Maré Vermelha - Capítulo 20: Roubo

Dentro do banco os Cullens estavam verdadeiramente desesperados, não fosse pela visibilidade Jasper teria matado a todos os responsáveis: dos gerentes aos acionistas. Foi necessário um imenso autocontrole e a quase imediata presença de Carlisle, para evitar um genocídio à luz do dia! O gerente do banco não podia compreender o ocorrido, na verdade, o pensamento que insistia em lhe perseguir era que tudo aquilo parecia um golpe armado pelos Cullens a fim de entrarem com algum tipo de ação contra o banco. Fosse Edward outro, melhor dizendo, fosse Edward, Jasper... tê-lo-ia despedaçado ali mesmo, feições de desprezo e ódio atravessaram-lhe o rosto e seus olhos brilharam a ponto de considerar a idéia de matar o idiota bem vestido sentado à sua frente, no mínimo atraente. O homem pareceu perceber o perigo iminente, aquelas fisionomias duras e gélidas, de olhos dourados coléricos que o encaravam, o fez ir com a cadeira centímetros para trás numa atitude quase inconsciente de auto-preservação. Mas estava tudo ali... cuidadosamente feito! Milhões de dólares transferidos para contas estrangeiras abertas no nome de cada um dos Cullens, estas até foram possíveis de serem rastreadas, mas assim como o dinheiro entrou nas tais contas, minutos depois ele saiu e certamente para paraísos fiscais, pois por mais que tentassem, não conseguiam mais saber o destino do dinheiro. Tudo minuciosamente arquitetado, detalhadamente executado e em algumas horas os Cullens estavam falidos, sem nada, dinheiro algum, além daquele que levavam nos bolsos!

Alice, estava sentada num pequeno sofá de couro preto, que ficava mais afastado da mesa da gerência com a cabeça nas mãos completamente abatida, ela recusava-se a acreditar no que estava acontecendo, lágrimas não escorriam por seu rosto, mas ela chorava! Jasper foi tomado de desespero por vê-la tão fragilizada e seus talentos não lhe serviram de nada, ele sentou-se ao lado dela e abraçou-a com carinho, tentando consolá-la, mas mesmo ele estava tendo dificuldades para lidar com aquilo tudo.

- Edward, não é possível que não haja nada o que se fazer? – Bella falava inconformada com a incomum atitude de resignação do marido.

- Bella, foi tudo feito com as nossas senhas... – Edward respondeu desesperançado. – É óbvio que alguém há tempos vem nos espreitando virtualmente, através de sofisticados spywares... fomos vítimas de um hacker astucioso que estudou nossas movimentações bancárias e observou nossos hábitos de investimentos...

- Mas e o banco? Não tem que responder por isso? Eles têm que oferecer segurança no ambiente eletrônico, não? – Ela insistia em não serem derrotados, mas foi Carlisle a responder dessa vez.

- Podemos sim entrar com uma ação contra o banco para sermos ressarcidos, mas quantos anos isso não durará, a briga judicial será arrastada por todas as instâncias a que eles puderem recorrer, no mínimo por três anos. Além disso, não há o menor interesse do “Sistema” em quebrar um banco do tamanho e importância do Bank of América! Você pode imaginar a repercussão que isto teria na mídia, seria uma corrida ao banco e certamente uma nova crise financeira abateria os EUA. O Bank of America é uma das maiores instituições financeiras do mundo Bella! Briga de peixe grande!

- Carlisle, o que você sugere então? Que cruzemos nossos braços e fiquemos sentados esperando que nos tirem tudo? – Rosalie quase gritava.

- Rosie, acalme-se, pensaremos em algo... – Esme interferiu tentando trazer alguma sanidade àquela situação. – Mas isso não se resolverá com a brevidade que você pretende, temos que encarar que de fato, sobrou-nos muito pouco e teremos que decidir o que fazer para que não percamos mais nada! – Aquelas palavras revelavam não só a já tão conhecida capacidade de acolhimento e tolerância a dor que Esme tinha, mas também como os anos haviam lhe conferido uma sabedoria ímpar.

