Solstício - Capítulo 12: Nossa Lua De Mel {Ops!}

O cantar suave dos pássaros me despertou dos meus sonhos de mel. Ele se misturava a uma calma melodia dedilhada em um violão Gibson. Não abri meus olhos de imediato... Apenas sorri, imóvel, grata por cada segundo vivido até ali. Foram tantos momentos lindos, tantas sensações diferentes reunidas em uma só consciência... Eu devia ser agora a pessoa mais feliz do mundo! Eu tinha tudo, estava completa.

Senti uma brisa tocar minha face, alguns fios de cabelo alisando as maçãs do meu rosto. A janela da recâmara estava aberta, deixando entrar por entre a cortina de miçangas a energia calmante da natureza que rodeava o resort. Senti um movimento no colchão, próximo aos meus pés. Jake estava lá, ensaiando alguma música linda que eu ainda não conseguia reconhecer. A noção de sua proximidade fez meus pelos se arrepiarem, em atração magnética a ele. Minha pele despida estava toda envolvida pelos lençóis de algodão egípcio, e eu tive receio de me mover e interferir no equilíbrio perfeito que regia o ambiente. Cada detalhe cooperava para criar um clima aconchegante e romântico, muito próprio à ocasião...

Aquela noite foi a mais maravilhosa da minha vida!

Não só pelo mistério quebrado da nossa união física, mas pela profundidade do acontecimento. Não foi nada comparável às histórias que fui forçada a escutar da minha mãe e avó, e nenhuma de suas advertências poderiam se aplicar em nosso caso específico. A perfeição foi o âmago da noite passada, destrinchando corpo, mente e espírito. Foi como se Jake e eu tivéssemos nascido um para comportar o outro... um para suprir a existência do outro. De um ângulo geral, éramos mesmo um só!

O mais impressionante foi o modo como as coisas fluíram naturalmente, sem pressão, sem constrangimentos... sem barreiras. Não deveria existir na face da terra um homem mais gentil do que este que agora tecia acordes deliciosos pra me chamar de volta à realidade! Não sabia explicar ao certo, mas... foi como se ele, de algum modo, houvesse sido preparado por alguma força sobrenatural para agir exatamente de acordo com as minhas necessidades, até mais do que com as dele próprio. Ele soube como me tocar {e como não me tocar}, para que eu não me sentisse inibida, ou acuada; soube como me beijar, pra que eu fosse impelida a ele na medida certa, respeitando meu tempo; Preencheu cada vazio e ânsia do meu coração sem, contudo, exigir demais do meu despreparo. Ele tinha ciência de que eu nunca havia estado com um homem antes... Sabia das implicações de tal fato, por isso foi tão atencioso. Ele me valorizou, acima de tudo!

A fusão dos nossos sentimentos foi o encontro mágico de dois desejos em um só, deixando uma impressão eterna em nossos corações descompassados. Simples e avassalador, emocional e físico... paradoxalmente belo. Se existissem palavras que fossem capazes de descrever com precisão o que se passou conosco naquela madrugada, entre aquelas quatro paredes sagradas, eu as conheceria de cor!

Nossa primeira noite juntos foi repleta de amor e ternura e, quando os primeiros raios da manhã cortaram o horizonte, ainda estávamos aconchegados um no outro, deslumbrados e trêmulos... todos os sentidos aguçados e as pupilas dilatadas, enquanto, lá fora, o sol tentava matar a nossa lua! Ele me abraçava como se eu agora fosse feita de areia e pudesse, ao mínimo sopro do vento, me dissipar por entre suas mãos! Eu o trouxe pra mais perto, fazendo-o descansar a cabeça em mim. Depois disso, abandonamos a consciência e fomos tomados pelo sono profundo, sentido o bater dos corações um do outro...

Abri os olhos finalmente. Aquela luz do meio dia quase cegou minhas vistas, então eu fui obrigada a me mexer para esfregá-los.

– Bom dia, Sra. Black! – ele se virou pra mim, em seu roupão de seda branco, e sua voz grave me saudou, sedutoramente satisfeita.

Que atribuição apaixonante o meu nome tinha agora: Senhora Black! Pra mim, era como se eu tivesse sido coroada rainha de um reino encantado... Esposa de um rei soberano em sua simplicidade e devoção!

Talvez isso fosse um tantinho ingênuo... mas era como meu coração romântico conseguia equacionar a situação!

