– EEEEDWAAAARD!!!!!
Meus ouvidos estavam particularmente sensíveis naquele início de manhã, mesmo semi-acordada! Gritar perto de mim não parecia uma boa idéia, a não ser que...
– EDWARD!! – outra vez o berro afiado do meu marido, sentado na cama ao meu lado – CORRE AQUIIIII!!
– Que escândalo é ess... – ao chegar, meu pai não completou a pergunta, e foi nessa hora que eu soube que devia abrir meus olhos.
Aquela umidade quente que eu sentia sobre mim não era suor, como imaginei. Era sangue vivo. E não era pouco sangue não: eu estava ensopada, todo meu pijama {eu repentinamente estava de pijamas}, pescoço e lençóis tingidos de vermelho. Uma cena grotesca, saída de um filme de terror! Meus olhos, inchados pelo despertar prematuro, fitaram Jake com tristeza. Queria que houvesse algum meio de aquelas ocorrências não o deixarem tão assustado...
O quarto foi inevitavelmente invadido por todos os moradores da casa, meio segundo depois. Não era a melhor hora para uma reunião de família... Graças a Deus, tio Jasper aparentemente ainda estava no chalé com a Aly, senão...
Nesse ponto, algo impensável aconteceu.
– Credo – Rosie foi a primeira a falar, estranhamente franzindo a testa, ao mesmo tempo em que tapava o nariz – eu nunca pensei que diria isso sobre sangue, mas... que cheiro horrível é esse?!
Nenhum dos presentes, cuja dieta era semelhante à dela, conseguiu evitar fazer a mesma coisa, inclusive a cara de nojo. Que esquisito... Eu pensei que teria de sair correndo dali para poupá-los da tentação, porém aquela atitude pegou até eles mesmos de surpresa!
Outro detalhe também foi marcante. Porque eu não estava sentindo cheiro de nada?! Quer dizer, sentia o cheiro de Jake, dos meus pais, avós, tio Emmett, Rosie... móveis, tecidos, da natureza do lado de fora da janela... As coisas triviais estavam distintas até demais em minhas narinas. Era o SANGUE que eu não reconhecia... tanto que nem fui capaz de me dar conta de que estava ensangüentada, até olhar pro meu corpo e ao redor.
– Ela vomitou de novo, enquanto dormia! – Jake falou, pálido feito um cadáver
– E isso já não era de se esperar, Jacob?! – meu pai conseguiu denunciar sua frustração, mesmo com a voz fanha
– Tá, mas... Isso não muda o fato de que eu ainda me assusto muito ao vê-la assim!
– Está tudo bem, Jake – minha mãe disse, lançando um olhar de repreensão a meu pai – É realmente uma coisa forte de se ver... Ai, esse cheiro está realmente muito ruim!
Ela se encaminhou ao toilet da suíte e começou a encher a banheira. Meu avô e Jake eram os únicos, além de mim, que não demonstraram a necessidade de bloquear o odor.
– Meus queridos, vão lá pra baixo – vovô pediu – Está tudo sob controle, nada disso foge ao esperado. Não há necessidade de vocês ficarem aqui desse jeito!
– Esse cheiro foge ao esperado, com certeza... Acho que no jardim será melhor! – papai salientou – Nós estaremos lá, caso precisem!
– Tudo bem, mas não haverá necessidade filho, eu garanto. Vão, Bella descerá em seguida...
Eles obedeceram e meu avô fechou a porta. De frente pra ele, Jake e eu o encarávamos sem saber muito bem o que fazer. Minha mãe desligou a torneira e voltou ao quarto, liberando a passagem nasal desapressadamente.
– Você agüenta ficar, Bella?!
– Acho que sim, Carlisle, se eu parar de respirar. Não é grande coisa, quer dizer, só pinica um pouco...
Pinica?! Ai ai ai, essa falta de sensibilidade já estava me assustando! Tinha que dizer a Jake o que estava acontecendo, então coloquei uma mão em seu braço e mentalizei a minha descoberta, com a devida dose de alarde! Ele olhou pra mim, mas não como se tivesse recebido a mensagem. Foi apenas uma reação natural ao meu toque, livre de qualquer espanto ou surpresa.
– O que foi, meu bem?! Está sentindo mais enjôo?! – essa pergunta só comprovava que ele realmente não tinha escutado o que eu mentalizei.
Tentei de novo, aplicando mais força nos dedos. Ele se apavorou, seus pelos se arrepiando por completo.
– Nessie, por Deus, fale o que está sentido, pra que eu possa te ajudar!! – ele me segurou pelos ombros, a ponto de ter um treco. Minha mãe e meu avô tinham expressões confusas nos rostos, enquanto nos observavam.
– Mas é isso que eu estou tentando fazer, Jake – eu desisti diante do meu fracasso. Ele largou meus ombros e franziu a testa.
– Ah, você estava tentando falar comigo?! Mas porque não saiu nada?!
– Como “não saiu nada”?! Saiu sim, você é que está muito nervoso pra...
– Não, meu amor, eu tenho certeza! Não escutei nada quando você me tocou! Pensei que estava apenas pedindo minha atenção.
