Solitário - Capítulo 49: Alternativa

Anoiteceu.

Maria e os outros nove retornaram para nossa casa.

Espera um minuto. Nove? Nós éramos onze contando comigo! Ou seja, dois morreram. Não... O quê?... Ah não... Oh ow, Maria trouxe-nos companhia! Então foram três que morreram...

Levantei-me e fiquei esperando Maria subir ao quarto com todos. Assim que entraram, disparei-lhes minhas perguntas.

“Onde estão os outros?”

“Que outros, Jasper?”

“Não se faça de inocente, Maria!”

“Hey, não fale com ela deste jeito!” – mas quem diabos era ele? E seu sentimento era... era... era amor! Não é possível!

“E quem é você?” perguntei ao moço com alguns fios de cabelo já grisalhos.

“Eu sou o Miranda, cara! E você? Quem é seu rapaz irritante?”

“Maria, onde estão os outros?”

“Vai fugir de minha pergunta é, moleque?”

“Não tenho que responder nada a você, seu porco!” – disse isso já o manipulando...

“Maria, o que...”

“Ah sim, minha querida já tinha me dito que você estava aqui cuidando da casa! E que a deixou sozinha para enfrentar os outros vampiros! Muito cavaleiro de sua parte, viu, rapaz!”

“Não me interrompa, por favor! Maria...” – mas foi a mesma coisa que não ter dito nada!

“Seu nome é Jasper, não é?! O que manipula as emoções?! Já sei de tudo sobre você! Já sei que...” – era a minha vez de cortá-lo!

“Maria, vai me responder ou vai ficar simplesmente olhando?”

“Jasper” Maria começou envergonhada, “eles foram mortos. Eu devia ter escutado o que você me disse, mas não pude tomar conta de todos!”

Bufei em resposta. É claro que eu estava certo!

“Não faça isso, rapaz. Isto é sinal de desrespeito! Você não deve fazer isso quando ela respondeu sua pergunta! Se ela quisesse, ela nem teria que te responder! E você nem seq...”

“E quem é ele, Maria?”

“Ele?”

“Sim!”

“Eu o encontrei lá na cidade caminhando à sombra!”

“Não quero saber como o encontrou! Quem é ele?”

“Ele se chama Mário Miranda, mas como o seu nome é muito parecido como o meu, preferi chamá-lo somente de Miranda, e ele concordou dizendo que preferia então que todos já o chamassem assim!”

“E o que ele faz aqui?”

“Você não sente nada, rapaz? Não é você o sabe-tudo de sentimentos?” – ele estava me irritando.

“Maria?” fiquei esperando.

“Nós nos damos muito bem logo que nos vimos. Acho que foi... foi amor à primeira vista!” – se eu fosse humano, eu vomitaria com suas palavras. Ah, se vomitaria! Não duvide disto! “Eu sinto como se ele me completasse. Ele faz parte de mim, Jasper! Sinto-me tão... tão... segura, com ele!”

“Também, com um rapaz deste, meu amor! Quem é que não se sentiria segura com outra pessoa?”

Não pude deixar que um rosnado escapasse de minha garganta. Eu realmente não estava gostando dele.

“Qual é, moleque?!”

“Não me chame de moleque!” – eu estava sentindo toda a fúria do dia anterior voltar. E ela retornaria com força total...

“Ok, meninos, por favor, acalmem-se!” Maria tentou interceptar a nossa quase briga. “Jasper? Por favor, acalme-se!”

Ok, desta vez passa! Respirei fundo e relaxei na posição mais comum que usaria em um dia qualquer.

“Miranda, quer conhecer meu quarto?” ela o convidou.

“Mas é claro, se a senhorita me permite!”

“Claro, claro! É por aqui, mas não ligue para a falta dos móveis e as roupas espalhadas...” sua voz foi sumindo já que eles dois se puseram a ir em direção ao quarto. Preferi não pensar no que eles iriam fazer lá... ou no que eu poderia escutar de lá! – o que era pior ainda...

Olhei para os que estavam ali em meu vazio quarto. Uns estavam cansados, outros estavam se sentindo corajosos, e outro estava com nojo... Ah, gostei deste!

Deixei que todos permanecessem ali. Não me incomodava a presença deles em meu quarto, pois não tinha muito que fazer ali mesmo!

Fui para a montanha. Tudo estava quieto demais, mesmo que eu ainda pudesse ouvir o leve cantar de alguns pássaros. Mas... tudo estava muito quieto, e isto não era comum...

Resolvi olhar ao redor, já que eu não queria ser surpreendido por um inimigo. Tomei posição de luta, de ataque. Um rosnado escapou de minha garganta fazendo com que o leve canto dos pássaros se extinguisse por completo.

