Solstício - Capítulo 16: Semanas Sete E Oito {Surpresa!}

Naquele momento, eu só desejei uma coisa: destruir por inteiro aquele pedaço insolente de papel que tremelicava entre meus dedos! Quanta audácia estava presente naquelas curtas palavras! Que espécie de “ser” se achava no direito de zombar assim da minha realidade e, pra piorar, ostentando a bandeira do amor?! Quem quer que fosse, eu quis que ele desaparecesse... que sumisse permanentemente, pra nunca mais ousar me insultar com o seu descaso outra vez!!

– O que diz aí, Ness?! – a voz impaciente de Aly me trouxe de volta ao planeta terra – É de quem estamos pensando?!

Eu nem respondi, ainda desgostosa em relação à mensagem. Foi meu pai quem fez isso por mim:

– É dele sim! Uma mensagem bem atrevida... ele, dessa vez, realmente mostrou a que veio!

– Pelo amor de Deus... me deixe ver isso, Nessie! – Jake veio até mim e quase conseguiu tomar o cartão das minhas mãos

– Não! – eu berrei, o impedindo de tocá-lo – Não vale a pena, Jake! É só uma estupidez, você não precis...

– Meu amor, – ele mediu as palavras, se apoiando no meu assento – eu sei que você só quer me poupar... mas entenda, eu não posso simplesmente ignorar uma coisa dessas!

– É, você tem razão, mas... – protestei, mas já estava sem argumentos. Eu ainda escondia o papel nas costas, quando minha mãe interpelou:

– Não discuta, Nessie! Ninguém aqui vai deixar o seu marido perder a cabeça, pode ficar sossegada!

Hunf, eu duvidei muito dessa parte, mas vi que não teria saída. Trouxe o braço lentamente para frente e ergui o cartão. Jake o agarrou bruscamente e correu os olhos por ele de cima a baixo, como um raio. Na mesma hora ficou carrancudo, exatamente como previ que ficaria, e sua mão direita amassou colericamente o papel enquanto uma ruga vincava em sua testa.

– Ei, seu tonto! – Rosie protestou – Nós também queremos ler, sabia?!

– Ah, me desculpe – ele se recompôs da ira e desamassou o bolo em suas mãos, depois o estendeu com asco – Tome!

Ela recebeu o maldito cartão, leu e depois repassou incrédula para os demais, que reproduziram a mesma reação um a um.

– É... – Aly balbuciou, depois que todos os presentes tomaram conhecimento da mensagem – Que desprazer a intromissão desse sujeito, não?!

– Sem dúvida! – eu concordei, emburrada

– Ele não foi desleixado! – meu pai admitiu com pesar – Encomendou um bilhete impresso, pra que não precisasse tocar nele. Assim, ficamos mais uma vez sem rastro...

– E as flores?! – Seth perguntou à distância, indicando com o queixo o arranjo abandonado sobre meu colo – Elas também não têm nenhum rastro?!

Meu pai me estendeu as mãos para que eu as lançasse para ele e assim eu fiz. Ele passou o nariz sutilmente ao redor delas, depois balançou a cabeça:

– Nada! A não ser por um fraco perfume feminino...

Vovó Esme pediu para sentir, depois atestou:

– Clinique Happy! Com certeza é de alguma das funcionárias que o atendeu e providenciou o arranjo.

Todo mundo ficou pensativo, os rostos com expressões sérias encaravam o piso em busca de soluções para aquela situação tão incomoda. “Quem seria esse tal G.D.?!” é o que deviam estar pensando, por que era essa dúvida que corroia meus neurônios agora.

– Ainda tem alguma dúvida quanto às intenções do cavalheiro, Sam?! – Jake indagou secamente, de braços cruzados – Ele está querendo me usurpar! Está me desafiando com esse joguinho absurdo e ainda faz questão de eliminar as chances de ser encontrado... É suspeito ou não é?!

– Espere aí, eu nunca defendi esse cara, Jake... – Sam se esquivou – eu apenas aleguei que ele merecia a chance de demonstrar quais eram suas intenções. Agora que ele já fez isso, não resta outra solução além do confronto, e com isso não digo que temos que partir direto pra violência... Mas já passou da hora dele se mostrar realmente!

– É isso aí! – Quil acentuou as palavras do colega

– Olá-á – Aly gesticulou, clamando pela retomada de foco – Será que dava pra adiar o “disse, não me disse!” e prestar atenção aqui?! Esme – ela apontou para o bouquet – qual é o nome dessa floricultura que comercializou o arranjo?!

Vovó examinou o embrulho plástico que envolvia o fundo das flores.

– “Cedro & Jasmins!” – ela respondeu – Fica no centro de Forks.

– Então ele está, de fato, bem próximo a nós! – minha mãe disse, visivelmente lamentando o fracasso das buscas

– Vamos até essa floricultura, Edward! – tio Jasper sugeriu prontamente

– Sim, vamos! Não sei se teremos mais pistas lá, mas não perdemos nada com a tentativa.

– Eu também quero ir!! – Jake logo se impôs

– É melhor não, Jacob – meu tio o barrou – Eu e Edward já chamaremos bastante atenção. Imagine se formos os três?!

– E daí?! – Jake deu de ombros – Esse ordinário não deve estar achando que nós ficaremos de braços cruzados, então... Que diferença isso pode fazer?!

– Ele está certo, Jazz... – meu pai tomou o partido do genro – Temos mais é que mostrar a esse cara que ele está em desvantagem numérica! Você pode vir conosco, Jake.

– E o que vocês esperam encontrar?! – Aly perguntou – A aparência dele a gente já conhece...

– Se tivermos sorte, um nome! – meu pai disse, balançando as chaves do carro em um chamado – Vamos então, rapazes?!

Só se for agora! – Jake, logicamente, concordou.

