Solstício - Capítulo 17: Imprinting

P.D.V. de Jacob

Gêmeos!

“Você é pai de gêmeos, Jacob!”... Foram essas as palavras que saíram da boca de Edward, enquanto seguíamos escarreirados de volta para à mansão, entre as árvores e pedras da floresta. Eu freei bruscamente ao escutá-las, manifestando uma tentativa tanto de me sustentar de pé, quanto de processar o significado da notícia. Ele também parou para me esperar... e depois de três segundos, já estava se movendo inquieto na minha frente.

– Anda logo, Jake... Assim a gente vai acabar chegando quando os bebês estiverem prestes a completar um ano!

O sangue abandonou quase que por completo a região da minha cabeça, provavelmente deixando meu rosto com um aspecto estranho...

– Você tem certeza disso, Edward?! – titubeei, com os olhos quase saltando da caixa craniana

– Absoluta! – ele sorriu com afetuosidade – A essa distância, eu já consigo escutar os pensamentos de todos na casa. Meus parabéns, Jake!! Essa, sim, é uma boa nova!

Impressionante, devíamos estar ainda a uns 500 metros de distância...

Eu inspirei fundo, mas, maravilhado, fui perdendo o foco outra vez... Fui capaz até de esquecer o motivo de estarmos ali naquele momento, e não em casa... o miserável do Gabriel Drachen fugiu da minha memória do mesmo jeito que estava fugindo de nós...

“Gêmeos!”...

De novo minha mente repercutiu a palavra, como se eu tentasse personificá-la aos poucos. Não era um bebê só! Não... eram “os bebês”! Dois filhos! Nosso “um” virou “dois”?! Dois ao invés de um... dois em um... dois...

– Olha, – ele não agüentou mais e me deu um puxão pelo braço – sem querer interromper essa aula esplêndida de matemática, mas já interrompendo... Seria possível você voltar logo a si?! A palavra “dois” já está começando a perder o sentido na minha cabeça, sem exagero!

– D-desculpe... – eu me desequilibrei com o impulso que ele me deu

– Não precisa se desculpar, só caminhe... ou melhor, vire logo um lobo e me acompanhe!

Eu me concentrei, então assenti. Tirei a roupa o mais rápido que pude, depois efetuei a transformação! Abocanhei meus trapos do chão e olhei pra ele.

“Vamos!”, eu mentalizei.

Levantei poeira embaixo das patas quando me lancei pra frente uns 6 metros. Edward conseguia realizar a mesma tarefa com uma tremenda diferença no quesito “elegância”! Mas eu estava à flor da pele, com a respiração e os batimentos acelerados, e meus pelos se umedecendo com o suor do meu corpo, antes humano. Não escutei os pensamentos de Seth, nem os de Leah. Ele provavelmente devia estar descansando em algum lugar tranqüilo da floresta, e ela... bom... Já não tinha mais saco para me ocupar em localizá-la. Parecia fazer questão de se afastar de nós nessas ocasiões, só de pirraça!

– Seth está na mansão! – Edward me avisou, demonstrando preocupação com alguma coisa em relação a isso que não fui capaz de compreender.

Na mansão?! Mas o que ele estava fazendo lá àquela hora do dia?! Uma coisa era aceitar que ele estivesse dando um intervalo na vigilância, mas não entendi o porquê de ele estar de volta à casa, tão distante dos demais...

Céus, não era hora de me importar com pequenos detalhes... Algo muito precioso me aguardava, eu precisava vencer aqueles últimos metros que ainda faltavam.

Aceleramos, ultrapassando a barreira do som em poucos segundos...

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-//Flashback//-

“– NESSIE! – eu berrei, aliviado por ela finalmente ter aberto os olhos. Já não sabia mais o que pensar daquela situação... Ela parecia tão fragilizada, tão pequena naquele sofá enorme que quase a engolia – Que bom que você acordou! Como está se sentindo?! Está confortável?! Quer alguma coisa?! Sente alguma dor?!...

– Hmmm... – ela gemeu, fazendo meu coração se apertar

– Eu acho que são muitas perguntas por hora, Jake... Nessie precisa repousar! – Bella me advertiu com doçura, mas seu tom não contribuiu em quase nada pra me acalmar. Nessie estava sofrendo e eu simplesmente não conseguia evitar essa atitude alterada! A luz pareceu incomodar seus olhos, ou era algo em sua garganta que a estava fazendo franzir tanto a testa...

– Está piorando, meu bem?! – Esme perguntou, vindo checar sua temperatura – Minha nossa, ela está tão quente... Acho até que está mais do que Jacob!!

– É verdade – Alice veio conferir também – Talvez fosse melhor providenciar um banho frio...

– N...não precisa! – Nessie implorou com dificuldade, depois começou a se erguer da posição horizontal – Isso não é nada, eu já estou melhorando. Vejam!

Ela tentou fingir que estava recuperada, mas eu lia em seus olhos a confusão e fraqueza que estava sentindo. Quis mais do que tudo dar um fim naquela agonia, mesmo que não soubesse como, ou com o que estávamos lidando...

– Ah, “nada” não é bem a palavra para “isso”, Nessie... Com certeza é “alguma coisa”!! – Edward vociferou, me responsabilizando pelo estado em que ela se encontrava sem nenhuma sutileza. Mas o que ele pensava que eu poderia ter feito de mal à filha dele?! De repente, eu percebi que todos os Cullen estavam cabisbaixos, absortos em considerações que eu desconhecia... “Aí tem coisa!” eu pensei, me apavorando com as diversas possibilidades catastróficas que botaram em minha mente com a dúvida.

– O que você quer dizer, Edward?! – eu quis saber de uma vez, antes que sofresse uma parada cardíaca fulminante

– Urg, Jacob Black, por que você sempre tem que ser o último a saber das coisas?! É tão óbvio o que está acontecendo, não percebe?!

– Não, não percebo!! – retruquei na mesma hora – Só o que eu percebo são essas caras espantadas que vocês estão fazendo e, sinceramente, elas já estão começando a me deixar desesperad...

Bang, a resposta me atingiu como um raio e eu me calei, enquanto meus membros se petrificavam feito a caça diante do caçador!

Não, não era possível! Tinha que ser outra coisa... Eu “necessitava” que fosse outra coisa!! Não podia ser verdade... era cruel demais, eu não suportaria! Minha voz se precipitou da garganta, em um puro reflexo do meu terror:

– Temos que retirá-lo imediatamente, antes que a coisa fique fora de controle!!