Ah não, mais essa agora?! Descontrole digestivo, insuficiência olfativa... e impotência extra-psicológica?! Qual seria o próximo passo: perda dos sentidos restantes?! Eu duvidava muito. Apesar dos pequenos entraves, meus olhos e ouvidos pareciam ter ganhado um novo gás. Funcionavam tão bem que eu poderia escutar um alfinete caindo na rodovia, ou o bater de asas de um beija-flor no outro pólo da floresta! Pra dizer a verdade, à parte do sangue, meu alcance olfativo também estava bastante aguçado. Eu até já me sentia bem o suficiente para levantar e andar sozinha – se alguém me permitisse esse intento, é claro...
No entanto, minhas recém-adquiridas inabilidades diziam respeito a características marcantes demais em minha natureza para que eu as ignorasse. Primeiro: Sentir cheiro de sangue era algo indispensável à caça e, muito provavelmente, a falta dele alteraria também o meu paladar. Segundo: A comunicação mental era a minha ferramenta de proteção! Algo que era inerente a mim, quase como uma impressão digital. Sem essas duas coisas, eu praticamente me tornava outra pessoa. Outra Renesmee!
Minha mãe veio até mim e me ofereceu o braço:
– Venha filha, vamos lavar essa sangria do seu corpo.
Obedeci, anestesiada demais pelas minhas considerações para pronunciar sequer um agradecimento. Jake correu até o nosso lado e segurou meu outro braço. Era quase como se eu estivesse aleijada...
– O que você estava tentando me contar, Nessie?! – ele perguntou, enquanto caminhávamos a passos de lesma até o banheiro
– Ah sim, eu estava tentando te dizer que... q...
Um abrupto jorro de sangue cortou minhas palavras, se atirando pra fora de mim com violência. Eles dois se esquivaram, ao mesmo tempo em que continuaram a tentar me manter firme. Meu corpo arquejava involuntariamente pra baixo e pra cima, com uma intensidade muito grande pra que eu pudesse tomar o controle.
– Bella, deixe que eu seguro Renesmee. Você não vai agüentar o cheiro por muito mais tempo... – ouvi vovô pedir
– Não, Carlisle, eu estou bem... Além do mais, eu sou a mãe dela. Tenho que ficar aqui pra ajudá-la.
– Não tem não, Bella! – Jake rebateu – Pode ir, a gente dá conta do recado.
– Eu já disse que não, Jacob! Você me permite ficar?! – ela vociferou, enquanto eu já recuperava a postura ereta, livre das convulsões
– Você dois – a voz arranhou minha garganta – não comecem a brigar agora... por favor...
– Claro que não, filha! Falha minha, me perdoe!
Eu balancei a cabeça positivamente, contraindo minhas feições por conta do enjôo. Percebendo isso, eles adiantaram os últimos dois metros até a beirada da banheira, e eu me sentei nela. Seus dois pares de mãos então começaram a percorrer meu corpo, retirando o pijama molhado de mim. Depois eu fui conduzida pra dentro, onde a água quente me engoliu com gentileza. Ressonei de alívio.
– Jake, – minha mãe clamou, me sustentando pelo tronco – abra aquela portinha ali debaixo da pia e traga o sabonete líquido e uma escova de banho, por favor.
Ele fez como solicitado e o barulhinho de líquido atingindo a água pouco depois exalou o néctar de pêssego que eu tanto gostava. Sorte minha eu não ter enjoado desse aroma em especial... era o meu favorito! As bolhas começaram a ganhar volume sob o meu queixo e algumas flutuaram dentro do perímetro octogonal do boxe de vidro que comportava a banheira. Foi uma sensação engraçada quando minha mãe começou a me esfregar delicadamente com a escova de banho. Me senti um bebezinho em suas mãos cuidadosas! Jake expressou um alívio ao notar meu sorriso tímido:
– Já está melhorando, meu amor?! – ele se sentou sobre a tampa do vaso sanitário ao nosso lado
– Consideravelmente... – respondi com um tom de alívio que era indiscutível
– Olha só, Jake, eu sei que você quer estar perto de Nessie, e tal, mas... será que dava pra você dar um jeito nessa sujeirada ali atrás?! Meus olhos não lacrimejam mais, e essa sensação de pimenta no meu nariz não é muito legal, sabe?!
– Ah ta... – ele se levantou de imediato – foi mal, Bels!! Vou procurar um pano.
– Eu vou ajudá-lo – vovô disse, solícito.
Os dois foram juntos até o andar de baixo. Pude escutar com perícia seus passos galopantes nos degraus da escada e meus dedos tamborilaram na beirada da banheira no mesmo ritmo.
– Ai ai, esse seu marido é tão super-protetor... – mamãe comentou, irônica – me lembra alguém que eu conheço!
– Eu sei! – revirei os olhos – Eu fico de mãos atadas... Ele entrega os pontos toda vez que meu corpo manifesta alguma coisa, igualzinho ao papai. Só que o meu pai disfarça melhor, óbvio!
– Hunf, você é que pensa! – ela torceu a boca – Quando Jake ligou, contando o que estava acontecendo, você precisava ver a cara dele... Se descabelou todo, o coitado! Pensei que ele fosse engolir o celular! Ah, por falar nisso – ela mudou de tom – alguém tem que voltar ao resort para buscar suas coisas e acertar os prejuízos. Eu soube que você destroçou uma porta e avariou um pobre vaso sanitário de porcelana!