Eu vi as expressões de forra que eles estavam fazendo. Ficou claro pra mim que eu teria de intervir, antes que eles se lançassem em uma caçada mortal sem pedir reforços... Me ergui com dificuldade do divã e me equilibrei o melhor que pude sobre as minhas pernas. Eles se interromperam para prestar atenção em mim.

– Filha, ninguém vai fazer nada precipitadamente! – meu pai se adiantou, condescendente – Vamos ao centro com o único objetivo de colher o máximo de informações possíveis!

– Ah tá – eu sibilei – E se vocês, de repente, toparem com esse sujeito no meio da rua?! Vão fazer o que, marcar uma horinha aqui em casa pra gente se conhecer melhor?!

– Até parece! – Jake riu sarcasticamente – Se eu me encontrar com esse filho da mãe, arranco a maldita mão dele fora, só pra começar...

– Jacob!! – Meu pai o repreendeu – Não piore as coisas...

– Não pai, – eu interferi – eu já sei como ele é, por isso estou nervosa! Jake, – caminhei até ele lentamente – você não precisa ir com eles... Por favor, fique aqui comigo. Não me deixe sozinha agora, eu estou com medo!

Abracei-o com força, enquanto ele principiava uma replica. Sim, aquilo era mesmo golpe baixo, por que eu ainda não estava com esse medo todo... Mas sabia que se eu apelasse para o lado protetor dele, o convenceria a desistir de ir na hora. Por cima dos seus ombros, vi minha família rindo do meu teatrinho fajuto. Quem diria que eu me tornaria uma manipuladora de marca maior?! Pelo menos funcionou, apesar da minha péssima atuação:

– Está bem, Nessie – ele se rendeu de má vontade – Podem ir vocês dois... Eu vou ficar aqui e esperar com os demais.

– Certo! – tio Jasper concordou apressadamente – Vamos Edward!

– Vamos! Voltaremos logo, não se preocupem.

Eles saíram e nós nos reorganizamos. Jake foi injuriado para a cozinha atrás de alguma coisa pra comer. Vovó Esme me entregou de volta o buquê, que eu arremessei com toda a raiva pela janela. Todos se admiraram com meu ato defenestrativo e inesperado.

– Eu suponho que você também não vai querer guardar este bilhete de recordação... – Sam disse, balançando aquela coisa para mim

– Supôs corretamente, Sam! Pode queimar esse lixo, eu não quero vê-lo inteiro nunca mais!

– Nada disso... – Aly interviu, tomando posse do papel – isso é uma pista, não podemos destruí-la!

– Como quiser, tia... Por mim, vocês podem fazer com essa porcaria o que bem entenderem! – disse secamente, depois fui atrás de Jake.

Ele deveria estar muito frustrado agora, por isso se afastou. Eu não queria que se sentisse inútil, mas também não poderia permitir que ele fizesse uma besteira! Cheguei na cozinha e o encontrei sentado de frente para o balcão, revirando distraidamente uma laranja sobre o mármore negro, visivelmente chateado. Me aproximei constrangida dele e lhe dei um beijinho de consolação na bochecha.

– Me perdoe por te pedir pra não ir, Jake! Eu sei o quanto tudo isso é difícil pra você... Como eu posso me redimir?!

Ele me olhou de soslaio, em seguida baixou a cabeça sem ânimo.

– Não tem necessidade de se preocupar tanto comigo, Ness... – ele falou fracamente – Eu conheço as minhas responsabilidades para com você e o bebê e jamais faria nada que estivesse além das minhas forças.

– Jake, olhe pra mim – eu puxei seu rosto pra cima – você sabe que tem sangue quente e que, na hora do “vamo ver”, você não iria pensar em mais nada além de acabar com a raça do infeliz que está por trás dessa palhaçada. Eu estou errada?!

Suas sobrancelhas se uniram, mas depois ele suspirou.

– Não está!

– Tá vendo só?! Eu te conheço, não adianta tentar me enganar... Sei ler cada expressão sua como se suas intenções estivessem escritas na testa!

– Minha nossa, – ele deu um sorrisinho tímido – e eu pensando que conseguia disfarçar bem... Acho que me enganei!

– Pois é, se enganou mesmo! – falei com franqueza e ele ficou sem graça com a minha súbita seriedade. Mudou de tom quando voltou a falar:

– Eu estive pensando naquele nosso papo na escada...

– Discussão! – eu o corrigi

– Isso, discussão... – ele meneou a cabeça – Enfim, você tinha razão, eu não estou sendo muito aberto com você!

Meus olhos brilharam ao escutá-lo dizer aquilo! Finalmente, havíamos chegado a um ponto significativo em toda aquela história e eu estava começando a gostar do rumo da nossa conversa...

– Mas é que, às vezes – ele continuou – eu me sinto inseguro em te contar determinadas coisas sobre mim... Sobre o meu passado!

– Por quê?! – eu fiz a pergunta óbvia

Medo! Medo do que você vai pensar, de como você vai me ver... de te perder! Basicamente medo, Ness!

– Jake, – eu falei, tomando a laranja que ele já estava quase esmagando debaixo das mãos tensas – por mais sombrio que possa ter sido o seu passado, o que não é o caso, não justificaria o fato de você me esconder as coisas assim. Nada me faria te amar menos, ou te admirar menos... e isso é um fato, não uma suposição!

– Eu não sei não... – ele se livrou de novo do meu olhar.

Eu estava me sentindo exatamente como a Christine Daae, atraída magneticamente pelo lado oculto de Erick... respirando suas respostas com uma curiosidade egoísta, mas intensa demais para se resistir! Essa era uma página que eu não conseguiria virar sozinha, mesmo que tentasse. E agora, sabendo que as minhas suspeitas sobre ele estar guardando mais segredos de mim eram verdadeiras, nada me faria desistir de chegar ao fundo daquele poço.

Infelizmente, o desenrolar da nossa conversa foi interrompido pela chegada de Sam à cozinha. Ele parecia agitado, então lhe demos toda atenção.