Convencida da minha sorte, me espreguicei, antes de verbalizar uma resposta:

– Bom dia – meu sorriso cansado aparentemente foi o suficiente para satisfazê-lo.

Ele colocou o violão de lado, se inclinou e então beijou meu tornozelo descoberto. Depois, um sorriso embriagante explodiu em seu rosto, enquanto sustentava o tronco com os braços sobre o colchão.

– Pensei que não iria mais acordar... Que sonho tão bom foi esse, que te manteve por tanto tempo longe de mim?!

– Como se alguma coisa fosse melhor do que estar com você... – disse, fazendo charminho. Mas sua pergunta, de repente, me fez correr os olhos pelo quarto, em busca de um relógio – Como assim “tanto tempo”? Eu achei que ainda fosse meio dia...

– E são! – ele deu uma risada descontraída – Só que você apagou por um dia inteiro! Hoje já é sábado, nosso terceiro dia de casados. São, exatamente, meio dia, treze minutos e 47 segundos.

O QUÊÊÊ?!?!?!? COMO ASSIM EU APAGUEI “POR UM DIA INTEIRO”?! COMO PUDE DORMIR TANTO?! IMPERDOÁVEL!!! EU DISPERDICEI HORAS PRECIOSAS BABANDO NO TRAVESSEIRO... SIMPLESMENTE IMPERDOÁVEL!!

– Jake, isso é... – balbuciei estática – Eu não consigo entender como isso pôde acontecer... Me desculpe!

– Ei, o que é isso agora?! – ele perguntou, com a testa se vincando

– Me desculpe pela grosseria! – esclareci

– Nessie, porque você está se desculpando?! Pare com isso, não foi grosseria nenhuma. Era natural, você estava exausta, não dormia há quase dois dias... que culpa você tinha, meu amor?!

– É, mas não justifica! Você ficou um dia inteiro sozinho enquanto eu dormia que nem uma pedra... – eu disse, emburrada comigo mesma. Ele engatinhou pela cama, vindo se recostar na cabeceira, depois me confortou em seus braços.

– Não se preocupe! Eu também dormi bastante, só fui acordar lá pra umas oito da noite de ontem... As camareiras devem estar achando que nós dois morremos aqui dentro.

Seu peito vibrou embaixo de mim com uma risada, mas eu ainda permanecia horrorizada com minha falta de consideração. Por mais cansada que eu pudesse estar, dormir por um dia inteiro nas atuais circunstâncias era, no mínimo, burrice... Uma desfeita tosca!

– Eu tenho uma idéia! – sua voz interrompeu minhas lamúrias interiores – Que tal se nós fossemos para a varanda?! Está um dia lindo lá fora e tem pouca gente hospedada... e aí, o que me diz?!

Eu dei um sorriso de má vontade, ainda raivosa. Ele então se ergueu da cama e a contornou, vindo até o meu lado pra me puxar. Demorei um pouco para atenuar meu descontentamento e mentalizar emoções agradáveis, depois atendi ao seu chamado, marchando atrás dele até o local sugerido, toda enrolada no lençol macio.

Do lado de fora, o vento soprava fortemente e o sol brilhava com a mesma intensidade. A vista era incrível... Um campo aberto e de um verde vivo se estendia até uma parede de árvores mais a frente. O som de algumas folhas sendo agitadas pela brisa era um refresco para o espírito. Jake me levou pelos dedos até um banco de madeira rústica e se sentou, oferecendo em seguida um lugar para mim ao seu lado, que eu aceitei sem nem pestanejar. Ele tomou minhas pernas no colo e eu envolvi os lençóis ao meu redor com os braços, me aninhando nele depois. Aquela sombra gostosa que banhava o local onde estávamos foi estímulo mais que suficiente para nos cobrirmos de beijinhos sem fim! Aquele já era, oficialmente, nosso vício número 1!

Não fizemos muito mais do que isso por um bom tempo... Vez outra, sua boca ia parar em meu ouvido, e ele me dizia com ternura o quanto me amava e estava feliz. Eu já não me sentia tão tímida em relação a retribuir seus gestos... deixava meus lábios buscarem naturalmente os dele, com a mesma medida de paixão.

