Solitário - Capítulo 48: Teimosia

1908

Um das coisas mais comuns de se acontecer aos vampiros é deixá-los entediados. As coisas demoram para mudar! Nós nos movemos em nossa velocidade vampiresca, mas as coisas normais – o mundo “normal” sem vampiros, eu quero dizer – não andam nesta mesma velocidade. E isto é um saco!

Maria agora estava voltando com aquela irritante conquista pelas cidades. Nós nem ao menos acabamos de guerrear com todos os companheiros dos vampiros mortos! Eu fiquei incrédulo quando ela me veio com esta notícia!

“E nós vamos hoje de noite!”

“Maria, por favor, me escute! É perigoso!”

“Mas já fizemos isto!”

“Sim, e que fim nós tivemos?”

“Mas desta vez vai ser diferente!”

“Sim, muuito diferente! Vai ser diferente do mesmo jeito que foram as outras vezes, não?!”

“Jasper, por que não confia em mim?”

“Porque isto é arriscado, você não entende?”

“Mas já fizemos isto antes e deu tudo certo!”

“Deu certo por pouquíssimo tempo! Não vale a pena colocar em risco o nosso grupo por estas besteiras!”

“Jasper! Eu quero Apodaca!”

“Maria, não seja teimosa! Não vale a pena!”

“Claro que vale!”

“Não, não vale!”

“Jasper, mais cedo ou mais tarde, os membros do nosso grupo serão mortos!”

“Mas quanto mais tarde, melhor, não?!”

“Mas, desta forma, não temos nada!”

“Claro que temos! Temos Monterrey e ela já nos dá muito trabalho para mantê-la!”

“Mas estamos todos cansados!”

“Eu sei, eu também est...”

“Então, por que não?!”

“Eu já lhe disse! É perigoso, Maria!”

“Mas precisamos de mais ação!”

“Então vá correr ou pular do topo da montanha!”

“Não, precisamos de outro tipo de ação!”

“Ah, sim, a ação suicida!”

“Jasper, quer parar de brincar?!”

“Não estou brincando! Estou falando sério!”

“Aham...”

“Maria, você sabe que os Volturi estavam por estas regiões ultimamente! Se eles vierem até nós, estaremos encrencados!”

“Não estaremos não! Eu já consegui fugir deles, e conseguiremos mais uma vez!”

“Mas é muito arriscado!”

“Mas precisamos nos arriscar para novas conquistas!”

“Não, não precisamos nem nos arriscar por algo, muito menos por outra cidade!”

“Mas precisamos de diversão!”

“Vá até o parque e fique dando milhos para os pombos!”

“Isto não é divertido!”

“Mas é seguro!”

“Jasper! Por favor! Confie em mim!”

“Maria, é perigoso! Quantas vezes terei de falar isso?”

“Você não confia em mim!”

“Claro que confio” – é mentira! “Mas você tem de ter consciência de que isso é perigoso e não temos esta necessidade! Se quer se divertir, arranje algo, mas não se enfie em brigas e lutas! Por favor!”

“Mas batalhar é a parte mais divertida!”

“Pois então vá treinar os dois novatos! Eles precisam mesmo aprender a lutar!”

“Não quero trabalhar agora!”

“Ah, sim... e quando é que você quer?”

“Jasper, eu quero lutar por algo!”

“Lute pela sua vida, pela sua existência! Nada de batalhas contra vampiros inimigos!”

“Jasper... por favor?”

“Não, Maria. E esta é minha palavra final! Não!”

“Por que você está tão inflexível comigo?”

“Porque você está sendo irresponsável! Está agindo como uma criança! Você não é assim! Você não DEVE ser assim!”

“Por que não?”

“Simplesmente porque você é a líder do grupo!”

“Isto quer dizer que sou eu quem mando, então!”

“Manda, mas mesmo assim veio pedir permissão para mim! Veio falar comigo!”

“Por que confio em você! E gostaria que você confiasse de volta, em resposta!”

“A respeito deste assunto, de cidades, não... Eu não posso confiar de volta!”

“Ok.”

“Ok? Desistiu?” – eu sabia a resposta. Não!

“Não, mas... Jasper, posso lhe fazer uma pergunta?”

Eu sei que me arrependeria por isso, mas...

“Claro!”

“Por que anda assim? Tão... triste, às vezes?”

Pensei em resposta. Eu não sabia.