– O que aconteceu, Sam?! – Jake se levantou do banco

– Seu pai acabou de telefonar para mim, dizendo que recebeu um bilhete contendo uma ameaça a ele e a sua família!

– O QUÊ?! – Ele esbravejou, perplexo

– Isso mesmo – Sam disse – e eu acho que você pode imaginar quem foi o remetente...

– G.D.?! – Eu quase me engasguei e ele confirmou.

– Ora, mas agora é que eu mato esse desgraçado mesmo!! – Jake praguejou, se lançando furiosamente na direção da saída. Sam o barrou:

– Tenha calma, irmão! Você não iria conseguir encontrá-lo sozinho... Nós passamos mais de um mês procurando por ele, esqueceu?!

– Não interessa – ele se livrou dos braços do amigo – Esse louco já foi longe demais... Eu quero mais é que se dane a droga do seu realismo!

Sam conseguiu agarrá-lo de novo, com uma chave de braço no pescoço. Eles pareceram dois ursos se enfrentando e eu fiquei paralisada diante dos seus golpes e rugidos. Jake forçou tanto que os dois caíram no chão entre a cozinha e a sala. Ele se levantou habilmente e disparou a mil na direção da porta da frente, mas uma barreira de Quileutes se formou diante dele.

– Mas o que vocês pensam que estão fazendo?!

– Te impedindo de cometer suicídio, só isso!! – Seth ralhou e eles todos se jogaram em cima de Jake de uma vez

– Saiam de cima de mim!! – a voz dele saiu abafada debaixo daquela aglomeração de corpos que o esmagava – Eu preciso ir ver a minha família, seus doentes!

– Carlisle e Paul já foram buscá-los a uns dois minutos... – alguém o avisou – você pode sossegar essa bunda chata no sofá e esperar por eles, seu teimoso!

Aqueles braços e pernas trançados uns nos outros então se esparramaram no chão, desfazendo o montinho de cima do meu marido inconseqüente! Ele se ergueu e cambaleou até o sofá, completamente zonzo, e nele se jogou! Tio Emmet veio por trás do assento e deu uns murrinhos em seu ombro.

– Qual é, parceiro, eu pensei que você já não agisse mais assim... Tá regredindo agora, é?!

Jake o fuzilou, ranzinza, e meu tio balançou a cabeça em sinal de frustração.

– Lobos... – Aly suspirou – Pelo menos, não destruíram a sala!

Me arrastei – meu corpo estava muito pesado àquela altura – até onde as garotas estavam, enquanto os meninos da reserva se endireitavam. Esperei até que eles se recompusessem, então perguntei:

– Afinal, vocês souberam o conteúdo do bilhete que Billy recebeu?!

– Não – Sam respondeu, vindo de trás de mim, todo dolorido – Mas ele vai trazer o papel com ele e aí todos saberemos qual o nível de perigo envolvido!

– Hunf, que piada! – Jake resmungou – Alerta vermelho, seu lerdo!

– Caramba Jake, Emmett tem razão: você está um saco esses dias! – Quil se obrigou a falar

– Que é hein, Quil?! Se alguém ameaçasse a Claire, você agiria diferente de mim?!

– Não dá pra conversar com você desse jeito – o garoto desistiu – Eu vou lá pra fora me esticar. Quem quiser que fique aqui, aturando a ladainha desse cara!

Ele deu as costas e cumpriu o que disse. Os outros, com exceção de Seth, fizeram a mesma coisa. O mais novinho do grupo veio se sentar junto do companheiro, fazendo sinal para que eu não me preocupasse. Com ele ali, eu não poderia ficar próxima, mas sabia que o meu Jake estava em boas mãos! Achamos por bem deixá-los sozinhos, então fomos para o jardim com os outros. Eu precisava de ar fresco com urgência, já estava há muito tempo enfurnada dentro de casa, com aquele barrigão enorme me encurvando toda! Curiosamente, as cócegas não me atacaram enquanto descíamos enfileirados a escada de acesso ao jardim, mesmo com os garotos estando relativamente bem próximos a mim...

A sensação térmica do lado de fora era de uns 15º, o que era um verdadeiro alívio! Fomos para as proximidades da piscina e nos sentamos debaixo do sombreiro que protegia a mesa {um aparato inútil, já que não fazia sol}. Em menos de um mês começaria a nevar... eu quase poderia dizer que sentia o cheiro da neve se aproximando, graças ao meu nariz super-aguçado... Mas não seria um inverno tão agradável quanto os outros que eu já tive. Agora, tínhamos esse intruso em nossas vidas, se escondendo, fazendo ameaças, causando contendas entre nós! E foi tão ruim essa notícia da ameaça ter chegado justo na hora em que eu estava prestes a descobrir o que se passava no coração do meu Jake... A interrupção foi lamentável, mas não adiantava chorar o leite derramado. Já tinha esperado até aqui, poderia esperar por mais algum tempo.

– No que está pensando, minha bonequinha?! – Rosie me perguntou

– Eu só... – engoli meus pensamentos – estava me perguntando qual será o fim dessa historia toda, e quando ele virá. Esse cara escolheu uma hora péssima pra chegar, se é que em algum momento sua aparição fosse me causar menos revolta!

– É verdade, – vovó Esme concordou – essa situação toda já está tomando um rumo perigoso... É ruim ficar assim, de mãos atadas.

– Nem me fale, Esme – Aly manifestou sua indignação – Eu não estou acostumada com essa falta de informações. E depois que os lobos vieram, minha situação não melhorou em nada! É triste me sentir assim, tão “normal”!

– Obrigada pela parte que me toca! – Rosie pigarreou

– De nada! – Aly disse, aparentemente distraída. Acho que nem se deu conta do sarcasmo nas palavras da irmã.

