O interior da mansão, antes repleto de serviçais, nos lançou ares de completo abandono, quando invadimos sala adentro para deitarmos o corpo frágil e em coma de Jake em algum lugar aconchegante. Minha família aguardava para se movimentar de acordo com as minhas instruções, uma vez que eu havia sido moradora daquela casa nos últimos dias. Seria ótimo poder ignorar esse fato penoso, que me causava fúria somente com a lembrança... mas o meu pai ainda esperava de mim uma direção, enquanto sustentava o peso do meu lobisomem nos braços como se fosse uma pluma.
– Vamos subir! – disse por fim, já me dirigindo para as escadarias – Tem um quarto onde podemos colocá-lo, está aberto para uso.
Eu me referia, com muita relutância, ao “meu” quarto. Não que eu tivesse mais qualquer sentimento de posse sobre nada referente àquela casa... mas, querendo ou não, o aposento havia pertencido a mim enquanto fui “Renesmee Drachen”. Seria mesmo bom limpar as minhas memórias... Adentrá-lo como Renesmee Black, minha verdadeira identidade. Purificá-lo com a presença da pessoa que mais importava pra mim... o meu Jake!
Abri a porta e sem demora apontei a enorme cama de dossel, onde meu pai tomou a liberdade de deitá-lo confortavelmente. O corpo moreno e despido ainda estava deprimentemente pálido, mas já produzia alguns movimentos. Tremores... estava com febre!
Eu me apressei em cobri-lo com os edredons. Não sabia até que ponto aquela tremedeira era recuperação ou mau sinal. Porém, visto que antes ele estava... morto... qualquer estado físico em que seu coração ainda batesse seria bem vindo, até mesmo um coma! Ainda não sabia direito o que pensar sobre o que tinha acontecido a pouco na floresta. Estava insegura e com os ânimos instáveis! Seu cheiro amadeirado entrou pelas minhas narinas enquanto eu o enrolava com perícia, então não pude mais resistir à emoção do reencontro: larguei meu corpo sobre o dele, o amor latejando em minhas veias e a angústia por quase tê-lo perdido fazendo o meu coração trepidar!
– Não vou deixar você morrer, meu amor... – sussurrei para sua inconsciência, desejando que ele pudesse me ouvir e lutar comigo para resistir.
A respiração elevava seu peito com muita fraqueza debaixo do meu ouvido. Começava a se tornar um martírio não ter noção se ele estava em sofrimento... o silêncio que emanava dele era ensurdecedor!
– Vamos deixá-la um pouco a sós com ele, gente – meu pai pediu à minha família.
“Obrigada pai!” mentalizei. Ele me lançou um sorriso meio sem forças:
– Não há de quê, Nessie! Estaremos lá embaixo se precisar.
Ainda não tinha escutado, nem me dirigido a alguns dos meus queridos. E os meus pequeninos Jared e Lilly... Só agora a falta deles lançou um alerta ao meu cérebro, apertando mais ainda o meu coração atribulado. Os coitadinhos foram deixados meio de lado nas minhas prioridades instantâneas, me sentia tão culpada por isso... Graças a Deus não estavam desamparados, tinham uma família inteira para compensar por mais algum tempo ainda a minha ausência. Eu queria ficar mais um pouco ali, usufruindo da sorte de ter o corpo de Jake se recuperando {assim eu desejava} embaixo do meu. Escutando o seu sangue percorrer todos os canais entre seus tecidos. Esperando que as palavras do meu pai fossem corretas...
Contra-veneno... Antídoto...
... Salvação!
Sim, era nisso que eu queria acreditar: que, de algum modo miraculoso, a minha natureza de híbrida contivesse uma substância, até agora oculta, capaz de neutralizar o veneno vampiro do sangue de alguém infectado, limpando seu organismo completamente da eminência de transformação ou, no caso do meu Jake, da morte! Seria a maior descoberta em séculos na história dos vampiros, lobisomens e outras criaturas do submundo. No entanto, não era com a repercussão da notícia que eu queria ocupar minha mente agora. Fechei os meus olhos e me aconcheguei no meu lobo amado, sincronizando minha respiração com a dele para facilitar a percepção de qualquer súbita alteração decorrente do seu processo, ao que parecia, regenerativo.