– É... – eu disse, entre um sorriso amarelo. Ela riu.
– Eu dava tudo pra ver a cara do Jake, quando você vomitou pela primeira vez.
– Ah, foi hilário! – eu me entusiasmei – Ele ficou agarrado à parede, me encarando como se eu estivesse a ponto de implodir!! Se não fosse a minha confusão e tontura na hora, eu juro que teria dado umas risadas.
– A gente ri agora, não tem problema!
Assim fizemos, enquanto ela terminava de esfregar meu braço direito. Que crueldade nossa, achar divertido o sofrimento do meu pobre maridinho... Mas não conseguimos evitar! O passado serve pra essas coisas mesmo...
– Ai ai, esses maridos inexperientes... – ela suspirou, se esgueirando para alcançar a duchinha
– Nem me fale.
– Por sinal, o que era mesmo que você estava tentando dizer a ele, agora a pouco?! Era algo particular?!
– Não, nem um pouco... – eu parei de rir com a lembrança e retomei o tom sério – É só que... Eu percebi uma coisa, quando todo mundo veio até o quarto e comentou sobre o cheiro esquisito...
– Que coisa?!
– Que eu não estava identificando o cheiro do sangue!
– Como assim?! – ela franziu a testa, parando de enxaguar meu corpo com a ducha – Você perdeu o olfato, ou...
– Não, somente o cheiro de sangue mesmo... – eu completei – o resto está bastante perceptível. Até demais pro meu gosto!!
Meu avô e Jake retornaram nessa hora, com os panos e um galão de desinfetante nas mãos.
– Você ouviu o que Nessie acabou de dizer, Carlisle?! – mamãe interrompeu o papo descontraído dos dois
– Me perdoe, Bella. Escutei suas vozes sim, mas não atentei para o conteúdo da conversa... – aquela calma natural no tom de voz do meu avô dispensava qualquer pedido de desculpas – O que você disse, Nessie?!
Jake, que também estava alheio a nosso papo, colocou o galão de seis litros no chão para poder me dar atenção.
– Bom, eu estava contando a minha mãe uma coisa que eu notei, quando estávamos todos no quarto. Eu não estou reconhecendo o cheiro de sangue, vovô. Os outros cheiros sim, mas não esse em especial!
– Isso é ruim, Carlisle?! – mamãe perguntou, provavelmente englobando a curiosidade de Jake também
– Eu não acho isso um motivo para preocupação, crianças! – sua tranqüilidade não deixava dúvidas – A meu ver, isso poderia ser classificado como um sintoma da gravidez mesmo. Mas não deixa de ser interessante... Me diga querida, notou alguma outra coisa?!
Ele ficou tão curioso a respeito que, de repente, eu tive a impressão de ter virado um projeto de ciências! No entanto, não evidenciei qualquer desconforto...
– Sim. O fato de eu não estar conseguindo me comunicar com o toque! – respondi calmamente, enquanto levantava para me enrolar na toalha que minha mãe me estendia
– Humm – ele coçou o queixo, absorto em uma nova gama de possibilidades
– Era isso que você estava tentando me dizer, quando me tocou naquela hora?! – Jake cruzou os braços, confuso – Sobre o sangue?!
– Aham! – meus cabelos chicotearam meu rosto, enquanto mamãe os esfregava com outra toalha
– Essas informações são dignas de nota, sem dúvida! – vovô exclamou, satisfeito
– Você está se divertindo, não é Carlisle?! – Jake o encarou, com olhos cerrados
– Ora, Jake – meu avô deu um tapinha amigável no ombro dele – Seja razoável. Eu já estou afastado da profissão há algum tempo... Essa experiência é bastante empolgante pra mim!! Relaxe, eu não estaria assim se pressentisse algum perigo!
– Típico! – Jake assoprou, mas pareceu acatar seu conselho
– O papo foi muito esclarecedor – minha mãe interferiu e apontou para a poça de sangue no piso claro – mas o chão continua sujo e fedorento, aguardando o serviço que vocês vieram fazer!
– Ah sim, é verdade! – meu avô disse, então os dois deram continuidade à limpeza.
Nós duas deixamos o banheiro e caminhamos devagar até o closet. Minha mãe era uma das poucas pessoas em quem eu confiava para adentrar aquela boutique privativa, sem ter que me preocupar em sair parecendo uma macaca de circo! Ela, com muito esforço {Muuuuuito mesmo} encontraria alguma peça vestível naquela zona de radiação fashion!
Após entrar, depositei minhas toalhas sobre o divã no centro do cômodo e observei-a vasculhar as inúmeras gavetas e cabides. Em meio a sua caçada inútil, ela teve a original idéia de conversar sobre a minha lua-de-mel:
– E aí, meu amor, você não me contou sobre sua curta expedição ao resort... O que você achou?!
Ela não poderia estar falando sério!
Esse tipo de atitude não era do seu feitio. Engoli em seco meu espanto e tratei logo de formular uma resposta satisfatória, pra que aquilo não se prolongasse:
– Foi legal! – parabéns para minha incompetência
– E as acomodações?! – ela não ia desistir tão facilmente
– Formidáveis!