Passados uns trinta minutos, o carro esporte do meu avô roncou do outro lado e nós retornamos imediatamente para o interior da casa. Quando eu entrei, Jake já acomodava meu sogro em uma poltrona, enquanto vovô levava algumas bagagens para o andar de cima. Rachel parecia bastante desconfortável entre os braços de Paul, mas as coisas deviam ser sérias demais, então ela se resignou e veio junto com o pai. Os garotos foram cumprimentar Billy, depois se dispuseram no chão mesmo, para aguardar uma introdução sobre o ocorrido. Eu localizei um lugar afastado o suficiente para me sentar também e me direcionei a ele.

– Meu Deus do céu! – Rachel exclamou, depois veio falar comigo antes que eu fosse capaz de me sentar – Você está enorme, Nessie!

– Obrigada, Rachel! – disse, sem saber se aquela era a resposta correta a dar... Ela me abraçou e eu fiquei grata por não ter sido acometida pelas cócegas outra vez – Que bom que você está aqui!!

– É mesmo, tirando por esse detalhe tosco da correspondência macabra, é claro... – ela se afastou para olhar melhor para mim – Ai cunhadinha, você está tão linda assim grávida! É uma pena eu não ter vindo antes...

– Ei, vocês duas – Jake disse, impaciente – Deixem isso pra depois, vocês vão ter tempo de sobra para matar a saudade... Temos outras prioridades agora!

– Está bem! – eu fui a primeira a concordar, puxando Rachel até um assento que desse para nós duas. Meu avô veio do hall nesse exato minuto e se pôs de pé, ao lado da esposa.

– E então pai, nos mostre o bilhete que o senhor recebeu! – Jake estendeu a mão para Billy, que mexeu no bolso da calça

– Aqui, filho! – o homem entregou um pedaço de papel um pouco maior do que o que foi encaminhado a mim. Jake fez uma primeira leitura, depois releu em voz alta para todos:

“Minhas saudações aos familiares do

homem cuja felicidade

que detém, dentro em pouco,

retornará a seu

legítimo dono, a saber,

eu que vos escrevo!

Notifico através desse restrito

canal que não pretendo desperdiçar

meus direitos sobre

a dama conhecida por hora como

Renesmee ‘Black’...

Em virtude disso,

aconselho que não se ponham em

meu caminho,

firmando aliança com a honrada

família Cullen, cujas vidas

de momento não investirei contra.

Caso esse meu mínimo pedido

não seja levado em consideração,

adianto que conseqüências

severas recairão sobre

todos!

Não gostaria de ter que me utilizar

de medidas tão extremistas,

mas estando em jogo a

minha felicidade, não

estou disposto a

menos do que

Tudo!

Atenciosamente, G.D.”

O silêncio foi a unânime resposta àquelas palavras criminosas! Ninguém conseguiu formular uma sentença concreta sobre aquele absurdo que havíamos acabado de ouvir. Eu me senti enfraquecida, enregelada... com um medo louco finalmente tomando conta de mim! Meu Deus, como eu havia me tornado alvo dessa empreitada sombria, arquitetada por esse psicopata frio e lunático?! Ouvimos o carro do meu pai chegando em casa e continuamos mudos, até que os dois vieram ao nosso encontro.

– Me deixe ver o bilhete! – meu pai foi logo pedindo, sem necessidade de maiores esclarecimentos. Escutou tudo em nossas mentes assim que ficou perto o suficiente da mansão...

– Não será um blefe, filho?! – meu avô sugeriu, após alguns segundos

– Se você me perguntasse há uma hora atrás, eu poderia até ter concordado com essa hipótese. Mas agora... – meu pai tirou os olhos do papel e nos encarou

– E aí, qual foi o resultado da ida de vocês à floricultura?! – Aly perguntou por todos nós

– Agimos certo indo lá, o sujeito foi mais descuidado do que imaginávamos! – tio Jasper disse

– É mesmo?! – eu me levantei por reflexo – Vocês descobriram o nome dele?!

– Praticamente! – meu pai respondeu, indubitavelmente satisfeito

– Conversamos com uns funcionários da lojinha e um deles deixou escapar que viu o nome “Drachen” estampado na limusine em que o homem que correspondia a nossa descrição havia entrado – meu tio nos informou

– Drachen?! – meu avô demonstrou reconhecer o nome – Mas esse é o sobrenome de um dos membros da realeza vampiresca alemã, Lionel Von Drachen!

– Você o conhece, Carlisle?! – meu pai indagou

– Só de nome... Quando eu era membro do clã dos Volturi, constantemente Aro se hospedava em uma das dependências dele, quando ia à Alemanha tratar de assuntos de “interesse público”, por assim dizer...

– Mas isso já faz décadas então... – Jake disse, confuso

– Séculos! – meu pai o corrigiu

– Isso é só um detalhe... O império dos Drachen se reflete em nossa época atual como a famosa multinacional de fornecimento bélico “Drachen Inc.”!! – meu avô acrescentou

– Exatamente! – tio Jasper concordou, feliz com a convergência das informações que possuía com as que meu avô anunciava – A limusine era propriedade dessa multinacional, segundo nossas fontes seguras. Aparentemente, o cara tem sim poder para cumprir o que diz. Só não é tão astuto quanto pensa ser...

– Ele seguiu direitinho o manual do bom espião: Pagou em dinheiro, não se aproximou das encomendas, não deu nomes... Mas falhou nesse pequeno detalhe, que foi o suficiente para entregá-lo! – o discurso do meu pai foi coroado pela comemoração triunfante de todos

– Pegamos o miserável! – tio Emmett urrou – Agora a gente só precisa futucar um pouquinho no google para descobrir que “G” é esse antes do “Drachen”?!

– Tirou as palavras da minha boca! – tio Jasper disse e eles correram juntos para a frente do computador na sala ao lado.

Seguimos seus passos e tomamos o salão de jogos em poucos segundos. Rachel, minha mais nova “assistente”, se firmou no meu braço para me ajudar a caminhar, mesmo eu dizendo pra ela que não era necessário. A pobrezinha conseguia me auxiliar tanto quanto uma formiga a um elefante, mas eu não mencionei esse pequeno detalhe técnico... Não me encontrava em condições emocionais de pronunciar muita coisa no momento. Meu coração se arremessava contra as paredes da minha caixa torácica, me impedindo de projetar a voz da maneira correta. Jake procurou o meu outro lado e agarrou a minha mão, como se eu estivesse prestes a evaporar.

