Mediocridade - por Rainbow

[Renesmee]

Liguei o Mp15 para tentar abafar o som lá de fora, mas parecia impossível. Minha audição era boa para uma simples garota humana, tanto que mesmo aumentando o volume ao máximo, conseguia escutar suas vozes perfeitamente, como se estivessem bem ao meu lado.

Meus pais berravam um para o outro sem motivo concebível, me deixando completamente fragilizada. Já não era mais uma criança, entendia o que eles estavam fazendo, e desaprovava inteiramente. Porém minha opinião não valia enquanto eles ficassem chamando um ao outro de nomes que nunca na vida eu pronunciaria.

Quando começava uma briga daquela, me trancava no meu quarto, desejando mais que tudo a conciliação deles. Se eles não se suportavam tanto quanto diziam, por que continuavam juntos?

Fiquei sabendo, uma vez que interrompi uma conversa, que meus pais só começaram a discutir e a brigar depois do meu nascimento. Então toda a culpa da forma como eles se tratavam era minha? Pediam-me desculpas, quando se lembravam de mim, por terem causado tanto estardalhaço, e diziam que aquilo nunca mais iria se repetir; porém tanto eu quanto eles sabíamos que não era verdade.

Meus pais eram meu tudo, e eu tinha noção de que minha mãe não amava meu pai como dizia amar, e vice-versa. Nunca haviam me contado aquilo, mas era relativamente fácil adivinhar.

A cada noite que eles passavam brigando, era uma noite minha passada debulhada em lágrimas, encolhida em um canto do quarto, tentando me manter forte para aguentar mais aquela onda de desapontamento e desgosto. Estava mergulhada na depressão, mas por azar ainda não tinha me tornado suicida. Lúcida, eu não seria capaz de tirar minha própria vida.

As raras noites de silêncio eu passava também no meu quarto, quando finalmente tinha paz suficiente para arriscar tentar pegar no sono.

Os gritos cessaram, depois ouvi papai batendo a porta da frente e mamãe a do quarto principal, e logo depois a porta do banheiro; papai iria dar uma caminhada na floresta e mamãe iria se jogar em uma banheira de água fria. Era bem comum eles fazerem aquilo quando toda a confusão acabava.

Eu queria ter uma família como as das minhas amigas, onde os pais não declaravam guerra praticamente todos os dias. Queria viver com felicidade, não com o medo de papai nunca voltar da caminhada e mamãe se esquecer de tirar a cabeça da água.

Suspirei e me instalei debaixo das cobertas na cama, fechei os olhos e tentei me acalmar, liberar toda a tensão que pesava em cima de mim. Devia estar preparada para aparecer com um belo e radiante sorriso na escola dali a quase cinco horas, preparava a máscara todos os dias e criava desculpas para quando minhas duas amigas davam a ideia de fazer uma festa do pijama na minha casa. Mas os gritos que eles deram ainda ecoavam em minha cabeça. Eu queria que aquele barulho parasse, mas estava tão frágil e tão sonolenta que não me importei em dormir gritando de dor.

- Renesmee - mamãe chamou ao longe. Talvez ela quisesse um Valium. Estranhamente senti a cama chacoalhar e sua voz chegar cada vez mais perto. A dor não existia mais, e eu fiquei feliz por isso. - Querida, acorde!

Abri os olhos e encarei ambos os meus pais me observando muito preocupados, com seus olhos de ouro líquido. - Pesadelo? - meu pai disse, e eu assenti, agradecendo por nada ter sido real.

Eu não aguentaria se fosse.
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