“Por favor, Edward, me diga que é possível interromper... sem machucá-la!” mentalizei só pra ele, sem querer assustar Renesmee. Ele fez uma cara discreta de dor que eu acho que ninguém percebeu, mas que foi a negativa que eu não queria receber.

...

– O que?! – Rosalie berrou, como um vidro se quebrando – Claro que não! De jeito nenhum!! Vamos deixar as coisas como estão, seus brutos!!

Meu olhar foi de encontro ao de Edward e eu vi que ele concordava comigo. Rá, ele que agisse de outro jeito...!

– Eu não sei, Rosie... é muito arriscado! Não sei se quero ver minha filha passar por tudo aquilo!! – Bella se pronunciou, receosa.

– Então você prefere essa selvageria que seu marido e genro estão dispostos a fazer?!

– Não é nada disso... Ai, eu não sei mais o que dizer.

– Vocês querem, por favor, me contar o que está se passando aqui?! – Nessie exigiu, meio zonza – Eu já estou ficando louca com o desenrolar dessa discussão... Tá parecendo que eu sou uma bomba-relógio que vocês estão tentando desarmar!

Minha tentativa de não envolvê-la no caos foi em vão... Mas claro, ela não era boba, sabia quando estávamos escondendo algo.

– Jacob, faça as honras! Afinal, você é o marido dela e responsável pelo que está acontecendo.

“Obrigado, Edward!” eu projetei em minha mente com desgosto pela sua ordem. Será possível que ele iria me culpar até o ponto em que eu me desfizesse no chão, como pó?!

– Edward, eu não achei que precisasse me preocupar com isso, ta! Afinal, ela é uma vampi...

– Sim, ela é vampira, Jacob! Mas ela também é humana e tão passível disso quanto qualquer pessoa! Céus, eu achei que, mais do que ninguém, você tivesse consciência disso, pelo amor de Deus...

Se ele estava tentando me penalizar, conseguiu. Me senti tão burro diante da sua acusação, tão ingênuo e... indigno. Eles confiaram em mim para cuidar dela e eu falhei na primeira oportunidade. Quanta estupidez, despreparo, imaturidade...

–Vocês dois querem parar de coisificar o problema?!! – Nessie ficou histérica e ameaçou se levantar

– NÃÃÃO, NESSIE!! – todos gritamos no susto e ela retomou sua posição anterior

– Está bem, está bem... – ela se resignou, depois me lançou aquele olhar que fez um arrepio profundo percorrer meu corpo –Jake, por favor, me diga logo o que está havendo, e não me esconda nada, ouviu bem?!

A sentença estava decretada, o juri foi unânime... Cabia a mim, o culpado de tudo, anunciar a pena que seria dela! Anunciar o que eu tinha deixado acontecer com seu corpo... Anunciar a minha incompetência.

Me agachei para ficar no mesmo nível do seu lindo rosto, agora empalidecido e ansioso, sem ter idéia das palavras que eu usaria para saciar sua curiosidade.

– Meu bem... nossa suspeita é de que você possa estar...

A próxima palavra exigia um esforço imenso para ser pronunciada. Esforço esse que eu não me sentia capaz de realizar no momento... Respirei fundo e ela se inquietou com minha pausa:

– Que eu posso estar... o quê, Jake?!

Segurei suas mãos apelativamente e dei um último suspiro, antes de concluir a minha fala:

Grávida!!”

Seus ombros caíram. Eu afundei a cara nas mãos, envergonhado demais para pedir clemência.

* * *

Chegamos à clareira que circundava a casa. Edward se colocou à vista, mas eu fiquei pra trás. Tinha que me transformar de volta, antes de atravessar a cortina de folhas que delimitava a área aberta. Feito isso, me vesti tão apressado que quase rasguei o tecido da bermuda... Quando terminei, avancei os passos que faltavam e notei que Alice nos aguardava na porta, com uma euforia que a fazia saltitar. Ela estava com aquela bendita câmera fotográfica pendurada no pescoço. Deve ter se esbaldado, ao invés de dar uma ajuda a Nessie...

– Venham logo, seus molengas – ela disse, explodindo de felicidade – Vocês estão desperdiçando momentos preciosos aí fora!

– A culpa foi toda de Jacob! – Edward se defendeu, já diante da irmã após uma fração de segundos – Eu quase tive que arrastar esse bobalhão sentimental pela floresta!

Subi a escada de três em três degraus, até chegar onde estavam.

– Onde ela está?! – perguntei, mais agitado do que se estivesse em uma frigideira. Ela riu.

– A gente a levou lá pra cima. Ela está no meu quar...

Nem esperei ela terminar de falar e disparei para a segunda escadaria, dessa vez saltando de quatro em quatro degraus, me chocando violentamente contra o corrimão e as paredes que davam para o segundo andar. Ao chegar lá em cima, vi Jasper parado na entrada do referido quarto, recebendo a claridade que emanava de dentro dele. Ele se virou pra mim quando meus passos loucos avançaram em sua direção.

– Ela está... – iniciei, ainda sem determinação para olhar o interior do cômodo por mim mesmo, mas ele me acalmou sorrindo e tocando meus ombros:

– Ela está bem. Tudo correu bem... Você demorou, estávamos te esperando!

Eu arquejei para o chão, sem ar! Há muito tempo não sentia fadiga após um esforço físico... desde quando ainda não era lobo. Resumindo, desde antes de a minha vida começar...

– Jake?! – escutei a voz doce da minha princesa chamando calmamente o meu nome – Você está aí?!

A expectativa com o que aconteceria a seguir me fez sorrir involuntariamente, acelerando minha pulsação. Uma mão gelada me tocou nas costas, como um incentivo.

– Entre, Jake! – Alice pediu com ternura, ladeada por Edward, Emmett, Rosalie e Esme – Nessie já não agüentava mais esperar pela sua chegada!

Eu engoli a saliva e me pus ereto. Somente um giro de corpo me separava da sua presença... Das “suas” presenças!

Bem... era agora ou nunca!

* * *

-//Flashback//-

“– Eu sinto muito, Nessie – falei com um tom deprimido – pela minha atitude fria... sei que foi de uma covardia imperdoável!

Ela me consolou com a meiguice do seu olhar angelical.