– Vocês foram bem tratados?!
– Sem exceções!
– E vocês...
– Mãe!! – eu grunhi
– Desculpe, desculpe... – ela se virou para mim, com um olhar constrangido – É só que... A René sempre me fazia interrogatórios quando morávamos juntas, e por coisas que nem tinham tanta importância assim. Eu ficava martelando na cabeça que isso era preocupação natural de mãe, que um dia eu também faria a mesma coisa... Ai, me desculpe mesmo, filha! Não quis ser intrometida!
– Tudo bem...Eu te entendo! Você não quer se sentir uma mãe omissa.
– Exatamente! – ela sorriu, aliviada por minha compreensão
– Não se preocupe. Você está longe disso, é a melhor mãe do mundo! Esse risco você não corre...
Ela ficou lisonjeada com as minhas palavras e demos aquele assunto incomodo por encerrado.
– Eu acho até legal que você esteja temporariamente impossibilitada de se comunicar com o toque, filha...
– Por quê?! – eu me alarmei com sua afirmação
– É muito mais emocionante ouvir a sua voz. Torna as coisas mais próximas da realidade.
– Humm, tá certo... – eu aceitei sua opinião, embora achasse a perda da minha habilidade uma coisa muito custosa – pra dizer a verdade, já faz algum tempo que eu venho me utilizando menos desse meu veículo de comunicação.
– É... – ela concordou, com uma pitada de malícia – Essa foi uma das várias influências positivas de Jacob em sua vida, não é?! Ah, que bom, um vestidinho discreto!
“É verdade!” eu concordei mentalmente. Foi desde que eu percebi a mudança dos meus sentimentos em relação a ele que passei a verbalizar minhas opiniões, ao invés de externá-las imaterialmente. Bom, se ela achava positivo ou não, tanto fazia... Jake admitiu sentir falta daquilo! Nesses aspectos, a opinião dele contava mais – e não só por estar de acordo com a minha, claro!
O vestidinho que ela me estendeu em seguida era graciosinho. Eu tinha razão em confiar no seu tato com roupas... No entanto, era de camurça! Preta, é verdade... mas, ainda assim, camurça!! Eu iria sentir o maior calorão dentro dele, mesmo sendo de alcinha. Que jeito, melhor aquilo do que um com paetês ou lantejoulas... Não encontraríamos nada melhor. Ele tinha até uns detalhes em grafite que amenizavam um pouco o seu caráter sério.
– Obrigada, mãe! – recebi a roupa das mãos dela
– Por nada!
Ela ficou de frente pra mim, me encarando de braços cruzados enquanto eu me vestia...
– Essas veias na sua barriga acrescentam um detalhe artístico à sua gravidez. Parecem pezinhos de galinha, só que roxos!!
– Nossa mãe, que percepção de arte você tem... – desdenhei, com um riso nasal, e terminei de ajeitar a roupa no corpo – Eu diria que elas se parecem com pequenos ramos de uma árvore lilás! Ou ramificações de um rio lilás... Tanta coisa pra comparar e você escolhe logo pés de galinha roxos?!
– Tem razão. Como crítica de arte, eu sou uma ótima mãe! – ela concordou, mas depois gemeu e esfregou o nariz – E esse cheiro que não passa?! Jake, vocês já terminaram de limpar?
– Já! Tudo limpinho! – sua voz respondeu, vinda do lado de fora do closet.
Fomos braço com braço ao encontro deles. Os lençóis e meu pijama ainda estavam ensangüentados em cima da cama.
– Ah, é esse o problema – mamãe apontou para eles – nem vai adiantar lavar isso! Joguem fora. Ou melhor, queimem!!
– Credo Bella, você precisa andar menos com Alice... – Jake resmungou – está ficando mandona igual a ela!!
– Que gracinha! – minha mãe fez uma careta debochada e ele lançou um olhar abusado pra ela, indo cuidar da nova tarefa.
Antes de sair, porém, pousou um beijo suave nos meus lábios desavisados e eu corei.
– Fique boazinha, meu anjo! – ele me pediu, depois pegou os tecidos sujos e atravessou a porta do quarto.
Quase havia me esquecido de como era boa a sensação do seus lábios tocando os meus. Mordi-os, tentando prolongar a sensação do beijo mentalmente. Que disparate me permitir ficar tanto tempo em abstinência daquele privilégio, por conta de cansaço. Aquilo não iria se repetir, nunca mais!! Minhas auto-admoestações foram interrompidas por minha mãe, me cutucando no braço:
– Ow, vai ficar aí com essa cara de boba?! – ela parecia se divertir com a minha inércia – Você vai ter que se acostumar com isso algum dia, amorzinho!
– Eu duvido que consiga... – suspirei – Talvez daqui a uns 500, 1000 anos... Mas não garanto!
– Sei... – debochou, mas ela possivelmente sabia mesmo!
Olhei em volta e vi que estávamos sozinhas, o banheiro limpo não denunciava a presença de mais ninguém.
– Meu avô desceu antes de Jake!
– Vamos também, tomar um ar fresco lá no jardim?!
– Hmm – franzi o nariz, não muito animada com a idéia – talvez mais tarde... Por agora, eu acho que vou praticar um pouco de violino na sala do piano. Já faz tempo que não toco, vou acabar enferrujando!