Lá pra umas três horas da tarde, a sombra já não nos alcançava mais e os raios solares caíram sobre nós. Em contato com minha pele, eles produziram a luminescência brilhante que reverberou na pele de Jake em losangos coloridos. Ele se deixou fascinar pelo espetáculo, entretido com a reação refratora que provocava ao passar de leve os dedos em meu braço. Eu recostei a cabeça em seu ombro, acompanhando com os olhos o que ele fazia.

– Você é tão linda! Eu, realmente, sou o homem mais privilegiado que existe.

A recíproca era totalmente verdadeira, óbvio. Abri a boca para pronunciar uma resposta, mas na mesma hora minha barriga se enrijeceu e senti um solavanco silencioso no estômago.

É verdade, já fazia algum tempo desde que eu havia feito minha última refeição decente e minha boca estava seca. Jake pareceu ler meus pensamentos:

– Você deve estar faminta. Vamos sair pra caçar! Edward trouxe o seu carro ontem... Nós podemos ir aonde você quiser!

– Qualquer lugar, Jake... Contanto que você esteja presente. Esta é a única condição que eu imponho! – disse, brincando com as orelhas dele

– Com isso você nem precisa se preocupar!

Voltamos pra dentro e fomos atrás de algo para vestir.

Eu deveria ter adivinhado que nada dentro daquela bagagem seria... convencional. Nos entreolhamos assombrados, expondo um ao outro as peças esdrúxulas que brotavam de dentro das nossas malas. Seria menos trabalhoso e chamativo se nós simplesmente nos vestíssemos de novo com as roupas do casamento...

Vasculhando os bolsos, eu me deparei com um emaranhado de lingeries pretas e vermelhas, cheias de rendas e coisas embaraçosas demais para se pronunciar... Fechei imediatamente aquela sacola, com um rubor no rosto muito provavelmente, e continuei a busca em outro lugar.

– A-há!! – Jake exclamou, ao encontrar uma bermuda que tinha condições de ser vestida

– Bom pra você! Eu estou achando que vou ter que costurar um vestido desses lençóis aqui...

Foi só depois de uma meia hora que eu achei uma calça legging e uma regata preta que talvez não chamassem tanta atenção. Pensei ter visto um tênis rasteiro debaixo de algum bolo de roupas, então busquei-o até encontrar. Quando feito isso, deixei Jake vasculhando as outras pilhas {ainda a procura de uma blusa} e fui me trocar no banheiro.

Por mais que coisas que não envolviam roupas tivessem acontecido entre nós, ainda não me sentia completamente à vontade em ficar nua sem motivo na frente dele. Achei graça de mim mesma, enquanto me enfiava dentro das peças de roupa. Nessa hora, notei algo diferente na minha pele: na região do tronco, algumas veias estavam muito salientes e roxas. Não dei muita importância... afinal, meu corpo havia passado por fortes emoções nas últimas 48 horas!

Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e nem sequer me preocupei com maquiagem... Calcei os pés e abri a porta, dando de cara com Jake vestido em uma camisa havaiana. Ele estava com os braços estendidos e se analisava com uma expressão insatisfeita.

Quer saber, – ele retirou a peça do corpo – eu vou sem camisa mesmo! Está um dia quente, ninguém vai estranhar se eu for assim!

Por mim, ele podia ficar o mais a vontade possível... Meus embaraços diziam respeito somente ao meu corpo em exposição! – hehehe!

Ele calçou uma alpercata de couro, então, por fim, deixamos a suíte. Fomos até a recepção, onde Jake solicitou que trouxessem o Porsche. Notei que todas as mulheres nas proximidades o encaravam, boquiabertas. Não era pra menos, aquele espetáculo de homem sem camisa era uma coisa meio difícil de se ignorar...

Vi que ele estava sem graça com a situação. Tadinho... parecia não ter consciência da própria beleza! Ao prestar um pouco mais de atenção, vi que muitas pessoas também olhavam para mim com expressões espantadas e tecendo vários cochichos. Me perguntei a que distancia ficava o estacionamento de onde nós estávamos... Não poderíamos permanecer ali por muito mais tempo, senão daríamos início a um pequeno caos urbano naqueles mínimos 20 m² de saguão! Graças a Deus, o manobrista não demorou a buzinar do lado de fora e nós fomos até ele, deixando o local já em um princípio de alvoroço.

Jake agradeceu ao rapaz que conduziu o veículo, que lhe entregou as chaves sem conseguir esconder a empolgação por ter dirigido o meu carro. Entramos e eu me sentei no banco do carona, dando a Jake a oportunidade de estrear meu presente.