– Sua cara está de partir o coração, Nessie – ele sussurrou aflito, enquanto íamos para outro bendito sofá – Não fique assim, meu amor. Não vou deixar que esse covarde cumpra as ameaças que está fazendo.

– Não “vamos” deixar! – meu pai rogou o plural, num tom de advertência que encerrou nossa conversinha particular

– Isso! – Jake se concertou, sem conseguir transmitir muita honestidade...

Eu me limitei a sorrir pra ele, antes que repousássemos o corpo sobre o móvel macio e centralizado. Os garotos se reuniram em um semi-círculo ao redor da mesa do computador, me impedindo de enxergar o que os meus tios estavam fazendo. Meu estômago anunciou indiscretamente a minha necessidade de alimento {com o passar dos dias, eu parei de corar com esse tipo de coisa...} e minha mãe carregou as mulheres para a cozinha. Jake estirou minhas pernas sobre ele, me fazendo deitar e recostar a cabeça no braço do sofá. Não levou mais do que dez minutos até que elas retornaram com um banquete composto pelas minhas guloseimas favoritas. Outro minuto mais e as vozes dos rapazes começaram a ficar exaltadas. Ao que parecia, a pesquisa estava concluída.

– Vejam isso, pessoal! – tio Jasper disse e eles liberaram a vista para a tela de 42 polegadas do computador – Acho que descobrimos quem é o nosso suspeito.

Eu fui pega de surpresa por uma página da wickpédia aberta na nossa frente, que constava um perfil com a foto do homem que esteve bem diante de mim, semanas atrás! Do lado da imagem, um nome em fonte grande revelava, por fim, sua identidade secreta a todos nós:

– Gabriel Von Drachen – meu pai começou a ler o perfil – 22 anos, nascido em Frankfurt e criado em Londres até meados do ano passado, quando se formou com louvor no curso de Relações Públicas e Comércio Exterior pela universidade de Cambridge. Filho adotivo do soturno milionário e sociocrata fundador da “Drachen Inc.”, influente multinacional de produção bélica, Lionel Drachen VIII, Gabriel teve um período de infância e adolescência conturbado e recluso, devido a diversos escândalos referentes ao suposto envolvimento de seu pai em uma série bizarra de homicídios e esquemas de corrupção e sonegação de impostos. As circunstâncias da sua adoção são desconhecidas e sua co-linhagem também descende de origens incertas.

“O clã Drachen é conhecido na Alemanha pelas histórias misteriosas sobre ocultismo e conspirações sombrias, mas nunca nenhuma prova concreta foi revelada a respeito dessas afirmações, acabando por transformá-los em lenda nos vilarejos ao redor do castelo Drachen, sendo essa comumente proferida entre os habitantes mais conservadores. Ouvem-se até relatos supersticiosos de que a propriedade é assombrada e pertenceu a vampiros, muitos séculos antes do nosso!

“Aparte dessas crendices locais, o que se sabe ao certo é que o nome Drachen é sinônimo de poder aonde quer que seja proferido. Gabriel está hoje entre os jovens mais ricos e bem sucedidos de toda a Europa e mantém atualmente residência em Paris, onde administra uma filial da Drachen Inc. sozinho, apesar da pouca idade. Recentemente, uma conceituada revista francesa publicou uma nota em que o descrevia como sendo ‘um jovem verdadeiramente prodigioso, com potencial para conquistar o mundo!’ ”

– Eu estava certo – meu avô disse, encostado no sofá atrás de mim – esse tal “Lionel Drachen VIII” ninguém mais é do que o próprio Lionel Von Drachen de quem eu me referi agora a pouco, convenientemente disfarçado de herdeiro de si mesmo! “infância e adolescência reclusas” e “circunstâncias desconhecidas de adoção” só provam que esse Gabriel é realmente um híbrido, filho biológico do seu pai “adotivo”e vampiro com alguma pobre humana que viveu a sabe-se lá quantas décadas ou séculos atrás...

– É incrível como o dinheiro compra tudo nesse mundo: títulos, lealdade, proteção ideológica... – Aly disse

– Não é muito diferente da nossa realidade, Alice querida... – vovô comentou – Só que nós não chamamos tanta atenção quanto eles.

– As notícias não são boas, então?! – vovó Esme perguntou

– Em essência, não! – meu pai respondeu – Ele é poderoso, influente e, o mais importante, blindado contra nós... Mas isso não quer dizer que seja invencível. Só será complicado dar um fim nele, já que até revistas famosas o mencionam pelo mundo afora...

– Carlisle, – minha mãe falou, bastante relutante – você acha que, em se tratando de uma situação dessa natureza... apelar para os Volturi seria uma opção?! Quer dizer, se não houvesse mais jeito, claro?!

Todos ficaram estáticos com a pergunta dela.

– Eu não aconselharia isso, Bella. Sei que Aro não se oporia em nos ajudar... não fosse pelo probleminha de natureza matrimonial que temos aqui!

– Como assim, Carlisle?! – Jake questionou, percebendo que aquela ressalva era referente a nós dois

– Não sei bem como eles encarariam a união de um lobisomem com uma híbrida de vampiros e humanos, Jake! Eles fazem julgamentos fanáticos por muito menos que isso, como nós bem sabemos. Por essa razão, não é bom arriscar... Ainda mais com Nessie estando grávida! A miscelânea vai incomodá-los, sem sombra de dúvidas!

– Mas eu não sou lobisomem e eles mesmos descobriram isso... – Jake replicou – Sou só um humano com a habilidade de me transfigurar em lobo!