– Está tudo bem, meu amor – disse, se encolhendo em meu corpo – minha mãe me contou o que aconteceu e me disse o quanto você sofreu junto com ela... Vamos colocar uma pedra nesse assunto, ok?!

Sua compreensão excedia em milhas o meu merecimento. Eu não poderia esperar outra atitude vinda dela... Quem mais seria capaz de ser tão nobre e gentil comigo diante daquilo tudo, senão o amor da minha vida?! Eu beijei sua testa, num mínimo gesto da gratidão que estava sentindo no peito.

– Se você diz que está tudo bem, então assunto encerrado!

Seu semblante já denunciava uma melhora, graças a Deus!

Eu recostei a cabeça no travesseiro e me dei a oportunidade de, pela primeira vez, analisar as coisas por uma óptica mais amena. Se tudo corresse bem {teria que correr}, logo logo eu seria... Pai! Não seria mais somente um “marido”, seria a figura paterna de uma criancinha que pertenceria a nós, para sempre. Aquilo sim era uma tremenda responsabilidade, sendo que eu nem me considerava ainda como um bom marido, dadas as circunstâncias... Como seria a nossa vida, depois que o bebê nascesse?! Será que eu seria capaz de passar pra ele os mesmos princípios e valores que o meu pai me ensinou?! Será que eu teria talento para trocar suas fraudas? Ou colocá-lo pra dormir? Ou dar papinha?! Aliás, como seria o apetite dessa criança meio vampira, meio humana, meio... transfiguradora?! Credo, eram tantas dúvidas ao mesmo tempo que minha cabeça ficou a ponto de explodir.

Nessie ainda estava acordada, remexendo um botão da minha camisa. Será que estava tão insegura quanto eu?!

Não, ela estava radiante! Certamente não partilhava de nem 1% dos meus receios... Possuía uma maternidade inata, sem sombra de dúvidas!

Sem querer parecer menos engajado no projeto “gestação”, me sai com a seguinte pergunta:

– Você... já pensou em algum nome para o bebê?!

“Nossa, quanta originalidade...!!” eu me alfinetei, mas ela demonstrou interesse pelo tópico apesar da minha atrapalhação.

– Não! – respondeu com a voz surpresa – Na verdade, nem tive muito tempo pra pensar no assunto. Foram tantas informações em uma mesma noite...

Dizendo isso, ela começou a meditar. Seus olhinhos se apertaram, enquanto ela provavelmente considerava as possibilidades... Que eram muitas, por sinal! Será que escolheria “Jacob” para menino?! Eu esperava que não... Esse tipo de tradição nunca me foi agradável aos olhos!

Passados alguns segundos mais, ela pareceu chegar a um resultado satisfatório.

– Que tal... Líllian, se for uma menina?!

Hmm, nada mal! Líllian era um bom nome, bonito e delicado. Uma escolha encantadora!

– Lílian me parece um nome ótimo. Podemos chamá-la carinhosamente de Lilly, o que acha?! – sugeri

– Perfeito!! – ela abriu seu típico sorriso, aquele que me fazia perder o juízo

– E se for menino?! – me entusiasmei, já que ela demonstrou ter um bom gosto para a coisa.

Mais uma vez ela se perdeu em considerações...

No minuto seguinte, se virou para mim, com uma atitude divertida de criança sapeca:

– Já sei! – ela anunciou – mas você precisa prometer que não vai resmungar!!

– Ora, e porque eu faria isso?! – não encontrei uma conexão entre os dois períodos de sua fala

– Você já vai saber... Agora prometa!

– Está bem, eu prometo! – só consegui rir de sua insistência

– Muito bem. Eu fiz uma junção do seu nome com o do meu pai, e o resultado foi...

– Foi...?!

– Jared!

Hân?! Como assim, Jared?! Minha promessa foi por água abaixo em menos de dois segundos:

– Jared, Nessie?! Mas esse é o nome de um dos meus amigos, esqueceu?! – debochei, de mau gosto

– Eu sei disso, e foi por esse motivo que te pedi para não resmungar, seu chato!! ela emburrou aquela carinha linda que me libertava de qualquer indisposição

Mas... não podia ser outro nome, meu amor?! – tentei contornar a situação

– Eu já disse que foi uma junção do seu nome com o do meu pai. Jacob... Edward... Jared! Entendeu?!

Em reação àquela justificativa metódica, eu não consegui me controlar... Soltei uma gargalhada automática.

–Nessie, Nessie... você e sua mãe são idênticas mesmo!

Ela nem se afetou.

– E então, o que você me diz?!

Eu me endireitei e fitei seus olhos travessos, depois procurei ser o mais compreensivo possível, em consideração ao seu esforço:

– Eu gostei de Lilly, caso seja uma menina. Mas Jared... Vamos fazer o seguinte: me dê um tempo pra eu me acostumar com a idéia, está bem?! Eu prometo que vou me esforçar...

Disse isso, mas depois eu só consegui pensar em uma única e descabida coisa: “Tomara que seja uma menina! Tomara que seja uma menina!”

* * *

A luz do sol que vinha da janela a princípio cegou minhas vistas, após meu primeiro passo pra dentro do quarto. Mas, foi só o tempo de eu erguer a mão pra protegê-los, para que toda a cena se tornasse nítida diante de mim: na cama de Alice, que tinha sido nossa durante aqueles dois longos meses, repousava o corpo cansado e envolto por lençóis de Renesmee... Minha adorada Renesmee! Carlisle e Bella encararam com entusiasmo a minha aparição, enquanto orbitavam o perímetro do móvel. Rachel estava encostada na poltrona em que Seth estava sentado, próxima ao banheiro. Esse, por sua vez, estava perdido em seus próprios pensamentos, de uma maneira que não lhe era comum...

...E, finalmente... guardadinhos debaixo de um oceano de lençóis brancos e inúmeras colchas... duas cabeçinhas cabeludas se exibiam, pequeninas, protegidas pelo braço terno da mãe! Ela, exultante com a minha chegada, me saudou com um sorriso que franziu seu nariz e olhos, numa perfeição absurda.

Bem vindo de volta, meu amor! – sua voz entoou as palavras, quase como em uma melodia celeste – Tem duas pessoinhas aqui que querem muito que você as conheça!!

Parada cardíaca...