– Você é quem sabe... – ela veio me oferecer o já tão manjado apoio
– Vamos fazer diferente – eu rejeitei, gentilmente – Dessa vez, eu vou tentar caminhar sozinha até lá embaixo, está bem?!
– Olhe, eu acho isso muito arriscado...
– Não tem perigo, já estou me sentindo firme outra vez! Qualquer coisa, você me segura...
– Está bem!
Caminhei com naturalidade até o corredor, debaixo de seu olhar receoso. O tempo todo eu senti suas mãos postas no ar atrás de mim, por precaução. Alcançamos o corrimão da escada e iniciamos a descida. Como todos estavam se “exorcizando” do cheiro no jardim, não presenciaram o meu progresso. Fomos até o grande salão de música e eu avistei meu instrumento encostado próximo a uma aresta da parede, sobre um suporte no chão. Segui em direção a ele, mas fui barrada:
– Nem se atreva a se abaixar! Eu pego pra você.
– Você vai ficar me monitorando agora é, mãe?! – resmunguei, enquanto ela me entregava o violino e o arco
– É necessário, Nessie! A senhorita agora tem que pensar em você e no bebê, esqueceu?!
Como se fosse possível não ter consciência disso...! O volume rígido em minha pélvis não fez outra coisa durante a noite, a não ser crescer. A essa altura, eu já tinha a aparência discreta de uma grávida de quase três meses. Dentro de umas oito ou nove semanas, aqueles braços que agora comportavam meu instrumento preferido receberiam um precioso anjinho, cujas feições, pele e cabelos eu somente imaginava por enquanto. E isso, por si só, já era emocionante!
Naquele mesmo dia, nada de muito diferente aconteceu. Quer dizer, embora eu apresentasse uma considerável melhora, nunca me movimentava sem que pelo menos uma pessoa estivesse a meio metro de distancia de mim, de prontidão para me socorrer caso eu rompesse em outra cascata de sangue, ou desmaiasse cinematograficamente! Um cuidado exagerado que eu fui forçada a aceitar. A noite veio e eu dei graças a Deus por não precisar de uma baby sitter pra evitar que eu sonhasse que estava em movimento – isso é, até onde eu tinha consciência... Qualquer um deles poderia facilmente ficar de plantão no quarto, sem que eu ou Jake percebêssemos.
Felizmente, as hemorragias orais cessaram após o quarto dia.
Quando pensamos que não, uma semana já havia se passado desde a descoberta da minha condição. Era impossível não se espantar com a mutação acelerada tanto do meu corpo, quanto dos sintomas. Um novo item veio engordar a lista de “efeitos colaterais” da gravidez: A cor dos meus olhos começou a sofrer ocasionais transições, indo do tom chocolate padrão para o cobre, rubi ou ciano... totalmente ao acaso! Vovô vibrava com cada novidade {a teoria de que eu havia me transformado em um ratinho de laboratório se confirmou}.
Se as pessoas comuns por aí afora costumavam se preparar intensamente tendo um vasto período de nove meses pela frente, nosso prazo abreviado resultou em uma explosão de compras, diários, horas e horas de tagarelices e discussões das mais inacreditáveis... Aly, claro, com sua natureza hedonista {se é que essa palavra se aplicava a uma imortal} já estava começando a planejar uma “comemoraçãozinha em família”, marcada para dois dias após o nascimento do bebezinho ou bebezinha que viria alegrar aos universos Cullen e Black! Ela insistia em comemorar também o aniversário atrasado de 26 anos da minha mãe, que havia se recusado festejar junto comigo, alegando que meu sétimo ano era especial e as atenções não deveriam ser divididas, mas agora se via encurralada outra vez.
– Se eu não quis comemorar meu aniversário com o de Nessie, o que te faz pensar que eu concordaria em comemorá-lo na festa de boas vindas do meu neto, ou neta?!
– Ora, sua estraga prazeres, nem comece com isso de novo! – Aly ralhou – Dessa vez, você não me escapa!!
Acho que não seria uma boa idéia anunciar que já havíamos feito uma celebraçãozinha junto aos Denali no dia treze mesmo, durante nossa viajem. Isso poderia colocar em risco a integridade do planeta!
A segunda semana marcou o inicio de uma nova fase, onde eu, basicamente, comia... comia... comia!! Eram espantosas as poções de alimentos que eu ingeria de uma só vez, e também a freqüência diária dessas refeições exorbitantes! Como ninguém me permitia caçar, todos se revezavam em pequenos mutirões pra me trazer comida. O cardápio variava entre pequenos roedores, até ursos de pequeno porte, englobando também muitos doces e comida chinesa {colesterol alto não existia no nosso vocabulário}! Minha massa corpórea não aumentava, é claro... somente a que estava concentrada na região central do tronco. Tocar violino se tornou uma terapia para enganar parcialmente o ócio!
Uma vez extirpados permanentemente meus sangramentos, as veias arroxeadas em minha barriga foram perdendo a intensidade, até sumirem por completo ao final do 16º dia. Nesse ponto, eu já ostentava uma barriguinha com aparência de incríveis cinco meses de gestação e um enxoval quase completo, faltando apenas as roupinhas principais, alguns lençóis e toalhinhas {a inconsciência sobre o sexo da criança freou a ansiedade de Aly nesse aspecto} e o berço, encomendado por ela da Europa.
