A névoa estava tornando impossível que o sol se juntasse á nós naquele verde lívido da clareira. Eu tive a leve impressão de que o clima daquele lugar refletia o que estava dentro de mim – e talvez dentro de todos –: a fúria, a tensão e a obscuridade. Dez anos haviam se passado e ainda assim aquela cena parecia exatamente como os meus piores pesadelos durante a vida humana… Só que muito mais sombrios.
Eu estava seguramente posicionada ao lado de Edward – estive com os meus pensamentos concentrados nele na tentativa de me acalmar um pouco –, e Nessie se encolhia nas minhas costas com a mão firmemente presa na minha enquanto todo o assombro daquele lugar a assustava. O fiel lobo ao meu lado estava constantemente com o olhar preso na minha filha – ainda que muito concentrado no ambiente ao seu redor –, certamente preocupado com ela… Assim como eu estava. Durante todos os dias passados eu estive sofrendo com o enorme peso que mais uma vez era colocado em sua inocência infantil… Eu queria uma vida saudável á ela e não esse caos.
Carlisle e Esme estavam ao meu lado – as expressões anguladas tensamente e uma pontada de pânico no rosto coração de Esme –, assim como Alice e Jasper. Rose e Emmett estavam logo atrás na companhia do clã de Siobhan e Tanya – um lobo cor de areia em tamanho grosseiro perto de Emmett o deixava ainda mais assustador. Eu conseguia ouvir as respirações pesadas do bando em alguns lugares espalhados pela campina atrás de nós e me vi preocupada pelo futuro incerto deles. Uma safira com os olhos oceano havia prometido que os protegeria. Porém, os riscos existiam.
Eu sabia que dessa vez seria muito mais perigoso, mas eu me sentia preparada e… Layla estava conosco. Layla ficaria ao nosso lado que é onde ela pertence. Suaves risadas ecoaram levemente divertidas nos meus pensamentos e sorri ao ver que ela tinha ouvido isso. Dessa vez não me incomodou que ela estivesse tão atenta á minha mente – eu queria que ela ouvisse.Sempre estarei com vocês, Bella… Obrigada!
Layla estava deslumbrantemente estática. O seu corpo de seda estava parado alguns passos na nossa frente olhando o norte da campina onde logo seria cenário á entrada dos Volturi. As suas roupas rasgadas nunca estiveram tão adequadas á uma situação como dessa vez – combinando perfeitamente com a fúria que parecia exalar dos seus músculos tensionados –, Layla ainda assim continuava perturbadoramente em eterna graciosidade. Eu estava me perguntando qual deveria ser a sua expressão – talvez sombria ou excitada – quando a ouvi soltar um desnecessário suspiro.
O meu corpo se arrepiou involuntariamente e eu senti meus músculos ficarem ainda mais enrijecidos – ansiosos pela tão esperada batalha. Eu olhei para a floresta á nossa frente deliberadamente enquanto percebia que minha família também havia entendido a reação de Layla… Alguns grossos e uníssonos rosnados arranharam nos meus ouvidos que eu facilmente reconheci como sendo dos lobos e eu me controlei com muito esforço para não segui-los – eu temia que o som refletisse a raiva em mim de uma forma que assustasse Renesmee. Os últimos segundos passaram lentos.
Dez anos depois… Aquele momento havia finalmente chegado.
Eles apareceram esplendidamente enquanto corriam em perfeita sincronia no verde da campina cobertos pelas mantas intensamente pretas – tão escuras de uma maneira que refletia o tom daquele encontro. Não houve um som que denunciasse a leveza dos passos e nem algum cheiro diferente que revelasse a aproximação – notei que eles certamente deveriam estar utilizando o mesmo bloqueio que Layla também exerceu em nós – se não fosse por ela, jamais teríamos percebido-os na clareira.
