Sim, eu havia chego à Paris e estava tão feliz por ter uma oportunidade que não cabia em mim tamanha satisfação. Porém nada era certo ainda, havia uma brecha, uma fenda entre os acontecimentos bons e ruins.
Com a descoberta da alimentação através de sangue animal, eu iria tentar desenvolver o que seria meu autocontrole em relação a sangue humano. Lancei-me a este desafio sem saber se iria dar certo ou errado. Comecei então a planejar a minha existência. Decidi que começaria a estudar medicina, pois com a mente fotográfica que o vampiro possui, em muito breve eu poderia tornar realidade meu sonho, sonho este que trouxera da vida humana.
Havia tanto o que fazer, tanto o que resolver. Precisaria de roupas novas, um lugar para morar, bens materiais, livros, e um recanto onde pudesse desenvolver o autocontrole, um lugar que houvesse vários animais para satisfazer minha sede. Fui correndo à noite pela cidade de Paris, afastando-me para o lado da cidade onde havia florestas, muitas florestas, onde avistei uma linda casa, isolada no meio da mata, e ao lado da casa, havia roupas, muitas, e pelo que pude deduzir naquele momento, elas haviam de me servir e eram sofisticadas. Tirei-as de cima da grama, onde estavam estendidas e nelas haviam um perfume de lavanda. Quando tirei as roupas que ainda usara na noite do terror, e troquei pelas novas, deixei com elas todo o sofrimento daquela vida na qual fui plenamente infeliz com os planos de meu pai para o meu futuro e prometi a mim mesmo:
- Carlisle, você conseguirá ser feliz e terá aquilo que desejar, você sempre foi bom e está fazendo o melhor com algo que lhe foi dado.
Com esse pensamento queimei a roupa suja que vestira e dei adeus definitivamente às vagas lembranças de meu pai Anthony Cullen, mas a imagem de minha mãe, Joana Cullen, eras nítida, mesmo através das lembranças humanas, onde essa era a imagem da qual eu jamais diria adeus. Nunca iria separar-me de meu anjo loiro, aquela que me ensinou a amar o próximo e ser paciente. Aquele anjo loiro, que brigou com meu pai para conseguir dar a mim um futuro melhor. E afundado naquela lembrança, se pudesse chorar nesse corpo imortal, já estaria em lágrimas.
Voltei ao lugar onde estava e percebi que na linda casa não haveria ninguém. Sem pensar duas vezes, entrei na casa e comecei a procurar o que seria necessário para minha sobrevivência no mundo humano. A casa parecia aconchegante, linda por dentro. Nela havia uma pequena sala, apenas um quarto, uma cozinha e um escritório. A sala tinha uma lareira grande e nela a madeira queimava, criando uma linda imagem com as cores laranja e azul. Na sala ainda havia grandes cadeiras de madeira e almofadas, uma mesa de centro e um grosso tapetes de pelos. Dirigi-a-me ao escritório, quando a uma certa distância senti o cheiro do melhor alimento, o qual eu me recusaria a provar, A queimação em minha garganta voltou, e de repente, eles entraram na casa e não ouve como fugir.
- Eu lhe disse meu marido, não podemos morar neste lugar afastado de tudo, os ladrões estão roubando até nossas roupas. Ao menos foram suas roupas marido e não aqueles vestidos caros no qual o senhor sempre me presenteou! – disse uma mulher de estatura baixa e cabelos ruivos e pele branca como a neve.
- Eu sei Mariah! É por esse e outros motivos que estamos partindo de Paris neste exato momento. Querida, por favor, arrume suas coisas e leve somente o necessário. Temos uma grande fortuna em ouro para começarmos em outro lugar! – Ordenou o que seria o marido da mulher ruiva.
- Sim meu querido! Já estou ido arrumar as coisas! – Afirmou Mariah.
Com a mão sobre o nariz, tampando a respiração, o aroma que vinha da sala queimava minha garganta, o monstro que estava tentando se libertar, caçar e matar o pobre casal humano, mas felizmente consegui contê-lo dentro de mim. Olhei para o lado e vi sacos e mais sacos de ouro. Com a mão ainda sobre o nariz, e com a outra livre, apanhei dois sacos de ouro e fugi pela janela, escondendo-me na floresta, longe daquele cheiro maravilhoso.
Mesmo longe da casa, eu conseguia ouvir as vozes dentro da casa.
- Mariah pegaram dois sacos de nosso ouro! Restaram apenas cinco! Vamos embora antes que nos levem o que restou!
- Joseph, vamos embora! Está tudo pronto!
Fiquei ouvindo o casal partindo e deixando para trás tudo o que eu precisava para começar a dar algum sentido a minha existência.
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