Voei, voei e voei.
O vento me levaria a um lugar menos doloroso. Um lugar onde eu não passaria uma humilhação tremenda. Um lugar que me fizesse esquecer do último incidente...
Eu não prestava muita atenção para onde estava indo. Na verdade, eu percebi que estava distraído um pouquinho demais assim que bati meu bico contra uma parede.
Aquilo doeu!
Fui ao chão, voltei a ser humano, o meu nariz ainda doía muito. Eu me peguei massageando-o de olhos fechados. Ai, que dor!
Ouvi algumas pessoas conversando. Elas entraram naquele lugar, o terrível lugar da parede dura e assassina, que se erguia contra pobres corvinhos desavisados!
Olhei para cima e observei a construção toda, era uma casa imponente, me parecia uma biblioteca. Aliás, ela tinha na fachada um grande ano de inauguração: 1861, que coisa cafona! Mas, bibliotecas sempre foram cafonas mesmo...
Pior do que o meu dia estava, impossível ficar!
Afinal, relembrando: eu pedi uma mulher em casamento, ela recusou e me disse que eu era “o outro” e que estava me dispensando, eu sai de lá e fui beber com um policial divorciado de meia idade em uma lanchonete e depois ainda tive uns amassos com uma gostozinha, que na verdade tinha namorado e me chutou da casa assim que a mãe e o chifrudo chegaram...
É, não podia piorar!
O Stefan dizia que observar obras de arte ajudava a relaxar... Cara, quem tem a Elena nua em sua cama quando quiser não precisa observar porcaria nenhuma de obra de arte para relaxar!
Que ódio...
Por que eu tinha que sobrar mesmo?
Controle-se Damon, é o que minha voz interior tentava me dizer em vão.
Respirei fundo.
Ok, mas eu daria uma trégua para as obras de arte.
Sem pensar demais, entrei na grande biblioteca.
Logo após a entrada, havia algumas obras de arte penduradas nas paredes do corredor. Eu as observei, aquilo deveria me trazer “alguma paz interior” se é que o espertinho do meu irmão tinha razão.
Comecei a analisar mais atentamente os quadros, até parecia mesmo que havia algo obscuro querendo ser decifrado neles, mas eu pouco me lixava se o pintor queria ou não passar algo mais naquilo tudo...
Fui andando pelos corredores, o tédio preso em cada um dos castiçais antigos que iluminavam o caminho até uma grande sala. Nossa, aquilo me trazia uma nostalgia.
Havia um balcão em um canto e várias mesas espalhadas por lá, a biblioteca se erguia por estantes tão altas quanto o teto e tão abarrotadas de livros como o guarda-roupa de uma mulher consumista.
Andei até uma das estantes e pude ver mesas espalhadas por uma grande área com cadeiras macias ao redor. Poucas pessoas podiam ser vistas dentro daquele local, provavelmente, pouca gente tem desilusões amorosas e vem a uma biblioteca antiga.
Cheguei em uma estante e comecei a analisar os títulos, haviam alguns bem bacanas como “Física Quântica: átomos, moléculas, sólidos, núcleos e partículas” por Robert Martin Eisberg... Será que ele tinha problemas com mulheres?!
Puxei o livro, não era curiosidade não, é que a capa azul dava uma certa... Ok, até dava pra relaxar com aquele azulzinho... Abri, mas as páginas me fizeram querer colocá-lo de volta! Nunca vi tanta coisa maluca num único lugar...
Ok, que tal outra estante??
Rumei à outra estante, lá estavam alguns livros com cores mais “femininas”. Ok, eu sei que estou na parte de autoajuda, que só pessoas gordas demais, ou magras demais, ou que fedem, ou que cheiram bem demais, ou que fazem coisas sempre errado, ou que fazem as coisas sempre certas demais... Enfim, apenas as pessoas que tem problemas demais lêem. Mas e daí?
Olhei para os lados antes de puxar um dos livros da grande estante, um que tinha várias fotinhos de pessoas na capa, parecia uma leitura mais leve e uma capa menos gay. O título era "A Arte da Persuasão" por Mirian Ibanez.
Hmm, que mal tem olhar, né?
Folheei algumas páginas.
Afff, amadora! Eu sou três vezes melhor do que ela. Aliás, cinco vezes. Não... Infinitamente melhor. É, o livro não é o da autoajuda, mas me fez sentir um pouquinho melhor...
É, meu irmão tinha razão em dizer que ir à biblioteca faz bem.
Quando fui devolver o livro à prateleira, pude perceber que do outro lado da estante estava uma jovem, grandes óculos, cabelo liso e uma concentração enorme para ler "O que toda mulher inteligente deve saber" por, olha só, um homem, Steven Carter! Deveria ser um charlatão e tanto, afinal, quem que trabalha nesse meio de autoajuda e não é?
Bem,eu decidi arriscar.