Congelei no centro daquele vórtex de felicidade que me comprimia, enquanto todos aguardavam por uma investida minha em direção a ela. Seus lindos olhos, novamente da cor chocolate que sempre haviam sido, me fitavam, também com ânsia. Meu cérebro simplesmente não conseguia processar tanta alegria de uma só vez, por isso eu sempre levava mais tempo do que a maioria para externar as reações corretamente. Eu estava em estado de graça!

Voltei a mim quando a mão atenciosa de Carlisle pousou no meu ombro, e em seu olhar eu pude ver a confirmação de que aquilo não era um sonho.

– Meus parabéns, papai!

Ouvir aquele tratamento de “papai” foi demais para a minha pose machona e eu espirrei o riso, misturado às lágrimas que já tomavam conta do meu rosto.

– Ohhh, Jake está emocionado...!! – Emmett fanfarreou atrás de mim, provocando o bom humor de todos – Vai logo dar uma olhada nos seus filhos, homem, deixa de doce!

Vendo que eu havia perdido a capacidade de conciliar pé ante pé, o doutor Carlisle discerniu uma oportunidade perfeita para exercer seu ofício, botando em prática um exercício básico de fisioterapia. Foi, então, me conduzindo com perícia e paciência pra mais perto da cama, me sustentando pelos cotovelos tesos. Com a aproximação, os dois rostinhos escondidos sob os panos foram gradualmente se revelando.

Foi então que retomei finalmente o controle de mim e lancei meu corpo através do resto de espaço vazio entre nós, mergulhando meus lábios nos de Renesmee... interrompendo seu semblante ansioso com o calor dos meus sentimentos!

– Me desculpe, Nessie... Por não ter estado aqui, por ter demorado tanto... – foi só o que consegui dizer, num lapso de culpa

– Não se atreva a continuar, mocinho – ela disse, entre três ou quatro dos meus beijos – Você está aqui agora, é o que importa!

– Eu sei... Eu sei...

Meu amor se condensava em dezenas de lágrimas teimosas, que molharam o rosto dela com o contato apaixonado. Demos um último e longo beijo, até que então eu, por fim, tomei coragem para dispensar a devida atenção aos novos membros da nossa família. Senti os olhos cor de chocolate dela avaliando as reações do meu rosto, enquanto eu cedia aos encantos dos recém chegados... Nossos filhos!

Eram duas belezinhas singulares... dormindo profundamente, apesar da movimentação intensa no quarto.

O maiorzinho deles tinha o cabelinho grande e castanho, todo espetadinho para cima. Sua pele clara de recém nascido evidenciava uma tendência discreta ao tom moreno avermelhado, uma variante mais lívida do meu. Possivelmente assumiria um tom intermediário entre o da minha pele e o da de Nessie, na medida em que fosse ficando mais velho. Seus olhinhos eram amendoados e com cílios bem negros, e seus lábios eram finos e equivalentes, sem nenhuma discrepância digna de menção entre um e outro.

O segundo bebê tinha o cabelinho raso, igualmente liso, só que de um ruivo quase carmim que contrastava bastante com o branco gelo da pele! As bochechas coradas e salientes e os lábios rosados em forma de flor também acentuavam o choque do pálido com o vermelho vivo. Tinha os dedinhos grandes apoiando o rostinho... dedinhos de pianista!

Eram tão encantadores e angelicais que nem pareciam de verdade. Assim, enroladinhos de perfil no lençol, eu não consegui distinguir se eram duas meninas, dois meninos ou um casal. Edward se aproximou para observá-los e prontamente anunciou:

– Interessante... gêmeos dizigóticos!

– Dizi... o quê?! – eu argüi, a feiura da palavra quase me fez pensar que era um xingamento, ou algum tipo de defeito congênito que não identifiquei no primeiro exame aos meus pequenos

– Dizigóticos! – ele revirou os olhos – Quer dizer que são gêmeos fraternos, diferentes um do outro! Provém da mesma gestação, porém são formados a partir de óvulos separados.

– Ahhh! – eu respirei aliviado, apenas por entender que não se tratava de nada grave. Os detalhes técnicos foram quase em chinês pra mim...

– É como se fossem dois irmãos comuns, não-gêmeos, mas vindos em uma “barrigada” só, né?! – Emmett parafraseou do jeito dele, mas só assim eu fui capaz de entender claramente

– É exatamente isso! – Edward concordou – Claro que você não encontra essa definição em nenhuma enciclopédia... Mas no popular, são simplesmente dois irmãos que dividiram a mesma barriga! Ah, e respondendo a sua dúvida Jacob, eles são um casal. O moreninho da esquerda é um menino e a ruivinha é uma menina. E concordo plenamente, são muito lindos!

Um casal. Quase uma réplica de nós dois, Nessie e eu... O moreno e a ruivinha! Achei graça e agradeci a ele pelo esclarecimento. Depois acariciei a face tranqüila de Renesmee, orgulhoso por seu desempenho na minha ausência.

– Eu te amo tanto, Nessie! Você foi uma guerreira, eu tenho certeza disso!

– Só pra registro: Você não perdeu muita coisa... – ela falou, despachada – Só gritos e mais gritos... Ah, e uma bacia enorme de sangue! É sério, o melhor festa está acontecendo agora, pode acreditar.

Notei que estava sendo sincera e lhe agradeci com um sorriso por sua gentileza.

– Vocês já sabem que nomes vão dar aos bebês?! – Bella perguntou

– É, estou bem curiosa sobre isso! – Alice não pode deixar de evidenciar uma certa frustração com sua condição de vidente parcialmente inválida.

Nessie e eu nos olhamos por alguns segundos. Percebi que ela buscava de mim uma resposta sobre aquela nossa conversa inacabada no quarto... Que gracinha, sua longanimidade realmente durou até o último instante. Eu consenti com a cabeça e ela então sorriu.

– Já temos sim! – anunciou, entusiasmada

– Verdade?! E quais são?! – Esme perguntou da porta, depois se aproximou de onde o marido estava

– Jake gostou de Lílian, caso fosse uma menina. Sugeri esse nome em honra de tantos “L’s” que tem nos nomes de vocês, garotas!! E, para o menino, bom... eu pensei em... Jared!

– Jared?! – Emmet pigarreou – mas esse não é o nom...

– Já sei, tio... – ela o interrompeu, antes que aquela discussão tivesse tempo de se instaurar outra vez – Mas não foi por isso que eu escolhi esse nome.