Com a chegada da terceira semana, eu me cansei de ficar em regime fechado {cativeiro, melhor dizendo} e exigi algumas horas diárias de passeio a sós com Jake. Ele passava tanto tempo se desdobrando em tarefas para me proporcionar bem estar, que se esquecia por completo dele mesmo... Quase nunca tínhamos privacidade e, quando tínhamos, estávamos cansados demais para desfrutar da companhia um do outro.
Algumas opiniões relutantes se opuseram de início, mas bateram de frente com meus olhos vermelhos de fogo e cederam alarmados – ninguém queria ver uma grávida incandescente!
Numa tarde, em um desses passeios, resolvemos ir até uma delicatessem que ficava no centro de uma das pracinhas de Forks.
Meu carro praticamente gritava “olhem pra mim, seus caipiras provincianos!”, enquanto deslizava pelas ruas enfeitadas. Estávamos nos aproximando do Halloween e a decoração típica já tomava as lojas e residências. O ronco do motor era quase uma afronta aos meus conterrâneos distraídos...
– Da próxima vez, a gente vem no seu Rabbit, está bem?! – eu avisei, incomodada
– Ah, sim... por que ele não chega nem aos pés dessa belezinha aqui, não é verdade?! – ele nem se ofendeu, óbviamente
– Você sabe que eu não quis dizer isso...
– E nem precisa... Eu mesmo admito, fofinha!! Comparar nossos carros é tão absurdo quanto comparar a nós dois... nunca haverá uma mínima equivalência!
– Esse romantismo auto-depreciativo não me agrada em nada, Jake! Eu tenho um conceito muito elevado sobre você para permitir isso.
– Nessie, você me eleva aos céus apenas com um sorriso! – ele me desarmou com aquele alinhamento impecável de dentes brilhantes e eu senti as bochechas em brasa. Já estava mesmo sentindo saudade daquela arritmia cardíaca constrangedora!
Estacionamos nas proximidades da praça, debaixo da sombra de uma macieira, e seguimos de mãos dadas pelo caminhozinho de pedra até a entrada da lojinha. O sininho da porta tilintou quando entramos {só em cidades pequenas ainda se via essas coisas}. O movimento era intenso, por causa das festividades, e todos de repente nos encararam como se estivéssemos desfilando com abóboras sobre as cabeças! Sério, ninguém sequer se preocupava em disfarçar o espanto ao avaliar a minha figura jovem e grávida ao lado da pompa máscula e alta de Jake. “Será que ele raptou a pobrezinha?!” ouvi uma senhora cochichar para outra, a duas estantes de distância... Que absurdo, essa gente realmente não tinha senso prático! Era tão difícil assim nos encarar como um reles casal de namorados que fosse?! Jake nem parecia ser assim, tão mais velho do que eu... Seus traços eram tão joviais quanto os meus eram. O melhor a fazer era ignorar as pessoas ao redor e agir normalmente.
Passeamos minuciosamente os olhos pelas prateleiras de guloseimas e, ao meu sinal, Jake foi colocando algumas {várias} na cestinha de compras. Meu apetite se tornava cada vez mais infantil, mas ele seria incapaz de me negar qualquer coisa no mundo. Teríamos continuado, não fosse o abafamento do lugar... Quando não agüentei mais, pedi para esperá-lo lá fora, enquanto ele pagava as compras.
– Tudo bem, mas não se afaste! – ele me instruiu como já era de se esperar.
Me senti emergindo de águas profundas quando alcancei a saída, e respirei aliviada. A temperatura do lado de fora estava bastante agradável. Avistei um banco de praça vazio a poucos metros de um parquinho próximo, onde várias crianças brincavam animadamente sob a vigilância atenta dos pais. Caminhei tranquilamente até ele, observando a extensão vantajosa da praça, que mais parecia um parque, de tão grande e arborizada. Ao longe, o pôr-do-sol tingia o céu de rosa e laranja, um clima perfeito para relaxar. Sentei confortavelmente, depois olhei de volta para a entrada da lojinha para me certificar de que a distância estava dentro dos limites impostos por meu cuidadoso maridinho.
As risadas das criancinhas descendo o escorrega, no centro do tanque de areia, cativaram minha atenção. Observei suas brincadeiras e conversinhas com um delicioso interesse de quem, dentro em pouco, seria incluída naquele universo tão maravilhoso! Prestei atenção em cada olhinho brilhante; cada rostinho limpo, ou com sardinhas; cada cabelo encaracolado, liso... claro, escuro; nas roupinhas com estampas coloridas, encardidas pela diversão... A variedade era emocionante!
Inevitavelmente, voltei a imaginar meu filhinho ou filhinha. Será que teria os cabelos iguais aos meus, acobreados e cheios de cachos?! Ou seriam castanhos e escorridos como os do pai?! Teria a pele alva, ou sua tonalidade penderia mais para o moreno avermelhado?! Seria uma criança sapeca e cheia de energia, ou de temperamento mais sério, tímido?! Quais seriam suas preferências, jogos ou livros?! Com certeza gostaria de música, tendo tantos instrumentistas na família...