Mais tarde um pouco, – duas horas e 5 minutos para ser exata – me senti segura o suficiente em relação ao crescente {embora lento} progresso dele para descer um pouco e transmitir a minha saudade aos outros, principalmente aos meus filhos.
O lugar estava realmente vazio de empregados, como se a chegada da minha família os tivesse afugentado. Mas eu não via como eles poderiam ter notado os recentes acontecimentos. Tudo ocorreu tão depressa e tão longe dos olhares... a razão por trás daquilo conseguiu me intrigar um pouco.
Completei o último degrau da escada e fiz a curva vagarosamente até a sala de estar. Parecia que o meu espírito havia ficado preso no andar de cima, e estava tentando me reter, me puxando de volta como um elástico na medida em que eu me afastava!
Um abraço súbito me agarrou, sacudindo meu corpo desavisado.
– Nessie! – era Aly. Minha pele estava tão repuxada de nervosismo que o contado dos seus cabelos sedosos em minha bochecha foi quase como um atrito – É tão bom poder te abraçar, minha bonequinha... Cheguei a pensar que nunca mais faria isso!
– É muito bom te ver também, tia Aly! – passei os meus braços em volta dela, feliz por tê-la comigo e por sentir seu cheiro – Posso fazer idéia do que vocês passaram...
– Sei... Você não sentiu nem um pingo de saudades, não foi Ness?! – tio Emmett disse de longe, sempre com seu bom humor, mesmo após tanta tragédia
– Não é verdade... – respondi, quando Aly me liberou dos seus braços angelicais – De uma certa forma, eu posso dizer que senti uma saudade louca de vocês! Louca mesmo!
Todos estavam ocupando espaços alternados na imensa sala branca. Minha mãe foi a próxima a correr até mim e me aninhar nos braços. Agarrei-a contra mim com força, ciente de que ela havia sofrido imensuravelmente.
– Mãe! – a palavra saiu da minha boca como fôlego contido por muito tempo
– Minha princesa! Eu sinto tanto pelo que te aconteceu... Nunca mais quero ficar longe de você, nunca mais! – ela beijou o alto da minha cabeça repetidamente
– Bem, meu amor... Talvez isso seja um pouco difícil, Nessie é uma senhora casada agora! – a voz tímida do meu pai foi se aproximando de onde estávamos
– Eu sei! – mamãe lamentou, enquanto abrimos espaço para ele no abraço – Mas me deixa sonhar um pouquinho, seu bobo!
Rimos, então eu recebi mais uma amostra do quanto a minha falta havia sido latente naqueles dias. O toque dos braços do meu pai estava meio vacilante, como se ele ainda tentasse acreditar que eles haviam mesmo me encontrado.
– Eu estou aqui, pai! Sã e salva! – tranqüilizei-o e ele demonstrou mesmo que esteve precisando ouvir algo assim
– É bom mesmo te ver, baixinha! – ele disse, beijando a minha testa. Não me chamava assim desde que eu tinha uns 3 ou 4 anos, e eu me emocionei com a repentina nostalgia.
Vi que Leah e Seth estavam ansiosos por notícias de Jake. Anunciei uma leve melhora em seu estado, embora ainda inspirasse muitos cuidados. Perguntei, meio receosa, se Leah poderia subir e observá-lo, enquanto eu estava aqui embaixo. Não tínhamos muita intimidade, mas ela não se opôs de jeito nenhum ao meu pedido, indo imediatamente para o andar de cima outra vez.
Um risinho de bebê irrompeu a avantajada acústica do cômodo e eu, num movimento ligeiro e desejoso, me libertei dos braços dos meus pais e fui desembestada ao encontro do som delicioso. Não tinha reparado antes o quanto Lilly e Jared estavam enormes e encantadores... Suas feições já começavam a assumir uma semelhança comigo e com Jake bem mais marcante. Porém, a cor púrpura de seus olhos atentos me arremetia à última lembrança que eu tinha deles, ainda bem pequeninos e frágeis. O ímpeto maternal me fez estender os braços para os dois e, pra minha surpresa, eles retribuíram a ação, exatamente ao mesmo tempo.