E foram justamente essas palavras que Esme proferiu, que pareceram tirar Alice do torpor que ela se encontrava, num salto ela levantou-se do sofá e literalmente gritou:

- A casa... a casa, acho que vão tentar nos tirar a casa também! A visão... acho que estávamos enganados, não era só um meio de driblar-me...- Mas ela não pôde terminar pois explodiu em soluços e lamúrias no peito de Jasper.

Emmet, apesar de nunca desejar que nada daquilo realmente estivesse ocorrendo, não conseguiu evitar sentir-se vingado por naquela manhã Edward ter sido tão petulante, considerando a ele e a Rose irresponsáveis. Edward logo tomou conhecimento do pensamento do irmão que, envergonhado, desviou-lhe o olhar, mas desta vez, Edward aproximou-se e deu-lhe um soco compreensivo no ombro:

- Fui mesmo arrogante Emmet, desculpe-me por aquilo!

- Nada mais importa agora Edward, precisamos é encontrar os responsáveis e arrumar um meio de sair dessa situação?

- Acho que não temos mesmo mais nada o que fazer aqui... pelo menos por hora... – Carlisle falou desconsolado. E sem que mais ninguém dissesse nada, os Cullens deixaram o banco silenciosos, mas dispostos a tudo para encontrar quem os estava querendo prejudicar.

* * *

Em casa, sentaram-se à mesa muito abatidos, jamais pensaram que algo assim pudesse lhes acontecer, supunham que por serem vampiros dotados de talentos, não pudessem ser atingidos pelas coisas mundanas. Mas, de repente, se viram vivendo problemas de seres humanos comuns, não que eles tivessem dívidas, isso logicamente não. Contudo, até que Alice conseguisse reunir o patrimônio que eles haviam adquirido em todos aqueles anos levaria um tempo. O salário de Edward, de Carlisle e de Esme que eram os que atualmente estavam trabalhando seria para pagamento das contas mensais, água, luz, telefones, impostos, vestuários, as mensalidades de todas as universidades, a alimentação de Nessie... Alice não poderia dispor desse dinheiro para fazer as aplicações que costumava prever e geralmente aplicações em papéis não geram dinheiro imediatamente e rendimentos bancários sabidamente no mínimo necessitam de um mês para que rendam.

- Penso que, primeiramente teremos que cortar gastos... – Falou Edward já buscando as primeiras soluções para o problema. – Acho que podemos começar com as universidades, lamento muito, mas é uma medida necessária... – Depois pensativo acrescentou: - Talvez Bella possa continuar, já que é a única de nós, que tem bolsa de estudos.

- Não Edward, as despesas com livros, fotocópias são gastos que me parece não poderemos arcar agora. Até mesmo, porque não acho justo que todos se sacrifiquem, parando seus estudos e eu, não!

- Ora, Bella, todos nós já temos duas ou três universidades, essa é a sua primeira e você está no final do seu curso, injustos seríamos nós de querer que você também parasse. Nosso caso é diferente, não temos mais direito a bolsas, por melhores alunos que possamos ser, o governo tem de oferecer a todos e não sempre aos mesmos!

- Eu sei de tudo isso Rosie, mas ainda temos pelo menos a mensalidade desse mês de todos para pagarmos, além dos gastos mensais e, convenhamos, nenhum de nós aqui nunca se preocupou com o tempo que falávamos no celular! Por mais bem pagos que os três sejam, não sei se será suficiente para todos os gastos que fizemos.

- Pensei nisso... – Disse Emmet, visivelmente apreensivo. Seu tom gozador e o sorriso maroto pareciam nunca ter existido naquele rosto intranquilo.

- É uma boa idéia... – Respondeu Edward ao pensamento do irmão.