O avanço deles era deliberado – sem ansiedade e nem tensão – apenas com o ar de inquestionável vitória. A espessa névoa branca rapidamente deslizando com a velocidade deles fazia daquela cena ainda mais assombrosa. Eu reconheci facilmente as três figuras encapuzadas que se aproximavam ao centro – o coração dos Volturi – mas a minha atenção estava nos quarenta e dois vampiros tensos logo atrás. Alguns eram certamente muito familiares – o sorriso branco de Felix mesmo que sob o tom escuro do manto se esticou maliciosamente ao encontrar com o meu olhar distante – mas, eram os que eu não conhecia que me intrigava. Eu sabia que ela estava lá.
Meus olhos famintos procuraram rapidamente entre eles, mas não havia nada diferente – a cena era exatamente como da última vez com exceção apenas de Layla e um pássaro teimoso que havia pousado no meio da campina com o cantar doce e muito inconveniente. Não saber onde Scarlet estava se tornou insuportável para os meus instintos e a fúria no meu peito se tornou um profundo ódio – de tal forma que eu seria capaz de dançar na fogueira em que mais tarde ela estaria queimando.
Os Volturi pararam graciosamente alguns distantes metros de minha família – eu não saberia dizer se pelos rosnados dos lobos, mais grossos e intensos, ou se pela presença de Layla, de quem eles não desgrudavam os olhares cheios de ódio e ainda assim deslumbrados; talvez nenhum dos dois –, mas então eu procurei por ela mais uma vez… E nada. Parecia impossível que Scarlet não tivesse vindo e algo dentro de mim dizia que ela estava entre nós, mas comecei a seriamente acreditar nisso ao não encontrá-la em lugar algum. Procure melhor, Bella… Ela está conosco!A voz de Layla queimou tensa as palavras inúteis. Era pior saber que ela estava ali e não vê-la.
O pássaro no meio da campina levantou vôo chamando rapidamente a minha atenção. As suas asas acinzentadas e escuras que ainda assim pareciam com algodão me lembraram vagamente do pêlo sedoso de Layla em sua forma Anika – o pequeno gatinho branco – e então minha mente estalou… Algo em que eu não havia pensado antes. Layla estava certa: Gabriela estava conosco. Mais safira do que vampira.
Eu não sabia dizer se mais algum havia percebido o mesmo que eu – embora a atitude do pássaro estivesse claramente implícita – e também não podia me permitir desgrudar os olhos viciados por aquela forma, mas eu deixei que o escudo recuasse só um pouco na minha mente, apenas o suficiente para que Edward me ouvisse. Ele é Gabriela, o pássaro… Ela está na sua forma Scarlet.Meus pensamentos não estavam com a voz tão composta quando eu gostaria e a mão de Edward apertou a minha de forma realmente reconfortante – me indicando que ele também estava ciente.
Era simplesmente maravilhosa a elegância com que aquele pássaro voava em direção ao mestre dos Volturi e – a despeito de quem era – não pude conter a onda de admiração pela sua graciosidade que percorreu o meu corpo. Aro estendeu o seu braço direito ligeiramente apenas para que ela pousasse perto do seu olhar ardente fazendo um contraste ainda mais assustador para aquele momento. Scarlet tinha os olhos profundamente acinzentados – mais fortes que o tom de seus pêlos sedosos – nos encarando de forma muito intensa. Ela está com sede… Layla havia avisado.
- Calem-se! – o rosto de Layla voltou-se só um pouco para nós com a voz dura como exigia uma ordem e então os rosnados grosseiros se calaram inquestionáveis.
Durante longos minutos não havia som na clareira que não fosse o coração de pássaro da minha filha e os corações pesados dos lobos, bem como suas respirações exaltadas. O silêncio era extremamente desconfortante e a fúria no meu peito estava descontroladamente crescendo – saber que os Volturi estavam aqui apenas para nos destruir me enlouquecia. Eu não sabia o que estávamos esperando – esperar parados enquanto muita coisa estava sendo colocada em risco era ridículo para mim – mas eu não ousei sequer um movimento. O rosto de Renesmee afundado nas minhas costas, assustado, foi o que me despertou do ódio – protegê-la era o mais importante.
