Ressurreição - Capítulo 13: Lilás - Parte 2

[Carlisle]

“Assim que deixei Bella de quarto no chão, me olhando com seus olhos indagadores e extremamente gentis, não pude deixar de pensar que Bella me seguiria. Era de seu cárater, sua índole estender a mão a quem precisasse; mesmo quando Bella era humana, ela arriscava a sua vida por criaturas mais fortes que ela, como nós, para nos proteger do seu medo de nos perder. Eu precisava manter Bella longe ; ela iria querer matar os Volturis se os encontrasse, e Edward não lhe faria objeção.

Lembrei-me com orgulho, de nós, Cullens. Fomos e seríamos sempre a maior e melhor geração de vampiros da história imortal. Aro ridicularizou o meu ideal de viver sem sangue humano, riu-se das minhas tentativas atravessadas pelos séculos de encontrar iguais a mim. Edward, meu filho, é a taça de minha vitória, a coroa de glória de meus sonhos mais profundos. Os louros de uma guerra contra um estilo de viver. Sim, eu mesmo não fui muito convincente com Edward, e falhei com ele no início, mas quando ele partiu, eu encontrei Esme... Esme, minha amada de minha existência, eu a amei enquanto a via morrer. Suas fracas batidas de coração me incitaram a amá-la. Esme foi a recompensa de Deus na minha vida, eu, filho de meu pai, perseguidor de vampiros na época medieval. Sim, eu havia sido recompensado pelo meu esforço em amar humanos. Esme tornara-se meu aconchego nos dias escuros que fiquei sem meu filho, sem Edward, sem a coroa que me pertencia.

Quando Edward voltou, o céu abriu-se. Dez anos longe dele, foram dez anos de tortura interminável, agonia suprema. A volta dele, me trouxe muito mais que a vitória, me trouxe de volta uma família imortal.

E Rosalie?

A bela Rosalie Hale, dos mais altos círculos sociais, Rosalie Hale, que eu amava pronunciar seu nome e de longe admirava sua beleza, tão jovem e inocente e feliz em se casar. Eu a via, quando ia estudar a noite, sempre conversando à porta do luxuoso hotel dos Kings. Na época, eu queria uma filha linda como ela, e pensava seriamente em buscar alguém. A oportunidade não tardou; ela foi barbaramente desonrada, assassinada, ouso pensar. Naquele dia, como em tantos outros, eu passava naquela hora da noite, perto da residência dos Kings. Senti o inconfundível perfume de Rosalie Hale misturado com o cheiro doce de seu sangue. Ouvi de longe, os infames gritando felizes o tamanho da maldade que haviam cometido. Eles festejavam entre eles. Esperei.

Então foram embora, deixando-a ali, nua, sem roupa, enquanto a chuva caía e a despertava da semi-inconciência. O sangue jorrava do meio de suas pernas, e seu rosto enchia-se de mordidas, revelando hematomas múltiplos em sua linda expressão. Seus braços estavam igualmente roxos, cheios de mordidas, arranhões e cortes profundos. Lembro-me claramente de quando cheguei perto de Rosalie, e a segurei, sentindo que sua vida se esvaía por entre as mãos.

- Por favor... deixe-me morrer – sussurrava ela, implorando...

- Vou ajudar você...Vou ajudar você.

Rosalie Hale foi para mim mais que uma filha. Foi a esperança de um amor para

Edward. Sua beleza estava à altura de seus talentos.”

“ Rosalie era a mulher certa para Edward. Mas claro que eu não queria e nem podia forçar o destino a os unir. Mas eu contava que a beleza dela fosse suficiente para prender Edward.

Primeiramente eu precisava que Edward a notasse. Meio difícil não notar Rosalie Hale. Só a pronuncia de seu nome estremecia os rapazes mais nobres da alta sociedade. Com Edward não poderia ser diferente. Mas eu estava enganado. Terrivelmente enganado.