Cheguei ao lado da garota bancando o “bobinho”.
- Oi, por favor, você poderia me ajudar a achar os livros de Filosofia?
- Filosofia fica... – ela levantou os olhos e até iria apontar a estante, mas eu sei que sou irresistível. – Nossa... – sem palavras, que gracinha!
- Oh, que indelicadeza a minha. Sou Damon Salvatore – lhe estendi a mão.
- Oh, é... Oi... Eu sou... – ela estava perdidinha! – Sou... Eu sou Ângela Weber, prazer.
- O prazer é todo meu, senhorita Weber – eu beijei sua mão.
Ela ficou vermelhinha, era até bonitinho de se ver.
Eu não costumava dar em cima das certinhas, mas vamos ver até onde esta aprendiz de freirinha vai.
- O que você procura exatamente sobre Filosofia? – ela tentou mudar de assunto assim que puxou sua mão de volta e pigarreou.
- Eu sou um entusiasta da Filosofia, eu procuro algo do grande Voltaire! – ele era filosofo, né? Foi o único que lembrei porque fazia aquela piada “eu nãos sei até onde vou, mas voltairei”.
- Sério? – ela sorriu, será que cometi gafe – Voltaire é incrível, ele foi uma das grandes figuras do Iluminismo! – ela parecia falar consigo enquanto abraçava o livro que tinha em mãos como se fosse sagrado. Credo, que menina louca. Hmm... – Ele combateu o poderio desmedido da Igreja Católica e... Nossa, ele era incrível!
Combateu a Igreja? Cara, até sem saber eu vou atrás dos “contra as regras”.
- É, sim, ele mesmo... Poderia me ajudar?
- Mas é claro, as obras de François-Marie Arouet ficam por ali. – ela apontou um lugar, mas... será que ela ouviu direito?
- Na verdade é Voltaire! – decidi lembrá-la.
Ela riu com a mão na frente da boca, bem timidamente e baixinho enquanto colocava seu livro de volta a estante.
- Ok, o chamaremos pelo pseudônimo então, já que você prefere.
Sabe, eu estava desconcertado. Acho que agora sabia porque não me socializava com gênios, isso me fazia sentir-se muito burro e eu não gosto de saber que há alguém com algum tipo de capacidade superior a mim... No caso, ela era a intelectual. Aquilo me deixava meio humilhado, e eu não gosto de me sentir humilhado.
Andávamos em direção a estante de Filosofia, eu estava meio cabisbaixo.
- Sabe, eu acho aquela frase dele perfeita. Como era mesmo? – ela parou para se lembrar. – Ah sim, “Deus, me defende dos amigos, que dos inimigos me defendo eu”. – aquilo me alegrou! Voltaire tinha um tipo de humor sacana, eu poderia gostar dele.
Ângela me entregou um dos livros em mãos.
- Esta é uma das minhas obras favoritas dele.
Não em importei em ler o título e abri uma página a esmo para ver no que dava. Eu bati os olhos em uma frase que me peguei lendo alto.
- “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”
Ângela suspirou.
- Você lê tão bem!
- Obrigado... – Ok, eu acho que estou vermelho agora... Peguem suas câmeras fotográficas, talvez não aconteça mais.
Comecei a olhar outros livros, ela era muito “gênia” para mim.
- Bem, já que lhe mostrei o que precisava, tenho que ir.
- Ok... – eu fiquei quietinho com o livro na mão.
Eu sei exatamente que muitos esperariam que eu corresse loucamente atrás dela, a levasse para algum lugar onde pudéssemos nos amar loucamente por horas e terminasse a deixando sozinha...
Mas, eu volto a dizer não gosto de me sentir diminuído por uma mulher, ela iria querer ter papos cabeça sobre a criação do mundo e a existência de seres míticos. Se eu acabo deixando escapar que sou um vampiro, poderei estar me deparando com uma entusiasta fã de Fox Mulder que acreditará que sou vampiro e me pedirá a vida eterna e tal...
Não gosto da ideia de terminar em minha própria decadência, com medo de falar alguma besteira e ser ridicularizada por seu exímio intelecto...
Acho que desta vez ficarei com os livros, e como diria Voltaire, em um texto que acabo de achar: “As paixões são como as ventanias que incham as velas do navio. Algumas vezes o afundam, mas sem elas não se pode navegar”. Acho que ele quis dizer que uma hora eu acharei alguém...
Seria humilhação demais se eu pedisse a interpretação da Ângela? Hmm...
2 comentários:
haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa tiiiii bonitinho a angie e o damon!
*-* FOFIS!
amei o cap. foi uma gracinha!s2
eu jáá ouvi falar desse carinha,minha professora já falou dele.
bom, gostei d+!
beijinho,bijinho.
xoxo.
é neee....
e vc ainda num comento na minha fic...
espera só, viu!?
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