O vermelho queimando em alguns olhares intensos á nossa frente – tão fortes que eram perceptíveis apesar da distância e da escuridão sob o manto preto – estava divertido com o assombro que certamente estava no rosto de minha família. Em um movimento extremamente cauteloso Aro se aproximou de nós alguns passos – o seu caminhar tão suave quanto eu me lembrava – e o pássaro apoiado no seu braço soou um fraco piado. Eu controlei o enorme desejo que me assolou de sair correndo dali e voltei com o meu olhar para Layla. A confiança que eu tinha nela me acalmava.
- É um prazer imenso finalmente conhecê-la, Layla… – a voz de Aro continuava impecavelmente com o mesmo tom educado apesar das circunstâncias. Eu nunca fui uma pessoa que gostasse de violência, mas me perguntei onde ficaria a sua educação quando eu estivesse arrancando a jugular dele. – Há oitenta anos que eu espero esse encontro… A verdadeira descendente da linhagem Anika… – na voz de Aro havia certa reverência e admiração que quebraram o raciocínio maléfico me despertando. – Eu me sinto muito lisonjeado com sua presença... Uma pena ter que acabar dessa forma…
Eu fiquei profundamente irritada com a maneira que ele se dirigiu á Layla. Seu tom de escárnio trouxe de volta – com uma potência tremenda – o desejo de acabar logo com tudo isso. Eu controlei o rosnado no meu peito sabendo que não ajudaria e então a clareira estava em profundo silêncio novamente. Layla não respondeu á ele.
- Você realmente é tão bela como dizem as lendas sobre Anika… Você se parece muito com a sua mãe… Fernilia foi a última da linhagem que eu exterminei! Belíssima!
A maneira possessiva e certamente deslumbrada com que Aro olhava para ela teria me deixado incomodada se eu não tivesse ficado confusa com seu comentário. Seguindo a ordem, eu venho depois da existência da linhagem Fernilia, então há alguns documentos que retratam abstratamente esse laço de familiaridade para identificar os tipos de safiras e as características evolutivas. Se eu sou filha de Fernilia, então…
Você é a mãe de Scarlet… Meus pensamentos foram capazes de completar a explicação de Layla.
Exatamente! Mesmo sem nenhuma ligação hereditária, Aro espera que isso seja o suficiente para me impedir… Ele sabe que Scarlet é pior que eu se precisar persuadir.
Algum motivo para eu me preocupar?
Bom, digamos que eu sou tão ruim quanto…
Eu não pude deixar de sorrir com isso. A voz de Layla era surpreendentemente calma a despeito da tensão que enegrecia o clima da clareira – eu não sabia dizer se ela havia feito isso de propósito justamente para me tranqüilizar ou se ela estava tão conectada com a minha mente que foi indispensável responder a minha curiosidade – mas eu estava agradecida por isso. A confortável segurança me dominou de novo.
- É bom revê-lo também, velho amigo… – o olhar em chamas de Aro dirigiu-se até Carlisle. – Ao que parece nos encontramos apenas entre conflitos, infelizmente!
Novamente não houve resposta. Eu senti Carlisle apenas suspirar profundo ao meu lado e Layla visivelmente trocou o peso de sua perna demonstrando incômodo. Os meus pensamentos estiveram tão focalizados no pássaro acinzentado no braço de Aro que eu não havia reparado nas duas figuras pequenas entre a guarda dos Volturi – os gêmeos do clã, como Vladimir os teria chamado: Jane e Alec – que agora sorriam maliciosamente satisfeitos para nós. Eu podia até imaginar o tanto que eles estavam felizes com aquele reencontro – certamente foram os que menos ficaram satisfeitos com o antigo resultado… Meus músculos dobraram enquanto veneno subia á minha boca desejando ardentemente poder acabar com a ironia nos rostos indolentes.
