA A CIDADE, GAROTO!
Ele suspirou e revirou os olhos.
– D'accord Maman.
– ESTÁ FRIO! LEVEM CASACOS E PULÔVERES E MOLETONS...
– Não sentimos frio, Maman!
Fez-se um silêncio constrangido.
– Pardon, cher. Eu sempre me esqueço. Mas...
– Ficaremos bem, au revoir!
E segurou minha mão para corrermos e evitar mais uma ordem exagerada de Dominique.
Sabia que era “corujisse” dela, mas se eu refletisse sobre a reação de minha família, acho que seria
igual... ou pior, considerando os dons de Tia Alice.
– Então... você disse que tinha histórias de família para contar?
– Ah, sim. Acredito que você goste de biografias bem antigas, não é?
– Sou rodeada por exemplos delas todos os dias.
– Okay, então. Por volta do século V ou VI, existia no extremo norte da França uma antiga família de costumes
bem tradicionais que tinha muita influência no vilarejo
onde viviam. Você sabe, provavelmente, que a França teve alguns confrontos com o Reino Unido...
– Não só a França, acho que quase o mundo inteiro.
– Sim, a Inglaterra se envolveu em várias guerras. E
nesse tempo, conta-se que havia um grande rei que ficou muito famoso... – ele sorriu enigmático e esperou
que eu completasse a frase.
A ficha caiu.
– Rei Arthur?
– O próprio – confirmou com ar de riso, enquanto nos conduzíamos a um pequeno monte coberto
por plantas rasteiras. – Você também deve saber que
havia seus cavalheiros.
– Os da távola redonda...?
– Sim. Eles acompanhavam-no em suas batalhas e excursões. Uma delas atravessou o Canal da Mancha
durante semanas, devido à falta de tecnologia. Mas
chegaram enfim ao território francês, embora não soubessem disso.
Ouvi atentamente, apesar de não fazer ideia de aonde ele queria chegar.
– A família que mencionei há pouco teve sua
cidade invadida por eles. Logo formaram um pequeno grupo de moradores para combatê-los e afugentá-los. Só que... – sua face se contorceu como se pensasse
em algo bem distante – a filha primogênita da prole se encantou com um dos cavalheiros, e vice-versa. Considerando que ele era inglês e inimigo, você deve imaginar
a reação de seus pais.
– Oh – deixei escapar.
– Todos foram contra a união dos dois, exceto a caçula. Quando a situação no vilarejo ficou muito tensa e
perigosa, o cavalheiro e a moça fugiram de volta para a Inglaterra, levando a irmã querida
consigo. Foram recebidos de braços abertos pela corte real
por causa do sucesso na viagem tão temida, e logo s
e casaram, tendo um único filho, que ficava sob os cuidados da amorosa tia.
Ele fez uma pausa, e suspirando pesadamente prosseguiu:
– Uns vinte e poucos anos depois, uma série
de mortes ocorreu no reino, e logo quase todas as famílias tinham pelo menos um morto para velar. No entanto, as irmãs, o cavalheiro e seu filho, já
adulto, estavam intactos. Correu pela cidade o boato de que
o rapaz era mágico, que tinha algum tipo de sorte armazenada em si mesmo.
Uma de suas sobrancelhas se ergueu de modo irônico.
– O que foi excepcionalmente desmentido quando ele
e sua querida tia simplesmente sumiram do mapa, sem deixarem vestígios.
Nesse momento, deduzi o que ocorrera:
– O causador das mortes era um vampiro?
Ele assentiu.
– Mas eles não morreram. Foram transformados. Por algum motivo, o vampiro conhecia a
fama do rapaz de ser sortudo, e quis saber se
ela cresceria ao torná-lo imortal. Não deu tempo de
conferir: O rapaz se descontrolou e o atacou pelas costas na primeira oportunidade, e por acidente acabou mordendo a própria tia. Ele cuidou dela durante o
período doloroso, e os dois se transferiram para a França.
Fez uma pausa bastante longa, e só então percebi
que estávamos no topo de um pequeno monte
que tinha uma vista espetacular da distante Paris.
– Séculos depois, os dois conheceram aquele clã italiano, em uma de suas visitas
à Paris. Não foi a mais agradável que alguém poderia receber, mas eles conheceram
meu pai. Stuart – acrescentou ao ver-me assustada.
Com choque, percebi que ele falava do clã Volturi.
– Seu pai pertenceu ao...
– Não – ele se apressou a dizer, tocando distraidamente
uma planta morta no chão, observando-a ficar instantaneamente verde e ereta – Ele os acompanhou por ter sido recentemente transformado. Papai foi uma
vítima sobrevivente, sabe? Então os dois o receberam nesta casa apresentando para ele, logo após a
saída dos Volturi, os costumes fixos e os hábitos alimentares que preferiam os animais, embora eles mesmos
preferissem o sangue humano.
Arregalei os olhos.
– Esta casa? – apontei para Mansão dos Colberts.
Ele gargalhou.
– O rapaz é Henri e ele é realmente muito sortudo: você nunca o verá perder uma aposta
sequer. E sua tia é Agnes – esclareceu com simplicidade.
Sorri encantada com a história.
– Sua madrinha conheceu o Rei Arthur!
O orgulho invadiu seu sorriso deslumbrante.
– Por isso me chamo Arthur.
Quando a tarde já chegava ao fim, descemos a colina de volta para a casa.
Foi quando senti que não estávamos sozinhos.
1 comentários:
Oh My God!! Os Volturi vão sequestrar eles!=0
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