Edward riu do que se passava em nossas mentes e esclareceu a intenção da filha:

– Ela quis fazer uma junção do meu nome com o de Jacob, do mesmo jeito que Bella fez, ao batizá-la.

– Jacob... Edward... Jared! – Carlisle analizou – É, faz sentido!

– Quer dizer que meus métodos te serviram de inspiração, né filha?! – Bella perguntou, presunçosa, e todos rimos.

– Você sabe que eu sempre me espelho em você em tudo o que faço, mãe! – Nessie disse com franqueza, fazendo as feições do rosto de Bella se contraírem, emocionadas

– Essas foram homenagens lindas, filha – Edward alegou, agradecido – Você conseguiu incluir várias pessoas nesse bonito gesto, estou orgulhoso também.

– Sim – Carlisle concordou – por falar em orgulho... Fiquei realmente impressionado com a solicitude do nosso amigo Seth. Ele foi um auxiliar e tanto! Ouso até dizer que, sem a ajuda dele, nós ainda estaríamos lá embaixo em meio a um trabalho de parto...

Sua voz saiu incrementada de veneno, e eu percebi que ele estava de alguma maneira tentando alfinetar Bella, Rosalie e Rachel, já que as três fizeram cara de poucos amigos.

Me virei, de joelhos mesmo, para encarar o garoto, mas ele ainda permanecia com aquela atitude estranha... tensa... Estava sacudindo a perna de uma maneira que evidenciava por completo sua inquietação com alguma coisa.

– É mesmo – Nessie também demonstrou satisfação – ele foi um amor, tão prestativo... Você precisava ver como ele se encantou com a neném, Jake.

– Mesmo?! – eu franzi a testa, estranhando a informação. Ao que me constava, Seth nunca morreu de amores por criança...

– Mesmo! – ela continuou – Desde o momento em que eu dei a luz, ele não conseguiu mais olhar pra outra coisa. Acho que a emoção do parto foi demais, não é Seth?! – ela piscou pra ele, que sorriu sem muito entusiasmo.

De início, nada me chamou a atenção... Eu só comecei a desconfiar quando ele franziu a testa e me encarou sem jeito, quase como se esperasse pela erupção de um vulcão! Nessie ainda falou mais coisas, sem perceber que diante dos seus relatos, minhas feições começaram a mudar gradativamente de descontraídas para sérias... de sérias para tesas... de tesas para horrorizadas!

– Na hora de subirmos para o quarto, quando Carlisle pediu para que ele a segurasse no colo, seus olhos brilharam de alegria. Acho que estamos diante de um futuro pai de família, porque eu nunca vi alguém tão encantado com uma criança na minha vida e... – ela se interrompeu, notando que algo estava muito errado ali – Jake...?! O que está acontecendo, por que suas mãos estão tremendo desse jeito?!

Rachel cruzou os braços instintivamente por sobre o corpo de Seth, numa investida protetora. Descobri a verdadeira razão por ela estar estrategicamente junto a ele todo aquele tempo em que eu me devolvi à mansão. Jasper franziu o nariz, mas Alice correu até ele.

– Jazz, não interfira... – ela pediu – Eles precisam se acertar como os dois homens civilizados que eu sei que são! Vamos lá pra baixo. Emmet, Rosalie, venham também!

– Mas...

– Mas nada, Emmett, vamos!! Carlisle, Esme, vocês vão ficar?!

– Eu receio que seja melhor nós irmos também! – Carlisle informou – Vamos Esme, eles se entendem sozinhos... Vão ter muita coisa pra conversar!

– Hey – Renesmee sussurrou um grito – O que vocês estão fazendo, que negócio é esse de “se acertar” e “muita coisa pra conversar”?!

Ninguém respondeu, então os que disseram que iam sair, saíram. Edward e Bella, por sua vez, não demonstraram nenhuma intenção de abandonar o quarto, muito pelo contrário. Enquanto ela se posicionou também entre mim e Seth com uma postura de defesa discreta, ele veio até mim e sussurrou em meu ouvido:

– Agora não vai ter jeito... Você vai ter que abrir o jogo com Renesmee, seu tonto!

Estremeci, mordendo os lábios. Com muita relutância mental e muscular, eu encarei sua face séria... e percebi que realmente não teria escapatória...

* * *

-//Flashback//-

“– O que isso quer dizer, meu amor?! Você falou sobre uma terceira opção... – Bella arremeteu a conversa ao discurso convicto do marido. Ele se colocou de frente para todos nós, com um olhar cheio de segurança e fito agora em mim:

– É que me veio à cabeça a possibilidade de o efeito em Nessie não ser simultâneo... De ser como uma impressão.

– UMA IMPRESSÃO?! – eu me exaltei, traído pelo nervosismo

– Mais ou menos isso! – ele explicou – Quando o estranho esteve aqui hoje mais cedo, sua presença de alguma maneira expôs Nessie a um confronto de sentimentos! Mas bastou Bella envolvê-la com o escudo para eliminar o efeito permanentemente. Ele não a estava controlando à distância, ou de algum lugar próximo, apesar de essas serem as chances mais prováveis... De qualquer forma, temos que estar atentos a qualquer coisa estranha de agora em diante. Não sei se eu também não teria sido afetado, se tivesse chegado mais depressa à cozinha.

– Uma impressão! – Bella repetiu e, sem disfarçar, me lançou um olhar sugestivo

– “Mais ou menos isso” foi o que Edward disse! – eu deixei bem claro esse ponto, tentando fazer com que ela parasse de me olhar daquele jeito... Por sorte, não demos bandeira demais, por que Nessie sem rodeios alterou os rumos da conversa:

– Ok... Alguma solução prática de segurança?! Munição?! Armas químicas?!

Jasper respondeu alguma coisa, mas eu já não estava mais prestando atenção em nada. O alívio foi tamanho por Renesmee não ter notado meu alarde, que eu naufraguei em minha própria mente covarde...

Nós nunca havíamos lhe contado nada sobre “imprinting”, por isso me detive tanto naquela afirmação de Edward. Anos atrás, quando ela ainda era um bebê de colo e os Volturi já não se constituíam em uma ameaça, os Cullens, eu e os demais lobos decidimos que ela jamais deveria saberia sobre o fato de eu ter sofrido o imprinting com ela, nem tomar conhecimento de nada a respeito do fenômeno. Essa sugestão partiu de Sam, já que havia sido essa a sua orientação para Quil e Claire também! E, realmente, não havia benefício algum em se contar algo assim para as duas. Se, no devido tempo, já seria difícil atar compromisso com alguém que vimos crescer, imagine se esse alguém pensasse que nós só demonstrávamos interesse por estarmos sob os efeitos de uma hipnose maluca?! Não... Aquilo deveria permanecer em segredo. Para sempre, se possível!