Com o silêncio desconfortável Aro recuou graciosamente até onde Caius – sua expressão mergulhada em contentamento – e Marcus – com um rosto mais vivo que de costume e ainda assim entediado –, o aguardavam. Eu também não havia notado Renata fielmente em seu encalço até que ela se moveu para acompanhá-lo de volta e então também havia o pássaro em absoluta imobilidade no seu ombro olhando para nós intensamente. Os dedos longos e ainda elegantes de Aro alcançaram a mão dos outros dois deliberadamente – apenas um toque simples – e então eu me lembrei do significado. Eles estavam conversando… E ainda olhando profundamente para nós.
Antes que eu pudesse me preocupar sobre o que eles estariam debatendo, os meus olhos novamente se viram intrigados em Scarlet de forma que os pensamentos não estavam coerentes na minha mente. O pássaro aparentemente sedoso levantou vôo em plena naturalidade fazendo a névoa deslocar-se em seu caminho aos céus, e então com certa graça ele pousou delicadamente no verde lívido da clareira. Eu tive tempo apenas de ouvir um profundo suspiro de Layla antes daquela forma pequena se aumentar no corpo delineado de Gabriela e então, eu senti a enorme necessidade de piscar… Eu queria piscar. Eu estava certa de que aquilo deveria ser um sonho.
Gabriela era simplesmente estonteante – uma beleza tão perturbadora que eu me perguntei se minha mente estava imaginando aquela ilusão. Assim como Layla era o equilíbrio perfeito entre seda e porcelana, ela era a mistura mais agradável de cristais e neve – sua pele tinha esse brilho acentuado que a deixava com a aparência extremamente delicada e gentil. Carlisle estava certo quando descreveu as safiras… “Elas eram conhecidas como mulheres de beleza traiçoeira porque eram extremamente lindas e por isso elas receberam o nome de safira: únicas e belas…” – ele havia dito. Eu não podia duvidar disso agora, quando as duas linhagens – Anika e Scarlet – estavam conosco para comprovar. E então também havia aqueles olhos cinza… Famintos.
As suas roupas totalmente brancas eram desapropriadas para a situação – ela parecia mais com um anjo do que com a safiramais perigosa das espécies – o que lhe conferia um aspecto quase celestial. Foi justamente essa delicadeza que exalava dela que me deixou ainda mais intimidada e eu não controlei o grosseiro rosnado que há muito queria sair do meu peito. O silêncio ao meu redor rapidamente ganhou outros sons – certamente demonstrando a fúria que estava dentro de todos nós – mas Layla e Gabriela continuavam a se encarar caladas de maneira profundamente íntima.
Depois de quase cem anos, elas finalmente se encontraram. As últimas safiras que poderiam existir e as mais perigosas. Únicas de uma lenda de quase mil anos.
- Acredito que este seja um encontro muito importante para vocês… – eu estive tão imersa em pensamentos que não havia percebido que Aro estava poucos passos á frente novamente. Apenas um pouco atrás de Gabriela e na companhia de Renata. – Um momento importante para a nossa história também… A mesma espécie, mas tão diferentes… Há muito que aprenderem uma com a outra, muito para conversarem!
- Eu não tenho nada a conversar com ela! – Layla falou pela primeira desde que estávamos na clareira; seu tom era duro e severo com uma inquestionável liderança.
- Entendo… – a educação era impecavelmente compreensiva na voz de Aro. – Mas acredito que você gostaria de ouvir o que Scarlet tem para dizer, Layla… Histórias que você tem procurado durante todo esse tempo… Histórias sobre a sua linhagem!
- Eu esperei mais de cem anos para saber a verdade, posso esperar mais alguns!
- Nós dois sabemos que isso não será possível, Layla… – a sua resposta doce era desconfortável para a minha mente e arranhou dolorosamente. O rosnado no fundo do meu peito se intensificou conforme eu tentava controlar o desejo louco de atacá-lo e eu senti Edward ao meu lado suspirar profundamente com os músculos rígidos.
Gabriela soltou um baixo som de desdém e os meus olhos rapidamente foram em sua direção. A maneira muito intensa – quase possessiva – com que ela encarava Layla me deixava muito desconfortável e então eu compreendi o que ela queria com a sua avaliação tão severa… Ela estava subestimando as capacidades de sua inimiga.