Coloquei Rosalie na única cama que ainda restava de nossa casa. As outras precisamos nos desfazer, devido ao amor que eu sentia por Esme, que nos fazia quebrar os móveis mais lindos e caros. Pensei e relutei comigo mesmo, enquanto cuidava as batidas de seu coração. Ela ficava murmurando " demora tanto...porque demora tanto para morrer? "...

Não hesitei mais. Mordi-a nos braços, no pescoço e no tornozelo. Injetei o veneno de nossa vida imortal. De nossa incerta condição como almas, ou como Edward gostava de dizer - condição amaldiçoada. Os gritos de Rosalie perseguem-me até hoje. Eu tentei acalmá-la, mas era em vão - ela estava por demais aterrorizada. Expliquei gentilmente que lhe injetara o meu veneno, que ela seria uma de nós. Com o passar do tempo, das batidas lentas e humana dos ponteiros, Rosalie transformava-se de uma forma estonteante. Esme e Edward chegaram nesse instante da transformação - eles tinham ido caçar com Edward - e foi por pouco que ele mesmo não a matou. Foi a pior briga que tivemos.

- Como é Carlisle? Rosalie Hale? Você não acha que ela um pouco fácil demais de identificar? Os Kings proporão uma busca, e é claro, não suspeitarão do demônio!

- Eu não podia deixá-la morrer. Era horrível demais. Desperdício demais - eu ocultei meus pensamentos de Edward, para que não traíssem meu desejo de unir Rose a ele.

- Claro que não - Esme concordou comigo.

Edward avançou na direção de Rosalie, intencionado parar a transformação e eu tive que me colocar entre eles.

- Edward, eu respeito como se sente a respeito, você e suas idéias sobre a alma, mas ela está morrendo e não a deixarei morrer!

Após um segundo de expectativa e a ira de Edward se acalmar, Rosalie Hale despertou para a vida sem fim.

Ela era a vampira mais linda que eu já vira. Nada podia ser comparado à beleza dela. Nem mesmo Esme, quem eu tanto amava. Seus longos cachos dourados tornaram-se definidos, e ela abriu os seus olhos, impressionada e assombrada com a ausência da dor, e com a força que ela tinha. Esme trouxe um espelho e o colocou na frente de Rosalie, que olhava-nos com olhos furiosos. Ela acalmou-se um pouco ao olhar-se no Espelho.

Edward cochichou nos meus ouvidos, fazendo uma careta nauseante:

- Ela se sente consolada por ter lhe restado tanta beleza. Ela não gostou dos olhos.

Eu ignorei o comentário maldoso de Edward, com certeza Rosalie não devia ser tão fútil. O tempo, claro, mostrou que ela não só era fútil - como tremendamente teimosa. Em meus anos de existência, nunca tinha visto tanta tenacidade. As brigas eram constantes entre Edward e Rosalie, e eu frequentemente me perguntava se havia feito a escolha certa ou se isso não era indício de alguma paixão reprimida.

Naturalmente, quando estávamos todos reunidos, o balde entornava, graças a Edward, que sempre que podia, provocava a Rose. Certa vez, lembrei-me gostosamente da cena, embora na época eu praticamente fiquei irredutível por um ano com os dois.

Rosalie estava na sala, desfilando de um lado para o outro, nervosamente. Tanto fez ir de uma ponta da sala à outra, que Esme não pôde deixar de notar.

- Querida, você está com algum problema? - lembrei-me do rosto de Esme, preocupado, parando de tricotar para dar atenção ao que Edward consideraria uma perda de tempo.

- Oh, Esme, veja bem, eu não estou suportando mais as piadinhas de Edward nas minhas costas...

- Meu anjo, mas o que...

- Como se eu não fosse bonita! - Ela estava completamente fora de si - Edward vive me dizendo para mim aprender a ser mais humilde e outras coisas desse tipo, só para me tirar do sério!

- Mas vai dizer que não é verdade... - Edward apareceu na entrada do Hall, cruzando os braços e revirando os olhos teatralmente.