- Vendemos um dos carros, damos uma depreciada no valor para conseguir fazê-lo o mais rápido possível... Amanhã mesmo posso já tentar resolver isso, se vocês concordarem.

- Claro que concordamos Emmet, e sugiro que seja o meu... – Carlisle respondeu consonante. – Acredito que o meu sendo um carro menos vistoso, a negociação seja mais rápida, já que ampliamos o número de possíveis interessados.

Todos concordaram com a sugestão de Emmet, e Jasper se prontificou a ajudá-lo. No entanto, Alice continuava calada, alheia a conversa. Seu olhar desfocado e sua fisionomia transtornada subitamente se tornaram objeto de interesse de Edward.

- Alice, quando? – Edward inquiriu apreensivo.

- Não sei dizer ao certo Edward, mas essa nova visão vem confirmar a minha desconfiança. Se a requerimento judicial da casa fosse apenas uma visão para me confundir e nos despistar da verdadeira finalidade, o roubo...

- Você não a teria visto novamente agora, já que o roubo está consumado! – Edward concluiu o pensamento de Alice.

- Está próximo... no máximo em uma semana...

- O quêêê? – Rosie gritou desesperada. – Você está dizendo que em uma semana perderemos essa casa também!

- Sim Rosie e sinto muitíssimo em ter de dizer que... a de Forks também!

- MAS COMO PODE ACONTECER ISSO??? – Bella gritou, confusa e apavorada.

E Esme que até o momento, tentava manter-se calma diante de tantas más notícias, dessa vez não suportou e lamentou internamente por não conseguir chorar, isso era tudo o ela desejava nesse momento. A sempre tão equilibrada matriarca da família sentiu-se dilacerar por dentro, seus olhos suplicantes encontraram os de Carlisle.

- A casa de Forks não... Carlisle... não permita que tirem a NOSSA casa de Forks!

- Nós vamos encontrá-los antes Esme, eu JURO para você meu amor, ninguém colocará as mãos na casa! Não na de Forks.

A casa de Forks para os Cullen representava muito mais do que um patrimônio imobiliário ou um investimento financeiro, todos eles tinham nela um valor sentimental, aquelas paredes continham a escolha de um estilo de vida: serem o mais humanos que pudessem ser, a opção pelo amor e pelo sentimento de família, aquilo que os diferenciava de quaisquer outros vampiros, até mesmo daqueles que se diziam vegetarianos também, pois na maioria das vezes o que unia esses era algum tipo de conveniência, já os Cullen estavam juntos por amor, eram uma família e não um clã. Esme não poderia suportar que lhe tentassem tirar justamente o que representava tudo isso, o amor que tinha cultivado por cada um daqueles a quem aprendera a chamar de filhos. Por toda a eternidade, sempre que pudessem, sempre que fosse seguro guardar suas verdadeiras identidades, era para lá, para aquela casa branca envidraçada nas margens da floresta de Forks que os Cullen sempre voltariam.

- O que você viu Alice? Pode esclarecer melhor, consegue fornecer mais alguma pista?

- Um leilão... Carlisle, as casas vão a leilão!

- Mas que absurdo todo é esse? Como essas casas podem ir à leilão? – Bella estava verdadeiramente em choque.

- Espere Bella! – Edward falou pensativo. – A mim parece que as coisas agora começam a fazer algum sentido, Carlisle acompanhe meu raciocínio. Se não temos dívidas com impostos prediais, se não somos fiadores de ninguém, se não temos hipoteca... sobram pouquíssimas alternativas para ambas as casas irem a leilão!

- Edward você está insinuando então que o dinheiro que roubaram da conta de Rosalie e Emmet para aplicar na massa falida daquelas empresas tinha por real intuito nos tirarem as casas!

- É claro Carlisle, porque mais investiriam dinheiro nosso em empresas que pediram concordata há tempos???