Outras incertezas vieram a minha mente, e essas eram preocupantes: Será que beberia sangue, ou manifestaria algum dom?! Como seria o seu desenvolvimento?! Cresceria isolada do mundo, assim como eu, ou teria uma aparência normal o suficiente para lhe permitir a convivência com as pessoas comuns?!
Eram tantas questões a serem consideradas, mas todas elas foram interrompidas pela chegada de Jake. Ele se sentou do meu lado, carregando a sacolinha plástica cheia de doces. Eu avancei compulsoriamente sobre ela e cravei as garras no pacote de Jelly Fruits que estava bem à vista. Ele apenas riu da minha descompostura, sem oferecer resistência.
– Que fome, hein?!
– Você nem imagina o quanto... – eu disse, com a boca cheia de jujubas.
Seu braço me envolveu pelos ombros, me puxando pra mais perto dele. Muito melhor do que devorar aqueles doces era devorar aqueles doces recostada em seu corpo macio, admirando a paisagem espetacular. Sua respiração despreocupada fazia seu peito subir e descer sob meu ouvido.
Ficamos naquela posição até que os últimos raios de sol se esconderam atrás do horizonte. Àquela altura, eu já tinha esvaziado três pacotes das jujubinhas agridoces, e só parei porque ele finalmente me proibiu, alegando que eu teria uma overdose de açúcar se continuasse naquele ritmo! Levantamos e caminhamos de volta ao carro, os risos das crianças ficando para trás...
Ao chegar de volta à mansão, nos deparamos com caixotes de papelão dobrados em pilhas num canto da garagem. Aparentemente, o berço encomendado de Paris havia chegado! Isso explicava o alvoroço no andar de cima. Aly fizera questão de escolher pela internet um móvel no estilo mais imperial possível, cheio de soldas elípticas nas grades de ouro branco e suportes para as cortinas de vual! A despeito de mim, eu comecei a me deixar levar pelas extravagâncias dela, desde que não ultrapassassem demais o limite da sanidade, claro... Subimos e nos juntamos a todos naquela onda gloriosa de comemoração, que durou até altas horas da noite.
Pela manhã, acordei cedo e deixei Jake dormindo, indo ao andar de baixo em busca de algo pra comer {pra variar}! Todos estavam na sala: os homens, absorvidos em uma partida de poker; as mulheres, como de costume, entretidas em conversas e mais conversas sobre bebês. Fui saudada por eles, depois parti sem demora em direção à cozinha. A claridade invadia o local através dos janelões e o ar fresco adentrava pela porta aberta, que dava tanto para a varanda suspensa da casa, quanto para o jardim inferior do quintal. Na bancada de centro, uma fruteira abundante me atraiu direto a ela. Afundei os dentes em um pêssego macio e seu sumo escorreu pelos cantos da minha boca. Limpei com o dorso da mão e, depois de devorada a fruta, fui até a pia me lavar. Lembrei que havia uma jarra de suco de mangostin na geladeira, então abri o armário e peguei um copo.
Quando me virei, algo verdadeiramente inesperado me sobressaltou, fazendo o objeto escorregar das minhas mãos e ir ao chão, se estilhaçando em milhões de cacos de vidro.
O espectro sombrio de um homem me encarava pungentemente da porta, outrora vazia, em um misto de choque e contentamento!
Como ele havia conseguido chegar tão perto da casa?! Sua presença ali era inexplicável, mas não só esse aspecto me imobilizou completamente diante de sua figura: Ele era de uma beleza colossal, hipnotizante. Cada mínimo detalhe em seu corpo era envolvido por perfeição e harmonia.
Seus cabelos eram negros e encaracolados, contrastando fortemente com o tom de sua pele, alva como neve. Seus lábios eram de um vermelho vivo e seus olhos cor de safira penetraram minha alma, envoltos por longos e escuros cílios. Era magro, bastante alto, de traços finos e clássicos, levemente soviéticos. Poderia, sem dúvida, se passar por um belíssimo jovem de 19 anos...
Minhas avaliações compenetradas se calaram em minha mente, no momento em que sua voz de trovão, inegavelmente madura demais para sua aparência, repercutiu com uma energia eletrizante cozinha adentro:
– Finalmente... – ele disse e abriu um sorriso absurdamente lindo.
Foi só isso que bastou para me arrepiar da cabeça aos pés!
Escutei passos vindo na direção de onde estávamos e me virei para a entrada da cozinha. Meu pai apareceu, com uma interrogação no olhar:
– O que aconteceu, filha?!
Olhei de volta para a porta, mas não havia mais ninguém lá, somente o vento uivando e anunciando a chuva eminente. Senti o juízo falhando e tateei de costas a bancada, pouco antes de meu pai prontamente me alcançar.
– Pensei que essas tonturas já não te incomodavam mais... – ele disse, me colocando sentada sobre o mármore escuro
– Você não percebeu nada estranho, pai?! – eu cortei seu raciocínio, com a voz trêmula
– Sim, um barulho de vidro se quebrando, ora! – ele riu, mas depois franziu a testa e notou que eu não me referia a isso – O que você quer dizer com estranho?!
Meu coração se resfriou, depois acelerou ligeiramente:
– Pai, tinha um homem aqui, pouco antes de você chegar!