Algo que Edward estava falando me tirou do oceano das minhas lembranças, me trazendo de volta à conversa:

– Como é?! – meu pai perguntou a ele

– É isso mesmo! Ou vocês não se lembram que existe uma quarta raça nesse planeta?!

Do que ele estava falando agora?! Do nosso desconhecido?! Estava seriamente considerando que a nossa ameaça era proveniente de um... de um...

– Um híbrido, como Nessie?! – eu me ergui afoito, sedento por uma negativa – Isso é meio improvável, vocês não acham?!

– Pode até ser... Mas explicaria algumas coisas, como por exemplo, o que ele disse a Nessie! – Bella fez questão de arruinar minhas esperanças {sem perceber, é claro...}

– “Finalmente!” – Carlisle completou.

É... “Finalmente” meu mundo estava a ponto de virar de ponta cabeça!! Agora, já não parecia mais tão atraente guardar um segredo assim... Um híbrido era sinal de competição. Competição amorosa!”

[...]

“ Nessie se levantou meio desengonçada do sofá, por isso sentiu-se tonta imediatamente.

– Devagar, Nessie! Precisamos te lembrar disso todas as vezes?! – a loira psicótica a advertiu

– Não foi nada tia, sério! – Nessie mentiu, indo em seguida tomar um ar perto da janela.

Aproveitei a deixa pra convocar Edward e Bella a uma pequena reunião privada. Meu coração disparava um alerta vermelho a todo o meu corpo... eu tinha que sondar o terreno, pisar em ovos nunca foi o meu forte! Os dois se uniram a mim em um canto da sala e já sabiam exatamente do que se tratava aquilo:

– Jacob – ele foi logo falando – Eu não me referia ao “seu” tipo de impressão... Foi só a palavra mais eficaz que eu encontrei para descrever a minha teoria.

– E você tem certeza de que eu não corro o risco de perder Renesmee para esse... quem quer que seja?! – perguntei, revoltado com meu próprio temor

– Jake... – Bella me consolou, pousando uma mão de leve em meu rosto – você acredita mesmo nisso que está dizendo?! Renesmee te ama, ela escolheu você. Para todo o sempre, lembra?!

– Não seria o caso de eu contar pra ela de uma vez sobre o “imprinting”?! Talvez ela...

– Nem pensar – ele me interrompeu bruscamente – Eu não vejo necessidade para isso ainda! Talvez, um dia, daqui a muitos anos, quem sabe... Mas não agora!

– Mas... – eu repliquei

– Ouça Jacob – ele me segurou pelos ombros – A resposta por hora é não! E você precisa me jurar que não vai falar nada, em qualquer que seja a época, sem antes me consultar.

Eu me indignei contra a sua exigência, mas vi que ele tinha razão. Não era mesmo uma boa hora pra jogar isso em cima dela. Assoprei de má vontade e, quando eu ia responder ao pedido, meu pai nos interrompeu:

– De quanto tempo ela está?!

Bella puxou as mãos de Edward pra baixo, obrigando-o a folgar o travão que tinha dado em meus braços sem perceber.

– Quase quatro semanas! – ela mesma respondeu, amistosa

– Hunf – ele resmungou, com aquele típico sarcasmo – já vi que teremos mais uma criança relâmpago dentro em pouco!

Arf, ele realmente tinha o dom de ser desagradável... Por sorte, o pessoal levou a sua reação na brincadeira, dando risada. Eu fingi encarar também com bom humor, mas sabia exatamente o que ele estava pensando: “Mais um sanguessuga no planeta...”. Era repugnante! Tive que engolir minha raiva antes que ela desse muito na cara, e acabei por receber uma orientação para acompanhá-lo até em casa. Acatei prontamente, e fui me despedir de Nessie.

– Fique bem, minha Nessie! Eu volto mais tarde, não se preocupe!

Saímos e eu coloquei meu pai dentro da sua caminhonete, depois sentei no banco do carona. Passamos uma boa parte da viagem em silêncio, até que eu não agüentei mais e resolvi questionar seus motivos para ser tão antipático.

– Eu não estou sendo antipático... – ele se defendeu – Mas você não pode exigir que eu me acostume com esse tipo de coisa imediatamente, filho!

– Por que não?! Faz parte de quem nós somos pai... Ser diferente, eu quero dizer!! Você já deveria estar acostumado a lidar com “esquisitices”!

– Pois é, mas cada coisa exige um período maior ou menor de tempo para que nos acostumemos...

– Que é que é, hein?! – eu comecei a me exaltar, sem justificativa – Você por acaso achou que nós dois íamos nos casar e não teríamos filhos?!

– Não comesse com grosserias, Jacob... Eu ainda sou seu pai!! – ele engrossou o tom, depois começou com represálias – Vai me dizer que você sabia que ela podia engravidar?! Faça-me o favor... está na cara que você nem sonhava com essa possibilidade!

Não consegui replicar, ele estava como sempre... certo! Me limitei a afundar no banco outra vez, de cara amarrada.

– O estado dela já está começando a afetar o seu temperamento de novo... – ele mudou de assunto, e sua afirmação despertou minha curiosidade

– Como assim?!

Ele me olhou pelo canto do olho, desapontado com a minha falta de percepção.

– Toda vez que alguma coisa na vida dela alçar um rumo diferente, você vai sentir alterações nos nervos e emoções. É a natureza te preparando para proteger o que é seu, entende?!

– É... – eu concordei com uma voz lerda.

Até certo ponto, eu já sabia disso... Mas ele acrescentou um detalhe muito significativo: A natureza me preparando para proteger o que era meu!! A definição era muito apropriada...

– Você pretende contar a ela sobre o imprinting?! – ele mudou de assunto de novo

– Eu pretendia, mas Edward achou melhor adiar. Agora realmente não me parece um bom momento... Ela está fragilizada e, ainda por cima, me aparece esse “cara” de sei lá onde, com essa atitude suspeita! Não, ele tem razão, é melhor deixar pra depois!