– Mama! – Lilly pronunciou o chamado com uma vozinha melódica, enquanto abria e fechava as mãozinhas apelativamente.
O acontecimento instantaneamente arrancou a surpresa geral e eu senti meus olhos se inundando ainda mais. Em meio a tanta tensão, outra manifestação esplêndida acontecia bem diante dos nossos olhos, apaziguando os sentidos. Olhei para Seth e ele também evidenciava traços de emoção e umidade nos olhos.
– Incrível! – vovô Carlisle exclamou, boquiaberto como todos nós. Meu pai riu:
– Essa sabidinha estava esperando pela oportunidade de chamar pela mãe desde que saímos de Forks! Jared é mais caladão, puxou um pouco o gênio de Nessie... Mas estava tão ansioso quanto a irmã pelo reencontro!
Foi o suficiente... Tomei os dois nos braços e me certifiquei de beijar cada cantinho das suas cabecinhas. Seus bracinhos se encaixaram um no outro e em mim, fechando-nos em um universo só de nós três. Permanecemos unidos pela saudade por mais alguns segundos, até que os meus joelhos afrouxaram e eu senti necessidade de me sentar. Acho que a minha dieta humana não tinha sido muito eficiente no meu estado de pós-parto! Fomos, ainda enlaçados, ocupar o lugar que Rosie e tio Emmett me abriram em um dos sofás de courino branco.
Aconcheguei os meus gêmeos nas pernas e eles recostaram em mim. Incrível como seus movimentos pareciam sempre harmonizar uns com os do outro. Com sorte, essa sincronia perduraria até quando ficassem mais velhos.
Os olhares de todos estavam fitos em mim e eu estava louca de curiosidade pra saber a respeito do que tinha acontecido de fato.
– Então... República Checa, hein?! – suspirei pesarosa, erguendo as sobrancelhas desanimadamente. A onda de boas energias se dissipou imediatamente e eles se entreolharam, parecendo não saber nem por onde começar...
– Pois é, querida... – tio Jasper tomou a frente – Foi um longo caminho até aqui... nosso inimigo, ao que parece, não queria muito que nós te encontrássemos, sabe como é né?!
A lembrança daquele infeliz sintetizou um grunhido no fundo da minha garganta. Tive que empregar um tremendo esforço para não me descontrolar e rugir de ódio!
– Sei... – minha voz saiu meio afetada, então eu pigarreei para reconstituí-la ao normal – O que aconteceu?! Quer dizer, como ele conseguiu me tirar de Forks? Deve ter ido lá com um exercito pra me raptar, aquele covarde...
As expressões que tomaram conta dos seus rostos não demonstraram concordar com aquilo. De fato, pareceram sentir até um certo constrangimento em relação à minha hipótese.
Foi então que me contaram o passo a passo do que havia ocorrido enquanto eu “hibernava”. Falaram sobre o absurdo seqüestro de Leah e Zach... Da viagem de resgate até Portland... Do modo sujo com que Gabriel os tapeou, fazendo com que se afastassem ingenuamente de mim, o que liberou o caminho pra que ele concretizasse seu plano maligno sem necessidade de nenhum aparato bélico ou coisas do tipo!
Eu fiquei borbulhando de ira, como se a minha vingança ainda precisasse ser aplacada. Mas aquele ser odioso estava destruído... Precisaria buscar essa lembrança continuamente para não me permitir naufragar em amarguras.
A explicação sobre como eles haviam conseguido me localizar despistou um pouco meu furor. Soube que tinha sido através do subconsciente da minha Lilly que eles haviam tido acesso à informação sobre o meu paradeiro aqui, do outro lado do globo! A notícia foi surpreendente – uma reação típica em se tratando dos meus filhos, eu comecei a perceber!
Meus anjinhos...
Já poderiam facilmente se passar por bebês com vários meses de idade. Porém, em meu coração de mãe, a imagem dos seus corpinhos recém nascidos ainda era a minha maior impressão em relação aos dois.
Impressão...