- Espera aí... deixa eu entender, vocês estão dizendo que quem nos roubou, nunca pretendeu ficar com o nosso dinheiro...

- É Jasper, mais ou menos isso, podem até ficar com o dinheiro, mas isso seria o lucro, o objetivo final, na minha opinião era nos falir, tirar-nos tudo, inclusive as casas...

- Isso faz sentido... explicaria inclusive o motivo pelo qual o dinheiro do Chase de Rosalie e Emmet foi o primeiro a ser mexido.

Todos escutavam atentos e nos seus olhares era possível perceber a consonância com o que era dito.

Rosalie estava pensativa, suas sobrancelhas quase formavam um “V” sobre sua testa, mas foi ela quem quebrou o silêncio numa pergunta, que na verdade, era quase feita para si mesma. – Mas quem... quem ganharia com a nossa miséria???

Nesse instante Esme levantou-se da cadeira e se dirigiu para janela, seu olhar perdeu-se na paisagem sempre pacata que rodeava a casa. Uma ideia parecia querer vir à sua mente, mas a conversa na mesa não a fazia concentrar-se o suficiente, aquilo crescia dentro da sua cabeça, mas ainda de maneira obscura e confusa. Muitas horas se passaram sem que Esme tivesse se mexido um milímetro de sua imobilidade inumana, era apenas a sua cabeça que trabalhava, para ela algo naquilo tudo tinha outro sentido, Edward tinha se aproximado, era óbvio, mas ela sentia que havia algo mais.

Os demais ainda tentavam juntar as peças do quebra-cabeça, à mesa de jantar. Horas atrás, quando Esme levantou-se, Bella se dirigiu até ela a fim de consolá-la, mas Carlisle com um toque no ombro a impediu, sabia que sua esposa precisaria de um tempo sozinha, mas depois de tanto tempo ele também já ficava preocupado com o seu isolamento.

Exaustos diante da falta de avanços nas suas elucubrações, resolveram se recolher para seus quartos, já que aquela altura da madrugada nada mais poderiam fazer. Alice, sentia-se derrotada, sempre que tinha essas visões que de alguma maneira a impossibilitava de agir, desejava não ter nenhuma, se amaldiçoava por poder prever algo que não conseguia evitar de ocorrer, foi ela a primeira a se levantar para se retirar, de cabeça baixa, as mão espalmadas sobre a mesa e os braços estendidos, revelou sussurrante, na voz tingida pela dor e pelo medo o que mais a apavorava naquele momento:

- Fico pensando... o que faremos, para onde iremos se perdermos as casas? – Jasper a abraçou protetoramente e já ia iniciar o discurso de que não importaria para onde fossem, mas que estivessem juntos, quando Esme, de repente, virou-se em direção a eles numa expressão quase iluminada, as palavras de Alice pareciam ter acendido uma luz em sua cabeça e a tal ideia que vinha martelando, mas insistindo em se manter nas sombras, subitamente se fez clara, Esme acabara de ter um “insight”!

- Pois é isso mesmo o que eles querem, seja lá quem forem, é isso Alice... não é ficar com nosso dinheiro, na verdade o dinheiro foi só o meio que encontraram para aquilo que na verdade realmente pretendem... NOS TIRAR DAQUI, NOS AFASTAR. Porque até mesmo vampiros precisam de algum tipo de abrigo, estão tentando nos obrigar a deixar ESTE LUGAR e, mais... nos impedindo de voltar para Forks!

Olhares de admiração, embora, atônitos se fixaram em Esme e Edward podia ouvir o embaralhar dos pensamentos fervilhando: “Estaria Esme com a razão?” “Afinal quem eram essas pessoas?” “O que pretendiam afastando-os dali e de Forks?” “Quem ganharia com isso?” Eram muitas as perguntas a serem respondidas. Mas um lampejo de esperança pôde-se notar naqueles rostos tão atormentados durante todo aquele longo dia, finalmente pareciam ter encontrado a ponta do novelo.