Esperei. Esperei. Só então percebi o que estava acontecendo. Dois vampiros estavam vindo em minha direção. Mas não eram quaisquer vampiros... Era Peter e Charlotte.

“Jasper! Com está?” era Peter sempre bem humorado.

“Oi, estou... bem! E vocês? Como estão? Por que voltaram?”

“Nossa, acalme-se, Jasper. Está tudo bem conosco!” Charlotte me respondeu carinhosamente.

“As coisas estão boas com você, Jasper?” Peter me questionou.

“Err... bem...”

“Algo errado com Maria ou com o grupo?”

“Bem, Maria resolveu encontrar um companheiro que me dá nos nervos... Odeio-o!”

“É normal sentir isso quando...”

“Se vai dizer que estou com ciúmes, Peter, é bom parar por aí!”

“Mas, por que então está se sentindo assim?”

“Eu... não sei!” admiti. “Maria não é a mesma comigo!”

“O que ela sente agora?”

“O mesmo que Nettie e Lucy sentiram quando vieram para acabar com Maria!”

“Bom, talvez...” Peter olhou para Charlotte, e depois retornou para mim, “talvez o seu destino seja se livrar dela!”

“Não... Como eu poderia? Foi ela quem me criou e me manteve vivo por muito tempo!”

“Mas este tempo acabou, Jasper! É hora de seguir em frente com o que é melhor para você!”

“Mas... que alternativas tenho eu?! Nenhuma!”

“Você tem alternativas, e é por este motivo que Charlotte e eu viemos aqui para falar com você!”

Ok, agora eu não entendi!

“Como assim?”

“Charlotte e eu viajamos por vários locais nos Estados Unidos. Em um certo local, nos encontramos com um pequeno grupo que acabou nos ensinando uma forma menos... digamos, cruel, de viver!”

“Não, Peter, isto tudo é besteira!”

“Não é! Se fosse, não teríamos vindo aqui escondidos de Maria para lhe contar! Eu já sabia que você não ficaria bem por muito mais tempo quando fugimos daqui. Desde então, fiquei pensando como é que você estaria se virando com ela!”

“É, bem, não foi fácil!”

“Eu sei, e compreendemos, Charlotte e eu, que você precisava de ajuda! Precisávamos fazer algo por você!”

“Não, Peter...”

“Jasper, você salvou as nossas vidas!” Charlotte tentou me persuadir.

“Mas eu ia matar você, Charlotte! Isto não lhe incomoda?!”

“Não muito, pois, mesmo com medo do que poderia acontecer, eu sabia que no fundo você era uma boa pessoa. Peter sempre foi seu melhor amigo. Eu sabia que você não conseguiria fazer o que tinha de fazer. Ou pelo menos, eu queria acreditar nisso, pois você é uma pessoa maravilhosamente amigável!”

“Obrigado por pensar assim, Charlotte!” – ela devia estar sentindo dó de mim, mas deve ter aprendido como esconder seus sentimentos! Peter era o responsável por isso! Ele devia ter lhe ensinado!

“Não consegui mais aguentar a distância, Jasper! Eu tinha de ver as condições em que você se encontrava!” Peter afirmou.

“Vocês estavam me espionando?”

“Na verdade, estávamos sim, mas foi por pouco tempo!”

“Há quanto tempo, mais exatamente?”

“Bem, te encontramos olhando pela janela. Logo após, o grupo de Maria chegou e você entrou. Conversou um pouco e depois saiu em disparada para a montanha. Resolvemos ficar um pouco mais lá para ter certeza de que eles não iriam planejar algo contra você...”

“Porque quando você os viu chegando fez uma expressão de quem não queria vê-los novamente!” Charlotte explicou-se.

“Então ficamos para ouvir, não aconteceu nada, e então resolveu ir para o lugar que você sempre ia!”

“Aqui na montanha!” Charlotte o complementou.

“Eu agradeço imensamente tudo o que vocês fizeram por mim, mas ainda assim, eu não tenho alternativas...”

“Jasper, quer ouvir ou vai ficar aí se lamentando?” Peter me encarou.

“Sou todo ouvidos!” desisti de contradizê-lo.

“Charlotte e eu conseguimos sobreviver todo este tempo com sangue, ainda” ele respondeu ao perceber meu desgosto, “mas não conseguimos de uma forma violenta, Jasper!”

“Como assim?” – fiquei confuso.

“As nossas alternativas, lembra? Somos completamente nômades, nos alimentamos em um local e logo em seguida partimos para outro! E antes que você me interrompa novamente, não nos alimentamos de forma vulgar! Só pegamos aqueles que já estão no fim da vida...”

“Ou então os criminosos...” Charlotte novamente complementando.