- Eu gostaria de não ter que acabar com você, mamãe… – era a primeira vez que a voz de Gabriela ganhava tom depois de sua imobilidade total em profundo silêncio. Apesar do som ser extremamente intrigante – carinhoso e até infantil como seria a voz de uma criança –, havia sido sua escolha de palavras o que me perturbou.
- Não me chame assim, eu não tenho nada relacionado á você! – a rispidez com que Layla havia respondido á ela me agradou, mas estava claro que Gabriela ainda não iria desistir. O sorriso malicioso em seus lábios pequenos parecia convidar minha fúria.
- Nós pertencemos á mesma família, mamãe… – Gabriela estava provocando-a com a voz em visível falsidade. – Deveríamos estar unidas, somos superiores á eles, as únicas safiras no mundo… Pense nas coisas grandiosas que poderíamos fazer juntas!
- Continue falando assim e a única safira que irá sobrar é Layla… – eu olhei para o rosto divertido de Emmett em profunda incredulidade. Nada nunca o incomodava, mas eu acho que ele não parecia realmente consciente dos perigos que já corríamos sem o seu comentário desnecessário. Eu queria despedaçar o pescoço dele por isso.
- Há tantas coisas que eu gostaria de lhe contar… – ela ignorou o comentário. – Caius tem uma coleção muito interessante de documentos sobre as safiras e ele não se incomodaria de nos emprestar. Poderíamos ficar juntas, como uma verdadeira família! – a voz de Gabriela ainda era insuportavelmente carinhosa e eu percebi a reverência que tingiu a sua voz quando ela falou o nome de Caius. Seu jeito infantil – apesar dos eternos vinte e dois anos que aparentava –, deixavam-na ainda mais assustadora.
- Família… Como se você conhecesse o significado de família, não é mesmo?!
Olhei furiosamente na direção de Emmett, mas antes que eu tivesse tempo de ficar irritada com a sua ousadia teimosa um estrondoso e uniforme barulho fez uma corrente elétrica percorrer o meu corpo. Eu voltei com o meu olhar para os quarenta e dois vampiros atrás de Gabriela que nos encaravam devidamente encurvados para um ataque enquanto os rosnados violentos de seus peitos dominavam a clareira.
Então era isso… Estava na hora. Meu corpo estava instintivamente carregado com a tensão daquele momento e eu desejava acabar logo com isso. Eu me curvei na mesma posição de ataque que a guarda dos Volturi nos aguardava e levei o braço de Renesmee que estava na minha cintura até o ombro para que a ajudasse subir. Nada era mais importante do que proteger minha filha daquele futuro – eu seria capaz de lidar com o resto – e então, Edward astutamente se posicionou alguns passos mais á frente enquanto sua mão apertava a minha. Ele estava comigo… Sempre estaria.
Os meus pensamentos apressados conseguiram focalizar novamente quando o rosto de Gabriela voltou-se para encarar Felix com uma intensidade obscura. Após um breve segundo então, ela voltou-se com o olhar em nossa direção e o sorriso que antes era malicioso agora estava faminto – ela nunca esteve tão assustadora quanto agora. A despeito do que estava prestes á acontecer era impossível não notar como o seu corpo foi gracioso quando ela avançou um passo mais na nossa direção e como a sua pele branca – delicada como cristais e neve – continuava ainda espetacular.
A mão de Gabriela abriu-se muito deliberadamente e então meus olhos foram ofuscados durante um breve segundo pela claridade que saída de seus dedos. Apesar da aparência inofensiva de uma bola de luz, eu sabia que aquilo deveria ser tão pior quando eu imaginava – os músculos nas costas de Layla se tencionaram de tal forma que pareciam confirmar meus pensamentos – e então o meu rosnado se intensificou. Aquela imagem intrigante de Gabriela a deixou ainda mais parecida com a safira que era… Naquele momento havia apenas Scarlet. A última da espécie e a mais perigosa.