De repente, a palavra me fez lembrar de toda aquela conversa estranha sobre “imprinting”... a última conversa que tive com o meu Jake! Meu Jacob Black... só meu... unicamente!
Repetia incansavelmente a palavra “meu” antes do seu nome maravilhoso, tendo em mente que a insistência naquilo fortalecia ainda mais a verdade estabelecida entre nós. Pertencíamos um ao outro, e não era uma reles peculiaridade como “imprinting”, ou sei lá o quê, que iria diminuir a força do amor que nos unia, ou ser a marca maior do nosso compromisso. Não mesmo, isso já tinha ficado bem claro em minha mente na ocasião, quando tive tempo para pensar a respeito daquela história...
– Quando ele acordar, filha... – meu pai interrompeu os meus pensamentos – ... não deixe de lhe contar sobre isso, está bem?! Tenho certeza de que é tudo que ele mais quis ouvir nesses últimos tempos!
– Pode deixar, pai! – agradeci pela sua preocupação com um sorriso que irradiou felicidade para ele
– Não sei quanto a vocês, – tio Emmett se pronunciou na conversa, emendando assuntos – mas eu estou me roendo de curiosidade sobre esse negócio do “contra-veneno” da Nessie!
– Eu também! – vovô Carlisle se juntou ao filho no mesmo espírito ansioso – Conte-nos o que você sentiu, Ness. Gostaria muito de me aprofundar nessa novidade, se você me permitir...
– Claro vovô... – eu disse, franzindo a testa – Ainda estou meio confusa, aconteceu muito depressa... aliás, ultimamente, parece que tudo deu para acontecer assim... Mas, por mais que pareça, não foi algo que se limitou ao meu controle. Foi impulsivo! Senti apenas o desígnio e cedi a ele. Uma pitada de confiança me incentivou também, fazendo de algum modo parecer que aquilo daria certo. O instinto me guiou, só isso!
– Só isso não, Nessie... Tudo isso! – mamãe me corrigiu – Você salvou a vida dele, quando mais ninguém foi capaz de agir. Eu estou muito orgulhosa e grata, filha!
– É verdade, uma verdadeira heroína! – vovó Esme complementou. Eu corei envergonhada, me lembrando do modo grosseiro com que me dirigi a ela, na hora do tumulto.
– Perdão por ter te destratado, vovó! Entendo se você estiver chateada... – nem tive coragem de olhar na direção dela enquanto falava. Quando pensei que não, dois braços envolveram o meu rosto por detrás do sofá:
– Claro que não, minha querida! – ela pousou um beijo suave na minha cabeça – Você estava em pânico, era natural. Não acredito que passou pela sua cabeça que eu seria capaz de me ressentir com você, fofinha.
– Então era isso!! – meu avô nos interrompeu, soltando uma nova exclamação como quem diz “eureka”! Os únicos a não se sobressaltarem foram Aly e o meu pai.
– Isso o quê, Carlisle?! – minha mãe perguntou nervosa, desacostumada a levar sustos
– Foi essa substância que fez com que Nessie perdesse a sua capacidade hemato-olfativa. Provavelmente, também foi a responsável pelo odor corrosivo no sangue que ela vomitou durante as primeiras semanas de gravidez!
– Eu vou mais longe ainda, Carlisle... – meu pai disse. Eles dois, quando se juntavam, pareciam duas crianças felizes brincando de cientistas!
– Como assim, filho?!
– Acho que o antídoto de Nessie também foi o reagente que neutralizou o veneno de Jared, ainda durante a gravidez. Pode ser que então eles três possuam a substância agora!
– Sério meu bem, você acha isso?! – mamãe perguntou. Hilário como ela demonstrava que nunca iria se acostumar à perspicácia do meu pai.
Eu já estava começando a me entusiasmar com o rumo da conversa deles dois... Ao que parecia, as minhas inseguranças iam se esclarecendo uma a uma, em efeito dominó, na medida em que se comprovava a veracidade do meu antídoto. Jake iria mesmo se recuperar por completo. Eu já podia descansar!
– Tenho certeza, meu amor! – papai pareceu querer responder tanto a mim quanto a minha mãe com aquelas palavras – A junção de todos os fatores converge unicamente para isso! Nossa filha é um elo perdido no submundo, pode acreditar.
