[Stuart]
Diante daquela família tão parecida com a nossa, eu sentia que eles realmente temiam por nossa situação. Se a situação se invertesse, o sentimento seria recíproco.
– Vocês precisam nos explicar o que aconteceu. O que houve para chegarem tão rápido? – Dominique indagou.
– Os Volturi querem... conhecê-los. Vocês sabem da ambição descontrolada por mais poder. Por isso, para auxiliá-los e proteger Renesmee, viemos junto com eles ontem à noite para a França. O clã foi caçar humanos, e nós prometemos esperá-los. Mas Alice viu um vampiro de olhos vermelhos próximo às crianças e...
– Não se preocupem, jamais deixaríamos alguém perigoso chegar perto deles. São os Colberts, alimentam-se de sangue humano, mas convivem perfeitamente bem com eles – eu decidi esclarecer, cortando as explicações de Carlisle para tranquilizá-lo em relação àquilo – continue, por favor.
– Pensamos que, perdoe-nos, tivessem sido descuidados, afinal eles são crianças e facilmente fogem de nossa vista. Preocupados demais para aguardar, deixamos os Volturi de lado e seguimos para cá. Não esperávamos encontra-los aqui. Íamos para o aeroporto.
– Já estávamos voltando para lá, quando... isso aconteceu – Lilith disse, ainda abalada pela situação. Lith sempre fora a mais frágil de nós.
Fizemos silêncio, até Edward quebrá-lo.
– Preciso dar notícias à Alice.
Alice, a meiga vampira que via o futuro, provavelmente sabia dessa situação antes dela ocorrer. Era cavalheiresco avisá-la que estavam todos em relativa paz.
Relativa, apenas.
A criança Renesmee, cuja cor de cabelo fundia-se no cabelo do próprio pai – tão semelhante que eram – sacudiu a cabeça, impedindo-o de prosseguir com a ligação.
– Já contei tudo para ela e Jacob, papai. Ela disse para mim que haveria sangue, mas por eu estar envolvida era tudo um pouco confuso. Porém com certeza viu a todos nós ainda vivos e sem machucados – sua vozinha era infantil, mas a fluência perfeita das palavras saía como se ela fosse uma adulta em miniatura.
O pai aquiesceu, aprovando a atitude da filha. Troquei um olhar de esguelha com Dominique. Eu sabia que ela ainda estava encantada com a garotinha.
– Você provavelmente parará de crescer por um tempo a partir de seu aniversário. Foi o correto a fazer, Nessie – ele deu um sorriso bondoso e afagou o cabelo cor-de-bronze de Renesmee.
– Ela também disse que tinha uma conta em Paris, caso precisasse de euros.
Dyllan decidiu intervir.
– De maneira alguma! Ce n'est pas nécessaire... não é necessário. Temos uma conta que podem utilizar, fazemos questão de retribuir a hospitalidade de vocês.
Edward assentiu, por educação.
O sol raiou no céu, mas não era forte o bastante para nos fazer brilhar.
Nessa situação, eu me vi novamente assaltado por lembranças de minha vida humana. Eram irrefreáveis.
A água escorria sobre o pêlo molhado, mas não conseguia apagar o vermelho do sangue leporino. Minhas caçadas esportivas eram a última coisa que me sobrava, agora que eu estava sozinho no mundo, sem família ou amigos. Era estranho que eu sofresse a falta de meus irmãos e irmãs, que por anos me maltrataram por um preconceito tolo. Eu era o único inglês de uma geração milenar de franceses.
A Guerra levou meu pai e irmãos, a gripe, a peste e a tuberculose, levaram minha mãe e irmãs. Eu era o sortudo que ainda não morrera.
O Sol bateu em mim e no sangue, fazendo o cheiro enferrujado subir às minhas narinas. Ignorei-o.
Alguém me observava.
“Quem está aí?”, gritei em alerta.
Silêncio. Escuridão.
E mais nada. Era minha última lembrança humana, a mais forte.
Tempos depois eu soube que o mais jovem Volturi, Alec, havia me “anestesiado”.
O motivo, nunca soube. Mas ao acordar eu era imbatível, marmóreo, macabro.
Não quis segui-los. Nem eles me quiseram, ao notarem que eu não desenvolvera nenhum talento ou poder especial. Deixaram-me em Paris, onde conheci os Colberts e os gêmeos.
E agora, que eu criara uma família com minha amada esposa Dominique e meu querido filho Arthur, a situação se repetiria.
Eu reencontraria o clã italiano.
Nós precisávamos dos Cullen, e vice-versa.
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