– Posso mesmo?! – ele ainda me perguntou. Negar a ele aquilo seria como tirar um doce da boca de uma criança.

– Claro que sim, gatinho! Ele é todo seu! – consenti, no melhor estilo Bond Girl!

Dentro do veículo, eu comecei então a sentir uma onda de calores muito forte.

– Ligue o ar, por favor, Jake?! Estou a ponto de derreter aqui dentro!!

– Já está ligado! – ele fez uma cara gozada – Mas eu posso aumentar, se eu conseguir encontrar o botão nesse painel impossível... Ah, aqui! Pronto. Qual intensidade você quer?!

– A máxima, se não for incomodo! – recostei o corpo no acento, recebendo a corrente inicialmente fraca de ar gelado

– A vontade!

Ah, que maravilha aquele ar glacial me atingindo em cheio...

Relaxei e Jake deu partida no carro. O ronco violento do motor serviu de razão para, outra vez, ficarmos no centro das atenções!

– De onde saiu toda essa gente, hein?! – ele resmungou pra si mesmo, fazendo o balão na área de entrada do resort e conduzindo o carro até a estrada.

Não sabia ao certo aonde estávamos indo... nem tão pouco me dei ao trabalho de perguntar. Como eu mesma havia dito, qualquer lugar em que eu estivesse com ele seria o melhor lugar do mundo! Provavelmente, nem ele tinha de fato um destino pronto. Parecia se divertir mais com o fato de estar dirigindo aquela máquina saída de um filme de velozes e furiosos do que outra coisa...

Ele ligou o rádio pra quebrar o silêncio que, não sei por que motivo, eu estava promovendo. Uma música animada tocava na primeira estação que ele sintonizou. O ritmo era tão contagiante que, dentro em pouco, nós já estávamos cantando junto, com a mínima afinação possível {de propósito... pelo menos, no meu caso}! Cantar errado sempre era o mais divertido nessas horas... Ele começou a sacudir o cabelo pra cima e pra baixo, sem olhar a estrada, e eu fiquei brincando de air guitar. Éramos apenas dois bobos em um carrão, rasgando aquela reta deserta que era a estrada de Forks!

– Abra a janela e sinta o cheiro um pouco, Nessie! – ele falou, depois de um tempo – Onde você quiser parar, a gente para!

Ah é, a caçada... tinha até me esquecido! Fiz como ele disse e projetei o nariz um pouco pra fora do veículo. Alguns cheiros distintos invadiram minhas narinas, mas nada atrativo o suficiente... Passados mais alguns metros, identifiquei um aroma de cervos e fiz sinal para ele:

– Aqui está bom! Estacione o carro ali naquele pequeno aberto entre as árvores... Ninguém vai enxergá-lo no meio da folhagem.

– Certo! – ele disse, executando o que propus.

Paramos e ele desligou o motor, o som e depois puxou a trava. Saímos.

O pio de corujas, misturado ao barulho de outras aves e pequenos animais, ecoou da floresta densa à nossa frente, nos convidando a entrar. Naquele local, os troncos das árvores eram longos e finos, exatamente o tipo de cenário adequado ao descanso dos cervos mais jovens. Desapressados, caminhamos então de mãos dadas na direção da mata, pisoteando o tapete de folhas que se estendia sobre o solo. Descemos uma declive curta sem qualquer dificuldade e seguimos o rastro da caça. Acima de nós, não se via nada além de um céu de folhas verde-escuras, que em alguns pontos deixava escapar uma luminosidade agradável, o que curiosamente fazia tudo em redor parecer mais um bosque. Ao longe, era possível se escutar o fluir de um riacho. Nossas presas deveriam estar próximas à margem, eu supus...

Não demoramos mais do que dez minutos para encontrar o recanto dos animais que procurávamos. Eu fiz sinal e ficamos um pouco a espreita, observando através de alguns arbustos. Eram três: um adulto deitado no chão e dois um pouco menores, comendo algumas folhas. Mais a frente, o dito riacho corria suas águas atrás de alguns troncos mais baixos. Passada aquela parte mais difícil – a busca – não teríamos dificuldade alguma na captura!

Jake, sem acanhamento, retirou a bermuda e a roupa de baixo, para fazer a transformação. Não disfarcei minha cara de bocó, mas ele não me viu {ainda bem...}! Quando olhou pra mim, eu já tratei de fingir naturalidade e ele sorriu, me atirando a muda de roupa.