– Nós agora só temos que guardar esse segredo a sete chaves! – Aly disse, erguendo-se agitada do sofá – Já pensou se isso chega aos ouvidos dos Volturis?! Ia ser um pandemônio... Não dá pra saber se eles receberiam bem ou mal a novidade, e nem sei dizer qual dessas duas opções seria a pior!
– Alice tem razão! – tio Jasper concordou – Recebendo bem, eles podem tentar recrutar Nessie para o clã deles, e nós bem sabemos o quanto eles podem ser persuasivos quando se dispõem a isso... Recebendo mal, com certeza voltarão para finalizar o que começaram em Forks, sete anos atrás!
Deu pra ver o gelo no ambiente com aquela conclusão. Eu estremeci, meus dois pequeninos se viraram para mim no meu colo, com olhos agora cinzentos.
– Eu chutaria a primeira opção! Essa descoberta é algo realmente fascinante... – vovô ainda não conseguia deixar o entusiasmo se perder – Vamos guardá-la como um trunfo em nossas mãos, meus queridos. Me encanto somente em imaginar as possibilidades de algo assim... imaginem então o que os Volturi não fariam para obter mais essa relíquia?!
Rosie, que até agora tinha permanecido muda do meu lado, subitamente levantou-se do sofá e se afastou do grupo, parecendo um tanto contrariada. Mais ainda: estava tentando esconder, mas eu vi que algo a estava abatendo, enquanto ela ia se encostar numa das enormes janelas de vidro da sala.
– Eu sinto muito, mas não creio que essa seja uma dessas possibilidades, Rosalie! – meu pai disse, do nada. De costas para nós, ela pareceu se afetar com a frase, encolhendo os ombros e colando a testa no vidro.
Como nenhuma intenção de anunciar o que se passava pareceu fluir de bom grado deles dois, tomei a iniciativa de perguntar:
– Qual é o problema pai, o que ela tem?!
Ele pareceu relutante em me dizer, mas a ânsia por um esclarecimento não partiu só dos meus olhos. Ele deu um suspiro, se rendendo por fim:
– Rosalie cogitou se não seria possível testar o contra-veneno nela também! Sempre desejou ser humana outra vez... essa lhe pareceu a oportunidade perfeita para concretizar esse sonho.
Rosie gemeu ao ouvir a exposição do seu desejo, e nenhum de nós ocultou o choque com a notícia. Nunca me passou pela cabeça que ela se sentia assim, tão insatisfeita com a sua própria condição. Tio Emmett foi para o lado dela, insistindo em confortá-la. Não foi sem relutar que ela se encolheu em seus braços, e depois seu olhar veio de encontro ao meu por cima dos ombros dele.
Eu baixei a cabeça por uns segundos, meditando em coisas do tipo saudade... sofrimento... egoísmo... satisfação... falta... plenitude! Sentimentos que entraram em confronto dentro de mim porque, de repente, me enxerguei como sendo a única solução para o seu dilema. E ela era a minha tia querida!! Não suportaria perdê-la, mas também não agüentaria viver sabendo que ela estava infeliz.
Olhei para minha mãe e para vovó Esme, sinalizando com a cabeça os bebês no meu colo. Elas duas vieram até mim e os pegaram, sem ainda compreender o que eu faria. Senti que o meu pai estava prestes a dizer alguma coisa, mas eu fui mais rápida. Me ergui do assento e disparei um olhar decidido para Rosie:
– Eu faço tia, por você!
– Não, Nessie! – a réplica do meu pai chegou, finalmente.
Ignorando a voz dele, Rosie se desprendeu do meu tio e correu de braços estendidos até mim, alcançando as minhas mãos com um olhar contrito.
– É sério, Nessie?! Você seria capaz de algo assim só por minha causa?!
Respirei fundo.
“Por mais que o meu desejo seja o de tê-la comigo para sempre, eu prezo pela sua felicidade em primeiro lugar, tia. O que estou falando é muito sério!”... flui a mensagem para ela com o toque.