“Eu estou bem.”

“Você mente mal!”

“Eu sei, mas... não sei... é o que sinto. Sou especialista nas emoções das pessoas, não na minha própria!”

“Hmm... Jasper, você não sente falta dos velhos tempos?”

“Sentir, eu sinto, sim!”

“Então, por que não reviver aqueles tempos?”

“Porque as situações eram diferentes!”

“Só por que Nettie e Lucy ainda eram minhas amigas?”

“Ok!”

“Ok, o quê?”

“Maria, você precisa ter conhecimento de algumas coisas!”

“Como o quê, por exemplo...?”

“Nettie e Lucy eram realmente suas amigas e confiavam profundamente em cada palavra que você dizia a elas ou a qualquer outro vampiro!”

“E daí?”

“E então você jogou fora a amizade delas!”

“Jasper, como ousa?”

“É verdade! Lucy sempre foi a mais inocente de todos do grupo, talvez até a pessoa mais inocente que eu já tenha conhecido em toda minha existência! Ela ficou triste por ter sido mandada para um local longe de você, mas compreendeu o motivo!”

“E então ela fugiu entregando a cidade e tudo o mais lá na região!”

“Nettie era a mais arrogante e ignorante de vocês três, e não gostou nem um pouco de ser mandada embora, mas aceitou a ideia!”

“E depois também entregou a cidade! Onde quer chegar, Jasper?”

“Elas duas gostavam de você, e você simplesmente as ignorou! Lucy e Nettie estavam tristes ainda com a perda de seus companheiros! Nettie estava chateada com você, confesso, mas ela ainda sentia algo carinhoso por você!”

“E?...”

“E você simplesmente a ignorou! E isso fez com que, depois de um longo tempo, elas duas se voltassem contra nós. Elas não estavam bravas, estavam apenas querendo vingança assim como o resto dos vampiros que tiveram seus companheiros mortos pelos nossos atos!”

“Ah, Jasper, não... olha... esquece elas!”

“Não posso esquecê-las, pois foi justamente com elas que aprendi que nem tudo é o que parece! Há sempre algo escondido!”

“Está insinuando que eu...”

“Não estou insinuando nada” a cortei antes que ela ficasse irritada. “Estou apenas dizendo que você tinha a amizade delas e as ignorou, virou a cara como quem dá as costas a algo nojento! Você feriu os sentimentos delas!”

“E por que você não fez nada?”

“E o que eu tinha a fazer? Diz-me?”

“Bem, você podia... poderia... Ah, não sei! Quem entende de sentimento é você, não eu!”

“E é justamente por isto, pelo meu dom, que estou tendo esta conversa com você! Seus atos impensados já causaram danos a muitas pessoas!”

“Já causei a você?”

“Para falar a verdade, não sei!”

“Como não sabe?”

“Simplesmente, não sei... Você fica tão estranha comigo, às vezes...”

“Estranha como?” – ela percebeu que eu tinha reparado na verdade. E ela não queria que essa ‘verdade’ viesse à tona.

“Não sei. Com medo, às vezes... malícia!”

“Jasper! Sinto-me ofendida agora!”

“Não sente, não!”

“Ah, ok... Mas desta vez, os meus atos não serão ‘impensados’, como você diz!” – ela preferiu trocar de assunto. Percebi que ela não tinha, ou sentia, o mesmo que eu. Eu tinha depressões, se é que posso chamar disso o que sinto. Acontece que as minhas eram momentâneas, e as dela não. Ela mal sentia algo deste tipo!

“E o que você está planejando exatamente?”

“Nós vamos chegar e atacar os outros vampiros!”

“Só?”

“Sim, não é fácil?”

“Sim, é fácil se você estiver chamando de ‘vampiros’ os humanos, não?!”

“Não entendi!”

“Maria! Escuta-me! Você realmente está achando que é tão fácil assim? Só chegar e sair atacando?”

“Sim!”

“Mas não é assim que as coisas funcionam!”

“Mas funcionava antes!”

“Não, não funcionava antes! Você tinha a impressão de que funcionava, mas não funcionava de verdade!”

“E o que acontecia?”

“Era apenas uma sequência de ação e reação. Nada era pensado naquela época!”

“Era você quem planejava os ataques! Era você quem criava as estratégias!”

“Mas quase ninguém as seguia. De que adiantava?!”

“Eu seguia!”