Ele pareceu levar um choque e seu corpo atravessou o vão até a porta numa velocidade record. Olhou pelas redondezas, com um semblante que conseguia misturar assombro e determinação, depois se virou para mim:
– Como era esse “homem”?!
– Era jovem e muito bonito! – abreviei uma lista imensa de adjetivos, obviamente
– Seja mais específica... – ele agitou as mãos, inquirido melhores descrições – o que ele estava vestindo?!
– Trajes sociais dentro um sobretudo preto! – respondi imediatamente.
Ele voltou até mim e me carregou.
Flutuamos então até a sala, onde nossa chegada evidenciou uma inquietação, por que todos se levantaram automaticamente. Aterrissei do sofá e meu pai arrastou Aly para um canto da sala.
– O que aconteceu, Nessie?! – minha mãe perguntou, sem conseguir desviar, contudo, minha atenção sobre meu pai e tia.
Jake vinha descendo as escadas e percebeu que algo não estava certo. Sua reação natural foi correr até mim, achando que o problema era comigo:
– O que foi, meu amor?!
Papai e Aly retornaram nervosos pra perto de nós e eu busquei em seus olhos uma explicação simples para aquilo.
– Emmett, Jasper... Eu preciso que vocês dois venham comigo! – ele pediu, fazendo cálculos mentais – Jacob, chame o maior número de lobos possível para cá, imediatamente! Carlisle, eu preciso que você vasculhe os arredores da casa e atenda o celular com a maior brevidade que puder todas as vezes que ele tocar!
– Claro filho, mas... o que está havendo?! Vasculhar em busca de quê?! – vovô perguntou
– É?! E como você espera que eu reúna os lobos aqui com essa urgência, e pra quê?! – Jake veio na seqüência
– Eu não sei como, Jake... mas você precisa fazer isso! Conto com vocês. Vamos rapazes!
Os três voaram na direção da garagem e alguns segundos depois, ouvimos o cantar de pneus se afastando da casa. Eu escutei o coração de Jake se acelerar, juntamente com a entrada e saída apressada de ar no peito dos demais. Rosie se sentou no sofá e me abraçou com força.
– Nos conte o que é, Nessie... Por favor!! – ela implorou, mas foi Aly quem saciou a curiosidade de todos
– Aparentemente, um homem esteve aqui em casa agora a pouco sem que, nem eu, nem Edward conseguíssemos notar!
O silêncio no cômodo foi de arrepiar!
Nosso escudo impenetrável foi invadido sorrateiramente, e isso rompia absolutamente com a nossa comodidade. Como um efeito dominó, cada um largou o corpo sobre um acento próximo, abatidos pela descrença. Dizer que aquele era um momento tenso seria insuficiente... Ficou difícil focalizar alguma coisa concreta, depois do tsunami que foi essa notícia!
– Ele te fez alguma coisa?! – Jake me perguntou, desorientado pelo pavor
– Não, nada! – sussurrei – Somente disse “finalmente”, e foi embora!
– Finalmente?! – mamãe indagou – finalmente... o que?!
– Essa é uma boa pergunta, e eu também de ter uma resposta pra ela... – respondi, sinceramente decepcionada
– O que ele disse ou deixou de dizer não é o mais importante, – Aly interferiu – mas sim, o que ele pode ser capaz de fazer!
– O que quer dizer, Alice?! – Jake se espantou
– Eu quero dizer que, de alguém que consegue passar batido pelas minhas visões, ou pela mente de Edward, não se pode esperar nada além de perigo! Vamos ter que encontrá-lo o mais rápido possível e, se necessário, eliminá-lo!!
Não sei por que, mas... naquele momento, senti um aperto fúnebre em meu coração, como se a idéia arrancasse um pedaço de mim! Seria aquilo preocupação pelo sujeito que eu nem sequer conhecia?! Não, isso era ridículo! Era só o temor natural por medidas tão drásticas precisarem ser tomadas! Mas ela estava certa... alguém que representava uma ameaça tão grande não deveria ser desconsiderado.
Jake e vovô se levantaram e foram cumprir as recomendações do meu pai. Minha mãe e avó foram ter com Aly, enquanto Rosie permanecia do meu lado, protetora.
Minha cabeça não conseguia associar outra coisa, senão a imagem daquela criatura angelical que esteve a poucos metros de mim. Ele deixou uma marca vigorosa em meu subconsciente, ao surgir e desaparecer tão de repente.
Que sensação esquisita e distorcida era essa que agora me tomava secretamente, como uma seda envolvendo os sentidos e dividindo-os?! Eu não queria esse sentimento, mas ao mesmo tempo parte de mim encontrava certa satisfação nele. Que horror!
Me levantei bruscamente e corri até Jake, me pendurando assustada em seu pescoço. Quase o fiz derrubar o celular, mas ele o posicionou entre a orelha e o ombro, passando os braços ao meu redor:
– Vai ficar tudo bem, meu amor! Eu te juro! – ele me consolou, sem muito sucesso.
Eu enterrei a cara em seu peito, com uma única certeza no espírito:
“Não me perca, Jake! Não me perca, por favor!!”
Se isso fazia algum sentido, só o tempo iria dizer...
2 comentários:
Que momento "tenso"...
muito
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