– Rosie?! – tio Emmett clamou, o tom da sua voz era opaco e sua expressão estava desolada. Ela correu de volta até ele, agarrando seu rosto e prendendo-o pelo olhar:
– Emm, você pode vir comigo. Você nunca fez tanta questão assim de ser um imortal... Eis aqui a nossa chance, meu amor, venha também!
Ah meu Deus, a situação estava começando a se estreitar agora... Eu já não estava muito animada com a perspectiva de um membro querido da minha família indo embora, imagine então dois! Uma pontada de arrependimento atingiu o meu coração, mas agora era tarde... tinha dado minha palavra a ela.
– Vocês duas querem parar com isso?! – meu pai perdeu a paciência de vez e se colocou entre nós três – Emmett, nem se dê ao trabalho de avaliar a idéia, eu estou longe de permitir uma barbaridade dessas!
– O que você tem com isso, Edward?! – Rosie vociferou, aflita
– Tudo!! Você é minha irmã e eu não vou deixar que faça essa loucura, e ainda por cima carregando Emmett junto!
– Calma aí, pai... – tive que intervir – Se esse é o desejo dela, não podemos interferir só porque não queremos que ela vá! Isso é meio egoísta, não acha?!
– A questão não é essa, Nessie. A questão é que eles dois vão morrer se você injetar uma gota apenas de contra-veneno neles! Meu Deus, isso é tão óbvio... por que vocês têm que me fazer ser o vilão estraga-festas?!
Congelamos. Quando ele colocou as coisas daquele jeito, de repente o plano todo realmente pareceu bem idiota!
– Edward está certo, meus queridos! – vovô Carlisle veio apoiar o filho – A função da substância produzida pelo organismo de Nessie é neutralizar veneno no sangue da pessoa. Agora, se essa pessoa em questão já não possui mais sangue, só veneno... Como esperar que o efeito seja o mesmo?! Peço a vocês dois que compreendam a nossa relutância, mas essa empreitada toda só iria resultar em tragédia, acreditem!
– Sinto muito! – meu pai fez eco às sábias palavras, e eu senti que Rosie iria desmoronar.
Ela contraiu as feições, como se torturasse o próprio corpo. Depois, com muita violência, investiu contra uma escultura de vidro que estava sobre uma mesinha, lançando-a no chão. A imagem e o barulho dos estilhaços se espalhando pelo chão foi um reflexo equivalente ao que eu imaginei estar acontecendo em seu interior agora.
– Estão vendo porque eu odeio tanto ser assim?! Nem sequer chorar eu consigo... é enlouquecedor!
– Shh, meu amor, está tudo bem, não fique assim! – Emmett voltou a puxá-la pra perto, tentando consolar a dor da amada.
Nenhum de nós a recriminou, todos compreendemos a luta que ela estava passando. Eu sentia agonia somente por imaginar o que seria não ser capaz de chorar, mesmo estando a beira de perder a razão com uma tristeza. Minha realidade era realmente a mais privilegiada dali: eu podia fazer e sentir tudo como uma humana comum, além de todos os atributos de um vampiro! Aquilo era muito injusto... quis trocar de lugar com ela, só pra lhe dar o prazer de prantear dignamente a sua raiva.
Depois de alguns minutos, ela pareceu se recuperar de tudo. Emmett a trouxe de novo para o sofá, seu braço enorme envolta do corpo dela o tempo todo.
– Me desculpe por isso, Nessie! – ela pronunciou ao se acomodar, com a voz sem ânimo nenhum
– Que é isso tia, eu não sinto qualquer ligação com nada nessa casa! Se pudesse, eu mesma sairia quebrando tud...
– Não é disso que estou falando, amorzinho! – ela interrompeu a minha avalanche incorreta de dispensas – Estou falando sobre te colocar em uma posição tão difícil. Creio que fui muito insensível, peço perdão!
Me enterneci automaticamente com a sua singeleza e abri um sorriso espontâneo, tomando todo o cuidado para não demonstrar de jeito nenhum compadecimento. Ela poderia confundir com pena e isso a faria se sentir ainda pior.
– Está tudo bem, não se preocupe comigo!
