A Patricinha de Forks - Capítulo 02: A Sala Perdida

Chegamos à escola – minha mãe parou o carro cantando pneu, então todos olharam para nós. Eu sabia que eles olhavam para ver quem era a barbeira que tinha feito aquele “escândalo” com o carro, mas... Adorei ter os olhos todos em mim!

Aproveitei e sai do carro o mais rápido que eu pude, pois eu sabia que alguns olhares me seguiriam...

Dito e feito... Todos ficaram me olhando – eu só esperava que não fosse por causa da minha “carona”...

Peguei minha folhinha com o nome das aulas marcadas, o horário delas e em que sala elas seriam... Aquilo estava uma bagunça, mas tudo bem, estava mais bagunçado o pátio cheio de alunos novos perdidos do que minha folhinha mesmo...

Minha primeira aula era de... Err... Eu não devia ter escrito aquilo com a folha apoiada no colo quando eu estava sentada...

“Química?” – eu conhecia aquela vozinha...

“Ângela!!!”

“Oi Jéssica, tudo bem?”

“Sim, sim... Ou... Err... Mais ou menos...”

“Sim, sim, sei...” – ela aproveitou que estava ao meu lado e tentou ler o que estava no meu papel. “Sim, Química mesmo... A sua primeira aula é Química, e pelo visto é na mesma sala que eu estou!”

Ah, que benção... Dupla benção, na verdade: a Ângela ter descoberto a minha primeira aula, e também fazer a mesma matéria que ela... Ela teria de me ajudar nas provas... Ou passar as respostas... Sei lá...

“Que bom...” – sim, bom mesmo!!!

“Então, vamos para a aula Jess? Acho que já estamos meio atrasadas, sabe...” ela disse olhando para o pequenino relógio de pulso prateado.

“Bom, então vamos caçar a nossa sala agorinha mesmo...”

A peguei pelo braço e já fui puxando... Ela quase derrubou alguns livros, mas tudo bem... O céu estava limpo hoje, sem sinal de chuva no céu, nem água no chão...

Estávamos tendo problemas para encontrar a nossa sala... E isso era ridículo... Se morar em Forks já era estranho, se perder na Forks High School era quase que o mico do milênio... Eu corria o risco de ser mal falada durante séculos por causa disso, por me perder...

Paramos para perguntar para uma menina, que parecia ser bem mais velha do que nós duas, e... Bingo! Ela era do último ano e sabia onde estava a nossa sala fugitiva...

Entramos correndo como loucas no corredor, e lá no fim dele, encontramos a sala que se esconde de todos os alunos...

Por sorte, nós não éramos as únicas perdidas... Alguns entraram depois de nós...

Procuramos por uma carteira vaga para nós duas, e nos acomodamos lá... Eu mal tinha reparado no professor de cara amarrada escorado na mesa... Ele olhava com uma cara pensativa a sala, e segundo meu conhecimento de professores em primeiro dia, ele estava analisando os pobres alunos...

Coitadinhos de nós... Tenha piedade, profe!!!

“Não gostei dele!” cochichei para Ângela, que se inclinou para me ouvir...

“Também não, mas espero que a aula dele não seja chata!”

“Ok. Você já espera coisa demais para mim...” – ela abafou uma risadinha... Eu até ia falar mais uma coisinha, um detalhinho a ser exposto e analisado, mas o arrogante resolveu dar o ar da “voz”.

“Já terminaram de se acomodar?” – eu já falei que ele era muito grosso e estúpido? – “Eu me chamo Carl Boulevard, e sou o professor de Química I e II de vocês, porque, como todos sabem muito bem, essa e muitas outras matérias são divididas em outras menores... Digamos, especializações... Ou ramificações, tanto faz...”

Ele ficou olhando para os prisioneiros dele pelas próximas pacatas e agonizantes horas, provavelmente, estava esperando por algo, alguma resposta das pobres crianças que se encontravam ali presas...

“Agora, peço silêncio a todos para a chamada e distribuição de material.”

Ok, ele estava pedindo silêncio para uma sala de mudos e, em breve, estaria nos entregando as armas que acabariam conosco...

Ele começou a falar uns nomes meio estranhos... Nunca tinha os ouvido antes... Só prestei atenção quando ele disse: Ângela Webber, a menina mais fofa e carinhosa de todo o mundo por sempre ter me ajudado com as matérias; Eric Yorkie, um... Japonês? Coreano? Chinês? Enfim, um menino que eu tinha visto na entrada me olhando, e que agora estava fazendo cara de nojo ao pegar o material; Jéssica Stanley, eu; Lauren Mallory, minha amiga também dos anos anteriores, de outra escola; Mike Newton, um fofinho super iper mega bluster over fofo; e, Tyler Crowley... Eu acho que já tinha estudado com ele antes... Em algum ano eu estudei, pode ter certeza...

As armas – ou o material, como ele disse – foi entregue a todos. Eu apenas deixei aquele negócio em cima da mesa. Não queria nem olhar para ele com medo dele me reprovar logo de cara... Já a Ângela, coitada, começou a folhear o livrinho de cabo a rabo...

Eu não queria nem tentar fazer isso... Nem pensar... Já estou até cogitando a ideia de mudar de cadeira para não ficar vendo a pobre coitada com o livro...

Mas eu não ia me mudar de cadeira, então sosseguei onde estava mesmo...

O professor continuou falando umas coisas meio sem sentido lá na frente. A única coisa que eu consegui entender foi: “é fácil”.

Ha! Até parece que é fácil mesmo... Isso é tudo mentira! Os professores vivem dizendo isso para as matérias mais chatas... E eu odeio quando eles fazem isso...