- Eu não sei o quanto Layla disse á vocês, mas… – um pequeno sorriso formou-se nos lábios maliciosos dela enquanto dirigia a palavra á nos pela primeira vez. – Eu espero que vocês estejam cientes do que acontece com Layla, se ela me derrotar… Seu destino está atrelado ao meu, por mais que ela negue isso… Não há como escapar!
- Nada irá acontecer com ela! – para minha grande surpresa, foi Edward quem respondeu plenamente convicto e feroz. O rosto de Layla virou-se apenas um pouco – sem realmente nos ver – apenas indicando a surpresa pelas palavras inesperadas. E Scarlet não se importou de respondê-lo; os lábios calados pareciam tão confiantes… O meu corpo estalou como se um líquido em chamas estivesse percorrendo dentro.
- As propostas em que está pensando não me interessam, você sabe bem disso, Anika… – era a primeira que Gabriela se referiu á Layla por aquele nome e um vago – muito distante – tom de diversão em sua voz o deixou ainda mais assombroso. – Não seja tola, eu amo a minha família… Não os machuco como você fez, e fará novamente!
- Escolha suas palavras com cuidado, Gabriela… Com certeza não são as últimas que você quer deixar para trás! – a ameaça persuasiva de Layla me perturbou. Era de uma potência tão forte que eu sentia que podia realmente agarrar a raiva nela.
- É verdadeiramente uma pena que tenha que acabar assim… Eu adoraria ter te conhecido melhor, mamãe, tantas coisas, tantos segredos desvendados… E você não terá a chance nem ao menos de saber quem você realmente é. O que você pode fazer.
Eu já havia entendido a jogada de Scarlet… Certamente fora bem instruída por seus mestres. Ela oscilava entre o poder persuasivo que a palavra mamãe exerce em qualquer ser vivo com sentimentos e, o poder áspero e doloroso que as lembranças tristes de Layla exerciam nela. De uma forma ou de outra, Scarlet queria machucá-la.
- Você sabe o que nos diferencia, Gabriela, apesar de tudo isso?!… – o que Layla teria a dizer á seguir me despertou. Pela primeira vez em tanto tempo, o seu tom era mais suave e terno – como se a mensagem que ela tinha a dizer não fosse realmente á safira de olhos cinza que ela encarava intensamente. Mas talvez outra pessoa. – Eu sei quem eu sou, agora, finalmente… Eu procurei alguma resposta durante tantos anos da minha vida, em todos os lugares do mundo, e sem nunca encontrar nada. Achei que os livros me trariam elas, que eles poderiam dizer o que eu sou, quem eu sou… E talvez me orientassem, diriam onde era o meu lugar… Mas não foi bem assim. Eu continuei sozinha, vazia como sempre e frustrada por não conseguir nada além de mais dor. – As palavras de Layla despertaram a dor excruciante no meu peito. –Quando eu voltei… Para casa… Foi como se eu encontrasse todas as respostas que estive procurando todo esse tempo. Eu soube imediatamente quem eu era, o que eu era e onde eu pertencia… Percebi que tinha ido tão longe, sendo que tudo que eu realmente queria saber estava tão perto… Exatamente o único lugar na Terra que me fazia tanta falta… O meu lar! – eu senti o fraco suspiro entre suas ultimas palavras. Ela parecia reconfortada e acho que realmente deveria ser assim, o desabafo depois de tanto tempo em silêncio. – A diferença entre nós é essa… Apesar de todos te dizerem quem você é, eu sei que isso nunca preencherá o vazio que existe aí dentro! Você nunca realmente será capaz de se sentir parte de alguma coisa, por isso duvido que possa me dar mais respostas do que as que tenho agora… Eu tenho algo que você nunca teve e nunca terá… Uma família!