Alguma coisa então pareceu atrair as atenções para as minhas costas. Me virei e Lilly estava apontando um dedinho para cima.
– O que foi, meu amorzinho?! – minha mãe perguntou, acompanhando o olhar da neta
– Papa! – novamente, minha filha excedeu nossas expectativas, anunciando sua segunda palavra.
Nem tivemos tempo de desfrutar daquela alegria... meu pai travou a mão gelada em meu braço e eu me assustei.
– É Jacob! Os pensamentos dele estão ficando mais nítidos... Acho que está se libertando do coma e... – parou no meio da boa notícia. Sua expressão não parecia, contudo, muito contente.
Leah chegou correndo na sala, os braços agitados e os olhos quase saltando das órbitas:
– Depressa, Jake está sentindo muita dor, não para de gritar e se debater!
Meu coração teve uma arritmia e eu me lancei para frente, como se aquele meu elástico preso lá em cima tivesse me puxado agora igual a um estilingue! Meu empenho em chegar ao quarto praticamente me fez voar escadaria acima. Completei todo o trajeto em menos tempo do que um tiro de revolver e empurrei com tudo a porta do quarto, provocando um BAM estrondoso demais.
Embora a recuperação do meu preciso Jake fosse certa, eu não iria me safar de mais algumas horas de angústia. Ele estava se revolvendo e convulsionando... aquela cena triste outra vez se desenrolando diante do meu coração palpitante! Já estava ao lado dele no segundo seguinte, tentando conter meio insegura os solavancos do corpo dele.
– Pai, precisamos vesti-lo com alguma roupa de frio, ele está ardendo! – gritei para trás sem olhar, mas certa da presença dele ali
– Está bem Nessie, vou revirar esta casa até encontrar alguma coisa!
Não era o momento, mas eu não consegui evitar o incomodo com aquilo. Tinha consciência de que as únicas roupas masculinas que ele encontraria naquela casa pertenceriam ao finado Gabriel Drachen, aquele asqueroso! No entanto, esse não era um aspecto relevante agora... cuidar de Jake era mais importante do que me preocupar com detalhes cruéis!
Depois de vestido com aqueles trapos imundos, – alta costura, mas ainda assim, lixo para mim – e mesmo com auxilio de várias compressas de pano com água fria, ainda levou pelo menos uma meia hora até que os músculos do corpo febril do meu marido começassem a relaxar outra vez. Ele estava em sofrimento, justamente o que eu não suportava ver. “Isso vai passar! Ele está se curando...” – repetia pra mim mesma, enquanto tentava normalizar o meu ritmo cardíaco novamente. Meus joelhos batiam um no outro e àquela altura eu já tinha roído todas as sobras das minhas unhas.
Não saí mais do quarto, que aos poucos foi sendo desocupado. Restaram ali dentro – além de mim – somente os meus pais e meus filhos. Sentada numa cadeira, consegui dar de mamar aos dois {separadamente, óbvio...}, que estavam famintos de uma maneira tocante. Fiquei imaginando como tinha sido para eles o período em que eu fiquei longe... Com certeza, meus familiares se encarregaram de providenciar alguma coisa. Mas nada se comparava ao leite materno, ao que parecia!
Quando começou a anoitecer, adormeceram. Não vi condições de colocá-los na cama, junto ao pai... ele poderia ter uma nova crise e acordá-los. Procurando um pouco, encontrei um colchonete dentro daquele meu gigantesco armário e improvisei um cercadinho com almofadas para eles no chão mesmo. Era provável que eu voltasse a sentir os efeitos da minha má alimentação dentro em pouco... Porém, cuidar de quem eu amava parecia ser alimento mais do que suficiente para mim, no momento.
– Descanse um pouco também, Nessie! – minha mãe insistiu, mas eu recusei
– Não! Quero estar acordada, caso ele precise de mim outra vez!
De volta à minha poltrona, no entanto, peguei no sono sem nem me dar conta. A atmosfera pareceu estar mais leve, dando a sensação de as coisas estarem já todas sob controle. No meu cochilo, houve até espaço para sonhos, embora não tenham sido muito nítidos. Colarinhos... aquarelas... pupilas dilatadas... roupas de época... íris vermelhas... Um bando de conexões perdidas.