“Nós somos os caçadores de todo este mundo, mas entre os humanos, existem também os que se sentem caçadores! E nós somos os que fazem realmente a justiça agir!”

“Costumamos nos alimentar de criminosos, pois seu sangue não está ruim como o dos doentes ou dos mais velhos!”

“E sempre pegamos os mais perversos!”

“Semana passado eliminamos dois ladrões e um homem que iria estuprar uma pobre mulher se não chegássemos a tempo!”

“É pacífica a nossa vida, Jasper!”

“Tenho certeza de que iria adorar!”

“Qualquer coisa é melhor do que continuar aqui!”

“Há um mundo todo para que você o explore! Há muitas alternativas para um vampiro! Só é preciso procurá-las!”

“E nós procuramos e encontramos e agora estamos lhe dando a chance de seguir o mesmo caminho!”

“Uma vida nova não seria boa nesta hora, Jasper?!”

“Sei que está se sentindo mal aqui. Sair viajando seria uma boa chance para que você melhorasse!”

“Quem sabe você se sinta melhor e não encontra uma companheira também?!”

“Ok” cortei as falas sem fim de Peter e Charlotte. “Eu acho que não tenho muitas alternativas aqui mesmo...”

“Corrigindo, Jasper, você não tem alternativa nenhuma aqui!” Charlotte estava esperançosa.

“Eu... eu...” tentei juntas palavras para a resposta, mas eu não sabia o que responder. Logicamente que qualquer lugar seria ótimo para mim, mas será que eu conseguiria fugir dos meus próprios demônios?

“Tenho certeza que isto lhe fará bem!” Peter me encorajou.

“Eu estava aqui em cima pensando antes de vocês chegarem! Estava pensando se algum dia eu teria alguma chance de sobreviver com tudo o que continua a me acontecer!”

“É claro que tem uma chance, Jasper. Pense no que estamos lhe propondo, querido! Será maravilhoso ter você conosco!”

“Mas...”

“Jasper, meu amigo, pense no que é melhor para você!”

“Eu estava pensando em destruir Maria, minha única aliada, a essência de minha existência! Não sei se é justo, mas eu estava começando a gostar deste pensamento!”

“Pois então pare de gostar dele! Violência não te levará a lugar algum!” Peter, sempre bondoso, tentou esclarecer meus pensamentos.

“Eu sei... Mas... não irei atrapalhá-los?”

“Claro que não, Jasper! Vou ter de repetir quantas vezes que você é muito bem vindo conosco, querido?!”

“Mas, Charlotte, e se eu incomodar vocês?”

“Nunca brigamos nem discutimos, meu amigo! Damos-nos extremamente bem. Nada nem ninguém nos atrapalha! Somos sinceros um com o outro, e chegamos a conclusão juntos de que seria uma ótima ideia ter você conosco! Por favor, aceite nossa proposta!”

“Vocês... tem... certeza?”

“Absoluta!” ambos falaram.

“Ok, então. Eu me... rendo!”

“Então, quer partir agora ou quer se despedir?” Charlotte propôs.

“Estou pronto para ir agora! Será melhor assim!”

“Se você acha que isto é o melhor!” Peter me encorajou dando tapinhas no ombro.

“Obrigado, vocês dois, por... estarem fazendo o que estão. Aceitando-me! Obrigado!”

“Não precisa agradecer, Jasper! Estamos apenas retribuindo o que você já fez por nós! Não é amor?”

“Sim, querida. É a verdade, Jasper! Confie em nós!” Peter continuou ao meu lado da forma mais amistosa que um amigo pode estar. Foi engraçado, pois fazia tempo que não me sentia próximo do local de onde eu realmente pertencia!

Estar com Maria foi um erro que eu o prolonguei por tempo demais. Eu sempre soube que estava cometendo erros com ela, mas tinha medo de me arriscar.

O pior erro foi confiar cegamente até o ponto de que, tudo o que ela me dizia, eu tomava como verdade. Fui companheiro dela por tanto tempo, mas... olhando para trás agora, para o meu passado, tudo o que vejo é que não passamos nada! Não sentimos ou compartilhamos nada! O nosso vínculo não era nem de longe forte!

Eu vivia apenas para as batalhas, para o sangue. Assim, as relações nunca são fortes. Elas sempre são, pelo contrário, tênues e se rompem muito facilmente. Não pude deixar de sentir nostalgia pelo passado, mas isto teria um fim... E isso aconteceria agora!

“Sim. Eu confio em vocês!”

Afastei-me sem olhar para trás! Peter estava à minha esquerda, ainda com os braços sobre os meus ombros, sentindo uma imensa alegria junto de orgulho. Charlotte caminhava à direita contente com a nova companhia. Eu, ao centro, apenas sentia desgosto. Quem sabe, uma pequena ponta de esperança!

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