– Segura pra mim por favor, anjo, enquanto eu pego o nosso lanche.

– Ei – eu protestei, tentando fixar o olhar somente em seu rosto – que história é essa?! Você vai ficar com toda a diversão e eu vou esperar aqui, de prega?! Não senhor, eu também quer...

Ele pôs o dedo em meus lábios, depois os beijou.

– Eu quero te dar esse presente, meu amor. Seja boazinha, vai ser vapt vupt, eu prometo!

Vou te contar, aqueles métodos de persuasão dele realmente eram covardia...

– Está bem convencido, eu vou me sentar aqui e aguardar, como uma boa esposa!

– Não encare o meu desejo como machismo... eu só quero te impressionar.

Ergui uma sobrancelha maliciosa:

– Isso você já faz por natureza! – sorri e ele piscou pra mim.

Logo em seguida, se lançou para o ar, aterrissando suavemente em sua pompa imponente de lobo. Sua perspicácia era tamanha que nem com esses movimentos todos ele interferiu na calmaria das nossas presas. Era de se esperar que elas se dispersariam com o menor ruído. E mesmo que não, a figura animal de Jake era tão robusta e ameaçadora, que ele poderia matá-los somente com sua aparição repentina. Mas o meu príncipe era um caçador inato... sabia usar tudo ao redor a seu favor. Aquela visão dele, em si, já me fascinava até mais do que a própria expectativa pela sua performance na caça!

Encontrei um espaço confortável em cima de um pequeno tronco caído, que me ofereceria uma visão privilegiada do embate. Ele se preparou para o bote, como o lobo experiente que era, e aguardou até o momento em que não erraria.

Saltou.

Suas patas cravaram em cheio o pescoço do animal desavisado no chão e, antes que os outros dois pudessem escapar, ele os alcançou, liquidando um a um. Os guinchos, se confundindo com os grunhidos caninos, eram a única parte chata daquilo tudo... Eu não tinha nenhum tipo de prazer sádico em assistir a dor daquelas pobres criaturas. Mas aquele era o ciclo natural da vida, não poderíamos lutar contra nossos instintos mais do que já fazíamos {nós e nossas famílias, pelo menos}.

De lá de baixo, ele me fez um sinal de cabeça que eu já conhecia, então me levantei e fui desfrutar da nossa refeição. Eu realmente estava faminta, como um ex-presidiário em liberdade condicional! Consumi o sangue dos três animais sem demora nenhuma e Jake se encarregou de dar cabo do resto – que, pra ele, era a parte principal!

Deixamos o local pouco depois, satisfeitos e sorridentes. Ele me convidou a um passeio pela beira do rio, oferecendo o lombo das suas costas. Montei com agilidade e ele percorreu a curta distancia que nos separava das águas. Seguimos margeando a torrente, que serpenteava tranquilamente floresta adentro. Agarrada aos seus pelos com delicadeza, eu admirei cada pequeno detalhe que nos circundava.

“A paz é a essência que emana da terra!” Jake me disse uma vez, há uns dois anos atrás, enquanto caçávamos nas redondezas da península de Olympic. Era uma verdade absoluta que eu tomei para mim desde então. Quase sempre quando queria encontrar paz, ou mesmo pensar nas minhas particularidades, eu me enfiava na floresta com ele e lá nos esquecíamos do mundo! Aquela lembrança me trouxe felicidade.

Mais na frente, encontramos uma clareira onde a relva era baixinha e havia alguns ramos de flores silvestres. Ele se dirigiu até o centro do terreno, depois se inclinou para que eu descesse. Como permaneceu na mesma posição, me deitei na grama como ele, apoiando a cabeça em seu corpo quente. Já estava começando a sentir saudade de escutar sua voz, mas não disse nada, repousando a mente enquanto meus olhos identificavam figuras nas nuvens acima de nós. Já deveríamos estar perto das cinco horas da tarde e o céu começava a ganhar aquele tom rosado do por-do-sol, embora ele não fosse visível de onde nós estávamos. Eu, contudo, imaginei de olhos fechados o astro-mor do universo se rendendo ao mar magistralmente, como sempre fazia quando a chuva dava uma trégua.