Despertei no susto quando Aly invadiu o quarto a toda! Meu pai pareceu já estar a postos antes que ela tivesse chegado.
– Quando?! – ele perguntou
– Amanhã, logo pela manhã! O que nós vamos fazer? Não podemos fugir, com Jacob nesse estado... – ela estava aflita, o olhar corria louco pelo quarto, sem realmente se fixar em um ponto.
Ainda tentando despertar, a agitação deles foi tomando meu corpo num impacto brusco e sombrio de adrenalina.
– Você não consegue ver mais nada depois?! – meu pai pressionou, aderindo à inquietação e pavor da irmã.
– Nada! – Aly parecia estar tendo um treco – Muito provavelmente por que eu estou com bastante sede e já não consigo me esforçar o suficiente pra driblar o efeito da presença dos Quileutes aqui! É revoltante... precisamos... precisamos...
Eu e minha mãe já estávamos a ponto de implodir com aquela agonia deles dois.
– O que está acontecendo?! – perguntamos ao mesmo tempo.
O restante do grupo voltou ao quarto. Aparentemente, eles já sabiam o que se passava e vinham somente em busca de uma decisão sobre o que fazer em seguida.
– E então...? – eu guinchei, me pondo de pé sem mais nenhuma gota de paciência.
Meu pai, com três rugas vincando em sua testa, finalmente pareceu se dar conta da minha existência outra vez e voltou sua face aterrorizada para mim:
– Lionel Von Drachen, o pai de Gabriel, está a caminho daqui!
A lembrança desse fato se escancarou como um letreiro na minha cabeça! Gabriel havia mesmo me avisado da chegada dele, ontem durante o dia. Tinha dito também que o homem sempre havia nutrido uma admiração por mim... o que de certo era outra das suas mentiras, já que nunca havíamos nos encontrado de fato!
– Mas não é só isso...Ele não está vindo sozinho!
– Não?! – engasguei! Sozinho, ele já me despertava receio. Acompanhado então...
– Quem está vindo com ele, meu amor?! – mamãe fez uma cara estranha, como se desconfiasse da resposta e só quisesse realmente a confirmação.
– Ele mesmo... – meu pai finalizou – Aro!
O fôlego faltou em meus pulmões.
Olhei desesperada para Jake, depois para os meus filhos...
Aquele havia sido o dia mais longo da minha vida...
...e, pelo visto, o seguinte prometia ser o pior de todos!
Cai de volta sobre a poltrona, enquanto o pavor terminou de se instaurar completamente no lugar.
6 comentários:
Que pressão nesses 3 últimos capitulos... Coitada de Renesmee e Jacob...Muita pressão!!!Coitados...E que horror!!!! O pai de Gabriel viera e junto com Aro...Eu Acho que se eu fosse uma histérica nessa história, eu conserteza teria entrado em depressão...
Esse é o melhor saite que já entrei e adorei muito, ele com suas fics que cada vez mais fazem os leitores estimularem a ler mais e mais fics...adorei esse saite...mesmo e to adorando essa história!!!
essa familia é concerteza um imã para problemas!!!caramba...quando parece que ele resolveram um problema surge outro muito pior, é como se fosse um carma...o que importa é que sem essa familia problema o mundo vampirico naum teria graça!!!!
OMG,OMG Aro est´vindoo !! O q será deles??Concerteza isso vai ficar bem mas mesmo assim estou super curiosa e apreensiva para saber o próximo capitulo!! E eu concordo com a Carol!! Essa familia vive se metendo em encrencas...Antes com a Bella agora com a Nessie!Fiquem tranquilos q depois passa para Lilly!! Isso nunca vai acabar!
Ai meu Deus tô muito nervosa, Aro está vindo !
Eles odeiam mesmo os Cullen !
O.O MEU DEUS! O.O
O Aro não... Man... Que louco... Quando eu penso que o requisitado final feliz deles está chegando, um problema maior ainda aparece... E isso me deixa histérica, cheia de nervos... Mas é justamente isso que faz a história ser perfeita assim...
Com certeza, essa história é uma das melhores que já li! *-*
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