– Ah é, só isso... – Rosie debochou – Acorda, Mogli, você também é um imortal, se esqueceu?! Sua existência se equipara à nossa tanto em durabilidade, quanto em força! Essa desculpinha do “transfigurador” não vai colar com os Volturi se eles ficarem sabendo sobre vocês dois ou, pior ainda, sobre o bebê!

– Rosalie e Carlisle têm razão! O fator “união de raças” vai ser taxado como elemento de risco à camuflagem de nossa espécie logo de cara... – meu pai acrescentou, pensativo, e depois concluiu – Os Volturi jamais devem tomar conhecimento dessa situação!

Aquelas idéias todas começaram a me dar náuseas e eu me encolhi nos braços de Jake. De repente, desejei tanto ser uma humana comum, livre para amar quem eu quisesse... Para viver a minha vida, sem precisar passar por todos esses transtornos sobrenaturais! E se esse Gabriel não fosse detido?! E se ele fosse mais perigoso do que pudéssemos enfrentar?! E se ele...

E se ele...

Oh não, uma idéia terrível me veio à mente e eu estremeci no ato.

– E se ele próprio nos dedurar aos Volturi, pai?! E se a ameaça que ele fez for de nos delatar pra eles?!

Era uma possibilidade, já que os dois clãs mantiveram contato no passado. As pessoas presentes pareceram compartilhar do meu terror, por que encaram a figura translúcida do meu pai como se ele fosse algum tipo de oráculo ou sei lá o que... Era como se suas palavras fossem capazes, a partir dali, de decretar nossa vitória ou nosso fracasso! Ele pareceu se dar conta disso, por que sacudiu a cabeça em sinal de alerta:

– Eu não sou ninguém para afirmar o que pode ou não acontecer, pessoal. A própria Alice, que seria a pessoa mais indicada para responder a esse tipo de pergunta, se encontra impossibilitada de ter vislumbres a respeito. Vamos ter que trabalhar com as armas que temos: união e organização. O que passar disso, eu sinto dizer, fica nas mãos do destino!

– Renesmee não poderia, simplesmente, se comunicar com esse sujeito e informar que não está aberta a relacionamentos?! – Embry perguntou com uma naturalidade que atropelou a atmosfera mórbida ao nosso redor

– Claro que não né, seu burro! Céus, a gente aqui falando em acabar com o desgraçado e você larga uma merda dessas... – Jake rompeu em ignorância contra a sugestão do garoto, mas foi surpreendido pela réplica do tio Jasper:

– Não Jacob, não é uma má idéia... se conseguíssemos encontrar uma maneira segura para executá-la! De fato, essa seria a nossa primeira opção, a pacífica. Somente se fracassássemos, passaríamos a agir com a força bruta!

Embry fuzilou Jake, envaidecido pela aceitação da sua idéia.

– E como faríamos isso, Jazz?! – Aly quis logo saber, seu semblante se iluminando com a possibilidade de uma investida sem violência

– Talvez... se Nessie escrevesse um cartão em resposta às flores que recebeu dele, explicando a impossibilidade das suas intenções em relação a ela, nós poderíamos encaminhar a mensagem de volta à floricultura e esperar que ele apareça por lá uma outra vez... O que acham?!

– É válido! – Vovô disse

– Eu também acho! – mamãe pareceu aliviada com a sobreposição desse novo caminho

– Então – Aly pegou caneta e papel e os estendeu para mim – mãos à obra, Nessie. Rasgue sua alma nessa folha de papel!

Epa, também não é assim, Alice! – meu pai interferiu – Vamos fazer isso com calma, todos juntos! De Renesmee, só vamos precisar da letra. Não podemos exigir que ela se esforce tanto.

Eu agradeci discretamente a ele pela intromissão sensível e só assim me estiquei para receber os objetos das mãos dela.

A noite já estava se anunciando lá fora e nossos hóspedes precisavam se acomodar. Por isso, demos um intervalo de uma hora, antes de iniciar a sessão “como transcrever um cartão de recusa amorosa para o seu admirador não tão secreto e psicopata”... É sério, eu ia precisar de terapia depois que tudo isso acabasse! Nos estendemos até o inicio da madrugada, quando eu peguei no sono sem perceber no sofá e precisei ser rebocada até o quarto. Aquele dia tenso valeu por uma semana inteira de confusões.

Acordei no dia seguinte, depois do meio dia. Vi pela janela que os garotos, incluindo tio Jasper e tio Emmett, estavam sentados na grama do quintal aproveitando alguns minutos de sossego, tão raros desde que tudo aquilo começou. Era mais prudente agora ficar nas proximidades da nossa residência...

Jake já estava acordado, lendo alguma coisa na poltrona de frente para a cama, e sorriu ao notar que eu havia despertado.

– Vamos descer, dorminhoca?! Seu pai e sua mãe já saíram para cumprir a etapa final da nossa missão: ir à floricultura!

Ele estava mais controlado, graças a Deus! Fomos então nos juntar com todos.

Vovó Esme tentava introduzir Rachel à rotina diária da mansão, fazendo-a se sentir a vontade entre as garotas... Mas a pobre mal conseguiu disfarçar a satisfação quando me viu descer as escadas junto de Jake, correndo até nós com a desculpa de me ajudar. Billy assistia a um jogo qualquer de baseball com meu avô, parecendo mais a vontade do que a filha, pelo menos. Os homens tendem a ser mais sociáveis, pensei... Nós três nos juntamos a eles. Pela terceira vez, não senti o mal estar ao me aproximar de Quileutes de fora.

Quando meus pais voltaram, cerca de 40 minutos depois, suas feições sombrias causaram um impacto imediato no ambiente, antes monótono. A impressão que davam era a de que haviam retornado de um calabouço infernal, e não de um lugar agradável e feliz como uma floricultura! Eu poderia jurar que estavam mais pálidos do que o normal, se isso fosse possível... A aglomeração ao redor deles foi instantânea, devido a essa estranha e nada sutil disparidade. Os dois entraram, depois travaram no hall como duas múmias. Em seguida, se sentaram nos primeiros degraus da escada, ainda com aquelas expressões sem vida. Pareciam dispostos a nos matar de curiosidade.