“Não, não seguia! E quando digo ‘ninguém’, era realmente ninguém mesmo! Apenas eu seguia, mas tinha de sair dos meus próprios planos para poder livrar você e os outros do perigo!”

“Aff... Ok, Jasper. Você conseguiu! Convenceu-me! É perigoso!”

“Que bom!”

“Mas vou mesmo assim!”

“Maria!” comecei em tom de dar-lhe a maior bronca que um pai pode dar ao seu malandro filho. “Pare. Agora!”

“Você não manda em mim!”

“Maria?!”

“Você nem ao menos confia em mim mais!”

“Maria?!”

“E eu sou livre para fazer o que eu bem entender!”

“Maria?!”

“E sou a líder deste grupo também... Todos seguirão o que eu mandar que façam!”

“CHEGA!” – ela pulou de susto com a minha falta de delicadeza. “Já chega! Se quer tanto se matar assim, por que não vai direto com os Volturi? Você sabe muito bem que eles estiveram recentemente por aqui! Você sabe...” – ela me interrompeu.

“Mas isso não quer dizer que...” – a interrompi de volta.

“Quer dizer sim!” eu estava me descontrolando – se eu continuasse deste modo, alguém poderia morrer logo, logo. “Pare de agir como uma criança, uma irresponsável! Você deve assumir o seu cargo de líder e agir como um! Pare de ser teimosa e olhe para os fatos reais! Os Volturi estiveram aqui na região e por sorte não nos pegaram! Agora quer conquistar cidades? Bem na frente deles? O que deu em você, Maria?!”

“Jasper, me desculpe... eu... eu... Jasper, por favor...”

“Cale-se! Você nunca vai aprender, não é?! Você vai acabar morta se continuar deste jeito. E saiba que não vou mais interferir no que você disser. Se quiser ir lá conquistar a outra cidade, vá! Eu não irei socorrê-la nunca mais!”

“Nunca mais é muito tempo!”

“E será por TODO esse tempo que não irei te socorrer! Eu já disse várias vezes e vou repetir pela última vez! É perigoso, ainda mais com os Volturi por perto! Se quiser ir, vá! Mas não conte comigo para nada! NADA!” – eu já estava gritando ao fim da frase. Maria simplesmente me olhava boquiaberta. Ela estava assustada, nunca me vira daquele modo! “E então? Vai ficar aí só me olhando com cara de peixe?”

“Eu... Jasper... eu... não... sei...” ela conseguiu reunir apenas estas palavras.

“Responda-me! O que vai fazer agora? Vai continuar com seu ridículo plano de conquistar Apodaca?” – instiguei-a a responder.

“Acho que sim” ela disse envergonhada.

“Ótimo, então que você morra lá!”

“Ai Jasper, não diga...”

“Sim, eu digo, sim! E você vai ouvir sem falar nada! Você está agindo como uma irresponsável. Tudo será em vão!”

“Eu não gosto de quando você fica furioso deste jeito!”

“E existe outro jeito de ficar furioso que você goste, Maria?! NÃO! Você nem sequer gosta de mim mesmo! Criou-me só para te ajudar!”

“Não é bem verdade, Jasper!”

“Sempre foi assim!”

“Jasper, não...”

“Você só me transformou em vampiro para te ajudar. Sempre fui usado! Você se aproveitou de mim! E eu? O que eu fazia? Acreditava em todas as besteiras que me dizia! Mas agora não é mais a mesma coisa! Agora tudo mudou!”

“Jasper...”

“Mudou! Se quer ir a Apodaca, vá e se vire sozinha! Quer ir com os outros do grupo, vá! Mas não conte comigo!”

Retirei o meu controle sobre ela.

“Pois bem, então, Jasper! Se é assim, que seja! Irei assim mesmo, com ou sem você!”

“Ótimo” disse em uma voz já controlada. “Divirta-se” lhe disse sarcasticamente antes que ela saísse batendo os pés.

...

Maria e todos os outros saíram ontem pela tarde, e hoje, com o Sol quase a pino, eles ainda não retornaram. Talvez queiram apenas voltar no crepúsculo ou então à noite mesmo – assim, pelo menos, chamam menos a atenção.

1 comentários:

Maria B.S. disse...

Mal posso esperar pela hora que ele vai encontrar a Alice! *-* Essa fanfic é muito legal, que ela conta tudo certinho!

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