– Pode ser... – ele torceu o nariz – Mas não adie muito essa conversa. Quanto mais tempo a gente leva para resolver uma pendência, mais complicada ela fica. Não deixe chegar a um ponto onde haverá seqüelas, está bem?!

– Está bem! – concordei, já tranqüilo novamente.

Depois disso, não falamos mais nada.

Tudo se resumiu à estrada ficando pra trás de nós...

* * *

Seth estava apavorado... seus olhos permaneciam arregalados ao máximo, enquanto os meus borbulhavam de raiva!

Ao ouvir as palavras de Edward, do nada, eu fechei meus olhos e me concentrei. Após um silvo macabro rugir em minha garganta, eu os reabri, já com meus músculos em ordem e meus membros livres da tremedeira. Foi a primeira vez, desde os meus primeiros revertérios, que eu consegui me recuperar tão depressa... A mão fria de Nessie se agarrou à minha e eu me virei para a cama, encarando com pesar sua face aflita diante daquele ambiente carregado pela breve tensão.

– Jake – ela falou com a voz afetada – Todo mundo saiu do quarto... o que foi que eu disse de errado?!

– Não é isso, meu amor... – minha garganta estava seca, as palavras saíram com dificuldade – É só que...

Olhei para Edward novamente e ele gesticulou impaciente pra que eu continuasse, depois foi se colocar do lado de Bella e os demais. Virei de volta para Nessie e os bebês, que ainda dormiam tranquilamente alheios ao universo ao redor deles, e voltei à minha posição de joelhos. Meu coração já se afobava com a eminência das minhas próximas palavras à ela. Mas, uma vez que foi o meu próprio descontrole que me denunciou, então eu devia entender que a natureza queria que eu virasse essa página das nossas vidas de uma vez por todas!

– Jake – Seth me chamou, por sobre a barreira que se formava em volta dele – Eu não tive culpa, você sabe que essas coisas fogem ao nosso controle...

Meu Deus, aquilo foi um deja-vù! Quase as mesmas palavras que eu usei, há sete anos atrás, quando era eu quem estava no lugar dele: O imprintado! Ele sofreu imprinting com a minha filha recém nascida, assim como aconteceu entre Nessie e eu. Pela primeira vez, pude enxergar tudo pela perspectiva de Bella... e foi horrível!

Mas eu não poderia simplesmente avançar na jugular dele, assim como ela fez comigo! Que respaldo eu teria para fazer isso?! Pelo amor de Deus, era do Seth que eu estava falando... O garoto Seth, a quem eu tanto me afeiçoei com o passar dos anos, a ponto de considerá-lo quase como um irmão mais novo... um filho! Não poderia trair minha consciência desse jeito.

– Est... Está tudo bem, Seth! – falei de costas pra ele – Eu sei disso, me desculpe! Já estou bem outra vez...

Foi o momento então de olhar pra frente... para aquele belo e aflito par de olhos cor de chocolate... e prosseguir, revelar o que estava oculto!

* * *

-//Flashback//-

“– Eu estive pensando naquele nosso papo na escada... – mudei de assunto, minha voz assumindo um caráter mais sério

– Discussão! – ela me corrigiu, maliciosa

– Isso, discussão... Enfim, você tinha razão, eu não estou sendo muito aberto com você!

Vi em seus olhos a chama da expectativa ardendo com as minhas palavras.

– Mas é que, às vezes – continuei – eu me sinto inseguro em te contar algumas coisas sobre mim... Sobre o meu passado!

– Por quê?! – ela perguntou com ternura

Medo! Medo do que você vai pensar, de como você vai me ver... de te perder! Basicamente medo, Ness!

Ela tomou a laranja que eu quase esmagava debaixo das mãos e se achegou mais a mim, me fazendo olhar pra ela:

– Jake, por mais sombrio que possa ter sido o seu passado, o que não é o caso, não justificaria o fato de você me esconder as coisas assim. Nada me faria te amar menos, ou te admirar menos... e isso é um fato, não uma suposição!

– Eu não sei não... – disse, desviando o olhar.

Qualquer coisa que ela pudesse imaginar em relação ao que eu escondia dela não se comparava à verdade, disso eu tinha certeza! Já que esse era um aspecto irrelevante, ignorei-o e me concentrei no que fazer daquele ponto em diante.

Confrontei em minha mente as orientações de Edward e do meu pai: “Não fale nada, por enquanto!”... “Não adie essa conversa, podem haver conseqüências!”...

Decidi então que agiria segundo o meu coração! Seria transparente com ela, poria fim aquele caroço que estava engasgado em mim!

A decisão veio tarde demais. Sam apareceu na cozinha e parecia ter algo muito importante a dizer. Estava agitado e isso nos fez ficar de pé para escutá-lo. Minha pequena conversa com Nessie teria que esperar até uma outra hora mais conveniente.

Eu só quis que não levasse mais tanto tempo para isso acontecer...

* * *

{Depois da conversa...}

Lilly despertou do seu sono. Seu chorinho fraco trouxe Renesmee de volta à consciência, após um longo minuto de silêncio, e ela carregou a neném com todo cuidado para perto de si.

Ainda não sabia dizer se já era o momento de perguntar se ela estava bem, depois das coisas que tinha acabado de ouvir... Olhei pra Edward e ele balançou a cabeça, me dando a entender que eu precisava lhe dar mais um tempo para digerir a história toda.

Eu contei tudo a ela!

Cada detalhe, material ou imaterial... cada implicação, todos os dilemas e descobertas que eu havia tido e feito sobre “imprinting” até o presente dia... Sobre Sam e Emilly, Paul e Rachel, Quil e Claire... Seth e Lillian... Não deixei nada encoberto, lavei minha alma diante da sua face atônita e muda! Ela me escutou sem sequer pestanejar, seus lábios apertados em uma linha fina demonstravam sua surpresa com cada frase que eu dizia, impedindo-a de me interromper. As últimas palavras do meu discurso vieram para amenizar a complexidade do assunto, selando mais uma vez meus sentimentos por ela: “Eu te amo, e essa é a única certeza que eu tenho em relação à vida! Não por causa de nenhum imprinting... E sim, por que o tempo e as circunstâncias me ensinaram a te amar como a nenhuma outra pessoa!” Esperei não deixar dúvidas em relação à veracidade do amor que me ligava à ela, mas me resignei. A paciência agora seria a minha aliada.

Jared se mexeu um pouco embaixo da colcha, depois gemeu... em seguida, chorou também, despertado pela fome.