– Mas o que foi que aconteceu com vocês, hein?! – Aly não se agüentou mais

– Você não sabe?! – Minha mãe perguntou, saindo alarmada do seu transe

– Eu estaria perguntando se soubesse, Bella?!

– Então foi realmente ele... – meu pai comentou com minha mãe, tão pasmo quanto ela

Quem fez o quê?! Falem logo, pelo amor de Deus! – Rosie implorou

– Vocês não devem ter assistido o jornal local tão pouco...?! – meu pai insistiu em prolongar a nossa ansiedade

– Estávamos assistindo ao jogo até agora... – vovô respondeu – Ninguém viu nada filho, conte-nos o que aconteceu!

– Os proprietários da “Cedro & Jasmins” não abriram as portas hoje por que estavam de luto pela morte de três de seus funcionários!

A notícia foi como um golpe traiçoeiro de faca no peito, horrorizando a todos nós. Cada um reagiu de um jeito diferente, mas, naquela hora, foi a mesma certeza que nos invadiu avassaladora:

– Gabriel fez isso?! – eu perguntei só por garantia, mas já sabia qual seria a resposta deles, antes mesmo de falarem juntos:

– Sim!

– Quem eram os funcionários, Edward?! – tio Jasper perguntou

– Exatamente aqueles três que nos atenderam ontem: uma moça e dois rapazes, todos jovens, de boa aparência e muito cordiais! – ele nos informou, inconformado

– Ouvimos um grupo comentar que os corpos foram encontrados hoje cedo pela polícia... Estavam em um beco próximo ao ponto do ônibus que pegavam juntos todo dia, ao final do expediente – minha mãe completou, sem necessidade de maiores detalhes

– Que sujeira! – aquela foi a primeira vez na minha vida em que vi meu tio Emmett se abater com alguma coisa – Isso foi de uma estupidez sem tamanho, esse cara é um monstro! Merece que nós o matemos.

Os homens concordaram, assentindo com a cabeça. O bebê chutou e eu me inclinei um pouco, mais por estar distraída com a raiva do que pela sensação em si. A lembrança da preciosidade que eu carregava no ventre me fez romper em lágrimas de desespero. Eu havia chegado ao meu limite... Estávamos lidando com um verdadeiro assassino e até eu desejei liquidá-lo com minhas próprias mãos! Fui consolada por alguns, mas meus soluços só se intensificavam com suas tentativas frustradas de me acalmar. Tive que ser levada de volta para a sala, entre injúrias e lamentos misturados ao choro infantil.

Como todos os meus excessos se convertiam em cansaço, dentro de meia hora eu fui vencida por aquele sono insistente! Quando me dei por mim, já era madrugada e eu estava deitada no quarto escuro de Aly outra vez. Na cama do meu lado, minha mãe me observava despertar e, percebendo a minha confusão, me contou que Jake havia partido junto com os rapazes em uma nova patrulha ao redor de Forks! Somente as mulheres, meu avô e Billy permaneceram na casa... Ou seja: a rotina integral de buscas tinha entrado novamente em vigor, graças àquela tragédia local!

Foi assim o final da minha sétima semana de gestação, agitado e imprevisível. Ninguém sabia o que esperar ao término dos dias... Ninguém queria imaginar o confronto que aconteceria, uma vez que o paradeiro daquele demônio com nome e aparência de anjo fosse descoberto!

No primeiro dia da oitava semana, a circunferência da minha barriga atingiu uma marca incrível de 1 metro e sessenta! Eu me olhava no espelho e me sentia como um espeto de churrasco, ou como uma daquelas cobras do Discovery Chanel quando engolem um animal com a massa dez vezes maior do que a do próprio corpo... A desproporção era calamitosa, mas eu não escutava nada além de elogios mal disfarçados. Estávamos na reta final e eu não escondia o meu nervosismo em relação ao dia do parto, que eu sentia se aproximar de mim como um meteoro gigante e desgovernado, e não como a maravilha que realmente era! Tinha lido várias vezes sobre a dor de parir uma criança ser a mais violenta do mundo... Minhas unhas estavam todas carcomidas de tanta ansiedade que eu tentava conter. Não sabia o que esperar, já que dor física de verdade eu nunca havia sentido na vida. Não me perdoaria se me acovardasse justamente na hora mais especial da vida de uma mulher! A trégua momentânea de notícias relacionadas a Gabriel Drachen foi crucial para mim naqueles últimos dias como gestante...

O período de espera finalmente se completou quando, às cinco da tarde da sexta-feira, 28 de novembro, eu me levantei para ir ao banheiro da suíte e senti uma fisgada absurdamente aguda bem no meio das pernas.

– Mããe...!! – eu tentei gritar, mais estava tão apavorada e trêmula, enquanto o líquido amniótico escorria pelas minhas coxas, que só consegui miar... Rachel, do meu lado na hora em que aquilo começou, arregalou os olhos e deu o segundo grito, muito mais eficaz do que o meu:

– BEEEEELLAAAAAAAAAAA, RENESMEE ESTÁ EM TRABALHO DE PARTOOOOOO!!

Aqueles que estavam em casa no momento do grito surgiram como um raio no local onde estávamos.

– Ai meu Deus, AI MEU DEUS!! – Aly começou a saltitar – Rápido Carlisle, vamos levá-la até o seu escritório!! Rosalie, depressa, vá ao chalé pegar a minha câmera!

– O QUÊ?! Você só pode estar de brincadeira, não é! – ouvi Rosie berrar, enquanto uma nova série de pontadas atingia em cheio aquela área delicada do meu corpo, me fazendo chorar

– Esqueça, deixa que eu vou... Nessie, – ela agarrou a minha mão – não faça nada até eu voltar, hein?!

Como se aquilo dependesse de mim...