O volume abaixo de mim diminuiu gradativamente, então me dei conta da figura humana e despida do meu Jake, que me observava de bruços, por sobre o ombro tímido. Eu me alarmei com a sua atitude, mas consegui reposicionar meus eixos, permanecendo estática enquanto meu coração disparava a 600 batimentos por segundo. Ele arriscou uma investida, se erguendo um pouco, e eu respondi mecanicamente, me sentando tensa e encarando a grama na minha frente. Ele se aproximou, utilizando os mesmos artifícios de duas noites atrás, quando soube exatamente o que fazer para estimular a minha confiança nele. Tinha que ser aos poucos comigo, mas ele sabia disso e não se incomodava! Identifiquei suas intenções e apenas esperei até que a aproximação se completasse...

Seus lábios foram direto ao meu pescoço com vontade e eu tremi, a atração magnética mais uma vez brotando por meus poros. Os braços enormes me puxaram com delicadeza mais pra perto dele, enquanto seu beijo já alcançava a minha boca, inutilizando de vez a minha capacidade de converter oxigênio em dióxido de carbono. Tudo que fui capaz de fazer foi entrelaçar meus dedos em sua nuca, tentando convencer os meus músculos a relaxar...

Pouco a pouco, eu já não tinha mais a minha regata preta... nem a minha legging... nem os tênis nos pés...

Nos tornamos somente dois pontos apaixonados no universo... colidindo sobre a relva e sob o céu, que já revelava algumas poucas estrelas! Uma orquestra sinfônica de sensações e reações ia condensando o ar ao redor. Admirável como as noções de tempo e espaço simplesmente desapareciam da nossa compreensão. Novamente, rompemos céu e terra... a pura expressão do ideal poético sobre o amor! Abençoados pela natureza dessa vez, ficamos em paz.

Já era noite escura quando paramos para observar a lua cheia que iluminava o contorno das nossas peles. Seu braço ofereceu um apoio à minha cabeça e minha mão encontrou descanso em seu peito. Ele cheirou os meus cabelos, estalando um beijo no meu coro cabeludo.

– Será que existe maior felicidade do que essa?! Poder estar com quem se ama, em meio a esse espetáculo natural?! – finalmente, sua voz veio matar minha saudade, explodindo em vapor no ar. Apertei os lábios antes de responder.

– O melhor é saber que o amor não precisa acabar... não no nosso caso! Jamais seremos interrompidos pela morte, ou por qualquer empecilho.

– Isso mesmo. Vamos ganhar a eternidade juntos, meu amor!

Suas palavras invadiram meu espírito, produzindo um sentimento de euforia que eu mal pude conter dentro do corpo. Ri sozinha das minhas alterações emocionais, e ele ficou confuso.

– Não, eu não estou rindo do que você disse... – tratei logo de esclarecer, ainda triunfante em meu interior – É só que... Eu olho pra trás e vejo uma Renesmee tão, sei lá... racional, calculista, comedida... e a confronto com a Renesmee de hoje: absolutamente passional, dependente de corpo e alma desse sentimento que meu coração agora nutre por você! Tudo isso é tão...tão...

– Indescritível?! – ele completou

– Exatamente...

Um silêncio tranqüilo cedeu passagem ao soprar suave do vento sobre nós. Eu naveguei pelo oceano de estrelas no alto do firmamento naqueles poucos segundos, antes que sua voz clamasse minha atenção novamente:

– Nessie?!

– Sim?!

– Eu te entreguei a chave do meu coração, viu?! Serei eternamente seu!

Nossa, que sintonia magnífica nos envolvia...

Parecia que ele tinha ido buscar no fundo da minha mente a frase que melhor expressava meu amor em relação a ele, para expressar o dele por mim. Meu arrepio foi tão intenso que até ele sentiu na própria pele!

...

Como a noite já se adiantava, achamos por bem voltar ao hotel para talvez, quem sabe, desfrutar de algumas iguarias em uma refeição um pouco mais formal que a do entardecer... Levantamos e catamos nossas roupas do chão, colocando-as outra vez no corpo, enquanto fazíamos o trajeto de volta ao Porsche. Terminei de amarrar meus sapatos no carro, enquanto Jake dirigia em alta pela mesma estrada vazia, iluminada agora pelos nossos faróis potentes. Senti um sono insistente demais e então não consegui lutar contra: apaguei no acento do carona!

