Universo Paralelo: Perpétuo Cristal

O vento acaricia meu cabelo com gélidos murmúrios, como se fosse a mão dele passando pelo meu corpo. A cada toque do vento, sinto-o comigo. Estou na nossa campina. Em primaveras passadas, nela pude ver brilhar o cristal, o prisma da minha vida, que os dias não trazem mais.

Estou cansada de sofrer por ele. Não gosto mais de citar o nome de quem me faz tão bem, e tão mal ao mesmo tempo. Mesmo fazendo falta. Mesmo que os meus pensamentos sejam inundados, todos os dias, com as lembranças do nosso passado.

Do meu lado agora, sinto uma força, uma energia que me aquece, me guarda. Jacob. Não posso mais sofrer, não posso mais vê-lo sofrer. Começo a quebrar à parte do meu coração cristal.

Abraço Jacob com toda a força. Subitamente sinto algo emergir dentro de mim, uma força maior é como se o abismo que me separa-se de Jacob, todo esse tempo, tivesse acabado.

Acaricio o seu corpo, quente, não mais o mármore do passado. Esse calor me aconchega. Ele chega perto do meu rosto e me beija, o seu hálito amadeirado me aquece, me cobre. Agora, definitivamente, meu coração gélido derreteu. Puxo-o levemente e me deixo levar com sua boca, macia. Na campina, onde comecei a enxergar o arco-íris na minha vida, vejo agora o mogno.

Anos se passaram, Jacob faz parte da minha vida, minha rotina, não vivo sem ele. Eu o amo. Não consigo não sorrir um dia se quer. Não sinto dor, somente sinto essa horrível sensação quando sonho com uma família diferente. A pessoa que mais me chama a atenção é um rapaz, mármore, com olhos vermelhos, mas ternos. Ele foge de mim, corre. Talvez eu delire quando sonho, mas ele vai para a Itália, o berço dos eternos apaixonados e lá morre. Por amor a mim. Nesta parte sinto uma dor, profunda, e grito.

Se isto é somente um sonho porque sinto a dor de perdê-lo?

Autora: Laura Freire