- Seu cachorro, como você pode me tratar dessa maneira? O que foi que eu fiz para você?

- Simples - Edward abriu os braços e caminhou na direção de Rose. Curvou-se respeitosamente ( o que considerei uma jogada cruel ), então pegou-a pela cintura e aproximou seu rosto do dela, rosnando. - Você vive se vangloriando de ser a garota mais linda do mundo, e além disso, fica ligando para Tanya e jogando-a para mim. Você acha mesmo que eu procuro beleza? Que eu me importe mesmo que isso? Que eu tenha tanto desejo de beijar, que não resistiria a uma proximidade maior? com todo respeito Rosalie, quero lhe mostrar o quanto isso nada significa para mim!

Esme levantou-se para os separar - mas eu, com um gesto, a impedi. Eu estava seriamente ofendido pela atitude de Rosalie para com Tanya. Tanya era uma filha para mim, e não era segredo que ela morria de amores por Edward. Eu não podia admitir que Tanya sofresse, e nem que Edward vivesse nessa briga inútil com Rose.

Incrédulo, vi Edward segurar Rose cada vez mais apertado, e com fúria, beijou-a. Rosalie protestou, batendo com os punhos fechados no peito de Edward, que então a soltou e disse:

- Nem mesmo seu gosto me atrai. Que isso te sirva de lição e pare de me importunar, minha irmã!

Rosalie ficou lívida, mas seus olhos lampejavam de raiva. Eu tinha certeza de que se fosse possível, ela faria Edward morrer queimado só com seu olhar.

- Chega, Basta! - Eu tive que me intrometer - Nunca mais quero uma conversa tão baixo nível como essa debaixo de meu teto, vocês estão entendendo? E não me interessa quem está com a razão, somos uma família e vamos agir como tal!!

Edward suspirou. Aquiesceu com a cabeça e saiu da sala. Rosalie tremia dos pés as cabeça. Ignorei-a e sentando-me na minha poltrona, e peguei o livro “Psicanálise: A Nova Moda”.

Ri-me sozinho disso tudo. Que saudades eu sentiria das brigas de Rose e Ed. Será que eu conseguiria convencer Caius a me dar a resposta para tal mal?

Olhei para o meu braço rasgado e notei que pêlos tênues brotavam na superfície.

Eu já estava no Aeroporto para New York, e torci para que tivesse tempo.

Os pêlos brotavam tímidos e tênues do ferimento em meu braço. Fui observando a pelagem que se distinguia de minha pele naturalmente lisa, enquanto caminhava em direção ao avião.

Mulheres por todos os lados, me olhavam, certamente desejosas de sentarem-se ao meu lado.

Sentei-me na poltrona confortável do avião, e após ouvir as instruções de segurança na decolagem da gentil comissária, eu tornei a pensar.

E se eu não chegasse a tempo? E se me transformasse e não conseguisse mais reconhecer os rostos de meus filhos, daqueles que eu amava? e se eu me tornasse uma ameaça, e Bella e os demais se recusassem a me matar?

Eu via um fim negro surgindo no horizonte. Apesar de na verdade, ser o sol que estivesse surgindo, era inevitável a sensação de solidão, do desconhecido sufocante. Eu tinha que ser realista, as chances eram mínimas. E muito provavelmente Caius adoraria me matar, depois que Reneesme enlouquecera Jane e Alec.

Jane... Alec... Como será que estariam? Teriam mesmo enlouquecido ou teriam voltado a razão? Seriam os poderes de Nessie mais fortes e impenetráveis do que imaginávamos? Nessie... O sorriso dela era tão contagiante, quanto aqueles intrigantes olhos de Lilás. Ela penetrava em tudo e todos. Eu guardava comigo o segredo de Reneesme. Um segredo que ninguém, nem mesmo Bella ou Renesmee sabia.

Um segredo incrivelmente mortal.

Um segredo que traria todos os seres sobrenaturais ao cúmulo de uma guerra sem precedentes na história imortal.