A partir daquele momento eu soube exatamente para quem eram as palavras doces e plenas de Layla – não pra uma safirafuriosa que a encarava agora. Mas para Carlisle ao meu lado, cuja expressão se contorcia em choro sem lágrimas; para Esme, que distraidamente havia pousado a mão esquerda sobre o peito, onde dormia o seu coração; para Emmett, que aproximava o corpo de Rose ao seu tentando consolá-la apesar do sorriso apagado; para Jasper, que olhava preocupadamente para sua Alice sem o brilho que sempre a tocava; para Edward, que apertava as minhas mãos forte como se precisasse de apoio mais do que ninguém aqui e, talvez para mim… Onde a dor cortava qualquer outro sentido do meu corpo, ela era tudo o que eu podia sentir naquele momento. Layla nos reconfortar com suas palavras. Nos deixou conhecê-la.
- Todos nós merecemos a chance da escolha… E você acabou de fazer a sua! – a voz dela então estava intensamente áspera e a mesma delicada claridade que surgiu em Gabriela, ganhou vida em suas mãos – com um tom ainda mais vívido e forte.
Felix avançou deliberadamente alguns passos para fora da guarda dos Volturi com a intenção, bem sucedida, de chamar a minha atenção – se fosse um ataque ele certamente teria sido mais veloz – e então, com aquele memorável sorriso malicioso ele encarou ligeiramente a safira de olhos profundamente cinzas antes de se virar á mim… O fogo que queimava em sua íris vermelha serviu de combustível para a fúria dentro do meu peito e eu percebi que havia algo mais implícito naquela atitude.
Você confia em mim? A voz de Layla soou intensa nos meus pensamentos.
Sim… Eu respondi com certa cautela – apenas pela escolha de suas palavras – pois eu realmente confiava nela.
Você precisa ir atrás de Felix… É o que ele quer, e Edward estará com vocês então não há motivo para se preocupar, logo ele não passará de mais de uma vaga memória dos Volturi… Aquilo era como música para os meus ouvidos. Mas, Renesmee deverá ficar comigo, Bella. É ela que eles querem, mas eu irei protegê-la.
Eu queria muito qualquer motivo para argumentar contra o pedido de Layla – por mais que eu soubesse que ela estava certa e que Nessie estaria mais segura com ela do que com qualquer outra pessoa – era extremamente doloroso apenas pensar que eu ficaria distante de minha filha. Era como se ela não estivesse protegida se não ficasse entre meus braços. Por favor, Bella… Eu entendo a sua preocupação, mas você precisa ter um pouco mais de esperança em mim. Renesmee será protegida e se quiser Rose e Emmett podem ficar com ela… Mas, vocês devem partir. Alice e Jasper também, assim como Zafrina e os Denali. Confie em mim… Não podemos perder mais tempo.
Eu tenho esperança em você Layla… Você está aqui e isso é o que me conforta, mas não me peça para ficar longe de minha filha, eu não agüentaria isso. Deve haver outra maneira…
Não há, Bella, eu tentei… A voz de Layla mergulhou em uma intensa dor nos meus pensamentos e então eu percebi o que ela ainda não estava me contando – o verdadeiro significado de tudo isso.Vocês precisam partir… Agora, imediatamente.
Você está escondendo alguma coisa de mim… Aquilo era uma afirmação e não uma pergunta – isso estava claro no modo insistente que ela queria nos tirar de lá –, mas então, eu não esperei pela sua reação. Delicadamente soltei os braços de Nessie do meu pescoço e ela astutamente desceu até estar em pé ao meu lado. Eu senti que alguns olhares queimaram questionadores sobre a minha atitude, mas os ignorei.
- Você ficará com a sua tia Rose por alguns minutos, está bem? – minha voz não estava com o tom firme que eu pretendia, mas continuei, ainda baixo para que mais ninguém me ouvisse além de minha família. Quanto á Gabriela eu já não sabia. – Eu prometo que voltarei logo com o seu pai, Nessie, mas você precisa confiar em mim…
- Não, mamãe! Eu não quero! Por quê? – o seu tom implorativo me machucou.
- O que está acontecendo? – a voz dura de Edward estava confusa.