Em todo caso, me desliguei da aula e quase dormi. Senti que minha cabeça ia cair para frente com tudo, mas a Ângela me deu um cutucão antes...

Santa Ângela!

O sinal bateu. Acho que nunca me senti tão feliz por ouvi-lo novamente... O ruim de tudo é que eu ainda o ouviria várias vezes...

Levantei da cadeira o mais rápido que pude com todo o meu material.

“Ângela, qual sua próxima aula?”

“Aritmética!”

“Quem?”

“Ah, sua bobinha, aritmética, sabe... Matemática...”

“Ah” – às vezes ela esquecia que eu não era “nerd” igual ela... – “a minha é biologia...”

“Ah, que pena!” – é, é mesmo, porque eu também sou péssima em biologia...

“A sua próxima é biologia?” uma vozinha surgiu atrás de mim... Me virei para olhar e vi o loirinho mais fofo do mundo: Mike Newton.

“É sim...” – eu tinha tanta coisa pra te falar, fofura... E tanta coisa pra mim descobrir sobre você...

“Que bom, eu também... Quer ir junto?”

“Ah, sim, claro...”

“Meu nome é Mike Newton, o seu é...”

“Jéssica Stanley.”

“Muito prazer, caríssima senhorita Jéssica...” ele disse fazendo uma reverência um pouco exagerada... Mas não tem problema, eu gosto disso mesmo!

Sorri com o seu carisma.

Saímos da sala nós três, Ângela, Mike e eu, e fomos para o pátio. Ficamos conversando por um bom tempo até que Ângela se assustou – e assustou a nós dois também – com o horário.

“Já está na hora da minha aula. Gente, to atrasada! Estou indo! Beijinhos!!!” e assim ela saiu correndo. Fiquei a sós com o Mike... Ah, Ângela, minha cara amiga, eu adoro quando você tem esses chiliques por causa das aulas...

“Então, ela é sempre assim?”

“Ah, bem... Mais ou menos...” disse pensativa, e ele riu com isso. “Mas, me diga, preocupado com as novas aulas?”

“Ah, mais ou menos também... Eu não sei muito, mas acho que consigo me virar...”

“Ah, eu não sou tão boa assim...” – olha o teatrinhooo!!!

“Duvido...”

“Não, não sou mesmo... Aliás, você poderia estudar comigo, né... Assim a gente aprende mais rápido, não é verdade?!”

“É, bem... Pode ser...” ele disse meio... meio... Na verdade, achei que ele iria dizer ‘não’, mas está tudo ok agora...

“É que, sabe, assim a gente aprende junto... Eu acho mais fácil... Você não?!”

“Claro que eu acho isso também, claro...” – eu sabia que ele se renderia a mim...

“Então, quando podemos estudar?”

“Bem, assim que as coisas começarem a pegar de vez a gente já tem que estar sabendo de alguma coisa...”

“Mas não acho que isso vá acontecer antes das provas...”

“Você é muito esperançosa, sabia?!”

Caí na gargalhada com aquilo.

“Bem, pode ser...” – o sinal tocou nos avisando que deveríamos entrar na sala.

“Acho que agora devemos ir pra a sala!”

“Ah, se você diz... Eu não queria ir, na verdade, mas já que é necessário” – já que você quer ir mesmo, acrescentei mentalmente...

“Bem, vamos então... Me passa seu telefone depois... Só para a gente marcar, sabe...”

“Ok...” – é claro que te dou meu telefone, fofuxo!

“Não que eu não saiba onde você mora, até porque todos conhecem todos aqui, né...”

“Nossa, nem me fale!”

“Minha mãe conhece a sua mãe. Ela vai todo começo de mês fazer depósito do dinheiro que recebemos de lá da loja” – ok, eu já tinha me esquecido de que os Newton tinham uma loja de artigos para camping...

“Ah tá... É mesmo... Ela comentou um dia que viu sua mãe e elas ficaram horas conversando...”

“Sim, minha mãe adora conversar de vez em quando... Mas acho que é só de vez em quando mesmo...”

“Hmmm... Minha mãe gosta de conversar sempre, o dia todo...” – rimos juntos, mas eu percebi que a minha saiu um pouco forçada... Droga! Ele notou?

Chegamos na frente da sala.

“Meninas primeiro!”

Fui na frente e entrei. Escolhi uma mesa e então sentamos juntos.

“Boa tarde galerinha! Eu sou o professor de biologia de vocês, e vocês podem me chamar de Mr. Molina... Eu sei que vocês irão A-MAR essa matéria! Todos amam...” – ele era um pouco convencido. – “Não se preocupem com essa matéria, pois ela é muito fácil e muito divertida... Nós teremos muitas experiências ao longo do ano, e disso eu tenho certeza de que irão gostar muito, muito, muuitíssimo mesmo...”

“Eu tô com medo desse professor...” sussurrei para Mike.

“E eu tô com a impressão de que teremos que estudar juntos para essa matéria também... Ele é louco... Olha só pra ele!!!”

Não consegui me segurar, então comecei a rir descaradamente.

“Algum problema senhorita Stanley?”

“Ah, não... Claro que não?!”

“Não gostaria de dizer para nós qual era a piada?”

“Ahh...” – oh ow...

“A piada do milho e da galinha o senhor já ouviu?!” Mike perguntou.

“Não...” ele respondeu curioso.

“Então, tá... Tinha um galinheiro...”

* * *

A aula de biologia foi até engraçada, graças à piada do Mike... E às outras também, porque depois daquela, vieram muitas outras...

Ai, ai... Eu ainda irei sair para um cineminha a sós com ele... Ah se vou!