Um segredo que envolvia um poder jamais pensado.

Eu não podia morrer sem revelá-lo aquela que lhe deu a vida.

O desespero de morrer com tal segredo deveria me realizar? Não. Eu não podia morrer sem deixá-lo saber o que tinham em mãos.

Então alguém sentou-se ao meu lado. Sem Calor. Sem pulsação. Uma mulher de beleza estonteante e olhos com lentes roxas. Um corpo evidentemente escultural, que me lembrava muito a bela Rosalie Hale.

- Heidi Treanslier - reconheci.

- Carlisle - Sussurrou ela, confirmando com a cabeça.

Não pude evitar as lembranças jorrando em meu íntimo, de quando conheci Heidi. Nunca relatei que a conhecia aos membros de nossa família, nem mesmo Esme. Mas a verdade vinha imponente, meu passado ressurgia, obrigando-me a encará-lo de frente. Será que era isso que acontecia com todas as pessoas que dão de cara com a Morte? elas revêem, constantemente, o seu passado?

Minha mente vagueou pela longínqua Volterra do Século 15, que nada mais era do que constituída de nobres e servos.

" Eu estava caminhando, me perguntando naquele dia, fazendo poucos anos que havia sido transformado nessa criatura horrível que tantas vezes persegui. Eu já havia encontrado a alternativa a ser um monstro, porém ainda me inquietava com isso, e todo o meu ser rejeitava veemente a idéia de ser um vampiro. Eu tentara todas as formas de morte possível tentando livrar o mundo desse mal que eu tinha me tornado - mas cada vez que eu pensava que morreria, eu ressurgia do pó, dos pedaços e das cinzas, como a ave Fênix ressurge de sua morte.

Numa dessas tentativas de morte, eu tinha me ateado fogo. Enquanto eu aguentava a dor da queimação, e da escuridão tomando meu ser, uma menina muito bonita, de 17 anos, com cabelos negros e olhos verdes, transparecendo ternura e bondade, mas também firmeza, descobriu-me nesse estado.

Ela apagou o fogo, embora eu suplicasse que deixasse-me morrer. Sem hesitação ela me disse:

- Meu senhor, se morrer, se matando, com certeza não irá para o Céu.

Lembro-me de seu rosto pacífico e sua pele branca tentando manter meus olhos fixos no dela. Seu hálito era tão doce, que me embriagava, estonteava, fazia-me desejar ser humano para me render aos encantos de tão boa e nobre mulher. Ela cuidou de mim, mas foi notando que eu recusava-me a tomar líquidos, a comer. Não demorou muito e ela descobriu meu segredo, quando um lampejo de intuição passou por seus olhos. Vampiros eram ameaça comum, e não era muito difícil adivinhar quem era e quem não era, se topasse com um. Afinal, naquela época, vivíamos à margem, nos bueiros da sociedade, trancafiados em porões sem sair a Luz do sol.

Quando recuperei-me de minha tentativa de morrer, mal sucedida, sentei-me e pus a minha mão no queixo dela. Eu já estava vestindo roupas que ela havia me trazido, elegantes e que caíram bem. Ela devia ser rica. Ela entrava no porão em que me escondera ao nascer do sol e ia embora ao fim do dia. No Crepúsculo.

Fiquei curioso. Quem era tão linda jovem, que me fitava com ares tão inocentes, com tamanha pureza e bondade?

- Jovem, suplico-me que me conceda a gentileza de saber o seu nome.. - Minha voz vacilou de emoção.

Ela relampejou seus olhos, e um mar cristalino verde tremeluziu em sua íris.

- Heidi Treanslier, meu senhor.

A voz dela era linda, e fraca como humana... Não tinha voz cantante, não possuía voz de sinos como as vampiras que conheci.

Então um estrondo foi ouvido do lado de fora do porão.

Heidi soltou um grito.

Eu pus-me na frente dela, enquanto assistia a turba furiosa tentando arrombar a porta.

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