Quando abri meus olhos {com muito esforço, é preciso salientar...}, Jake estava me segurando de leve pelo rosto, agachado do lado de fora do carro...

– Nessie, meu bem, acorde! Nós já estamos aqui.

Enxerguei a movimentação e as luzes vindas da pousada. Soltei um resmungo baixinho, mas acabei me erguendo, como um zumbi!

De supetão, senti minhas pernas vacilarem!

Tudo girou ao meu redor...

Um protesto estranho veio da minha barriga, começando a escalar minha garganta...

– O que foi, Nessie?! Vocês está pálida... o que está acontecendo?! – sua voz foi se afrouxando, na medida em que ele viu a necessidade de me amparar pelo braço. Mas eu me afastei depressa, deixando-o para trás.

Adentrei pela porta automática de vidro; atravessei o saguão; ganhei os corredores dos quartos, onde nenhuma pessoa me impediu de correr como um flash; alcancei a suíte 2011 e, me lembrando que estava sem chave, não contei conversa e arrombei a porta! Avancei quarto adentro em uma busca desesperada e instintiva pelo vaso sanitário...

Me atirei de joelhos no chão por sobre ele e um jorro de sangue se lançou convulsivamente pra fora da minha boca, como uma cascata feroz que não pude conter!

Minhas mãos, agarradas à porcelana do vaso, começavam a provocar nele rachaduras, mas eu não conseguia me concentrar em outro movimento, senão no giro que meu tronco dava para auxiliar a liberação da passagem da garganta.

Foram praticamente dois minutos inteiros vertendo sangue quase que sem parar...

Ao final da crise, eu respirei ofegante e abaixei a tampa, me escorando sobre ela. “O que está acontecendo comigo?!” pensei nervosa, então senti que alguém me observava. Me virei, ainda sentada no chão, e dei de cara com a tez apavorada e translúcida de Jake, encarando aquela cena grotesca, totalmente impotente. Seu olhar trêmulo estava marejado, e seus lábios pendiam para baixo, entreabertos, evidenciando um estado de choque e horror! Me preparei para ficar de pé, mas ele correu até mim e me ergueu no colo...

*Desmaio*

...

...

...

* * *

– É, EU SEI... ESTAMOS SAINDO DO HOTEL AGORA! VOU LEVÁ-LA PRA AÍ IMEDIATAMENTE!!

...

– POR FAVOR, EDWARD, EU NÃO ESTOU EM CONDIÇÕES DE OUVIR ISSO AGORA... FOI UMA COISA HORRÍVEL, TINHA SANGUE PRA TODO LADO... EU NEM PUDE FAZER NADA PARA AJUDÁ-LA...

...

– SIM, CLARO... EU CONVERSEI COM O PESSOAL DA POUSADA E AVISEI QUE AMANHÃ ALGUÉM PASSARIA PARA ACERTAR AS DESPESAS. NOSSAS COISAS ESTÃO TODAS LÁ AINDA...

...

– FOI ABSOLUTAMENTE DO NADA! ELA PASSOU O DIA TODO BEM, NÓS SAÍMOS PARA CAÇAR E, NA VOLTA, ACONTECEU! ...ESPERE, ELA ESTÁ VOLTANDO A SI... Nessie!! Nessie!! Fala comigo, meu amor... Você pode me ouvir?!

– Hmmm... – o mundo voltou a girar, então fechei os olhos. Não estava conseguindo assimilar muita coisa. Só sabia que estávamos de volta no carro e que a chuva batia com força no pára-brisas, embaçando o vidro. Jake dirigia a toda velocidade pela rodovia escura...

– Ai meu Deus!!... EDWARD?! ELA ESTÁ MUITO MAL, NEM CONSEGUE FICAR ACORDADA... O QUE EU FAÇO?! O QUE EU FAÇO ?! **soluços de choro desesperado**

Eu quis tanto ter forças para abraçá-lo... O pobrezinho estava em pânico! Mas, quanto mais eu me esforçava pensando, menos energia eu tinha... A inconsciência, novamente, foi inevitável.

4 comentários:

Flávia Araújo disse...

Legal demais!! como sempre o melhor ! Solsticio!

Ivy disse...

muiiitooo bom esse capítulo...
maravilhoso,voce escreve muitooooo!!!

Charlie Rhodes disse...

ameeeeiii!!!
o que será que a Nessie tem hein!?

kety cullen disse...

Ta obivio ela ta gravida né!

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