- Felix irá escapar e Layla disse que eu e você, Alice e Jasper, Zafrina e os Denali devemos segui-lo… – eu pude notar os passos bailarina de Alice se aproximar de nós e Jasper certamente devia estar com ela. Os meus olhos estavam no rosto de Edward e eu percebi quando ele olhou discretamente para Layla. – Ela irá proteger Nessie…
Olhar a expressão de desconfiança que tingiu o seu rosto estava me matando e eu voltei com minha atenção para Felix no outro lado da clareira antes que Edward encontrasse a dor que estava em mim. Eu fiquei realmente surpresa ao ver que mais oito vampiros haviam se juntado á ele alguns passos á frente – Demetri estava entre eles, mas nem Alec ou Jane haviam se movido para acompanhá-los – e então, muito deliberadamente eu os avistei caminhar graciosos em direção á floresta ao leste.
Quando todos os outros haviam desaparecido na névoa branca e na escuridão das árvores, Felix voltou com o rosto novamente para nós – apenas um breve olhar e intensamente significativo… Convidativo –, antes de desaparecer com os outros.
Eu voltei com o meu olhar para Renesmee e deslizei delicadamente as minhas mãos pelo seu rosto – memorizando-o para quando ela não estivesse mais comigo – e então uma delicada lágrima percorreu pela sua bochecha até atingir o meu dedo. A dor era insuportável para mim e eu sentia uma enorme vontade de chorar também.
- Eu prometo que estarei de volta, minha filha… Eu amo você…
- Mais do que a minha própria vida, mamãe!
A voz angustiada de Renesmee destruiu o coração adormecido no meu peito – havia apenas um buraco dentro de mim – e eu a abracei com toda a delicadeza que o seu corpo pedia, mas ainda assim com a intensidade que tanto eu queria. Os braços de Edward se apertaram em nós e a partir daquele momento eu compreendi que tudo daria certo… Eu tinha bons motivos para voltar – Nessie estaria me esperando.
Eu parei em frente á escuridão das árvores com o toque assombroso da névoa branca e voltei com meus olhos – assim como Felix havia feito – mas para olhar algo muito mais importante. Renesmee estava encolhida nos braços de Rose com um fiel lobo de pêlos castanho-avermelhados ao seu lado e me encarava em uma profunda tristeza. Então, eu olhei para Layla… Ela sequer parecia estar ciente de que nós ainda estávamos na clareira – estava absorta em uma intensa troca de olhares com Scarlet – mas, para a minha surpresa a sua voz se juntou aos meus pensamentos novamente dizendo o que eu tanto precisava ouvir. Não se preocupe, Bella, o meu escudo irá com vocês e Renesmee estará protegida conosco… Eu olhei de novo para a minha filha.
Aqueles olhos – meus olhos chocolate – presos fixamente no meu rosto eram os mais lindos entre todos os que estavam na clareira e então eu me virei contra eles penetrando na sombria floresta que aguardava. Eu não sabia para onde estava indo. Meus pés pareciam voar automáticos no verde escuro conforme o cheiro denunciava a trilha. Eu sentia Edward correndo logo ao meu lado mergulhado em preocupação e ainda assim com o ar glorioso que a adrenalina da corrida e a fúria na sua velocidade lhe conferiam… Ver que ele estava comigo e que Renesmee estaria segura era muito reconfortante e, muito mais do que isso, eu sentia que não estávamos sozinhos. Algo me dizia que não importava pra onde nós iríamos, o escudo sempre estaria conosco.
Layla sempre estaria nos protegendo.
Os meus ouvidos agora tão distantes da clareira ouviram apenas uma última vez o suave bater de asas que era o coração de Renesmee antes do profundo silêncio me indicando que agora… Eu estava muito distante de minha filha.
3 comentários:
muito fofo oq a Layla falou para a outra Safira sobre a familia! BJOS
Discurso maravilhoso da nossa preciosa Safira Layla!! Estou mto curiosa com oq vai acontecer!!
O que será que vai acontecer?
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