– Nessie, entregue a Lilly pro Seth – Edward instruiu – Jared está com fome, você precisa dar de mamar a ele agora.

Eu nem me manifestei, somente levantei para abrir passagem ao garoto. Ele hesitou a princípio.

– Está tudo bem, Seth – Bella disse, com propriedade – Eu tenho mais do que certeza de que Jacob já compreendeu o seu lado. Pode ficar em paz!

Mesmo ouvindo isso, foi com receio que ele cambaleou até mim e Nessie para receber minha filha no colo. Ela entregou a neném com carinho para ele. Isso era sinônimo de que ao menos não estava ressentida, ou enojada dele... Fiquei feliz! Ele a acomodou nos braços com tanta delicadeza, e seu olhar sobre ela foi tão puro, que eu só pude sentir um alívio imenso por ser ele a pessoa que a amaria para sempre, e não outro alguém qualquer. Realmente, a sorte sorria pra mim mais uma vez!

Rachel e ele foram para o corredor, deixando-nos no quarto para finalizar aquela conversa. O pequeno Jared sugava com força o seio carregado de leite de Nessie, que não tirava os olhos dele.

– Eu acho que você precisa de um tempo para pensar em tudo o que eu te disse, não é?! – perguntei sem jeito.

Seu silêncio foi resposta suficiente para mim. Me virei para os pais dela e me aproximei deles sem muito entusiasmo.

– Você fez a coisa certa, Jake! Finalmente vencemos essa etapa – Bella sussurrou, me abraçando – Não se preocupe, tudo se resolve com a verdade.

– Nós três vamos lá pra baixo, filha – Edward avisou – Vou pedir para Rosalie subir para ficar com você.

Ele não esperou ouvir nada dela em retorno, então fez sinal e nós três nos dirigimos à saída do quarto.

– Jake, espere! – Nessie me supreendeu com o chamado calmo.

Eu me virei com tudo para olhar seu rosto e me reanimei ao identificar um sorriso discreto em seus lábios.

– Estou feliz por você ter finalmente confiado em mim. Isso, na minha opinião, foi o mais importante aqui... mais até do que essas coisas todas que você me contou! Só me dê um tempo para colocar minhas idéias em ordem, está bem?! Eu prometo que nada mudou e nem vai mudar, então não se angustie.

O peso na minha consciência se desfez na mesma hora! Eu seria capaz até de flutuar, se tentasse... Cada coisa estava em seu lugar, enfim. Me curvei diante de seu pedido, depois me virei de volta para acompanhar meus sogros, até sairmos totalmente do quarto.

No corredor, Seth embalava o sono de Lílian com uma canção Quileute muito antiga e, ao me ver, não disfarçou o desconforto. Eu caminhei até ele, sondando minhas emoções a cada passo. Satisfeito com o resultado, percebi que agora já não tinha espaço para raiva em meu coração! A energia singela que Nessie emanou para mim me contagiou completamente. Bella e Edward seguiram na minha frente lá pra baixo, nos deixando um momento a sós.

– Jake... – ele começou em um sussurro, mas eu gesticulei suavemente, depois coloquei uma mão em seu ombro:

– Escute! Eu quero te dizer... que não estou com raiva por você ter tido imprinting por Lilly. Você é a melhor escolha que um pai poderia fazer para a própria filha!

Ele piscou.

– Eu sei – continuei, achando graça de sua cara de tacho – que você vai ser melhor do que eu fui em muitos aspectos. Por isso, de coração, eu te libero de qualquer culpa. Você não tem o que temer, amigo. Eu te amo como se fosse seu pai, você sabe disso, né?!

Ele pareceu não acreditar no que ouvia, mas meu sorriso para ele finalmente o fez relaxar, trazendo o ar para fora dos pulmões com alívio.

– Eu te prometo que vou dar o meu melhor pra ela, Jake... Não vou decepcioná-lo jamais!

Acreditei em suas palavras de graça. Nós dois então paramos para admirar o bocejo gracioso da nossa pequena, que depois pareceu sorrir ao mesmo tempo em que sonhava.

– Ela é linda, não é?! – perguntei, sem tirar os olhos de seu rostinho

Como nenhuma outra! – Seth respondeu, vidrado

– Posso... Segurar ela?! – Pedi, com receio de não ser a melhor hora

– Claro que sim, Jake! Que pergunta é essa?! – ele foi logo me passando a neném, que eu carreguei completamente desengonçado!

Foi uma experiência única, segurar pela primeira vez alguém que era carne da minha carne, sangue do meu sangue! A sensação era equivalente ao amor... imensurável, inqualificável!

Entregue ao mundo dos sonhos, suas feições se assemelhavam totalmente às da mãe. Me lembrei com prazer do segundo dia da nossa curta lua-de-mel. Eu tinha dito à Nessie que havia dormido até tarde como ela... mas, na verdade, não preguei o olho um segundo sequer! Fiquei por horas e horas admirando seus olhinhos delicadamente cerrados... A boca rosada inclinada em um leve sorriso torto... a elevação que sua respiração provocava no peito...

...Detalhes... mas que eu decorei como só um louco apaixonado seria capaz de fazer!

Acariciei a bochecha corada da minha princesinha mais nova, depois mexi em seus dedinhos compridos. Eles se enrolaram no meu por reflexo, retendo-o. Quanta força para um bebê tão novinho... mas ela parecia saber quem eu era, ou o que eu significava em sua vida.

Eu era pai!

Pai de dois tesouros. Marido de um também! Tudo que me pertencia era precioso. Nada, nem ninguém, tinha o direito de se colocar entre a nossa felicidade!

Com a natureza como minha aliada, ai daquele que estava nos ameaçando... Eu não abriria mão de destruí-lo com minhas próprias mãos assim que pudesse! Não abriria mão de defender o que era MEU!!

4 comentários:

Paula disse...

Finalmente um imprint para o Seth..... rsrsrs... Ja era hora.... rrsrsrsrs

Noeme♥ disse...

Essa fic é tão perfeita! Segunda vez que leio ela! Eestou tendo a mesma emoção de quando lhe da primeira vez!

Barbara disse...

Adorei esse capitulo!!! Muito Lindo... Que Bom Que A Nessie não Ficou brava por que ele tina escondido isso dela... adorei!!!...Muitoooo mesmooo

kety cullen disse...

Adooooooooorei!lindo o seth mereceu!***

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