– Alice, essas coisas levam tempo – meu avô disse, me erguendo agora com certa dificuldade por causa do meu volume mal distribuído – pode ir lá, que vai dar tempo! Esme, meu amor, telefone pra Jacob e pra Edward avisando sobre o que está acontecendo.

– Certo!

Deixamos elas duas para trás e descemos os dois andares até o piso mais inferior da casa. Mais que depressa, chegamos em número pequeno – somente vovô, minha mãe, Rosie e Rachel – na sala de parto que eles já tentavam organizar. Ele ainda as coordenava sobre o que fazer, quando eu comecei a me espremer em cima do colchonete sobre a mesa, gemendo tanto quanto me era possível.

– Querida, ainda não está na hora de fazer força! Guarde as suas energias... – vovô me alertou tranquilamente

– Então... porque... eu estou... sentindo... uma pressão... absurda... na... saída do... útero?! – minhas palavras saíram intercaladas por gemidos e respiração afetada.

Ele retirou às pressas a calça do moletom que eu estava vestindo.

– Minha nossa, o bebê está quase nascendo! – ele anunciou

– COMO ASSIM?! ELA MAL ACABOU DE ENTRAR EM TRABALHO DE PARTO?! – Rosie fez um estardalhaço

– É CARLISLE, NÃO ESTÁ ADIANTADO DEMAIS?! – Minha mãe foi a próxima

– É verdade... Mas também é verdade que o bebê já está pra nascer, então vocês três tratem de providenciar as coisas que eu pedi, e depressa!

Descobri que meu avô também ficava mandão... mas somente quando estava em serviço! Suas mãos abeis começaram a massagear o alto da minha barriga e eu dei um grito mudo e sufocado, apertando os olhos e arquejando pra cima.

– Eu sei que dói Nessie, mas é necessário! Bella e Rosalie, encontrem logo essas toalhas, eu preciso que vocês venham segurar as costas de Renesmee... Rachel, a água!

– Seth, o que você está fazendo aqui?! – Rachel gritou para a porta, segurando duas bacias nas mãos, e em seguida escutei o garoto responder:

– Eu encontrei com Alice na floresta e ela me disse o que estava acontecendo. Vim correndo pra cá, mas quando cheguei lá em cima, não vi ninguém na sala! Então ouvi suas vozes e as segui até aqui... Mas, eu vou voltar pra lá e...

– Não, meu garoto... – meu avô o interrompeu – Você vai ser de grande ajuda sim. Venha cá e apóie as costas de Renesmee, por favor!

– Carlisle essa não é uma boa idéia... – minha mãe o advertiu, arrumando as toalhas sob mim, mas era tarde... As mãos solícitas de Seth já me amparavam por trás da “maca”.

Eu identifiquei a sensação das cócegas dessa vez, só que elas não foram páreo para a dor afiada que me atingia periodicamente, então eu nem me deixei afetar.

– Faça força para baixo agora Nessie! – meu avô mandou e meu corpo obedeceu sem esperar por mim

1... 2... 3... 4... 5 segundos de força descomunal fecharam aquele primeiro período.

– Você está indo muito bem, a cabecinha já está pra fora. Agora mais uma vez, senão você vai sufocar seu bebê!

Hãn?! O que era aquilo, outra técnica nazista de pressão psicológica?! Como assim “você vai sufocar o seu bebê”?! Isso lá é coisa que se diga a uma mãe na minha situação?! Acho que funcionou, por que eu fiz uma força ainda maior do que da primeira vez!

1... ... 2... ... 3... ... 4... ...

Um chorinho poderoso irrompeu o escritório, arrancando suspiros de satisfação dos presentes.

– É um menino! – ouvi minha mãe e Rosie dizerem em um coral, enquanto uma delas, não sei qual, apertava a minha mão com força.

Um menino...

Jared... nosso filho... perfeito e ... e...

...Eu já era mãe mesmo?! Fiquei confusa quando as contrações, ao invés de cessarem, aumentaram agressivamente!

– Já ... nasceu... mesmo... mãe?! – minha pergunta os deixou confusos

– Claro que já, meu amor! Não escutou o chorinho do seu filho?!

Mas... por que... a dor... não passa... então?! Eu... não estou... mais conseguindo... respirar!

Silêncio absoluto em resposta...

Meu avô voltou a me examinar, depois eu vi seus olhos clínicos se arregalando:

– Faça mais força, Nessie, depressa!!– ele pediu de repente, com uma urgência tamanha que sobressaltou os que estavam mais próximos

– Por... quê?!

– Vamos querida, falta pouco agora, você consegue! Seth, ajude-a, empurre as costas dela!

– O que nós perdem... – Aly anunciou sua chegada e da minha avó, mas o vislumbre da cena a frente delas a fez calar antes de completar a pergunta, retendo-as onde estavam.

Eu olhei pra as duas enquanto, sem entender a razão, fazia mais força, e as vi tapando as bocas em profunda surpresa pelo que agora se apresentava diante dos próprios olhos!

Foi aí que uma segunda liberação na passagem uterina aconteceu e, como num passe de mágica, toda aquela dor tremenda foi embora de uma vez só...

Seth começou, do nada, a ceder lentamente o meu corpo para baixo e eu mirei seus olhos fitos em algo hipnotizante a sua frente enquanto, inexplicavelmente, outro chorinho perfeito se anunciou em meus ouvidos, numa surpresa maravilhosa da natureza que bagunçava todas as expectativas e certezas que pensávamos ter...

... até aquele momento!

Fim do P.D.V. de Renesmee

6 comentários:

Barbara disse...

Muitoooooo TENSO!!!!!...

Aline disse...

adoreiiiiiiiiiiiii........................................

Barbara disse...

A-D-O-R-E-I-!!!!!! Lindo!!! Eu acho que o Seth teve um Imprithing. Para ele estar tão hipnotizado...

sarinha86 disse...

foi ele teve um
Imprinting

NessCullen disse...

Gémeos! Lindo :D

Larissa Prates disse...

Ownn..Gêmeos!!Que foofooo!!*.*

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