Estava em casa colocando as poucas coisas em ordem, como as louças de meu almoço ou a roupa que acabará de usar no dia anterior. Minha biblioteca havia aumentado significativamente na ausência de Charles.
Era o dia de 19 de Outubro de 1919. Havia dois anos que Charles, meu odiado esposo, havia sido convocado para a Guerra e depois da carta que o pequeno soldado trouxe a mim, nunca mais tive noticias dele.
Estava levando uma vida tranqüila, pensando em ir ao Oeste para lecionar, meu sonho ainda não estava perdido. Queria ser rodeada por crianças, vê-las cantando músicas de roda, onde eu pudesse apresentá-las conhecimento e amá-las e vê-las crescer.
Estava sentada na sela de minha casa, com um livro em mãos, imaginando um futuro próximo em minha vida, um futuro feliz, onde Charles não existisse.
O trecho do livro dizia a seguinte frase:
“Nem tudo o que é ruim, pode ter um final ruim. Muitas vezes, uma péssima decisão o levará a um destino feito para você, onde o que menos espera poderá a conduzir por caminhos desconhecidos, mas com destino a um lugar desejado à felicidade!”
Essas palavras ficaram em minha cabeça durante aquela noite. Eu já estava pensando em pegar um trem rumo ao Oeste com as economias que havia feito com o dinheiro que meu sogro, o senhor Frederico Everson me ajudava. E era isso que eu faria. Comecei naquela noite mesmo arrumar uma pequena mala com poucos pertences a serem levados. Quando a mala estava pronta, eu me lavei para deitar-me, eu pegaria o próximo trem rumo alguma cidade do Oeste onde eu realmente pudesse ser feliz, sem a perseguição de Charles em relação à mim.
Ao pegar no sono o pesadelo, me veio imediatamente. Nele Charles entrava pela porta, sorrindo e abrindo os braços para mim.
“Oi meu amor! Voltei para seus braços! Vem aqui me receber!” – Ele abria os braços e nesse abraço eu sentia que morria. Acordei assustada e dizendo para mim mesma.
- Apenas mais um sonho! Um sonho... – Virei para o lado e tentei dormir, pensando que no dia seguinte abandonaria aquele inferno para sempre.
* * *
Ao acordar depois da péssima noite de sono fui aprontar meu café da manhã depois de me lavar. Houve uma leve batida na porta e eu imediatamente me troquei e falei um “Já vai” por cima do ombro para a pessoa que estava atrás da porta, pois quem seria capaz de bater na porta de uma senhora casada tão cedo assim.
Ao abri a porta eu senti todo o impacto dos pesadelos, dos avisos, de todo o mau pressentimento que estava tendo naqueles dois anos na ausência dele.
Estava fardado, sua roupa suja de sangue, seu rosto cicatrizado pelas marcas causadas pela Guerra. Charles, meu pior pesadelo havia retornado.
- Oi meu amor! Voltei para seus braços! Vem aqui me receber! – Ele disse, as mesmas palavras do pesadelo que tive na noite anterior. Eu não tinha a mínima reação ao que estava parado de braços abertos à minha frente. Ele havia retornado. Como não morreu naquela maldita guerra?
- Charles... eu... Como? – Ele jogou a pequena bolsa aos meus pés e me beijou, me tomou em seus braços. Eu não conseguia reagir à seus carinhos, não queria reagir, tinha nojo daquela pessoa que jurei diante da igreja amar e respeitar pelo resto de minha vida. Aquele que não honrou seus votos para com minha pessoa.
- Ah minha querida, não diga que estás magoada ainda por causa da história de Karine. Olhe antes de voltar para casa, eu me certifiquei de que ela havia ido embora com o amante dela. Pois aquela vagabunda me enganou acredita? Eu sou seu meu amor, depois de dois anos não agüentava mais a saudade que senti de você. Se me permite comentar está mais linda que nunca. – Tornou a colocar os lábios nos meus e ainda assim não conseguia reagir. Apenas suspirei.
Depois que viu que não conseguiria nada, foi em direção ao quarto onde a minha mala estava. Ao vê-la no quarto, ele perguntou:
- O que significa isso? – Ele se virou para mim. – Estava pensando em ir embora Esme Anne Everson? – Eu engoli em seco, pois saberia o que estaria por vir. – Me responda Esme? Abandonaria essa casa? Abandonaria o seu marido? – Não houve tempo para responder. Charles começou a me agredir e depois disso, enquanto estava aos prantos me tomou nos braços e me fez ser sua. Sua propriedade até a morte como ele dizia.
E assim eu voltei ao inferno de minha vida. Mais um sonho desperdiçado. De volta ao inferno Charles Everson.
Depois que Charles dormiu, eu fui para a sala, ler meu livro, que havia me dado aquele frase no dia anterior e lá estava escrito.
“Há muitos caminhos a serem seguidos, e quando descobrir o seu, lute. Faça sua escolha valer a pena!”
Mais uma frase que marcaria o retorno de Charles para casa.
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